"Fuzuê" tem início vibrante e animador

 A missão de substituir um grande sucesso muitas vezes é mais complicada do que entrar no lugar de um fracasso. Porque quando uma novela é rejeitada, normalmente, há uma boa vontade, tanto no público quanto na crítica, de assistir ao produto novo com um olhar mais benevolente, ainda que seja algo até involuntário. Já a trama que ocupa o vazio deixado por uma história aclamada costuma enfrentar mais resistência. No entanto, Gustavo Reiz parece que não sofrerá deste mal com a sua "Fuzuê". 

A novela que marca a estreia do autor na Globo, após anos trabalhando na Record, estreou nesta segunda-feira, dia 14, no lugar do fenômeno "Vai na Fé", de Rosane Svartman. E a sua proposta é totalmente diferente da que foi apresentada por sua colega, que optou pelo realismo através de temas sérios sendo mesclados com toques de humor e bastante delicadeza. Gustavo aposta na comédia e no exagero em um enredo cujo foco principal é a caça ao tesouro, premissa típica de aventuras infanto-juvenis. Ou seja, um folhetim apenas para entreter sem maiores responsabilidades. 

E a primeira semana de "Fuzuê" mostra que o autor tem tudo para cumprir o seu objetivo. O tom acima de vários personagens não incomoda diante de tudo o que é visto na história, incluindo os cenários, todos muitos coloridos e exagerados, principalmente o da loja de Nero (Edson Celulari), que transborda cafonice em cada espaço.

Por sinal, há uma mistura até agora harmônica entre a caricatura e o naturalismo. A mocinha Luna (Giovana Cordeiro), a elegante Bebel (Lilia Cabral), o duvidoso Francisco (Michel Joelsas) e ambicioso Pascoal (Juliano Cazarré), por exemplo, são perfis com um viés realista, enquanto os vilões Preciosa (Marina Ruy Barbosa) e Heitor (Felipe Simas), o extrovertido Nero, a patricinha Alice (Fernanda Rodrigues) e o galinha Jefinho Sem Vergonha (Micael Borges) mergulham sem medo no exagero. Já o mocinho Miguel (Nicolas Prattes), ironicamente, é uma junção de tais características.

A história vem sendo desenvolvida em um ritmo bom, sem lentidão ou correria. Os mocinhos se encantaram um pelo outro no primeiro capítulo, mas não teve declaração apaixonada e nem beijo, o que destruiria a torcida pelo romance. Também foi apresentada a saga de Luna em busca de sua mãe, Maria Navalha (Olívia Araújo), que desapareceu sem deixar vestígios. E no terceiro capítulo ficou claro que a personagem descobriu um mapa que provavelmente era sobre o tesouro escondido no terreno onde está a Fuzuê do Nero. Fortuna que tem movido as ações de Preciosa ---- que herdou de seu pai (César Montebello - Leopoldo Pacheco) documentos indicando a localização do ouro ---- para adquirir a loja com o intuito de demoli-la e assim conseguir escavar todo aquele lugar. A vilã ainda soube que tem uma irmã e nem imagina que é justamente Luna, cujo primeiro encontro não foi nada agradável e já rendeu um desdobramento no capítulo desta sexta-feira (18/08) através um embate entre as duas, com direito a tapas. Aquela rivalidade feminina condenada na vida real, mas que na ficção é irresistível.

É muito cedo para maiores análises, mas a novela está deliciosa de acompanhar e já é possível observar o acerto na escolha de Giovana Cordeiro e Nicolas Prattes como protagonistas, após o destaque que tiveram em "Mar do Sertão", como Xaviera, e "Todas as Flores", como Diego, respectivamente. Outro casal que tem tudo para crescer cada vez mais é o formado por Preciosa e Heitor. Nada melhor do que um par de vilões e com atores que transbordam química. Vale lembrar o sucesso de Jonatas e Eliza em "Totalmente Demais", fenômeno das sete de Rosane Svartman e Paulo Halm, exibido em 2016, onde viveram os mocinhos. Agora na pele de uma dupla do mal, Marina Ruy Barbosa e Felipe Simas estão em plena sintonia. Também é preciso mencionar Edson Celulari, Lilia Cabral, Fernanda Rodrigues, Ruan Aguiar (o bandido Merreca) e Micael Borges como ótimos e promissores destaques. 

"Fuzuê" causou a melhor das impressões em sua primeira semana e a abertura reflete bem o clima alegre da novela através de divertidas animações de objetos e brinquedos dançantes. A direção de Fabrício Mamberti está bem casada com o texto de Gustavo Reiz e resta torcer para que a produção siga assim pelos próximos meses, honrando a qualidade do horário elevada por "Vai na Fé".