Várias situações na atual novela das nove da Globo, dirigida por Dennis Carvalho e Maria de Médicis, são parecidíssimas com outras produções do escritor e muitas com seu maior sucesso: o fenômeno "Avenida Brasil", de 2012. Mas com um impacto infinitamente menor. Tanto que todas as reviravoltas do folhetim até então não deixaram marcas ou promoveram cenas memoráveis. Pelo contrário, evidenciaram a falta de originalidade de João e a deficiência do enredo, que anda em círculos através de situações repetidas exaustivamente. A tradicional virada do capítulo 100 (ocorrida, na verdade, no 103) foi uma das principais 'provas'.
Luzia (Giovanna Antonelli), para não sair da rotina, caiu em outra armação dos vilões e foi se encontrar com Remy (Vladimir Brichta) para tentar descobrir o paradeiro da filha (que na verdade é filho). Ela acabou sendo vítima do famigerado golpe do "Boa noite Cinderela" e acordou ao lado do corpo do vilão, todo ensanguentado, e segurando uma faca banhada em sangue. A mocinha entrou em desespero e logo depois chegou Beto (Emílio Dantas), flagrando a cena macabra.
A cena ficou muito aquém do esperado e foi impossível não lembrar do icônico momento em que Nina (Débora Falabella) acordou segurando uma enxada cheia de sangue e com o corpo de Max (Marcello Novaes) ao seu lado, dando um grito assustador. Foi um dos melhores ganchos de "Avenida Brasil".
Claro que os contextos são distintos, mas a similaridade é evidente. Até mesmo o morto tem um perfil quase idêntico ao do comparsa de Carminha (Adriana Esteves). Max e Remy são dois frustrados que amam dinheiro fácil. Os dois ainda nutrem uma paixão não correspondida pelas vilãs. O primeiro sempre amou a inimiga de Nina e ouvia promessas sobre uma futura fuga da dupla, sem imaginar que a comparsa nunca cogitou largar Tufão (Murilo Benício). O segundo não difere muito. Sempre foi apaixonado por Karola (Deborah Secco) e estava cansado de escutar da amante que um dia fugiriam com toda a grana desviada de Beto Falcão. Mas ela nunca quis e provou quando o abandonou em pleno avião. E ambos acabaram mortos quando resolveram se voltar contra as amantes, usando as mocinhas como arma. E não para por aí. Afinal, vale lembrar que Max protagonizou uma falsa morte antes de bater as botas de verdade. O berro de Carminha ao vê-lo, inclusive, é lembrado até hoje. Alguém duvida que Remy voltará vivinho na reta final de "Segundo Sol" e Karola gritará quando se deparar com o amante? Vários sites já publicaram esse retorno, inclusive.
O enredo envolvendo Nice (Kelzy Ecard) e Agenor (Roberto Bonfim) também lembra outra grande novela do autor: "A Favorita", de 2008. Como esquecer o drama de Catarina (Lilia Cabral), que sofria constantes agressões do violento marido Leonardo (Jackson Antunes)? Os atores brilharam na época. João tentou se copiar até antes da atual trama, vide a situação envolvendo Domingas (Maeve Jinkings) e Juca (Osvaldo Mil) em "A Regra do Jogo" (2015). Porém, aquela tentativa fracassou totalmente. Agora, pelo menos, o contexto está mais atrativo, embora não chegue nem perto da já citada "A Favorita". A diferença é a não violência física. Agenor agride a esposa verbalmente. Mas o conjunto se assemelha bastante. E a entrega de Kelzy é tão visceral quanto a da maravilhosa Lilia. Uma pena que o escritor também tenha se perdido nesse contexto, depois que Nice pediu para Cacau (Fabíula Nascimento) devolver o emprego ao marido agressor, culminando no incêndio do restaurante, provocado pelo canalha, que nem punido foi. Quando o drama da personagem parecia finalmente ter deslanchado, deu dez passos para trás.
Até a família de Beto é uma tentativa fracassada de reeditar a clássica família Tufão de "Avenida Brasil". Se antes a diversão era uma constante na história de 2012, agora é quase impossível esboçar qualquer sorriso com as trapalhadas de Clóvis (Luis Lobianco) e Gorete (Thalita Carauta), ou as idas e vindas de Naná (Arlete Salles) e Dodô (José de Abreu). Por sinal, o autor também tentou copiar esse contexto em "A Regra do Jogo", através do núcleo da família falida de Feliciano (Marcos Caruso). Não funcionou. Inclusive, um integrante da atual família protagoniza outra situação presente em todas as novelas do autor: o triângulo gay/hétero que sempre resulta em um trio amoroso no final. A relação de Maura (Nanda Costa) e Selma (Carol Fazu) nunca chegou a ser bem construída, mas ao menos tinha alguns momentos de sensibilidade. Depois que Ionan (Armando Babaioff) foi chamado para doar esperma, tudo naufragou. Como era de se esperar, a policial traiu a esposa com o então amigo e agora as situações se mostram cansativas e inverossímeis ---- vide Selma se sentir culpada pela separação, mesmo sabendo da traição. E já divulgaram que no final os três ficarão juntos, repetindo o caso de Suelen (Isis Valverde), Roni (Daniel Rocha) e Leandro (Thiago Martins) em "Avenida Brasil" ---- ou então Tina (Karina Bacchi), Abelardo (Caio Blat) e Thor (Cauã Reymond) em "Da Cor do Pecado" (2004).
A mais recente prova da falta de criatividade do autor foi a cena de Karola vagando pelas ruas, desnorteada, após ter sido desmascarada. Com medo de ser escorraçada por Valentim (Danilo Mesquita), a personagem começou a apresentar sinais de loucura. Sua "conversa" com uma mendiga lembrou imediatamente a fase em que Carminha pegou uma garrafa de cachaça e pediu para o motorista de um caminhão "tocar pro inferno", em "Avenida Brasil". Ou então, a caminhada sem rumo de Bárbara (Giovanna Antonelli), toda suja, em "Da Cor do Pecado".
"Segundo Sol" está em plena reta final e segue sem empolgar em virtude da colcha de retalhos que virou a história de João Emanuel Carneiro, expondo a necessidade do autor se reciclar. Não adianta copiar várias situações que deram certo em suas novelas passadas em uma nova produção que não apresenta nem um terço dos atrativos das anteriores. Parece um folhetim sem alma. A Globo deveria colocar o escritor na faixa das 23h, onde poderia ousar com um enredo mais pesado e enxuto ----- sua experiência com a macabra série "A Cura" (2010) foi irretocável. Infelizmente, é necessário afastá-lo do horário nobre por uns tempos.
25 comentários:
Concordo com você Sérgio e digo que tudo isso seria relevado se a trama fosse boa, o que infelizmente não é. Que decepção com essa novela, a novela anda em ciclo, os mocinhos são tão bananas e apáticos que não dá vontade de torcer por eles, cadê os embates entre Luzia e Karola /Laureta. Esperava que com a revelação que o Valentim é seu filho, Luzia partiria para o ataque contra as vilãs,isso não vai acontecer e ela ainda será presa pela TERCEIRA VEZ. Uma novela em que a mocinha fugiu das vilãs como o diabo foge da cruz não poderia nunca ser boa, chega logo dia 09 e #ReciclaJec
Cada parágrafo é um soco na cara do autor. Merecido.
Que texto detalhado sobre todas as repetições exaustivas dessa novela.Eu concordo com cada palavra e ainda digo que esse autor nunca foi essa coca-cola toda que pintaram.
Pra ser sincero, eu já reparava a questão da repetição desde Cobras e Lagartos. Da mesma forma que Tony jogou Barbara vestida de noiva no meio de um lixão, Estevão fez o mesmo com Leona. Foi até mesmo e "Cobras" que surgiu uma cena que viria a se repetir posteriormente: O assassinato do comparsa da vilã na reta final (Estevão-Dodi-Max). Realmente JEC precisa tirar umas boas férias ficar um tempo fora do horário nobre e voltar ao horário das 19h ou estrear no horário das 23h, para ver se dá pelo menos uma "oxigenada" nas ideias.
Acho incrível como, teoricamente, essa novela tinha tudo pra dar certo. A trama do cantor que se finge de morto pra ficar milionário é interessantíssima, mas só teve destaque no primeiro capítulo. O falso acidente do Beto Falcão foi só o catalizador das desgraças na vida de Luzia, e depois disso o personagem perdeu totalmente a função. Tudo muito mal desenvolvido.
Por falar em Luzia... João Emanuel lutou pra manter Antonelli no elenco (a própria direção da Globo achou inverossímil a atriz no papel de uma baiana). O resultado foi uma personagem pouco inspirada da parte do autor e da atriz. A pior mocinha criada pelo JEC e a atuação mais enfadonha da Giovanna. Nem parece a mesma atriz que tem Capitu, Jade e Bárbara no curriculo.
Um autor embriagado pela glória passada em A Favorita e Avenida Brasil. Um diretor com 40 anos de experiência, mas dirigindo sem alma, no piloto automático. Aliás, muita gente estava no piloto automático nessa novela. Quando a trama foi aprovada, nos foi prometida uma novela leve, solar, musical. O que se mostrou foi uma história fraca se apoiando em situações chocantes e sofrimento excessivo para se arrastar até o final.
Salvam-se Adriana Esteves, Emilio Dantas, Leticia Colin, Chay, Giovanna Lancelotti, Kelzy Ecard, Roberto Bomfim e Nanda Costa, por tirarem leite de pedra nessa novela e manterem a dignidade de suas atuações.
Quem enaltecia essa bomba pra falar mal de Outro Lado do Paraíso se ferrou.Essa é muito pior.E um fracasso ainda por cima. Bem feito.
E pensar que hj (19/10), sexta feira há 6 anos atrás, era exibido o último capítulo daquela que seria sua última boa novela: Avenida Brasil. Quem diria que de lá para cá, seria ladeira abaixo. O que será que aconteceu com JEC?
Concordo totalmente com seu texto Sérgio, essa novela é ruim demais e uma grande colcha de retalhos das novelas anteriores do Jec, com uma trama central fraquíssima em que os mocinhos são bananas, burros e sem nenhum carisma, vilãs, que apesar de carismáticas, estão longe de serem marcantes e as tramas delas tbm deixam a desejar, núcleos paralelos que se perderam, a única trama dessa novela que tem alguns poucos bons momentos é o da Família Athaíde.Como já disse várias vezes, considero Segundo Sol a pior novela do Jec, até a problemática A Regra do Jogo foi melhor. Jec precisa de umas longas férias e voltar pro horário das 7 ou das 11 como vc mesmo falou, novela das 9 NÃO TÁ DANDO MAIS PRA ELE.
Olá, Sérgio!
Sou portuguesa, mas entendi perfeitamente o k você falou.
O João Emanuel Carneiro, talvez, pela sua inexperiência não consiga ser criativo e apelativo e as cenas ficam "pobres" e sem graça. Novela da noite, em horário nobre, tem de ter autores e atores de nomeada.
Alguns atores/atrizes, eu conheço de novelas, k passaram em Portugal.
Beijo e tudo de bom, Sr. Biólogo.
Concordo com toda a crítica, Sérgio, e a cada desenrolar dessa novela que nos foi prometida como a mais leve de João Emanuel Carneiro (apenas prometida, pois todo noveleiro de carteirinha sabe que leveza nunca foi o forte desse autor), sinto saudades de "A Força Do Querer" (2017), que marcou a redenção de Glória Perez no formato, proeza essa que JEC ainda está longe de alcançar, haja vista a condução do enredo e dos personagens de "A Regra Do Jogo" (2015) e "Segundo Sol".
Olá, tudo bem? Eu assisto à fórceps Segundo Sol. Novela fraquinha..fraquinha....Pior que A regra do Jogo... Abs, Fabio www.blogfabiotv.blogspot.com.br
Bom fim de semana, Sérgio.
Um abraço.
Isso, Daiane.
Fico honrado, Patricia.
Onde eu assino, André???
Isso é fato, anonimo.
Vai saber, anonimo.
Nao mesmo, Dean.
Muito obrigado, Ceu!!!
Pior mesmo, Fabio.
Boa semana, Elisabete. bjs
E andei vendo por aí que vai ter mais cópia de Avenida Brasil, gosto da novela mas certas cenas me irritam.
big beijos
Olá Sérgio! Quanto tempo não? Não vi nenhum capitulo dessa novela. Quando acabou O Outro Lado do Paraíso nós decidimos aqui em casa que não iríamos assistir. A princípio até pensei que o pessoal aqui iria acabar assistindo, mas não. E ao julgar pelo seu texto muito bom como sempre e alguns comentários que já ouvi tenho certeza que essa foi a melhor opção e já faz um tempo que percebi que as novelas globais estão sempre batendo na mesma tecla, falando dos mesmos temas, as mesmas abordagens pra mim tem sido irritante.
Que lastima, Lulu.
Não perderam nada, Leitora. E, puxa, vc me abandonou, hein!!! Senti sua falta.
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