segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Esquecível e boba, "Pega Pega" não honrou sua ótima audiência

A estreia de Claudia Souto como autora solo, após anos trabalhando como colaboradora de vários escritores ---- entre eles Walcyr Carrasco ----, fez a alegria da Globo no horário das sete. "Pega Pega" teve uma audiência acima de qualquer expectativa e terminou com uma média geral de 29 pontos, maior índice desde o fenômeno "Cheias de Charme" (2012). Um feito e tanto. Ou seja, o objetivo da emissora foi cumprido: lançar um novo roteirista, recebendo um bom retorno em faturamento. Porém, o enredo não honrou essa média elevada e a repercussão da trama foi baixa, não acompanhando os impressionantes números.


A história já começou equivocada com o amor súbito e pouco convincente de Eric (Mateus Solano) e Luiza (Camila Queiroz). Os mocinhos se apaixonaram perdidamente no primeiro capítulo e ainda na estreia se declararam perdidamente loucos de amor, com direito a transa e passeio de helicóptero romântico. Impossível ter comprado o romance dessa forma tão rasa. O resultado dessa construção apressada foi o fracasso do par, que não teve química alguma e não demorou para perder importância no folhetim ao longo dos meses. Para culminar, os perfis também eram desinteressantes e insossos. 

Luiza, por exemplo, não teve um drama particular sequer. Seu único conflito foi a falência do avô, Pedrinho Guimarães (Marcos Caruso), depois que o Carioca Palace foi roubado durante a venda. Ainda assim nem era um problema dela e, sim, do avô. Suas brigas bestas com Eric também não acrescentaram em nada, dando a clara impressão de preenchimento de tempo dos capítulos.
Os desentendimentos, aliás, se mostravam pouco críveis, vide a desconfiança dela a respeito da morte misteriosa da esposa de Eric. A neta do dono do hotel só se preocupou em investigar o namorado depois que se casou com ele. Um pouco tarde, não? 


A saída da autora para criar algum tipo de drama para o personagem de Solano, inclusive, foi colocá-lo como 'ajudante' da polícia na investigação do roubo do Carioca Palace. Porém, não deu certo. Ele acabou virando um mero intrometido que atrapalhava o trabalho dos investigadores e ainda seduziu Sandra Helena (Nanda Costa) e Maria Pia (Mariana Santos) para desmascará-las, expondo a hipocrisia do seu discurso em prol da honestidade ---- vale lembrar que o empresário pagou pelo hotel em dinheiro vivo, cedendo aos apelos de Pedrinho, que queria se livrar dos impostos do governo. 


Sandra e Maria, por sinal, foram as melhores personagens da trama. As duas tinham falhas de caráter, mas eram humanas e nunca foram meras vilãs. A primeira foi seduzida pelo dinheiro fácil, sendo uma das integrantes da quadrilha que roubou o hotel, e a segunda aproveitou o roubo para chantagear Malagueta (Marcelo Serrado) com o intuito de finalmente conseguir ficar com Eric, seu eterno amor platônico. Duas figuras insensatas e carismáticas. Nanda Costa cresceu na novela merecidamente, roubando a cena várias vezes, principalmente na época que a ladra herdou uma fortuna de uma hóspede querida, ficando milionária. Já Mariana acabou deslocada uma boa parte do tempo, lamentavelmente, só ganhando importância na reta final. Mas, ainda assim, conseguiu brilhar e formou o melhor casal de "Pega Pega" com Marcelo Serrado.


É preciso também citar o Malagueta. Mentor do roubo de 40 milhões de dólares, convencendo os amigos Sandra, Júlio (Thiago Martins) e Agnaldo (João Baldasserini), o vilão foi bem construído pela autora e o ator se saiu muito bem, imprimindo até uma gargalhada característica pro papel. Arrogante e inteligente, Vitor no fundo só queria mostrar para o pai criminoso (Timóteo - Cacá Amaral) que poderia ser tão 'genial' no crime quanto ele. Pena que o enredo envolvendo esse famigerado roubo se esgotou rapidamente. Não conseguiu ficar atrativo nem por dois meses. Tanto que Claudia estendeu o quanto pôde a revelação da identidade do quarto ladrão, só usando essa carta na manga nas semanas finais. A enrolação em torno disso ficou nítida e nem mesmo as prisões de Júlio, Agnaldo e Sandra Helena provocaram bons conflitos. 


Por falar no quarteto, é uma pena que o casal Sandra e Agnaldo não tenha sido aproveitado como deveria. A paixonite dela por Eric se mostrou forçada e o par acabou perdendo relevância, até mesmo durante a fase da ex-camareira rica. Esse par e o formado por Maria Pia e Malagueta foram os únicos bons do enredo e poderiam ter rendido muito mais. Afinal, além do romance sem sal de Eric e Luiza, a relação de Júlio e Antônia (Vanessa Giácomo) era irritante. A expressão sofredora constante de Thiago cansava e o discurso moralista do suposto mocinho transbordava hipocrisia, bancando a vítima e alegando que roubou para as tias não serem despejadas. Os três outros ladrões foram seduzidos pela ambição e foi fácil de comprar essa besteira que fizeram, mas a razão dele se mostrou nada convincente e rasa. As idas e vindas com a policial eram dignas de adolescentes e o par não foi nada cativante; enquanto as brigas do rapaz com Domênico (Marcos Veras) soavam absurdas, pois faziam parecer que ele era o certo e o policial, parceiro de Antônia, o errado.


Outro problema grave da novela foi o desperdício de grandes nomes. Nicette Bruno e Cristina Pereira formaram uma deliciosa dupla, mas Elza e Prazeres não tiveram relevância alguma para o roteiro e ficaram avulsas boa parte do tempo. Houve até uma cena relativamente longa das duas tentando matar mosquitos... Ângela Vieira e Reginaldo Faria foram mais alguns ótimos atores desperdiçados e nem a revelação da vilania de Ligia e Athaíde no fim salvou. Danton Mello (Borges) e Dani Barros (Tereza) foram meros figurantes e o núcleo do Teatro de Bonecos era totalmente deslocado da história e parecia uma novela paralela. Até mesmo Milton Gonçalves não teve o destaque merecido, ainda que a trama envolvendo a adoção de Dom (David Júnior) tenha proporcionado boas cenas para os intérpretes, incluindo a maravilhosa Irene Ravache (Sabine). Aliás, Irene fez uma improvável e gostosa dupla com Jeniffer Nascimento, que viveu a interesseira Tânia. A veterana começou apagada, mas ganhou um destaque maior ao longo dos meses.


Entre os poucos acertos da produção ---- além dos já citados Maria Pia, Malagueta, Sandra Helena e da dupla formada por Sabine e Tânia ----, é necessário mencionar Guilherme Weber. Douglas ganhou um intérprete conhecidamente talentoso e o responsável por todos os empregados do Carioca Palace foi um perfil divertido, que protagonizou boas cenas, descobrindo até um filho depois da metade da trama. Vale elogiar também Rodrigo Fagundes, ótimo como Nelito, e Elizabeth Savalla, muito bem como Arlete, formando um casal agradável com Marcos Caruso. Valentina Herszage foi a grata revelação da novela e a atriz defendeu a problemática Bebeth com competência ---- pena que o drama da menina tenha sido tão chato, dando até saudades do seu canguru imaginário, tão criticado no início da história.


A reta final do folhetim apenas reforçou os problemas no roteiro e a falta de conflitos atraentes. O julgamento dos quatro ladrões durou uma eternidade, provocando tédio ao invés de empolgar. A revelação de que Júlio e Eric são irmãos soou estapafúrdia, mostrando até um certo improviso da autora, que dificilmente planejou em sua sinopse. Afinal, qual a lógica em Arlete saber que seu filho era herdeiro de um hotel luxuoso e deixá-lo endividado morando com as tias? E porque só contou muito tempo depois da prisão dele e de todos os problemas que acarretaram? Para culminar, o único drama do enredo passou a ser o mistério em torno do assassinato de Mirela, uma personagem que o público só viu na história através de uns 3 flashbacks, aproximadamente. E mistério apenas para os personagens porque o telespectador já estava cansado de saber que era Lígia a autora. Tanto que as últimas semanas se arrastaram e o penúltimo capítulo não teve nada de relevante. A verdade é que já não restava muita coisa para resolver ou concluir.  Ao menos a cena de Ligia e Athaíde tentando fugir de avião --- em uma clara referência ao sucesso "Vale Tudo" (1989), mas desta vez fracassando --- foi uma boa sacada.


O último capítulo valeu pela linda cena de reconciliação entre Maria Pia e Bebeth, destacando a emoção de Mariana Santos e Valentina Herszage. Ângela Vieira e Irene Ravache também brilharam no momento em que Lígia e Sabine se estapeiam na cadeia, enquanto o desfecho do casal 'Malapia' foi divertido com Malagueta curtindo Búzios ao lado da amada, depois de ter cumprido pena por oito anos e escondido parte da grana roubada. O ''crossover'' com "Deus Salve o Rei" foi outro ponto alto, surpreendendo com o sonho das crianças com Amália (Marina Ruy Barbosa) no Reino de Artena. Já o resto foi totalmente dispensável, incluindo Aguinaldo rico que não fez o menor sentido.


"Pega Pega" é aquele caso de que audiência e qualidade nem sempre andam juntas. A novela de Claudia Souto, dirigida com profissionalismo por Luiz Henrique Rios, fez um grande sucesso e os excelentes números comprovam isso. É um fato que precisa ser reconhecido. Entretanto, a história se mostrou rasa, boba e totalmente esquecível. É um folhetim que não será lembrado e nem engrandecerá a carreira da maioria dos atores que participaram, infelizmente.


26 comentários:

Gustavo Nogueira disse...

Essa novela foi bem fraca, mt ruim, sem lógica e com história rasa.Do pouco que vi, só gostei da Sandra Helena e do casal Maria Pia e Malagueta(que foi desenvolvido SÓ NA RETA FINAL).O casal de protagonistas foi um dos mais insuportáveis que já vi em novelas.Do elenco, os destaques na minha opinião foram a Nanda Costa, Marcelo Serrado, Mariana Santos e Irene Ravache.Achei Camila Queiroz(primeira atuação dela que eu não gosto) e Thiago Martins mt fracos, apesar dos personagens tbm não ajudarem mto.Matheus Solano foi bem, mas não conseguiu se destacar porque seu mocinho Eric era insuportável e de uma hipocrisia absurda.GRAÇAS A DEUS ESSA NOVELA ACABOU, ADEUS PEGA PEGA!!!!!!!!

Anônimo disse...

Já foi tarde!

Débora disse...

Marcelo Serrado e Mariana Santos carregaram esse trambolho nas costas.

Malu disse...

Elenco: Mariana Santos, grata revelação pois apesar de vê-la por anos no Zorra, não imaginava que fosse tão boa no drama! Protagonista moral da novela! Nanda Costa, que sempre achei injustiçada pelo fracasso de SJ (pra mim ela sempre foi uma ótima atriz, aliás, cabe destacar que nessa última semana ela esteve no ar em dobradinha, com dois trabalhos excelentes). Guilherme Weber, um cara que na infância me dava um certo medo como Tony de Da Cor do Pecado, e agora me provocou extrema ternura com seu Douglas. Rodrigo Fagundes, que também acertou o tom do doce Nelito. Jeniffer Nascimento, ótima, principalmente nas cenas com Irene Ravache. Aliás, Irene e todos os veteranos como Nicette, Cristina, Savalla, Milton, estiveram ótimos. Marcelo Serrado, que por mais que tenha antipatia dele, admito que fez um bom trabalho. Elogio tbm a estreante Valentina Herszage, que foi muito bem mesmo a personagem sendo um porre de chata. Já João Baldasserini poderia ter sido melhor aproveitado, e em vários momentos me lembrou o Beto, de Haja Coração. Mesma coisa o Mateus Solano, que tem um talento indiscutível, mas a cada descoberta nova do Eric sobre esse infinito mistério da morte da espozzz parecia que ele ia soltar um "salguei a santa ceia" a qualquer momento. Marcos Caruso tbm tem feito personagens muito parecidos.

Trama: Sinceramente, se dependesse apenas do plot do roubo Pega Pega poderia ser um filme. Foi preciso muita paciência e boa vontade nossa pra aceitar policiais mais burros que o Dante demorando um século pra descobrir os 4 ladrões. Já sobre a bendita morte de Mirella: 1º Quem se importa? 2º Forçado demais a parte em que a Luiza desconfiou que o Eric pudesse ter matado a mulher. Tipo, foi um tiro no pé pq Claudia expôs a falta de construção do par. 3º Literalmente todos os personagens estavam envolvidos nesse crime de alguma forma. Era um tal de um corta os freios, outro esconde provas, outro foi o mandante, outro encobriu o mandante, outra que sabia de tudo... No final até uma das policiais foi presa por ajudar o Athaíde! Muita coincidência toda essa galera se conhecer também, visto que até o policial que investigava o Athaíde era ex da Luiza, uma clara tentativa de dar uma animada no casal, mas que tbm não funcionou.

Personagens: Luiza era tão relevante que mal apareceu no último capítulo, sequer teve qualquer cena marcante durante a novela. Eric um chato que muitas vezes agia sem qualquer ética, numa tentativa de gerar uma dúvida sobre o caráter dele, o problema disso é que ninguém liga pra ele. Agora, o personagem mais mala sem alça do ano foi esse Júlio! Vou nem comentar. Maria Pia, Malagueta e Sandra foram os melhores perfis, a Agnaldo poderia ser incluído aí se a autora não tivesse cagado tanto o desenvolvimento dele. Tinha um drama interessante com o irmão, mas que logo foi solucionado apagando de vez o perfil.

Enfim, com toda essa audiência, Claudia Souto com certeza ganhará mais uma chance (assim como o péssimo Daniel Ortiz). Agora é esperar que ela melhore porque sua estréia foi ruim.

Anônimo disse...

Achei ruim demais e já acabou esquecido enquanto tava no ar.Muito ator desperdiçado e mocinhos péssimos.

Bela disse...

A trama até interessante: 4 funcionários de um hotel que roubam 40 milhões de dólares. Daria uma baita série de no máximo 10 episódios, nunca uma novela. Seria legal se fosse um seriado, focaria totalmente nos 4 ladrões, em suas respectivas famílias e vidas antes e depois do roubo.
Destaques para: Mariana Santos, Marcelo Serrado, Nanda Costa, Júlia Lund [a Mônica, acho ela ótima.], Jeniffer Nascimento, Irene Ravache, Mateus Solano[tirou leite de pedra].
Não sou lá muito fã do Baldasserini e achei a Camila Queiróz bem apagadinha nessa novela, ok que a personagem não ajudava mas esperava mais.
O que era aquele núcleo dos bonecos? Coitado do Danton Mello, não tem tido sorte nos seus últimos papéis na TV, infelizmente... que na próxima ele se dê melhor. O menino que fez par com a Bebeth achei péssimo também.

Fernando Oliveira disse...

Esquecível e boba, sua crítica, a crítica de uma pessoa que rejeitou Pega Pega é chocha, capenga, manca, anêmica, frágil e inconsistente.

Mary disse...

O que salvou msm foi Malapia e Sandra Helena
Belaventura mil vezes bem melhor

Leitora disse...

Pega Pega é a prova de que o sucesso é muito subjetivo porque como uma novela meia boca teve tanto êxito é um mistério pra mim.

Luli Ap. disse...

Olá Sérgio
Parabéns!
Como sempre um texto perfeito e absolutamente pertinente.
Uma pena viu! Um plot que tinha sido instigante e que se perdeu no meio do caminho ... na verdade nem chegou no meio do caminho, de cara já estava perdido :/
Casal sem sintonia, premissa que não se sustentava, histórias repetitivas, linhas mal costuradas, atores excelentes com personagens mal construídos e as "surpresas" não surpreenderam :(
O que se salvou na novela foi o casal Malapia (a GNT aprovou um programa do Marcelo Serrado e da Mariana, bacanudo né?????) e Queiroz/Douglas uma overdose de fofurice <3
O capítulo final valeu pela cena da Bebeth com a Maria Pia :)
Bjs Luli
Café com Leitura na Rede

Lucas disse...

Novela chata pra caralh*...

Sérgio Santos disse...

Concordo com vc, Gustavo.

Sérgio Santos disse...

Tb acho, anonimo.

Sérgio Santos disse...

Tb adorei eles, Débora.

Sérgio Santos disse...

Nossa, Malu, que comentário perfeito. Onde eu asino? Nem acrescentarei mais nada pq vc disse tudo e mais um pouco.

Sérgio Santos disse...

Verdade, anonimo.

Sérgio Santos disse...

Endosso tudo, Bela. É isso.

Sérgio Santos disse...

Ok, Fernando.

Sérgio Santos disse...

Pois é, Mary. Malapia e Sandra Helena salvaram.

Sérgio Santos disse...

É um fato, Leitora...

Sérgio Santos disse...

Tb achei interessante esse programa que Marcelo e Mariana farão na GNT, Luli. Fruto do sucesso do par mesmo. Vamos ver. bjsss

Sérgio Santos disse...

Tb achei, Lucas.

izabel disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
izabel disse...

Encerrada sua exibição, não dá muito bem para entender (e aceitar) como 'Pega Pega' foi bem sucedida tendo sido tão fraca. Sinceramente é uma das piores e mais enfadonhas novelas que já deu as caras no horário das sete. Já foi tarde!

Sérgio Santos disse...

Concordo, Izabel.

Nanny-Chan disse...

Concordo contigo, o que salvou a novela foi o casal Malapia! Mariana e Marcelo carregaram essa novela nas costas. As melhores cenas de toda a novela são TODAS deles, em TUDO! Melhor cena romântica, melhor cena cômica, melhor cena dramática, melhor identificação com o publico e afins. O casal principal é mais que esquecível, chato e sem carisma nenhum.
Maria Pia tinha mais enredo como personagem sozinha do que toda a novela junta, e o mesmo com o Malagueta que era muito mais interessante que o Erick.
Enfim a novela tinha enredo chato, mas o casal MALAPIA vai ser lembrado com muito carinho.