Agno é um dos personagens mais interessantes de "A Dona do Pedaço"

A atual novela das nove de Walcyr Carrasco está fazendo sucesso e o autor já conseguiu reerguer a audiência  da faixa nobre da Globo, após o fiasco de "O Sétimo Guardião". A explicação é simples: o autor criou um folhetim clássico repleto de clichês irresistíveis e muitas possibilidades de catarses aguardadas. Mas em meio a tantas histórias consideradas "tradicionais", houve uma surpresa no enredo: o personagem Agno, vivido por Malvino Salvador.

Inicialmente, o núcleo protagonizado pelo empresário não despertou atenção e ainda provocou a falsa sensação de repetição. Isso porque as cenas eram quase sempre iguais nas primeiras semanas da segunda fase: Agno se recusava a transar com a fogosa esposa, Lyris (Débora Evelyn), e a mulher se queixava com a mãe, Gladys (Nathalia Timberg), e o irmão, Régis (Reynaldo Gianecchini). Porém, aos poucos, o contexto foi apresentando novas possibilidades bastantes atrativas.

O ambicioso personagem é gay e trai a esposa com garotos de programa. Essa situação, vale lembrar, tinha tudo para cair no ridículo e lembrar o desnecessário núcleo de Samuel (Eriberto Leão), em "O Outro Lado do Paraíso", sucesso do ano passado do escritor. Mas não foi o caso.
Agno é um homossexual muito bem resolvido, ainda que tenha construído uma família tradicional para "manter sua imagem". E o empresário tirou sua máscara diante de Fabiana (Nathalia Dill), quando se mostrou tão sem escrúpulos quanto a ex-noviça que finge ser um anjo de pessoa.

Além de ter desmascarado a irmã de Vivi Guedes (Paolla Oliveira), o personagem conseguiu tê-la como aliada para um plano contra a própria família. Fabiana virou sua "laranja" para o mau-caráter abocanhar a parte da empresa de Otávio (José de Abreu) e também evitar que sua esposa e sogra fiquem com metade de seus bens na hora de se divorciar. Isso porque ele sabe das traições de Lyris com o entregador de bolos de Maria da Paz (Juliana Paes) e gravou as transas como provas. Ou seja, é um sujeito inteligentíssimo e que se mostrou um vilão de alto nível.

É preciso mencionar outra questão que surgiu recentemente na trama e que promete bons conflitos: a relação de pai e filha. Cássia (Mel Maia) vem sofrendo bullying na escola e está a cada dia mais tensa em virtude da relação fria entre os pais. A situação vai piorar quando a homossexualidade do empresário ser exposta. A menina entrará em depressão. E a adolescente é a única pessoa da família que desperta um sentimento em Agno.

Para culminar, o genro de Gladys ainda se interessou por Rock (Caio Castro), cúmplice e namorado de Fabiana. Já até conseguiu se aproximar através do tão desejado patrocínio que o rapaz sempre almejou para se tornar um boxeador. E sua autoestima é invejável. O empresário garante que conquistará o parceiro da ex-noviça e, ao menos, a amizade com o filho de Eusébio (Marco Nanini) está firmada. A cumplicidade dos atores em cena, inclusive, está nítida. O mesmo vale para a sintonia entre Malvino e Nathalia.

Malvino Salvador está muito bem no papel que tem tudo para ser um de seus melhores da carreira (senão o melhor). O ator já vem de um desempenho elogiado em "Orgulho e Paixão", quando viveu o íntegro Coronel Brandão. Agora interpreta um tipo totalmente diferente e tem aproveitado a oportunidade dada por Walcyr Carrasco, que várias vezes já o escalou para suas novelas.

"A Dona do Pedaço" ainda nem chegou na sua metade, mas vem prendendo a atenção do telespectador. E Agno tem se revelado uma grata surpresa da história. O vilão tem boas camadas e futuros desdobramentos bastante convidativos. Que siga assim.