No capítulo desta terça-feira, dia 14, a novela das seis escrita por Alessandra Poggi e dirigida por Luiz Henrique Rios censurou uma situação que parecia já superada no setor de teledramaturgia da Globo: um beijo entre dois homens. Para piorar, a explicação para o corte em "Além da Ilusão" foi usada em tom cômico. Aliás, é até importante expor que o termo 'beijo gay' já soa algo ultrapassado, mas, infelizmente, se tornou inevitável para o título desta crítica.
Leopoldo (Michel Blois) foi um personagem que entrou meses depois da novela já no ar, mas logo conquistou seu espaço. O ator está ótimo e ajudou a deixar seu núcleo cativante. Sempre ficava claro que o gerente da rádio 'Alô Alô Campos' era gay através de cenas divertidas em que Leopoldo admirava Inácio (Ricki Tavares) sem camisa. Sua rivalidade com Arminda (Caroline Dallarosa) também era um dos trunfos da trama, que ficou ainda melhor quando os dois viraram amigos e cúmplices.
A entrada de Plínio (Nikolas Antunes) em "Além da Ilusão", um novo ator para fazer parte do elenco da radionovela, tinha como principal objetivo presentear Leopoldo com um grande amor. Todavia, o resultado ficou muito aquém do esperado. O personagem, que escondia sua homossexualidade, entrou na história há poucas semanas e se descobriu subitamente apaixonado pelo gerente da rádio assim que soube que ele também era gay.
Não houve construção alguma. Para piorar, Plínio o pediu em casamento na mesma hora que se declarou. Ficou algo tão forçado que pareceu que a autora apenas quis mostrar para o público que tinha um casal gay na sua trama. E só. Isso porque nem beijo teve. A cena conseguiu ficar ainda pior depois do pedido de casamento gratuito. Isso porque Plínio perguntou se poderia dar um beijo em Leopoldo. Logo após o questionamento, Arminda mandou Inácio sair da sala e se retirou junto. Inácio se indignou porque queria ver o beijo, mas ouviu de Arminda: "O horário não permite". E a sequência acabou ali. Foi uma tentativa de imprimir comicidade naquela situação? Porque não teve graça. Foi uma espécie de 'crítica' aos conservadores? Mas uma crítica que presenteia o conservador? Enfim, qualquer que tenha sido a intenção da cena não funcionou. A censura do beijo trouxe de volta um tabu que parecia já superado pela Globo, inclusive em folhetins das seis. É importante ressaltar que não foi a emissora que cortou o beijo porque o beijo nem foi escrito. Ou seja, a culpa é exclusivamente da autora."Orgulho e Paixão," primorosa novela de Marcos Berstein, exibida em 2018, apresentou um lindo casal formado por Capitão Otávio (Pedro Henrique Muller) e Luccino (Juliano Laham), com direito a beijo dado mais de uma vez. Foi um dos muitos êxitos da história ambientada em 1910. Já em 2019, foi a vez de "Órfãos da Terra", escrita por Duca Rachid e Thelma Guedes, ter um casal gay, no caso composto por duas mulheres: Valéria (Bia Arantes) e Camila (Anaju Dorigon). Também com beijos sem qualquer problema. Até a recém-terminada e problemática "Nos Tempos do Imperador", escrita por Alessandro Marson e Thereza Falcão, teve um par lésbico com direito a muitos beijos: Vitória (Maria Clara Gueiros) e Clemência (Dani Barros). É verdade que os três romances só ocorreram na reta final de cada folhetim, o que ainda representa um atraso e tanto, mas, ainda assim, não deixa de ser uma evolução, mesmo que pequena.
Agora, com "Além da Ilusão", o pequeno passo dado a frente pelas novelas anteriores foi aniquilado. O corte do beijo de Plínio e Leopoldo, somado ao desenvolvimento apressado e sem qualquer construção do casal, representa um grande retrocesso no setor de teledramaturgia da Globo. Não deu para entender a justificativa da autora a respeito do horário, levando em consideração tudo o que a novela vem apresentando, incluindo piadas envolvendo impotência sexual e pai assassinando filha.
21 comentários:
Essa novela começou tão boa e tá se perdendo. Essa trama da Dorinha com o Rafael está insuportável. E esse casal nem construção teve como você bem disse no texto.
Não sou telespectador assíduo de "Além Da Ilusão", mas nas semanas mais recentes observam-se sequências equivocadas como a citada neste texto, Sérgio. Fora a apatia que a trama envolvendo o triângulo amoroso central vem provocando.
Guilherme
Decepcionante presenciar tamanho retrocesso!
Não assisto essa novela, mas observei que no Pantanal as cenas amorosas em geral não estão tão quentes. Não penso em censura, mas talvez estejamos vivendo um momento muito conservador no Brasil e a globo esteja querendo agradar o telespectador, pois muitos criticavam cenas muito quentes das novelas. Beijos ;) https://botecodasletras2.blogspot.com/
exato. a novela aborda com profundidade tantos temas polêmicos. teve até boa noite cinderela e tentativa de estupro às 6. não fez sentido algum o boicote. beijos, pedrita
É... o preconceito ainda é grande
por parte da sociedade.
Infelizmente acho que isso pesa.
✨✨✨✨✨
Ane/De Outro Mundo
Beijos!
Olá, tudo bem? Muito estranho isso. A faixa horária já exibiu um beijo entre dois rapazes. Será que não foi para provocar repercussão? Abs, Fabio www.blogfabiotv.blogspot.com.br
Embora já se tenha evoluído bastante, infelizmente ainda existe muito preconceito relativamente à sexualidade de cada um. Felizmente, por aqui dá-me a sensação que os programas televisivos já estão bem mais liberais em relação à questão da homossexualidade.
Como sempre uma excelente revisão.
Beijinhos
Que gafe. Será que terá como a autora se retratar?!
Boa semana!
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Até mais, Emerson Garcia
Sinceramente, Órfãos da Terra e Nos Tempos do Imperador não devem ser festejados pelos romances lésbicos. Nas duas situações, as personagens decidem se envolver com outra mulher depois de dizerem que se decepcionaram com homens. Esses duas novelas foram um desserviço e só contribuiram para reforçar aquela imagem que lésbicas só são lésbicas porque não encontraram o homem certo.
Verdade
Concordo, anonimo.
Voce está certo, Gui!
Decepcionante é a palavra, chaconerrilla.
Exato, Jeanne.
Tb não entendi, Pedrita.
Infelizmente, Ane.
Estranho mesmo, Fabio.
Obrigado, Maria.
Ela nada falou, Emerson.
Entendo, anonimo, mas ainda assim foram mais corajosas que a atual.
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