Alice Wegmann comprova seu talento como vilã em "Órfãos da Terra"

A atual novela das seis da Globo teve um início excelente, mas perdeu o rumo ao longo dos meses e os problemas no roteiro ficaram evidentes com a passagem de tempo de três anos. "Órfãos da Terra" apresentou uma queda de qualidade visível e todas as críticas que o folhetim vem recebendo são justas. No entanto, o bem escalado elenco sempre fez o que pôde (e ainda faz) para interpretar com talento os personagens da história de Duca Rachid e Thelma Guedes. Alice Wegmann é um bom exemplo.

A atriz brilhou  nas primeiras semanas da novela e protagonizou a cena mais impactante até então, quando Dalila se desesperou com o assassinato da mãe, Soraya (Letícia Sabatella), que acabou morta por Aziz Abdallah (Herson Capri). Foi comovente e assustador ver o pânico da personagem diante daquela barbárie. Alice deu um show. Todavia, a filha do grande vilão da história perdeu a força com a morte do pai e seu plano de vingança ficou bem sem sentido. Não empolgou. Ainda assim, Alice seguiu convincente na pele da perigosa menina que adotou o nome falso de Basma.

E após um longo período de puro marasmo, "Órfãos da Terra" finalmente apresentou uma sequência digna de elogios no capítulo desta quarta-feira (10/07), onde a intérprete pôde mais uma vez demonstrar seu imenso talento e relembrar a boa impressão causada nas primeiras semanas de novela.
A vilã foi desmascarada por Laila (Julia Dalavia) e Paul (Carmo Dalla Vechia) em um evento de fotografia promovido para expor o trabalho de Martim (Blaise Musipere). A mocinha fez questão de revelar a verdadeira identidade da inimiga e o ex-aliado da filha do sheik, bêbado, se vingou da demissão.

O trabalho  de Alice merece uma menção especial porque teve várias camadas de acordo com as determinadas situações. Primeiramente, a atriz expôs com precisão o pavor da personagem assim que seu disfarce caiu por terra. Logo depois, veio a dissimulação com um choro real (provocado pelo medo do enfrentamento), tentando bancar a boa moça pela última vez. Até um falso desmaio foi usado pela vilã para escapar da derrocada. Mas nada funcionou e a intérprete, então, finalizou com a verdadeira face de Dalila, que tirou a máscara assim que ficou a sós com Laila em uma sala. A mocinha a atacou e a víbora revidou através de provocações sobre a noite que passou com Jamil (Renato Góes). A expressão irônica de Alice foi perfeita.

É preciso, inclusive, ressaltar a primorosa direção de Gustavo Fernández, que focou nos lábios e nos olhares das atrizes, que lacrimejaram de tanta fúria. O ódio mútuo conseguiu ser intensificado através desses ângulos. Obviamente, a catarse da cena foi uma merecida surra que Laila deu em Dalila. Um clichê que sempre funciona, independente da novela. A vilã se feriu bastante, mas não perdeu a pose. A atriz teve um desempenho irretocável e mesclou com habilidade o estado de choque e a raiva acumulada da personagem, após os muitos tapas que levou da rival. Julia Dalavia também merece elogios, pois se destacou durante essa sequência, depois de meses apagada na história --- não por culpa dela, claro.

"Órfãos da Terra" segue com vários problemas visíveis e aquele encanto inicial passou. Mas é sempre bom ver uma atriz de talento brilhando. Alice Wegmann é uma profissional competente e está muito bem como Dalila, após ter vivido um grande momento ano passado, em "Onde Nascem os Fortes", quando interpretou com visceralidade a protagonista Maria. O reconhecimento de seu bom desempenho é tamanho que já há outro desafio reservado para a intérprete em 2020: um dos principais papéis de "O Selvagem da Ópera", supersérie de Maria Adelaide Amaral sobre a vida de Carlos Gomes. Merecido.