Alanis Guillen tinha que ser a Juma Marruá do remake de "Pantanal"

 Bruno Luperi vem adaptando com raras mudanças o sucesso de seu avô, Benedito Ruy Barbosa, exibido em 1990 pela Rede Manchete. O remake de "Pantanal" vem angariando merecidos elogios, tendo a beleza das imagens e a boa escalação do elenco como maiores trunfos. E o principal desafio da produção era encontrar uma nova Juma Marruá, papel que mudou a vida de Cristiana Oliveira há 32 anos. Como selecionar uma atriz que lembrasse a colega, mas ao mesmo tempo tivesse um diferencial? Bem, já está claro que a escolha foi a melhor possível. 

Alanis Guillen vem dominando o papel desde sua primeira aparição no início da segunda fase da trama. Grata revelação de "Malhação - Toda Forma de Amar", a última temporada do seriado adolescente exibida em 2019, a atriz reúne todos os requisitos essenciais para um perfil como o de Juma. Queriam um rosto novo, mas com uma mínima experiência para segurar o peso do papel. Uma jovem intérprete, mas sem procedimentos estéticos que dominam a classe artística hoje em dia, como silicone, lentes nos dentes, harmonizações faciais, etc. E se tivesse uma semelhança com Cristiana Oliveira melhor ainda. 

A atriz representa o conjunto perfeito. Porém, de nada adiantaria todas as características mencionadas  se a profissional deixasse a desejar na atuação. Afinal, Juma é mulher que cresceu isolada do mundo, criada apenas pela mãe superprotetora, e muitas vezes se comporta como um bicho selvagem. É um perfil que exige um intenso trabalho corporal somado ao processo dramático.

O risco de cair em uma caricatura existe o tempo todo. Não é uma missão simples. Para culminar, a personagem é uma das principais da novela, ou seja, tem o peso de uma protagonista. Ela é a mocinha do enredo. 

Mas Alanis está tirando tudo de letra. Viver a filha de Maria Marruá (Juliana Paes), mulher que virava onça para defender sua cria, parece fácil para a atriz. Sua interpretação é tão meticulosa que em alguns momentos, sem qualquer exagero, fica nítido Juma se comportar como uma onça desconfiada ou pronta para dar o bote em algum inimigo. O olhar, a leve mexida no pescoço, o andar. A menina que virou mulher parece mesmo o felino. 

Vale até citar uma das melhores cenas da novela até então, quando Juma partiu para cima de um caçador que tentou violentá-la e arrancou sua orelha com uma dentada. Foi a primeira vez que a personagem quase se 'transformou' em onça e a expressão facial/corporal da atriz impactou. Alanis ainda tem uma ótima parceria com Bella Campos, a faladeira Muda, e uma boa química com Jesuíta Barbosa, intérprete de Joventino. Suas cenas com o grande Osmar Prado, o Velho do Rio, também merecem elogios constantes. Ainda é importante mencionar que Alanis conseguiu adaptar bem a forma da personagem falar. Copiou um pouco o jeito de Cristiana na versão original, mas com menos exagero e mais sutileza. 

A personagem, no atual momento da trama, vem enfrentando uma fase de transição por conta de seu casamento com Joventino. É um mundo novo para uma pessoa que fugiu da socialização desde que nasceu. Infelizmente, o autor manteve todos os equívocos da versão original, sendo que a barriga (período de enrolação onde nada de relevante acontece na história) era um dos principais. Ou seja, Juma acaba protagonizando situações repetitivas. As idas e vindas com Jove e as discussões sobre morar ou não na tapera vêm tirando a paciência do telespectador. Mas a atriz segue irretocável. 

É impossível olhar para Juma e não achar Alanis Guillen perfeita para o papel. Modéstia à parte, apostei nela assim que a produção da novela foi anunciada pela Globo. A escalação para o remake de "Pantanal" não poderia ter sido mais feliz.