quinta-feira, 7 de julho de 2022

"Sob Pressão" fecha ciclo vitorioso com uma temporada memorável e fôlego para mais

 A Globo anunciou a quinta temporada de sua série mais bem-sucedida como a última. O autor Lucas Paraizo e o diretor Andrucha Waddington disseram na coletiva de lançamento que duvidam que a decisão seja definitiva. A dupla tem razão em acreditar que "Sob Pressão" ainda tem um futuro. A emissora disponibilizou dois episódios por semana na Globoplay e a temporada chegou ao fim nesta semana, após 12 episódios impecáveis. O encerramento deixou claro que a produção está longe de acabar ou se esgotar. Aviso: há spoilers no texto. 

A história protagonizada por Evandro (Julio Andrade) e Carolina (Marjorie Estiano) teve quatro temporadas repletas de dramas bem construídos em meio a choques de realidade que trouxeram reflexão e questionamento sobre a saúde pública do Brasil. A quarta temporada, exibida ano passado, foi a única que teve altos e baixos, mas ainda assim merecedora de muitos elogios. Só que a quinta conseguiu superar a expectativa dos mais ansiosos pelo 'último ano' da série. Foi quase uma volta às origens, onde os conflitos pessoais de cada médico dominaram a narrativa, tendo como complemento as questões de vários pacientes que ajudaram a engrandecer a o conjunto. 

A trama focou nas feridas psicológicas dos médicos e foi uma avalanche de sofrimento ao longo dos episódios. Os momentos de leveza foram raros, mas não é uma crítica. A densidade dramática fez toda diferença para tornar a temporada inesquecível.

O primeiro grande conflito foi a descoberta de Evandro a respeito do paradeiro de seu pai, um homem com quem nunca teve uma boa relação. O médico jamais o perdoou por tê-lo abandonado depois que se divorciou de sua mãe. Mas descobriu que Heleno (Marco Nanini) estava em uma clínica de repouso e diagnosticado com Alzheimer. Acabou levando seu pai para casa e começou a cuidar dele. Até que veio outro baque: após interná-lo para tratar de lesões ocasionadas por uma queda, soube que Heleno estava com câncer terminal. 

Enquanto Evandro se desdobrava com a carga emocional trazida por aquele reencontro, Carolina descobria um câncer de mama. A médica identificou um nódulo no seio e adiou o quanto pôde o exame para detectar se era maligno ou benigno. Após muita negação, resolveu encarar a realidade e acabou se consultando com um ex-namorado, o doutor Daniel (Emílio Dantas). O tumor era mesmo maligno e Evandro teve outro susto com a notícia, que só foi revelada por um ato falho de Vera (Drica Moraes). Para culminar, o fato do médico de sua esposa ser um ex abalou a relação do casal. Mas ainda não era o bastante. Em um episódio emblemático e impactante, a equipe do Hospital Edith Magalhães perdeu Charles (Pablo Sanábio) em um trágico acidente com a ambulância que levava uma paciente. Foram cenas dilacerantes e interpretadas por um elenco em estado de graça. Impossível não ter chorado junto com eles. 

E os personagens pontuais, marcados por pacientes que participavam apenas de um episódio, abrilhantaram o conjunto, vide as presenças luxuosas de Lázaro Ramos na pele dos gêmeos Davi e Michel; Thaissa Carvalho como Joice; Inez Vianna como Soraya; Juan Paiva como Inácio; Chandelly Braz como Raissa; Douglas Silva como Josué; Ana Carbatti como Elaine; Dedina Bernadelli como Marlene; Débora Duboc como a mãe do doutor Charles; Ana Terra Blanco como Célia; Eliana Pitman como Muriel; Kenya Costta como Helga; Aline Fanju como Diná, Marcelo Valle como padre Gonçalo; Cacá Ottoni como Lucila; Emílio Dantas como Daniel, Tuna Dwek como Nilséia; entre tantos mais. Uma menção especial a três talentos: Tony Ramos, Irene Ravache e Fábio Assunção. Tony e Irene emocionaram na pele de um casal que comemorava 50 anos de casados. Foi uma participação breve, mas avassaladora. Que atores! Já Fábio viveu um mergulhador atingido por um arpão disparado pelo próprio filho no último episódio e brilhou. 


Aliás, o elenco fixo da série é um show à parte. Julio Andrade mais uma vez brilhou absoluto como Evandro e suas cenas com Marco Nanini foram excepcionais. E que luxuosa a participação de Nanini. Os momentos de Heleno que mesclavam lucidez com as sequelas do Alzheimer eram emocionantes. O desfecho do personagem foi outro momento que sensibilizou. E o que comentar sobre Drica Moraes? Uma profissional que nunca decepciona e teve um merecido destaque através da 'promoção' de Vera, que virou diretora médica depois que Décio (Bruno Garcia) viajou com seu marido para Londres. Um elogio especial ao desenvolvimento sutil do início de um processo de alcoolismo da personagem e que foi interpretado com competência pela intérprete ---- a cena de uma confissão mútua entre Vera e Evandro merece aplausos.


Já Marjorie Estiano dispensa maiores comentários. Uma das maiores atrizes de sua geração, a intérprete comoveu o telespectador com a dolorosa saga de Carolina ---- o grito que a médica deu na hora da morte de Charles foi devastador, assim como sua reação dentro de seu carro com a constatação de estar com um tumor maligno. David Júnior esteve muito bem como doutor Mauro e Julia Shimura protagonizou cenas de grande sensibilidade por conta do trauma da enfermeira Keiko após a perda de Charles. Bárbara Reis foi mais uma do time que ganhou bons conflitos através da dificuldade financeira de Lívia, enfermeira que se negou a participar de um esquema de corrupção mesmo estando endividada. Josie Antello foi outra que ganhou importância e vale destacar a forte cena em que Rosa descobre que Charles morreu. Não foi preciso texto. O choro da atriz impactou.


O último episódio teve um encerramento no arco de cada personagem e foi marcado pela emoção da recuperação de Carolina. Aliás, o desfecho foi uma homenagem aos fãs da série com situações que só quem acompanha desde a primeira temporada sabe. Como o fato de Evandro quase ter tido uma recaída em seu vício em drogas e ter operado a (ex)esposa durante uma complicação cirúrgica. Um dos maiores traumas do médico foi ter perdido sua primeira mulher em uma operação. Agora deu tudo certo. E que momento lindo o espírito do Charles ter sido o responsável pela notícia da cura de Carolina. A emoção de Marjorie Estiano e Pablo Sanábio honrou a delicadeza da cena. Mas a última sequência, com o casal protagonista separado por causa da decisão da médica de cuidar mais de si, abriu a brecha para uma nova saga. Afinal, quem não quer ver os dois reatando? Ficou claro que o amor ainda existe. Ainda mais com a linda trilha escolhida para a última cena: "O Mundo e um Moinho", de Cartola. Uma estratégia do autor Lucas Paraizo para o público pressionar a Globo a não desistir da série. 

"Sob Pressão" foi a melhor série nacional já produzida pela emissora. E olha que foram muitas. Mas não é exagero a constatação. A produção médica tem um diferencial e não por acaso angariou uma legião de prêmios internacionais ao longo das cinco temporadas, com direito a indicação de Marjorie Estiano ao Emmy Internacional de Melhor Atriz. A quinta temporada foi a melhor de todas e, caso seja mesmo um adeus definitivo para os médicos mais amados da ficção brasileira, não poderia ter sido uma despedida mais triunfal. Foi lindo, triste, sensível e memorável. 

32 comentários:

Lois Racca disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Lois Racca disse...

Você e seus textos perfeitos, para uma série perfeita. Obrigada por me apresentar Sob Pressão, e principalmente obrigada aos criadores, atores e colaboradores da série! Queria que voltassem, mas se não voltar, foi lindo!

Camila Nere disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Camila Nere disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Camila Nere disse...

Sérgio, nessa vou discordar de você . Eu não quero Carolina com Evandro. Depois que ele fez com ela na terceira temporada, era para eles terem se separado. Essa relação nunca me desceu, sempre achei desequilibrada e com a Carolina tendo sempre que ceder para manter a relação. A Carolina era uma santa por aguentar o Evandro, um dos personagens mais egoístas que eu já vi.
Por isso, eu fiquei muito feliz em ver ela separada e livre dessa relação tóxica. Pode existir amor entre eles , mas isso não é suficiente para que uma relação dê certo. Um casal que vejo como exemplo, que o amor não era suficiente para manter uma relação , foi Marcos e Dora de AVDG, eles se amavam , porém o Marcos não tinha maturidade e era extremamente egoísta para ter uma relação sólida.
Sinceramente, achei libertador no mesmo episódio, a Carolina se livrar de dois relacionamentos que ela viveu nas fases mais difíceis dela . Evandro e Daniel meio que simbolizam esses períodos.
E vejo o final como uma boa saída ,caso queiram continuar a série sem a presença de um dos atores protagonistas. Se acabar nessa temporada, não vou achar ruim até porque a temporada foi boa e a série encerraria bem. Porém diferente de você, acho que a série já demonstrou sinais de desgastes , principalmente no casal principal. Para uma nova temporada, eles teriam que fazer algumas mudanças no roteiro.
P.S. O final da Carolina seria o meu final para Manu, diferente de algumas pessoas, se a Manu não fosse ficar com o bananão do Rodrigo como a Lícia planejou e não acho ela tão errada em relação ao final dela, só que precisava de ajustes, para mim, se fosse para ser diferente a Manu deveria ter terminado a novela sozinha, se descobrindo , se priorizando e vivendo novas experiências. E no caso da Ana , a mesma coisa. Por isso, gostei muito do final da Carolina. Vi uma mulher que sofreu muito , finalmente feliz e com uma oportunidade de ter paz

Outsiders disse...

Uma série é boa de verdade quando você assiste ela na madrugada e episódios em seguido, a 5º temporada é a temporada mais dramática, o nível de sofrimento que os personagens sofrem é um absurdo e até covarde, mas continua um grande acontecimento para as pessoas, tanto para refletir sobre os problemas da saúde pública no Brasil quanto o quão pode ser cruel ser um médico ou uma médica, é incrível e emocionante.

Fatyma Silva disse...

Uma reflexão aos dramas da saúde pública e aos seres humanos, médicos e enfermeiros, que antes da profissão existe um ser humano com acertos e defeitos, existe uma vida real que nós não queremos saber, pois procuramos em cada médico, apenas o bom profissional, e assistindo a série podemos refletir sobre tais profissionais, como seres humanos tem sentimentos e uma vida familiar lá fora!.

Sérgio, tenha um bom fim de semana.
Beijos

Ana Carolina disse...

Oi Camila! Concordo com você, a terceira temporada deixou claro como o relacionamento deles não era legal. Acho que foi muito bom ter colocado ela entre dois homens e ela escolher a si mesma.

Camila Nere disse...

Exatamente! Na terceira temporada a Carolina , depois do aborto ela percebeu o quanto a relação deles não era boa e já queria pular fora. Infelizmente resolveu tentar mais uma vez, porém na quarta temporada com a história do Francisco e pela forma como o Evandro conduziu a história pensando só nele. Ela deixou claro mais uma vez que estava chegando no limite e a doença foi a gota d'água que faltava para ela dar um basta na relação. Achei o final dela excelente! Ela sofreu muito e precisava de uma chance de ser feliz, sem tantos pesos. A relação dela com Evandro entrou em um ciclo perigoso, ela saiu antes que eles se machucassem mais e tornasse algo insuportável, ainda mais que eles têm o Francisco em comum, quem mais iria sofrer com os problemas dos pais.

FABIOTV disse...

Olá, tudo bem? Pretendo assistir à série em outro momento. Portanto, não li o texto com spoilers. Abs, Fabio www.blogfabiotv.blogspot.com.br

MARILENE disse...

Não assisto, Sérgio, mas gostei de ler sua sempre preciosa avaliação. Abraço.

Fá menor disse...

Uma boa resenha. Sempre ao pormenor!

Boa semana!

izabel disse...

NÃO PODE ACABAR AQUI!

Tudo está nas mãos do Júlio Andrade. Ele não tem certeza se quer continuar, felizmente TODA A PRODUÇÃO (sim, a Marjorie também) quer continuar e os roteiristas foram claros quando disseram que por eles a série dura 20 temporadas. Por isso deixaram o gancho da Carolina sozinha, porque caso o Júlio não tope, o Evandro sai da série e quem assume é o Daniel (Emilio Dantas).

Então ficamos mais tranquila... vamos de continuar com o Daniel e Carolina. Queria muito ver ela desenrolando uma vida sozinha! E essa série é sensacional!

Sérgio Santos disse...

Que honra, Lois!!!!

Sérgio Santos disse...

Mas depois do que ela fez com o Evandro nessa temporada empatou, Camile. Pelo menos eu achei. Mas entendo tb esse final em aberto como algo bom. Eu shippei mt Manu com Rodrigo e amei o final, mas na reprise eu ja preferia a Manu sozinha. E seu comentário ficou ótimo!

Sérgio Santos disse...

Eu fazia a mesma coisa, outsiders.

Sérgio Santos disse...

Obrigado, Fatyma!

Sérgio Santos disse...

Foi um final bacana mesmo, Ana.

Sérgio Santos disse...

Sem problemas, Fabio.

Sérgio Santos disse...

Bjs, Marilene.

Sérgio Santos disse...

Bjs, Fá!

Sérgio Santos disse...

Eu nao quero Daniel com Carolina nao, Izabel.

Anônimo disse...

Amo séries e sinto uma.pontinha de orgulho de ver que brasileiros sabem fazer boas séries. Sob Pressão a melhor série nacional. A 5@ temporada é eletrizante, chorei em vários momentos 👏👏👏👏👏

Camila Nere disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Camila Nere disse...


Mesmo com o que a Carolina fez nessa temporada, não vejo como empate. O saldo do Evandro para mim , continua negativo. Ele foi muito escroto quando ela perdeu o filho e com a história do Francisco. Ele só pensou nele e ignorou os sentimentos da Carolina. Ainda vejo a relação deles muito desequilibrada, com ela tendo que ceder para dar certo. Enfim , achei o final dela muito bom. Quanto ao final da Manu. Eu gosto dos dois casais principais de AVDG, mesmo com os problemas. ,porém revendo reconheço que um final diferente para Manu com ela terminando a novela sozinha seria excelente! Até pela evolução da personagem. Como falei não acho o final que a Lícia deu para, personagem tão ruim como as pessoas falam. Depois de fazer uma nova Reflexão sobre a novela, Manu conseguiu o mais difícil que era romper com a mãe. O que é mais difícil que dá um pé na bunda do Rodrigo.
P.S. Até hoje não comentei no seu texto final sobre ULAS, pretendo fazer isso. Só adiantando meu posicionamento, acho que a Lícia tinha algo nas mãos parecido com que ela tinha em AVDG, e que para mim, faz ser melhor novela dela, mesmo reconhecendo as qualidades de Setes Vidas . Que era dividir o público sobre as ações dos personagens. Ela fez isso brilhantemente na trama das irmãs, ela soube construir as protagonistas. Já em ULAS, eu vejo a construção do Christian como o maior erro dela que foi primordial para rejeição da novela, fora os outros problemas

Sérgio Santos disse...

Eu tb, anonimo.

Sérgio Santos disse...

Mas eu achei o final mt bom também, Camila. Achei corajoso. E eu taambém nunca achei o final da Manu esse horror todo, só mudei a visao com a reprise. E concordo que a Licia errou a mão na condução do Cristian e o maior pecado dela foi jogar no lixo a cena que marcaria a maior catarse da novela. Ousar é válido, mas jogar fora um clichê desse foi um crime. Me frustrei muito, mesmo tendo gostado da novela no geral.

Camila Nere disse...

Nossa, Sérgio ela não mostrar a Bárbara descobrindo e o Santiago sendo tombado foi o maior erro dela! O pior que quem conhece os trabalhos dela sabe , que ela tem capacidade de escrever catarse. O pessoal fala muito na cena da discussão das irmãs, porém em AVDG é recheada de cenas icônicas. Eu acho maravilhosa a cena da Ana descobrindo que a Manu casou com o Rodrigo, a forma como usa a Eva é perfeita! Em 7 Vidas a Lígia descobrindo que Miguel estava vivo , como tudo vai sendo construído. Por isso, fiquei frustrada que ULAS tinha tudo para entregar cenas icônicas. Parece que ela largou mão da novela na reta final.

Sérgio Santos disse...

Assino embaixo, Camila!!!

Unknown disse...

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Pine disse...

Concordo muito com você, me dá agonia ver a forma como o Evandro trata a Carolina, para mim é uma relação abusiva.

Anônimo disse...

Nossa, eu queria tanto a Carolina com o Evandro no final, torcia por eles, mas vendo o comentário de vcs, me abriu os olhos, tem razão, Carolina sempre teve que ceder, e ela terminou pensando mais nela