segunda-feira, 15 de março de 2021

Marisa Orth saiu da zona de conforto em "Haja Coração"

Todo ator foge do estigma. Nenhum intérprete gosta de ser conhecido apenas por um determinado tipo de papel. O sonho de um profissional das artes cênicas é justamente ter a possibilidade de exercer versatilidade, mostrando que é capaz de viver qualquer tipo. Nem todos conseguem. Alguns por falta de oportunidade e outros por falta de talento mesmo. Marisa Orth, por exemplo, ficou conhecida por muito tempo pelos seus papéis cômicos, especialmente a inesquecível Magda, de "Sai de Baixo". Mas em "Haja Coração", em sua última semana de reprise, pôde mostrar que também tem talento de sobra no drama.


A batalhadora Francesca se viu abandonada pelo marido ---- o sumiço de Guido (Wernner Schunemann) foi um dos 'mistérios' da novela, só sendo revelado no último mês ---- e criou os quatro filhos sozinha, trabalhando como feirante. Tem uma relação de cumplicidade com o filho Giovanni (Jayme Matarazzo), enquanto demonstra um grande afeto por Tancinha (Mariana Ximenes) e uma superproteção com Shirlei (Sabrina Petraglia). O seu relacionamento com Carmela (Chandelly Braz) é bastante problemático e ainda demorou muito para se abrir a um novo amor. Ou seja, é um perfil que não tem absolutamente nada de cômico.

Daniel Ortiz confiou no talento da atriz para o papel e valeu a pena. Inicialmente, a personagem seria interpretada por Christiane Torloni, com quem o autor trabalhou em "Alto Astral", mas a intérprete foi deslocada para "Velho Chico" na época, havendo assim a troca. Sorte da Marisa, que pôde exercer uma faceta não muito conhecida do grande público.
Ela soube demonstrar toda a firmeza daquela forte mulher, protagonizando bons momentos de emoção, principalmente quando a amorosa mãe fazia questão de estar presente ao lado dos filhos, os defendendo de tudo e todos.

A personagem não era uma das principais e quase sempre serviu de escada para os demais. Entretanto, isso em nada afetou o desempenho de Marisa, que soube aproveitar as oportunidades. Aliás, a relação de Francesca com Shirlei e Carmela foi a principal riqueza do perfil. A mãe nunca contou para ninguém que a sua filha com desvios de caráter tinha sido a responsável pela deficiência da caçula. O trauma foi guardado a sete chaves, provocando constantes embates entre as duas, onde a mágoa sobressaía. O passado obscuro implicou em uma das melhores cenas do folhetim, resultando na total entrega das intérpretes. Marisa emocionou durante todo o relato sofrido de uma mulher que tentou proteger as duas filhas, mas acabou prejudicando psicologicamente ambas.

E a vida amorosa de Francesca também merece menção, pois proporcionou para Marisa cenas mais leves com Paulo Tiefenthaler, intérprete do metódico Rodrigo. O novo amor da matriarca sofre de TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo) e a construção da aproximação deles foi interessante, com direito a uns instantes mais cômicos, área que a atriz domina. Já a sua rivalidade com a família Abdala poderia ter sido muito mais explorada, pois não faltaria cena ótima protagonizada por ela, Cláudia Jimenez (Lucrécia) ---- sua colega de "Sai de Baixo" ---- e Grace Gianoukas (Teodora). Mas a situação acabou prejudicada pelo equívoco do autor em retirar Teodora da novela somente porque o mesmo havia ocorrido em "Sassaricando", obra que baseia a nova versão.

A atriz estreou na televisão em "Rainha da Sucata" (1990), onde viveu a tímida e desengonçada Nicinha, e em 1992 participou da icônica "TV Pirata". Ela ainda esteve em "Deus Nos Acuda" (1992), além de ter marcado presença no especial "A Comédia da Vida Privada" e em alguns episódios do "Você Decide" (1995). Entre 1996 e 2002 viveu o auge da sua carreira na pele da burra Magda em "Sai de Baixo", seu papel mais marcante. Com o fim do sitcom, integrou o elenco de várias séries cômicas, como "Os Aspones" (2004), "Minha Nada Mole Vida" (2006), "S.O.S - Emergência" (2010), "Macho Man" (2011) e "Odeio Segundas" (2015), além de ter feito parte de outra sitcom: o "Toma Lá Dá Cá" (2007/2009). "Agora é que são elas" (2003), "Bang Bang" (2005) e "Sangue Bom" (2013) ---- onde deu show como Damáris --- foram outras novelas que contaram com seu talento. Mas sempre fazendo perfis voltados para o humor. Duas das raras exceções foram a série "Dupla Identidade" (2014), onde interpretou a amargurada Silvia, esposa de um político corrupto, e "Tempo de Amar" (2017), quase um ano após "Haja Coração", onde emocionou como Celeste.

A reprise de "Haja Coração" está chegando ao fim e foi possível constatar como Marisa Orth  exercitou bem uma faceta pouco explorada. Francesca foi uma personagem defendida com competência pela atriz, que foi um dos destaques positivos de uma novela que apresentou vários problemas de percurso.

8 comentários:

Anônimo disse...

Sempre agrega à carreira de um ator ou atriz defender perfis diferentes dos que está habituado a interpretar. E Marisa Orth com louvor se entregou em cena em "Haja Coração" (2016) e "Tempo De Amar" (2017), mesmo que essas duas novelas tenham deixado a desejar em sua totalidade.

Guilherme

Lulu on the sky disse...

Olá Sérgio,
A Marisa Orth é uma atriz completa. Pode dar qualquer personagem que ela brilha. Inclusive no teatro em peças musicais.
Big Beijos,
Lulu on the sky

Anônimo disse...

Ela foi maravilhosa mesmo numa novela ruim.

Jovem Jornalista disse...

Uma grande atriz, com certeza!

Boa semana!

O JOVEM JORNALISTA voltou do Hiatus de verão cheio de novidades e posts novos!

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Até mais, Emerson Garcia

Sérgio Santos disse...

Assino embaixo, Guilherme.

Sérgio Santos disse...

Ela é, Lulu.

Sérgio Santos disse...

Concordo.

Sérgio Santos disse...

Boa semana, Jornalista.