A atual novela das nove de Glória Perez segue enfrentando muitos problemas de desenvolvimento. "Travessia" teve um início turbulento e com forte rejeição do público e da crítica. A trama está entrando em seu sexto mês de exibição e pouca coisa mudou desde então. A sensação de falta de história é constante. E a dificuldade na criação de conflitos bem estruturados ficou evidente até no núcleo protagonizado por Helô (Giovanna Antonelli), Stênio (Alexandre Nero) e Creusa (Luci Pereira), que foi usado como chamariz antes da estreia da produção.
Os três personagens roubaram a cena em "Salve Jorge", escrita por Glória e exibida em 2013. A novela também foi massacrada por público e crítica na época. Além do enredo fraco e das situações absurdas, a trama ainda sentiu o peso de substituir o fenômeno "Avenida Brasil". No entanto, o trio foi um dos poucos acertos e caiu nas graças do telespectador. A química da delegada com o advogado foi arrebatadora. O casal ofuscou os mocinhos ---- Theo (Rodrigo Lombardi) e Morena (Nanda Costa) ---- e os dois acabaram virando os protagonistas morais do folhetim. O amor que a empregada, Creusa, sentia por seus patrões deu um toque especial ao enredo e o trio teve uma sintonia perfeita.
O anúncio do retorno dos personagens em "Travessia", dez anos depois, despertou curiosidade, além de ter feito a alegria do 'fandom Steloísa', criado por várias telespectadoras fãs do casal há dez anos e que até hoje se mantém ativo nas redes.
Também era a chance da autora criar novos dramas para o trio, já que na época os principais conflitos eram as idas e vindas do par, incluindo a relação pouco amistosa com a filha, Drika, interpretada por Mariana Rios. Aliás, a herdeira do par é totalmente ignorada na atual novela. E não faz falta. A verdade é que a personagem era bem deslocada em "Salve Jorge" porque um dos muitos problemas da produção era o excesso de atores, o que implicava em várias figurações de luxo. E nem se Glória quisesse conseguiria trazê-la de volta porque a atriz hoje em dia é contratada da Record, onde trabalha como apresentadora. Mas, ao menos uma única menção a ela era necessária.Já os novos conflitos de Helô e Stênio não são nada novos. O que o público tem visto há mais de cinco meses são as mesmas idas e vindas que aconteciam há 10 anos. É uma delícia ver Giovanna Antonelli e Alexandre Nero em cena. A química dos atores segue apaixonante, tanto nos instantes de briga quanto nos de reconciliação, e já protagonizaram muitas cenas ótimas. Porém, o público e os fãs do casal mereciam mais. Os dois não têm dramas próprios. Helô virou uma delegada especializada em crimes digitais e está desde a primeira semana envolvida no interminável embate entre Moretti (Rodrigo Lombardi) e Guerra (Humberto Martins). Ainda serviu de 'escada' para a disputa, também infinita, entre Brisa (Lucy Alves) e Ari (Chay Suede) pela guarda do filho. Recentemente, foi a salvadora de Laís (Indira Nascimento) porque desvendou o mistério do desaparecimento do filho da amiga. E Stênio? A situação do advogado consegue ser pior. O personagem tem como principal função ser o conselheiro de Moretti e apagar os incêndios (que estão mais para brasas) que seu cliente provoca.
O único conflito que a autora criou para o casal foi uma trama bastante inverossímil envolvendo mafiosos que nunca despertou o menor interesse. Os bandidos interpretados por Cláudia Mauro e José Rubens Chachá estão há tempos vigiando a dupla e a breve sequência de ação exibida há algumas semanas não teve impacto algum. O pior é que nem Creusa tem um drama para chamar de seu. Glória colocou a personagem como madrinha de Brisa, a mocinha. Ou seja, seria um bom gancho para uma relação mais próxima e um aprofundamento da personagem, que em "Salve Jorge" não tinha família, enredo, nada. Era só a empregada engraçada. Infelizmente, agora segue sendo apenas a empregada bem-humorada. As cenas da ótima Luci Pereira com Giovanna e Alexandre são sempre boas por conta do entrosamento dos intérpretes. Mas a veterana merecia uma trama própria. A escritora contou na coletiva que Creusa viraria uma influenciadora digital por conta de suas receitas. Provavelmente, por conta da rejeição da novela e das modificações que Glória precisou fazer, essa parte acabou esquecida.
A volta de personagens marcantes na teledramaturgia não é algo raro. Normalmente, é o próprio criador que traz a sua criatura para uma outra história. Mas também há vezes em que escritores fazem homenagens e colocam personagens de seus colegas para alguma breve participação. É um recurso mais comum do que se imagina. Os mais lembrados são Dona Armênia (Aracy Balabanian) e suas 'filhinhas' que foram criados por Silvio de Abreu em "Rainha da Sucata" (1990) e retornaram em "Deus nos Acuda" (1992), do mesmo autor, que fez a mesma coisa com o icônico Jamanta (Cacá Carvalho) ----- personagem de sucesso de "Torre de Babel" (1999) que retornou em "Belíssima" (2005). Recentemente também houve outra situação, mas com escritores diferentes: Rosane Svartman trouxe de volta William (Diego Montez), perfil criado por ela e Paulo Halm em "Bom Sucesso" (2019), no primeiro capítulo de "Vai na Fé", ao lado de Alexia Máximo (Deborah Secco), uma das protagonistas de "Salve-se Quem Puder" (2020), de Daniel Ortiz.
Portanto, o retorno de Helô, Stênio e Creusa em "Travessia" não foi uma novidade. Pode até ser classificado como um clichê. Só precisava ser melhor trabalhado em respeito aos atores e ao público que tanto gosta do trio. Glória Perez resolveu homenagear seus personagens de "Salve Jorge", mas esqueceu de criar um enredo melhor para eles. Pena.
20 comentários:
Essa novela errou em tudo.
Esses três intérpretes talentosíssimos de perfis marcantes mereciam funções mais atrativas do que arrumar a bagunça de personagens de outros núcleos que não honram a própria importância na atual novela das 21h15min.
Guilherme
Eu lamento essa oportunidade (quase) perdida. No fundo torço pela Gloria Perez. E torço ainda mais pela dramaturgia brasileira e pelas obras culturais brasileiras, em geral.
Beijo e bom fim de semana
Uma opinião impopular: sempre achei esse casal bastante repetitivo, até mesmo em Salve Jorge. Os atores tinham(e ainda tem) uma química absurda, mas as cenas deles eram sempre as mesmas. A personagem da Giovanna Antonelli rendia muito mais nas cenas em que combatia o tráfico humano. Trazendo o casal de volta em outra novela, a Glória Perez tinha a chance de fazer a trama deles ganhar novos contornos, mas isso não aconteceu. Uma pena! Antes não tivessem voltado.
Não conheço essa novela, mas ela há de chegar a Portugal. Conheço o nome de alguns atores e atrizes,
Pelo que li, há atrizes fazendo papéis de pouca importância.
Está errado.
Beijos e bom outono, Sérgio.
Olá, tudo bem? Discordo de sua visão. Salve Jorge foi uma novela muito boa. Gostei bastante. Abs, Fabio www.blogfabiotv.blogspot.com.br
Helô e Stênio são carismáticos e mereciam um tratamento melhor em Travessia sim. Dá pra perceber que eles amadureceram nesse hiato de 10 anos, mas a história da máfia que envolve o casal é desnecessária, lenta e fraca. De resto as inúmeras recaídas deles ficaram repetitivas e simplesmente não evoluem. Pelo jeito só vão ficar juntos na última semana mesmo. Só pra variar.
Obs.: Estou gostando da participação do querido Paulo Tiefenthaler (Zezinho) em Travessia, mas pra variar essa história dele com o Moretti está lenta e repetitiva.
Tenho a mesma sensação. Uma pena.
Boa semana!
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Até mais, Emerson Garcia
Eu, como fã fervorosa do trio, e, principalmente, do casal, sinto uma grande frustração com o que temos. Tantos anos esperando para uma nova parceria de atores magníficos e com tanta química/entrosamento, arrisco dizer que a mais intensa dos casais da teledramaturgia que já vi até hoje, pra recebermos um enrendo apoiado em mesmices e sem desenvolvimentos minimamente esforçados. Apesar de tudo, o carinho que teremos por eles continuará, e as poucas migalhas ainda serão reassistidas e afetuosamente apreciadas, mas certamente atrapalhadas por memórias da frustração sentida por todas nós, Steloisas/GNs.
Um fraterno abraço a tds,
Nanda
Pena, anonimo.
Mereciam, Guilherme.
Eu idem, Marly!
Entendo, J.
Bjs, Ceu!
Ok, Fabio. Abçs.
Está mesmo, anonimo...
Pena, Emerson.
Frustração é uma boa análise sobre o que sentimos, Nanda.
Essa novela é um fiasco já devia ter terminado péssima um pra frente e pra tas q não dá em nada horrivel
Concordo, anonimo.
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