Vitória Strada e Andreia Horta se destacaram com a surra da mocinha na vilã em "Tempo de Amar"

Não adianta reclamar. O clichê seguirá vivo na ficção e fazendo parte de todos os folhetins, marcando presença também em filmes e peças teatrais. A própria vida às vezes é um clichê. E quando bem trabalhado, esse elemento deixa qualquer produção convidativa. "Tempo de Amar", por exemplo, é uma trama tradicional e não poderia fugir da clássica surra da mocinha na vilã. O capítulo do último sábado (27/01) exibiu esse aguardado momento, honrando a longa espera do público.

O folhetim das seis da Globo, escrito por Alcides Nogueira e Bia Corrêa do Lago, é muito lento. O telespectador pode se dar ao luxo de não assisti-la por umas duas semanas que não perde nada. Por isso mesmo até agora Inácio (Bruno Cabrerizo) e Maria Vitória (Vitória Strada) não se reencontraram. Ou seja, natural, portanto, o acerto de contas entre mocinha e vilã ter demorado quatro meses  ---- assim como o desmascaramento da víbora. Mas a cena cumpriu tudo o que havia prometido, destacando a entrega das atrizes.

Foi um momento de lavar a alma do público, como costuma realmente ocorrer durante surras em novelas. Na vida real, a violência merece ser condenada, mas na ficção todo mundo pode torcer para esse tipo de catarse. A mocinha fez questão de expor todo o seu nojo pela canalhice da então amiga, que escondeu Inácio o quanto pôde, fingindo que o rapaz estava morto.
Após as duras palavras, a protagonista ouviu a vilã debochar dos seus sentimentos e não conseguiu se segurar: partiu para cima da agora inimiga e lhe encheu de tapas. Uma cena irretocável, com direção precisa de Jayme Monjardim.

Que prazer ver uma estreante contracenando de igual para igual com uma colega bem mais experiente. Vitória Strada passou brilhantemente toda a indignação de sua personagem e sua expressão facial fez toda a diferença, com direito a olhos lacrimejados de ódio. Que grata revelação dessa novela. E Andreia Horta esbanjou o seu conhecido talento em todos os instantes de ironia da mau-caráter e seu posterior desespero com a sucessão de tapas dados pela rival. A algoz virou a vítima por alguns segundos, apanhando sem dó da mocinha.

Vale destacar ainda a coragem do autor em escrever uma sequência com vários tapas em uma época onde esse tipo de situação anda cada vez mais rara. Mesmo com o fim da censura em torno da Classificação Indicativa, a Globo tem moderado demais nos horários das seis e sete. Normalmente um tapa (ou no máximo dois) tem sido quase uma regra. Ainda bem que a mesma foi quebrada agora. O resultado foi o melhor possível, castigando a vilã merecidamente e valorizando a postura altiva da protagonista, que sofreu horrores nos primeiros meses de história.

Vitória é uma atriz que será chamada para vários outros trabalhos. Encara seu primeiro papel na televisão com total segurança, mesmo sendo a mocinha do enredo. Qualquer uma em seu lugar sentiria o peso da responsabilidade. Ela com certeza está sentindo, mas disfarça muito bem. Parece experiente no ar. E Andreia, após ter emocionado com sua destemida Joaquina em "Liberdade, Liberdade" (2016), encara sua primeira vilã (bem maniqueísta) repetindo seu ótimo desempenho em trabalhos anteriores, como o da citada trama das 23h, onde viveu sua primeira heroína.

"Tempo de Amar" é uma novela que valoriza bastante a mocinha e Vitória Strada vem se beneficiando muito com isso, podendo mostrar sua capacidade. Já a vilã é totalmente dependente de Inácio, não tendo função sem ele. Prometia bem mais no começo da trama. No entanto, Andreia Horta sempre protagonizou boas cenas e a esperada sequência da briga entre as personagens destacou o talento das intérpretes. Pena que foi exibida em um sábado, dia com audiência bem mais baixa (marcou apenas 20 pontos).