Daisy Lúcidi: uma amante do rádio e das artes

A pandemia do novo coronavírus tem feito milhares de vítimas pelo mundo e Daisy Lúcidi foi uma delas. A atriz e radialista, de 90 anos, era do grupo  de risco e estava internada no Centro de Terapia Intensiva (CTI) do Hospital São Lucas, em Copacabana, Rio de Janeiro, desde o dia 25 de abril. Perdeu a luta contra a doença na quinta-feira, dia 7.

A versátil profissional integrou o primeiro elenco de atores da Rádio Globo e fez sua estreia na televisão em 1960. Como radialista, comandou, durante 46 anos, o programa "Alô Daisy", na Rádio Nacional. Foi ainda vereadora e deputada estadual no Rio de Janeiro. Conseguiu mesclar bem todas as funções ao longo de sua vitoriosa carreira e sua vitalidade era invejável.

Daisy Lúcidi Mendes nasceu no dia 10 de agosto de 1929, no Rio. Seus pais, Clarice Lopez e Quinto Lúcidi, eram de origem portuguesa e italiana. Descobriu cedo o talento para a interpretação. Foi acompanhando seu pai nos ensaios de um curso de teatro amador que conquistou seu primeiro papel, aos seis anos de idade, na peça "Nuvem", de Coelho Neto, no teatro Dulcina, no Rio.
Em 1941, foi contratada para integrar o elenco infantil da Rádio Tupi.

Com a inauguração da Rádio Globo no fim de 1944, passou a fazer parte da equipe de atores das radionovelas já no início de 1945 e não demorou até a que a Rádio Nacional a contratasse, o que aconteceu em 1953. Participou de séries e novelas de sucesso, que posteriormente foram adaptadas por Janete Clair na Globo. Aliás, sua estreia na televisão foi em uma minissérie de Janete. Mas nunca escondeu que sua paixão era o rádio. Não por acaso, foram teoricamente poucas as suas participações na tevê. Apenas quinze produções. Não é muito para uma profissional que tinha 90 anos.

A sua estreia na Globo foi em "O Homem Proibido" (1967), novela de Glória Magadan. "Enquanto houver estrelas" (1969), "João da Silva" (1973), "Supermanoela" (1974), "Bravo!" (1975) e "O Casarão" (1976) foram algumas produções que contaram com seu talento. No entanto, ainda na década de 70, Daisy deixou a carreira de atriz para se dedicar à política. Foi vereadora e deputada estadual no Rio por 18 anos. A vocação falou mais alto após 31 anos. Voltou à Globo em 2007 em "Paraíso Tropical", de Gilberto Braga e Ricardo Linhares, na pele da marcante Iracema, síndica ranzinza, reacionária e conservadora de um prédio de classe alta. Suas cenas de briga com os também saudosos Hugo Carvana e Yoná Magalhães eram impagáveis.

Já em 2010 viveu o auge de sua carreira como atriz. Aos 80 anos, interpretou uma das maiores vilãs de "Passione", excelente folhetim de Silvio de Abreu. Dona Valentina era uma avó diabólica que prostituía as netas, vividas por Carol Macedo e Mariana Ximenes. Suas sequências eram sempre fortes e transbordavam crueldade. A veterana deu um show e foi valorizada do início ao fim da trama. Os embates entre Valentina e Clara, a grande vilã, eram empolgantes. Os últimos momentos da personagem na cadeia ainda merecem uma menção especial.

A última novela que contou com um breve participação da atriz foi a fracassada "Babilônia" em 2015 e seu último momento na televisão foi na série "Os Homens são de Marte", do GNT, no mesmo ano. Mas a intérprete comemorou seu retorno aos palcos em 2017, quando atuou em "A Última Sessão", a última peça que contou com seu brilhantismo. Lamentavelmente, Daisy Lúcidi teve sua trajetória interrompida por uma pandemia que tem devastado o mundo. Foi uma das muitas vítimas. Mas o legado fica. Siga em paz, Daisy!