A construção de uma mocinha é sempre um dos maiores desafios de um autor porque o risco de dar errado é elevado. Qualquer deslize pode influenciar na má vontade do público e até em uma rejeição. A escolha da atriz também é fundamental para a boa aceitação. É um conjunto que precisa funcionar porque uma protagonista que fracassa sempre afeta o folhetim e muitas vezes é necessário um plano B para mexer no roteiro e evitar um desastre maior. Só que "Garota do Momento" e "Volta por Cima" estão muito bem-sucedidas neste quesito.
Beatriz (Duda Santos) e Madalena (Jéssica Ellen) são mocinhas cativantes e brilhantemente interpretadas. Houve um grande acerto na escalação das atrizes e na construção das personagens, que despertam a simpatia dos telespectadores naturalmente, graças ao desenvolvimento dos conflitos e como ambas reagem a eles. Afinal, o público não tolera mais perfis ingênuos ou passivos demais na teledramaturgia atual. É verdade que os vilões são os responsáveis pela movimentação da história e os protagonistas funcionam como uma espécie de 'receptores', mas para que haja empatia de quem assiste é necessário inteligência e poder de reação.
As autoras das novelas das seis e das sete se cercaram de artifícios para um amparo das mocinhas perante o público. Alessandra Poggi faz de Beatriz um mulher de fibra e que luta pelo que quer sem maiores receios.
O fato da história ser ambientada em 1958 deixa tudo mais difícil, uma vez que a mocinha é uma mulher negra em uma época cujo racismo era ainda maior do que hoje. Só que a autora consegue criar situações críveis, mesmo diante de algumas situações anacrônicas, e evita cair na armadilha de mergulhar em uma única temática na saga de sua protagonista, que lutou para ser reconhecida pela mãe e sonha em abrir sua própria escola.É até difícil enumerar a quantidade de acontecimentos que Beatriz já enfrentou em "Garota do Momento", mas em todos teve inteligência para lidar com os vilões, a rival e todas as pedras que foram colocadas em seus sapatos. Começou sofrendo racismo assim que reencontrou sua mãe na Perfumaria Carioca, mas virou o jogo e conseguiu uma reparação a ponto de ser contratada como garota propagada da fábrica de sabonetes. Quase foi assassinada, mas novamente agiu com inteligência, retornou vivinha da Silva e expôs seus algozes durante um concurso no Alfredo Honório Show. Conseguiu um emprego como atriz e se tornou a primeira protagonista negra de uma novela, a versão inovadora de "Senhora". Já sofreu uma nova armação em pleno folhetim com o intuito de prejudicar seu namoro com Beto (Pedro Novaes), mas descobriu tudo e contou ao seu namorado. Ela não é feita de idiota nunca. Está sempre atenta a tudo ao seu redor. Pena que nas últimas semanas a protagonista tenha ficado tão benevolente em relação aos crimes cometidos por Bia (Maisa) somente para não magoar Clarice (Carol Castro). A vitimização excessiva da rival é uma conveniência de roteiro que prejudica a trajetória da mocinha, mas não afeta a torcida do público por ela. Dá gosto acompanhá-la e Duda é um assombro em cena. Nasceu para protagonizar novela, vide o sucesso que também fez como Santinha na primeira fase do remake de "Renascer" ano passado.
E Cláudia Souto também tem sido habilidosa no desenvolvimento de Madalena. A mocinha de "Volta por Cima" nunca foi feita de besta por ninguém, nem pelo ex-noivo, Chico (Amaury Lorenzo), que a traíra com Roxelle (Isadora Cruz). Isso porque a personagem terminou o relacionamento quando percebeu que foi deixada de lado pelo companheiro de anos e se apaixonou por Jão (Fabrício Boliveira). Também não demorou para descobrir o furto do bilhete de loteria premiado que seu pai tinha comprado poucos dias antes de morrer de infarto. Com a ajuda do mocinho, Madá soube que Osmar (Milhem Cortaz) era o autor do crime e rompeu relações com o tio. Nunca se intimidou com o poder de Violeta (Isabel Teixeira) e chegou a estapeá-la quando a vilã ofendeu Tatiana (Bia Santana). Aliás, tapa é com ela mesma. A mocinha deu uma surra na irmã, após inúmeras tentativas de consertar seu caráter diante da defesa cega por Osmar, e ainda deu um tapão em Chico quando descobriu que ele a traía. Só não deu tapa em Carla (Pri Helena), a rival que infernizava sua vida, mas se vingou na realização de um chá revelação com muita torta de climão. A protagonista ainda fez as pazes com o tio assim que ele devolveu os cinco milhões furtados, se casou com Jão na última semana de novela e está grávida. Jéssica Ellen aproveita todas as oportunidades para brilhar em cena.
Dá gosto de torcer por Beatriz e Madalena. As mocinhas de "Garota do Momento" e "Volta por Cima" fazem por merecer todos os elogios que recebem nas redes sociais e a boa aceitação do público faz jus ao ótimo enredo que ambas têm em suas respectivas histórias.
10 comentários:
Nada mais justo para os únicos folhetins inéditos da Globo bem desenvolvidos do ano passado o fato de contarem com protagonistas responsáveis por gerar torcida e empatia. Para a safra do ano de 2025, teremos um texto deste blog apontando uma boa construção de Dita (Jeniffer Nascimento), Leo (Clara Moneke) e Raquel (Taís Araújo), mocinhas de "Êta Mundo Melhor!", "Dona De Mim" e "Vale Tudo", respectivamente?
P.S.: Sérgio, após tantos anos, você voltará a publicar a análise definitiva de uma novela no sábado, haja vista que "Volta Por Cima" encerrará seu ciclo no dia 26 deste mês, nos embalos da comemoração de 60 anos de fundação da Globo.
Guilherme
Sim, dá gosto torcer por pessoas batalhadoras e persistentes, que seguem firmes na esperança de dias melhores.
Beijão
Duas excelentes protagonistas!
Mas eu gostaria que a Beatriz tivesse o mesmo sangue nos olhos que a Madá possui.
Um abraço pra você, Sérgio!
jessica ellen disse em uma entrevista que nas negociações disse q só aceitaria se a mocinha não fosse uma chorona em toda a temporada e sim uma personagem consistente. fez bem. os tempos mudaram. as duas tem carreiras e se tornam empreendedoras de sucesso. muito bom ver a madalena se tornar uma especialista em eventos. e agora beatriz sócia de um salão de cabeleireiros afro. sim, as armações sistemáticas da bia foram repetitivas e chatas. beijos, pedrita
Concordo em gênero, número e grau. Protagonistas cheias de força, que não eram ingênuas, nem nada.
Boa semana!
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Até mais, Emerson Garcia
quer ótima lembrança, Guilherme!!!
bjsss
eu tb gostaria, J...
verdadeeee
obrigadooo
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