A condição sexual de Maura (Nanda Costa) sempre foi muito clara no folhetim e a retração da personagem era uma das suas principais características. Isso porque tinha medo de assumir o seu relacionamento com Selma (Carol Fazu). As duas tinham um caso e Selma traía o marido (que depois faleceu em um acidente) com a policial. Ou seja, o início dessa relação já não foi bem colocado pelo escritor ---- nem sequer foi exposto como se conheceram. Ainda assim, os perfis cresciam juntos e o momento em que o ''namoro" foi descoberto por Nice (Kelzy Ecard) resultou em uma ótima sequência dramática.
"Estou cansada de fingir ser normal", disse Maura em um diálogo emocionante com sua mãe. Vale lembrar ainda uma cena em que a policial falou com todas as letras para seu colega de farda --- e então melhor amigo --- Ionan (Armando Babaioff) que gostava era de mulher. Ou seja, nunca foi bissexual, ao contrário de Selma.
O núcleo começou a desandar quando João passou a investir na aproximação dos policiais depois que o rapaz doou sêmen para a gravidez da amiga. O intuito, claro, era provocar um conflito entre as companheiras e ainda inserir a ciumenta Doralice (Roberta Rodrigues) na situação. E o que se viu foi um festival de erros.
Vale lembrar, inclusive, a construção mal realizada da esposa de Ionan. Possessiva e controladora, a personagem nunca deixou o marido em paz e desconfiava constantemente que era traída. Também ficou subentendido nas cenas que ela o agredia. Mas tudo com um tom cômico. No início, era impossível não sentir pena do policial e se irritar com sua subserviência. Todavia, aos poucos, Doralice teve seu lado ''simpático" exposto, principalmente quando estava com a sogra, Naná (Arlete Salles). E seu ciúme em torno da aproximação de Ionan com Maura passou a ter total fundamento. Intencionalmente ou não, o jogo se inverteu.
Ionan vem se comportando como o pai do futuro bebê e Maura está cada vez mais encantada com ele. No entanto, ambos negam o envolvimento veementemente para suas respectivas companheiras. Viraram dois sonsos. Para culminar, o previsível beijo foi ao ar no capítulo do último sábado (25/08). Inclusive, os atores têm uma ótima química. Porém, não há sintonia que salve uma abordagem tão infeliz. A novela anterior, o fenômeno "O Outro Lado do Paraíso", falhou feio na condução do romance de Samuel (Eriberto Leão) e Cido (Rafael Zulu) em cima de um humor nada engraçado, enquanto a substituta naufraga na condução de algo que aparentemente se mostrava "sério". Walcyr Carrasco, no entanto, criou o casal gay mais marcante da teledramaturgia em "Amor à Vida": Félix (Mateus Solano) e Niko (Thiago Fragoso). Já João Emanuel pode pedir música no "Fantástico" em torno de suas abordagens equivocadas.
Como esquecer Orlandinho (Iran Malfitano) e Céu (Deborah Secco) em "A Favorita" (2008)? O rapaz homossexual era apaixonado por Harley (Cauã Reymond), mas terminou feliz ao lado da prostituta, com quem iniciou uma relação quente. O caso mais descarado de cura gay do autor. Já o relacionamento inusitado entre o caricato Abelardo (Caio Blat) e a periguete Tina (Karina Bacchi), em "Da Cor do Pecado" (2004), virou um dos destaques do núcleo da Família Sardinha, pois a cobiçada mulher acabou se apaixonando justamente pelo integrante mais improvável do ''clã" de lutadores: o sensível e delicado que odiava lutas. Ele ainda assumiu a paternidade dos filhos dela, junto dos irmãos Dionísio (Pedro Nechilin) e Thor (Cauã Reymond). E só foi realmente aceito pelos demais quando deixou de lado suas "excentricidades". Em "Cobras & Lagartos" (2006), não foi diferente. O metrossexual Tomás (Leonardo Miggiorin) vivia sofrendo com as piadinhas sobre sua sexualidade e acabou assumindo um romance com Sandrinha (Maria Maya), unindo o "útil ao agradável". Isso após passar a novela quase toda fugindo dela. No entanto, suas preferências sempre foram claras.
Já no fenômeno "Avenida Brasil" (2012), João conseguiu deixar o casal hétero muito mais interessante que o gay. Isso porque a relação de Roni (Daniel Rocha) e Suelen (Isis Valverde) era hilária e os atores transbordavam química. Embora demonstrasse interesse por Juliano (Thiago Martins), o rapaz não resistia aos encantos da periguete e a relação caiu no gosto do público. E Roni nunca se viu como gay. Sempre demonstrava confusão de sentimentos. Era algo mais subentendido. Ainda assim, o autor criou uma relação a três no final, satisfazendo todos. Nesse caso, a construção se mostrou interessante. Mas deveria ter sido a única e não em todas as suas novelas. Até porque não parou por aí.
Na problemática "A Regra do Jogo" (2015), a 'sina' se manteve. Úrsula (Júlia Rabello) e Duda (Giselle Batista) formavam um casal lésbico e as integrantes da família do falido Feliciano (Marcos Caruso) tinham uma relação rasa e nada cativante. Para piorar, as duas queriam um filho e Duda acabou engravidando do cunhado (Vavá - Marcello Novaes) tendo relações sexuais ---- ou seja, uma espécie de Maura e Ionan piorado. O núcleo, por sinal, era um dos mais fracos da trama, é preciso ressaltar. A avalanche de personagens avulsos era uma das muitas falhas do roteiro.
Infelizmente, João Emanuel Carneiro não tem vocação para criar relações homoafetivas em seus folhetins. Maura e Selma podem até ficar juntas no fim, mas nem importa. A construção errônea já se expôs. O autor tem uma queda pela inexistente "cura gay" e isso é inegável. Claro que a bissexualidade existe, mas para abordar essa outra questão é preciso desenvolvê-la com competência. Vide o caso de Lica (Manoela Aliperti) em "Malhação - Viva a Diferença" (encerrada no primeiro semestre), por exemplo. A adolescente que amava curtir a vida sempre gostou de meninos, mas se viu apaixonada por uma menina (Samantha - Giovanna Grigio) durante a história. Cao Hamburger explorou o contexto com maestria. Nada disso ocorre em "Segundo Sol" e o passado do escritor o condena.
33 comentários:
Desculpa mais não vejo nada de bem construída na relação de Lica. Assim como Maura,ela sempre foi heteto. O fato de ser uma adolescente doida nao muda um nada a inconsistência de ambas as histórias. Lica foi tao inconsistência quanto.
Resumo da ópera: JEC nunca soube retratar o universo LGBT como se deve. É impressionante como a abordagem na novela das 18h e até mesmo na Malhação ganham de lavada da novela das 21h. Por sinal, a bissexualidade retratada em Viva a Diferença, essa sim, merece ser referência em vez dessa condução equivocada do triângulo Selma-Maura-Ionan.
Parabéns pelo texto preciso e da memória em torno da carreira desse senhor tão superestimado por fãs de 17 anos que se acham entendedores de teledramaturgia. Desde o início não me animei com essa situação porque tinha certeza que isso tudo ia acontecer. E aconteceu.
Entendo que será apenas uma fase em que Maura e Ionan estão confundindo sentimento de amizade com paixão. O João Emanuel está dando a entender que houve uma cura gay para o público e para os próprios personagens, já que o Agenor vai afirmar isso quando revelar o caso dos dois para Selma e Doralice. Quando Maura e Ionan perderem suas respectivas parceiras caíram em si, essa é a minha aposta.
Torço por isso.
Que ótima análise! Finalmente alguém disse a verdade com todas as letras. Você não apenas citou a abordagem atual de Segundo Sol, como também lembrou da abordagem gay de O Outro Lado do Paraíso, ou seja, duas abordagens que deixaram muito a desejar. O que me da mais raiva é ver algumas criticas como da Kogut tentando aliviar a barra desse núcleo da Maura e Ionan, daqui a pouco vai dizer que é uma ´´história moderna´´ assim como já falou do núcleo da família do Beto, aff, fala sério ein. E como você mesmo disse, mesmo que Maura e Selma fiquem juntas, a história delas já terá sido aniquilada e sem sentido algum. E não duvido nada que Selma também se envolva com Ionan, já que essa sim já foi casada com homem. Capaz de terminarem em trio, que medo dessa historia. E eu percebi que a maioria desses críticos tem uma má vontade impressionante com Orgulho e Paixao, que esta abordando a homossexualidade de forma maravilhosa, isso sim merece textos, elogios e atenção.
Uma boa análise, Sérgio.
Feliz semana.
Sérgio gostei muito do seu texto e concordo também. Essa abordagem da Maura com o Ionan tá sendo ridícula porque a personagem nunca se disse bissexual e sim lésbica. Se desde o começo o público soubesse que ela era bi, ok, mas todo mundo sempre soube que ela era lésbica, daí o erro de do nada fazer ela gostar de um homem. O pior disso é que pra muitas pessoas, infelizmente ignorantes de conhecimento, isso pode ser visto como uma " cura gay " e podem achar que uma lésbica realmente pode " gostar " de um homem assim como um gay de mulher, e achar que orientação sexual no quesito homossexual é algo passageiro. Uma pena que o autor tenha feito uma abordagem tão equivocada, assim como o Walcyr em O Outro Lado...
Abordagem boa mesmo realmente foi a do Cao Hamburger em Viva a Diferença com Limantha, onde inclusive o autor não tinha medo de mostar um simples beijo entre as duas, coisa que o JEC parecia temer.
Uau Sérgio, preciso lhe dar mil parabéns por essa análise tão criteriosa e com tantos personagens de novelas!!
Que memória, misericórdia!!
Você é realmente mestre neste quesito de estender a estrutura das personagens e denota-se que o autor está se equivocando com esse novo casal que está se formando...
Mas que a química entre os dois está bonitinha, isto não podemos negar né amigo?
Adorei, você esmiuça tudo e faz de seu texto um verdadeiro compêndio para consultas posteriores!!
Um super beijo e uma semana incrível!!! :)))
HETEROFÓBICO!!!!!!!!!!
Hahahhaha... Isso aí é pra rir, né?
Conhecendo o JEC vai virar suruba! Os três juntos e o Ionan com as duas. No capítulo 17 já terá o pai da Maura falando em cura gay e a trama meio que concordando com essa idéia.
É uma abordagem vergonhosa! JEC não acredita que duas mulheres possam se apaixonar de fato ou descrê no AMOR. Trata como uma aventura e uma sacanagem e não romance. Talvez ele ache que amor mesmo só se for com o sexo oposto. Não sabe desenvolver um bom romance gay ou lésbico porque no fundo não acredita. O que chega ser curioso,sendo que autor é gay..vai ver não gosta de si mesmo e gostaria de ser diferente.
São poucos autores que saem dos rótulos e lembram que é uma história de amor.
Por que não. Perfeitamente aceitavel o relacionamento de duas pessoas (homo sexual ou heterossexual). A tendencia de Maura em ser lesbica, foi justamente ocasionado pela sua vida familiar. Um pai opressor com uma mãe submissa demais. Isto afeta muito na sexualidade de filhos e filhas. Não querendo ser uma esposa submissa como o exemplo da mãe, ela optou pela preferencia de ser o homem do lar. Assim que a mãe se libertou do moninio do pai, ela aflorou seu lado feminino. Prova disso que ela sempre mostrou seu interesse em ser mãe, o que prova sua sexualidade feminina. Homens não engravidam. Homens não trazem filhos ao lar. Acredito que o autor esta nos mostrando o quanto a violencia domestica afeta nos lares. Muito interessante. Sera de grande valia para o publico essa mostragem.
Com mta atenção aos detalhes mesmo, Sérgio!
Parabéns por me dar a conhecer a trama entre tanto personagem.
Temos de aceitar as tendências de cada um, desde k não prejudiquem terceiros.
Abraços.
Dessa vez a emissora acertou, vi a cena, cena emocionante!
Eu só não entendi essa frase entre muitas na internet, blogs e redes sociais: "... A cena, porém, não repercutiu bem entre muitos telespectadores que acreditavam que Maura era lésbica, não bissexual. Muitos consideraram o romance uma "cura gay" e um desserviço à luta pelos direitos LGBT.... " Um deserviço à luta pelos direitos LGBT... ATENÇÃO, ATENÇÃO: Pessoal, as pessoas tem o direito de fazer o que quiserem com seu corpo e de relacionar com quem quiserem....inclusive têm o direto de ser homo afetivo ou Hetero ou Bi ou lesbica ou pansexual e de voltar a ser o que quiserem ou de permanecer como estão....enfim as pessoas são LIVRES na ótica de gênero. Não existe cura gay pois isso não é doença...mas as pessoas pode mudar sua opção sexual quantas vezes quiserem.
Nós somos feitos de sentimentos e emoções. Não se trata de cura gay, mostra apenas que o amor, o tesão e o carinho pode acontecer com qualquer pessoa, independentemente da situação. A gente nunca tem certeza que vai amar uma pessoa para sempre e no caso da Maura, no momento, foi só um beijo de carinho.
Quanta bobagem da minoria que quer mandar na maioria. Se um heterossexual ou uma mulher ( vide Ivete Sangalo com 3 filhos) decide mudar e ser gay ou lésbica, qual o problema da lésbica ou do gay voltarem a ser mulher ou homem? Gente, que falta do "óbvio" nessas cabeças fechadas.
Parabéns a o autor, isso acontece com uma amiga minha, era lésbica mas conheceu uns rapaz se casou com ele, hoje é mãe de três filhos e feliz, isso pode acontecer sim!
Da mesma forma, que um colega advogado meu que era casado e com família descobriu ser homo afetivo decidiu se separar para ficar com a pessoa que amava.
Bom, essa é a minha humilde opinião.
Ninguém está querendo mandar ou impor em nada. Tudo o que os LGBTs querem é se sentir bem representados pelo menos na ficção, já que a realidade é bem diferente. E outra, não é por que a pessoa é gay que ela deixa de ser homem ou mulher.
É muito engraçado falarem em " mentes fechadas", quando alguns que aqui comentaram sobre isso são os mesmos que falam frases como: a pessoa "virou" gay por força das circunstâncias ou "o gay querer voltar a ser homem ou mulher". É triste isso.
Pq ela teria que ser necessariamente bi? Quando um hetero se envolve a 1a vez com alguém do mesmo sexo mesmo que isso seja aos 50 anos, ele é bi ou caso ele passe a sentir atração apenas por homem é pq ele sempre foi um gay reprimido que se libertou e saiu do armário...mas no caso de maura ela não pode deixar de sentir atração por mulher pq isso seria impróprio? Por que o que existe entre eles não pode ser amor de verdade?
gente, essa narrativa de segundo sol em volta de "maura e ionan" é justamente pra mostrar que a sexualidade - seja mulher ou homem - PODE ser fluida.
O problema é que Maura e Ionan erram, machucam e traem seus parceiros. Se bem que a Doralice é uma chata e Selma também traía o marido.
Calma aí gente! Que Todo mundo tem o direito de pensar o q quiser sobre qualquer coisa. Mas acima de tudo temos a OBRIGAÇÃO de RESPEITAR as pessoas e suas escolhas. O movimento LGBT, não tem q buscar aceitação e sim respeito.
A BISSEXUALIDADE, LGTB, TRANSEXUAIS NÃO SE TRATA DE PROMISCUIDADE OU NÃO CONSEGUIR SER FIEL... NADA A VER! ESQUECERAM QUE HETEROSEXUAIS/HOMOSSEXUAIS TRAEM??? A QUESTÃO AQUI É A RELAÇÃO PARA UMA PESSOA BISSEXUAL NÃO SE FUNDAMENTA NO GÊNERO, E SIM NO AMOR QUE SENTEM, INDEPENDENTE DE SEXO.
A Maura desperta as qualidades e valoriza o Ionan, coisa que a Doralice não faz. E a Selma também não era casada ao se envolver com a Maura?!!!! Nada a ver isso aí!
E se os dois ficarem juntos não é questão de 'cura gay'... ela pode ter interesse em ambos os sexos.
Ate pq não se trata disso não, se trata da homo ou hetero ou bissexualidade da Maura. Se ela gosta do mesmo sexo e o oposto, qual é o problema?
Simples assim... Polemizando a toa.
Nossa adorei um comentário aqui realmente a Maura inúmera qualidades em Ionan coisa que Doralice não nunca fez! Nada contra casais homossexuais... Mas Yonan e Maura ficam muito fofos juntos... É um casal que deu certo... Não combina Yonan com Doralice ou Maura com Selma... Os dois devem ficar juntos... Todo mindo está torcendoo. Sem contar o Ícaro e Rosa que surtam demais.
Não entendi tanta gente contra uma relação assim. O Walcyr Carrasco fez a mesma coisa quando mostrou a química entre o casal Visky e Lourdeca daquela série verdades secretas, 2015.
Discordo, Tv Maniaca.
Exato, anonimo.
Obrigado, Paula.
Não duvido disso, Daiane, mas ele já estragou toda a construção.
Ela claramente ama o JEC, anonimo.
Obrigado, Elisabete.
Exatamente isso, Aline.
Fico honrado, Adriana. Bjão!!!!
Tu tá de sacanagem, anonimo???
Infelizmente, anonimo...
Na verdade, anonimo, vc idealizou um enredo bem mais interessante do que é mostrado na novela.
Eu que agradeço, Ceu.
Tudo bem, anonimo, a questão é que o autor SEMPRE faz a mesma abordagem em todas as suas novelas e em todas os gays "viram" héteros. Só isso msm.
A questão, anonimo, é depois de tudo o que ela passou para ficar com a mulher amada, simplesmente chifrá-la com um cara que doou sêmen pra elas é meio cretino, não? É como se o autor jogasse todo o contexto no lixo.
Postar um comentário