"The Voice Kids" precisa urgentemente rever seus critérios de seleção

Não resta a menor dúvida que o "The Voice Kids" é o maior acerto da programação vespertina dominical da Globo dos últimos anos. O reality musical virou a melhor opção para o público, fazendo um merecido sucesso e superando até a versão adulta, já bastante desgastada. A terceira temporada, inclusive, conseguiu ficar ainda melhor com a ótima e divertida sintonia entre Carlinhos Brown, Cláudia Leitte, Simone e Simaria. Porém, um problema que já era perceptível nas duas edições passadas ficou bem mais explícito agora: o critério para a seleção dos participantes.

A regra para se inscrever na atração é ter no mínimo 9 e no máximo 15 anos, pois o "The Voice Brasil" aceita inscrições a partir dos 16 anos. Porém, desde a primeira temporada do Kids fica evidente a injustiça desse critério. Um menino ou uma menina de 15 anos, por exemplo, não pode mais ser chamado de criança. Já é um adolescente, cujo corpo está mudando, assim como a voz, que começa a engrossar e ficar bem mais potente. Portanto, é óbvio que um candidato nessa idade terá vantagem contra um adversário de 9 ou 10. É uma criança disputando com um adolescente. Até mesmo a questão da afinação fica incomparável.

Ou seja, a disputa acaba ficando entre a fofura de uns e a potência vocal de outros. O resultado disso, infelizmente, tem sido um festival de injustiças. Tanto o adolescente quanto a criança são prejudicados. Esse debate foi levantado com mais ênfase em virtude da semifinal, exibida no último domingo (01/04), quando o público votou em Mariah Yohana para a grande final, contrariando a escolha de Carlinhos Brown, que escolheu Talita Cipriano.
A menina de 9 anos ficou com 45 pontos com a votação dos telespectadores e a adversária de 14 anos ficou com 25, que se transformou em 45 com os 20 pontos extras dados pelo técnico. O empate gerou uma grande saia justa.

Honrando a sua primeira escolha, Brown optou em levar Talita para a final, provocando um choro desesperado de Mariah, preocupando até o apresentador André Marques, que precisou consolá-la ao vivo. Em virtude da polêmica, a produção do programa enviou um boletim pouco tempo depois do encerramento do programa, avisando ao público que "após uma revisão nos votos", foi identificada uma diferença de décimos entre Mariah e Talita. Essa tal diferença levaria a menina para a final, mesmo com os pontos extras do técnico para a adversária. Então, para "solucionar" o imbróglio resolveram classificar as duas e Carlinhos será o único a ter duas participantes disputando contra um de Cláudia (Neto Junqueira) e uma de Simone e Simaria (Eduarda Brasil).

Essa situação deixou claro que a emissora não quis contrariar o público e que o choro desolador de Mariah fez diferença. Afinal, esses décimos não foram exibidos na semifinal quando o placar foi exposto na tela e contará apenas na palavra de André Marques. Mas isso tudo só deixou evidente o quão é equivocado o critério do programa. Afinal, é muito justo levar a pequena Mariah para a final, pois é uma fofa e canta bem, ao mesmo tempo é injusto com Talita, que tem uma potência vocal infinitamente superior, herdando o talento da mãe, integrante do grupo Fat Family. Só que a presença de Talita não deixa de ser uma injustiça com Mariah, pois uma tem 14 e a outra 9. Portanto, há injustiça nos dois lados ---- vale lembrar também que Neto e Eduarda têm 14 e 15 anos, respectivamente (dois adolescentes).

Para resolver esse problema, a tarefa seria simples: permitir a inscrição apenas de candidatos que tenham entre 8 (ou até um ano menor, tanto faz) e 12 anos, faixa etária de uma criança de fato. Já os que têm entre 13 e 15 anos esperariam completar 16 para entrar no "The Voice Brasil". Ninguém vai entrar em desespero esperando três ou dois anos para se apresentar na televisão. Não precisaria criar um "The Voice Teen", pois o risco de desgaste do formato seria ainda maior. Vide o adulto se perdendo ano a ano.

O "The Voice Kids" é um programa que merece todo o sucesso que faz e ainda demonstra fôlego para muitas outras temporadas. Mas, ao insistirem nesse leque bem mais amplo de idades na hora das inscrições, as injustiças e polêmicas só vão piorar. Com isso, todos perdem. Crianças, adolescentes e os adultos que julgam e assistem.