José Santa Cruz era um dos maiores dubladores do país

 O ator, dublador, radialista e humorista José Santa Cruz, morreu na sexta-feira passada, dia 26, aos 95 anos, no Rio de Janeiro. O ator, que tinha doença de Parkinson e estava internado com uma broncopneumonia, deixou a esposa Ivane Maria Mendes Bastos, com quem foi casado por 72 anos e teve três filhos, Elaine Maria, Eliane Maria e Eduardo Luiz, todos falecidos. Deixou ainda cinco netos e quatro bisnetos. 

Santinha, como era conhecido carinhosamente pelos amigos, nasceu em Picuí, Paraíba, e começou sua carreira artística aos dezoito anos, ao substituir um amigo em uma rádio. A partir daí não parou mais. Estreou na televisão em 1960, na inauguração da TV Clube, em 1963 foi para a TV Tupi e na mesma época começou a atuar como dublador, antes de chegar na TV Globo, em 1971. 

O ator fez várias participações em programas na televisão e fez uma divertida parceria com Lúcio Mauro em "A, E, I, O... Urca", na Tupi, o que virou o seu maior sucesso na TV. Tanto que a dupla Zé das Mulheres e Jojoca migrou para várias outras atrações, como "Balança mas não Cai" e "A Festa é Nossa", ambos na Globo.

Sem o colega Lúcio Mauro, voltou a reviver o Jojoca anos depois nos humorísticos "A Praça é Nossa", no SBT, e "Zorra Total", na Globo. O personagem era um sujeito tímido que não levava jeito com as mulheres e repetia as frases que seu amigo galanteador usava com as suas conquistas, o que sempre rendia confusões. 

A sua carreira como dublador é uma das mais respeitadas do Brasil. São tantos personagens de filmes, séries e desenhos que contaram com a sua inconfundível voz que é impossível listar todos. Mas como esquecer do bordão "Querida, cheguei"? É dele a voz que deu vida ao pai da "Família Dinossauros", série de sucesso, exibida pela Globo, que virou febre nos anos 90. Ainda emprestou sua voz para Magneto nos filmes e desenhos dos "X-Men" e fez do emblemático mutante um vilão com um timbre único. Mais alguns personagens e pessoas dubladas por ele foram Rúbeo Hagrid na saga "Harry Potter", J.Jameson nos filmes do "Homem Aranha", o ator Danny DeVito na maioria de seus filmes, o temido Megatron na saga "Transformers", entre muitos outros. 

Na Globo, fez "Alô, Brasil", "Aquele Abraço" e o já mencionado Jojoca na década de 70; "O Bem Amado" e "Viva o Gordo" nos anos 80. Entre 1987 e 2001, esteve no SBT interpretando o clássico Jojoca em "A Praça é Nossa". Já em 2002 voltou para a Globo e ficou no elenco do "Zorra Total", onde interpretou novamente o Jojoca, mas ganhou também outros personagens, como Barbosa, Manoelito, Costado e Tesourinha.

Em 2015, participou da série "Os Experientes", onde falou sobre a profissão de ator em uma entrevista. "Não há dificuldade nenhuma para mim em fazer algo que é sentido, seja o riso, seja o choro. É um sentimento humano, não vejo diferença entre fazer rir demais ou fazer chorar demais. É o papel do ator, o ator tem que estar preparado para tudo isso. Eu sempre trabalhei no humor, e é importante fazer papeis mais sérios também. O comediante pode ser dramático. E isso faz parte do ofício, um ator tem que ser completo. E eu amo o que faço, seja rir ou chorar", declarou na época.

A última participação de José Santa Cruz em novelas foi em "Espelho da Vida", exibida em 2019, onde viveu um padre. E a última aparição na televisão foi no reformulado "Zorra", em 2020. A sua partida é uma dura perda para o humor nacional, o mercado do audiovisual e a dublagem brasileira.