segunda-feira, 28 de novembro de 2022

"Escola Base - Um repórter enfrenta o passado" é um documentário corajoso

 O Globoplay estreou no dia 10 de novembro um novo documentário: "Escola Base - Um repórter enfrenta o passado". Ao contrário do que costuma acontecer em produções da plataforma de streaming da Globo, a produção não foi dividida em episódios. São quase duas horas (uma hora e 46 minutos) com depoimentos sobre o caso que ficou conhecido como um dos maiores erros da imprensa brasileira. 


Brasil. Ano de 1994. Uma denúncia de assédio a crianças de quatro anos dentro da própria escola. A comoção popular provocada pela cobertura na imprensa fez a vida dos denunciados virar do avesso antes mesmo de o inquérito policial ser encerrado. Apesar das acusações dos pais dos alunos e do primeiro delegado responsável pela investigação, o aprofundamento da apuração mostrou que os denunciados eram inocentes e o caso virou um escândalo nacional. Com uma reportagem no Jornal Nacional, Valmir Salaro foi o primeiro repórter a noticiar a acusação. Vinte e oito anos depois, ele procura as vítimas da injustiça e fica frente a frente com elas, seus descendentes e outros personagens dessa história revisitada no documentário, dirigido por Eliane Scardovelli e Caio Cavechini.

 “Vou voltar para uma história que há 27 anos me atormenta”, declara o jornalista no documentário, um projeto do próprio Valmir Salaro e do jornalista Alan Graça Ferreira, seu amigo e colega em pautas no ‘Fantástico’. “Desde que eu soube que aquelas pessoas eram realmente inocentes, eu passei a falar sobre o caso e era uma voz solitária. Sempre sou convidado para falar sobre o assunto em faculdades de jornalismo. E, em viagens, o Alan foi me convencendo que isso podia ser transformar num documentário”, explica Valmir, com 42 anos de experiência. “Eu vejo nesse documentário um tributo ao jornalismo. Num momento em que a imprensa é tão atacada, ter um jornalista consagrado que abre o peito para discutir um episódio desta relevância sem filtros, o aproxima das pessoas”, completa Alan. 
 
Eliane Scardovelli e Caio Cavechini foram convidados para dirigir a produção, aprovada em plena pandemia. Valmir revelou que guardava há 27 anos e que nunca tinha lido uma dedicatória escrita em um livro que recebeu de Maria Aparecida Shimada, uma das proprietárias da Escola Base, junto de uma carta escrita por ela de próprio punho. E que estava disposto a ler, diante das câmeras, estas palavras pela primeira vez. Jovens jornalistas, os dois diretores se viram no desafio de fazer um documentário que ouvisse os personagens centrais dessa história sem julgamentos. “Quando a gente discute Escola Base na faculdade, a gente pensa: ‘Olha, como a imprensa pode impactar a vida das pessoas’. Mas quando você está ao lado do repórter que fez a primeira matéria percebe o desafio que é compreender todas as circunstâncias que resultaram no erro”, diz Eliane.
 
Além das discussões sobre o exercício do jornalismo, Caio explica que também procurou exercitar a empatia na produção. “A discussão não é tão simplista. Existe uma frase que é meio clichê que diz ‘se coloca no meu lugar’ e fazer jornalismo requer esse exercício de se colocar no lugar das pessoas que a gente está retratando. Ao se colocar no lugar do Valmir, a gente se fazia essa pergunta em várias ocasiões. Com os elementos que ele tinha, será que não era pra dar aquela história? O que exatamente ele poderia ter feito naquela situação? É uma discussão mais complexa do que dizer ‘era uma acusação falsa e a imprensa levou essas pessoas à tragédia”, diz Caio.
 
Roteirista do documentário ao lado de Eliane Scardovelli, Bruno Della Latta entrou no projeto a partir do sim de Valmir Salaro para Alan Graça. E ele celebra ter acompanhado a transformação do colega para o antes e depois da produção. “O objetivo, que acredito ter sido alcançado, é mostrar que o Valmir da primeira imagem do filme não é o mesmo Valmir que aparece antes de subirem os créditos finais”, atesta Bruno.
 
Original Globoplay, o documentário ‘Escola Base – Um repórter enfrenta o passado’ tem roteiro de Bruno Della Latta e Eliane Scardovelli, que também dirige o dirige a produção ao lado de Caio Cavechini, e reportagem de Alan Graça Ferreira e Valmir Salaro. Uma produção corajosa e que vale ser vista. 

3 comentários:

Outsiders disse...

A Globoplay resolveu lucrar com uma história que o grupo que faz parte (Grupo Globo) tem participação como algoz.
O documentário foca na redenção do repórter Valmir Salaro, o primeiro repórter a dar o suposto furo sobre a “escolinha do sexo”.
Ignorando toda ética e sutileza que um caso tão delicado exigiria, emissoras de TV transformaram a história em um circo, até que foi provada a inocência dos acusados já era tarde demais.
O documentário parece direcionado a limpar a barra do repórter da Globo, que chega a ser arrogante na abordagem com quem não quer mais falar no assunto e condescendente com aqueles que foram afetados por seu sensacionalismo, as vezes parece que ele é a vítima, pela forma como se conduz os encontros.
Mal se fala que a Globo, assim como a imprensa ainda arrasta esses processos até hoje. Reconhece que essas pessoas foram arruinadas, tiveram suas vidas destruídas, mas ignora que a Globo nunca tentou nem acordo para diminuir o sofrimento dessa gente, parte já falecida. É um filme cruel, que faz com que pessoas revivam todo o seu sofrimento sem a garantia de reparação.


Eu achei terrivelmente arrogante e prepotente da parte do repórter e da mídia mainstream resgatar uma ferida tão doída. Não curti a abordagem de "desculpas heroicas" da globo. Como se eles não tivessem errado nunca. Desde o Golpe Militar, essa empresa já se demonstrou totalmente parcial e utllilizadora das ferramentas de influência e poder que tem em mãos. Revisitar essa história só pra saber quão triste mentiras podem ser. Tivemos um presidente eleito que jurou existir mamadeira de piroca.

Agora, fica a hombridade de Salaro de ter conseguido se "desculpar" com todos.

E a gente sabe que muitos casos assim são reproduzidos diariamente nesses programas irresponsáveis que apontam culpados sem qualquer investigação policial. (E ficam sem punição e/ou pedido de perdão para as suas vítimas!)

Sérgio Santos disse...

Entendo, Outsiders.

Jovem Jornalista disse...

Gostei muito. Bastante interessante!

Boa semana!

O JOVEM JORNALISTA está de volta com muitos posts e novidades! Não deixe de conferir!

Jovem Jornalista
Instagram

Até mais, Emerson Garcia