terça-feira, 17 de abril de 2018

Com personagens rasos e conflitos superficiais, "Malhação - Vidas Brasileiras" parece "Telecurso 2000"

Há pouco mais de um mês no ar, "Malhação - Vidas Brasileiras" ainda não disse a que veio. Com a dura missão de substituir a impecável "Malhação - Viva a Diferença", de Cao Hamburger, a atual temporada não tem conseguido chegar nem perto da anterior. Até mesmo a música de abertura da trama sugere uma espécie de promessa que nunca é cumprida. "Põe Fé Que Já É", de Arnaldo Antunes, tem uma expressão na letra, repetida várias vezes, que caiu como ironia para o enredo: "Agora vai". Mas será que vai mesmo? Até agora não foi.


A história de Patrícia Moretzohn vem se mostrando pouco envolvente e repleta de perfis rasos, cujos conflitos caem na superficialidade em virtude da falta de desenvolvimento dos mesmos. É a primeira vez que uma temporada de "Malhação" é baseada em um formato de fora, a produção canadense "30 Vies" ---- que teve 660 capítulos ----, e a nova proposta parece não ter sido uma boa ideia. O formato original consiste no rodízio de protagonistas, mudando o foco a cada 15 dias e tendo a professora como personagem principal, funcionando como uma mediadora de dramas. Mas essa solução simplesmente não vem funcionando até agora.

Não há construção de qualquer enredo e tudo parece jogado para o público. O erro começou logo no primeiro capítulo, quando exibiram uma bela homenagem dos alunos ao trabalho de Gabriela (Camila Morgado). A cena foi bonita, mas não teve a dose de emoção necessária simplesmente porque ninguém sabia ainda como era a relação dessa professora com seus "filhos postiços".
A autora parecia com pressa em apresentar logo essa situação para tentar justificar as constantes interferências da personagem na vida de cada aluno. E de nada adiantou.

Tem sido muito difícil comprar a ideia de uma professora que se mete na vida de cada aluno de forma até invasiva, atuando como uma espécie de salvadora da pátria ou super-heroína. Para culminar, os conflitos iniciais foram desmembrados e solucionados de forma superficial. O primeiro, por exemplo, foi o de Kavaco (Gabriel Contente), que aparentava um envolvimento com drogas em virtude de problemas familiares, afetando seu desempenho escolar. Gabriela investigou a vida do aluno e descobriu que ele estava triste por causa da relação conturbada de seus pais (vividos por Malu Mader e Daniel Dantas em uma participação irrelevante). Ainda desvendou o mistério das tais drogas: era verniz de barco que o rapaz cheirava. A solução foi simples: os pais entenderam o filho e se separaram. Ele, então, ficou mais alegre e fim. O público não viu o surgimento desse problema e nem como era a relação dessa família antes.

Após essa temática boba, veio uma questão mais pesada: o assédio. A personagem em foco passou a ser Verena, vivida pela talentosa Joana Borges. A menina teve dificuldade de se relacionar com Hugo (Leonardo Bittencourt) e o maior impedimento era o trauma do assédio sofrido. Ela foi abusada por um professor da escola onde Gabriela trabalha. A professora, claro, investigou a vida da menina até descobrir o abuso. Verena contou sobre a atitude asquerosa de Breno (Marcelo Argenta) e a narrativa acabou dividida, expondo a visão dela e a visão dele. Afinal, quem falava a verdade? A ideia da autora nesse ponto se mostrou ousada, levando em conta que pode ocorrer mesmo denúncia falsa. Entretanto, o desenvolvimento novamente foi triste. Foi provado por uma câmera de segurança que o professor era um abusador e a turma protestou contra ele. O homem foi demitido, o trauma da menina desapareceu e ela ainda iniciou um namoro com Hugo, o mesmo rapaz que a difamou na escola depois que tentou forçá-la a transar com ele. E Breno nem denunciado à polícia foi.

Terminado esse conflito, o destaque se voltou para a intolerância religiosa. Talíssia (Luellen de Castro) viu o terreiro de sua mãe ser destruído por traficantes e ainda acabou agredida. A trama é claramente baseada em um fato real, onde uma mãe de santo se viu obrigada a destruir todas as imagens de seus santos por "traficantes evangélicos", que ainda filmaram o momento de horror. Porém, novamente houve um tratamento raso da situação. Talíssia mal aparecia antes e já surgiu com esse enredo forte. Não deu tempo de se envolver com sua vida e muito menos de acompanhar sua luta contra esse tipo de preconceito.

Essa narrativa, inevitavelmente, acaba passando uma ideia de "Telecurso 2000" (programa educativo exibido pela Globo anos atrás e atualmente no ar pela TV Cultura), cujas dramatizações são curtas e didáticas, tendo personagens sem qualquer densidade. Só faltou mesmo um narrador deixando claro que a primeira semana de "Malhação" foi sobre problemas familiares, a segunda sobre assédio e a terceira tratou de intolerância religiosa. Impossível se envolver com qualquer desses conflitos, por melhor que seja a intenção da escritora. Tudo que não é construído ou desenvolvido se torna descartável. O que tem sido visto na atual temporada é um amontoado de personagens rasos e dramas que são concluídos de forma simplista em menos de dez dias. Quem achou que isso poderia dar certo?

Para culminar, Patrícia ainda tem apostado em um triângulo amoroso nada empolgante protagonizado por Pérola (Rayssa Bratillieri), Alex (Daniel Rangel) e Maria Alice (Alice Milagres). O mocinho que rompe com a patricinha para ficar com a filha da empregada, uma "doce menina sofrida com cara de ingênua". É um enredo que já se desgastou em "Malhação" e os perfis envolvidos lembram o trio protagonista de "Malhação - Casa Cheia" (2013), escrita pela mesma autora: Ben (Gabriel Falcão), Anita (Bianca Salgueiro) e Sofia (Hanna Homanazzi). A patricinha arrogante e dois tipos "bonzinhos" que acabam vistos como sonsos. Nem mesmo os atores mais experientes desse núcleo têm provocado uma maior atenção, pois Ana Beatriz Nogueira ganhou outra mãe fútil e controladora (a perua Isadora) e Guta Stresser parece sofrer o tempo todo com sua Rosália, empregada que transborda honestidade. Por sinal, o enredo da corrupção do pai de Pérola também não vem sendo desenvolvido a contento. A participação do Edson Celulari é ínfima.

Nem mesmo a família da protagonista empolga, assim como sua relação mal resolvida com o ex, Rafael (Carmo Dalla Vechia). Gabriela parece muito mais preocupada com a vida de cada aluno do que com seus filhos ou seu marido. E o relacionamento "chove não molha" da professora com Rafael já cansou, além dos atores não terem química juntos. Enfim, é um início nada animador, incluindo os números de audiência, três pontos a menos que a fase passada. "Malhação - Vidas Brasileiras" ainda tem tempo de sobra para melhorar e ajustar todos esses erros (o tempo estipulado da trama no ar pela emissora é de um ano e meio, um exagero), mas se seguir o rumo que está tomando será impossível reverter essa má impressão.

31 comentários:

Unknown disse...

zzzzzzzZZZZZZZZZZZZZZzz... esse Sergio Santos é doido varrido, a vida dele se resume a assistir televisão(globo) o dia inteiro, coitado! Ainda se fosse na época que a globo prestava...

Anônimo disse...

A pessoa que vem a um blog dedicado a televisão para quesrionar o dia a dia do dono,deve ter muito o que fazer da vida para fazer esse julgamento idiota. Se poupe, meu filho.

Obs: Como eu já disse em outro post, Sérgio, vc vai ganhar um espaço no paraíso por aturar tanta idiotice. Aff

Bruna disse...

Nossa eu não consigo mais acompanhar essa Malhação. É muito chata. Nunca vi tanta gente sem carisma reunida!!! UM ANO E MEIO NO AR??????? NÃO AGUENTO!

Debora disse...

Olá Sérgio tudo bem???


Aqui em Portugal está passando essa fase de malhação, mas acabamos de assistir o final do caso do Kavaco... Realmente é possível sentir a superficialidade nas história e aos poucos as pessoas vão se irritando com isso e deixando de assistir...

Adorei sua comparação com o telecurso 2000...



Beijinhos;
Débora.
https://derbymotta.blogspot.pt/

chica disse...

Tive que rir da tua comparação...Valeu! abração, linda semana, tuuuuuuuuuuuuuudo de bom,chica

Chaconerrilla disse...

Zamenzito ótimo post. Eu já até desisti de assistir.

Gui disse...

essa temporada tá horrível demais e o triângulo realmente lembra muito o de Casa Cheia. A única diferença é que a Maria Alice não tem a voz irritante da Anita KKKKK

Lulu on the sky disse...

Não acompanho Malhação, por isso não tenho como opinar.
Um ótimo dia pra você.
big beijos
www.luluonthesky.com

Paula Müller disse...

No seu post sobre a estréia de Malhação - Vidas Brasileiras, eu comentei que ela provavelmente não iria ter o mesmo sucesso de Viva A Diferença, mas que o saldo era positivo, pois pelo menos o Globo tinha passado a dar mais atenção ao horário e renovar o formato. Retiro o que disse. Não tem saldo positivo nenhum, essa malhação é uma das piores e mais infantis que eu já vi, tem um texto muito raso e superficial, além disso simplesmente não entretém, é chata mesmo. Eu já desisti dessa temporada, prefiro cheirar verniz de barco a continuar assistindo. Ah, e boa comparação com o Telecurso 2000, Sérgio.

Anônimo disse...

Malhação ta aí e assiste quem quer, ué. Na hora da novelinha so desligar a TV ou mudar o canal... ou assinem a globo.com, la tem Viva a diferença na integra hahahaha

Malu disse...

Ué, gente, assiste quem quer e comenta quem quer tb. Enfim, eu já senti o cheiro de flop de longe antes da estreia mas me segurei pra não falarem que sou viúva de MVAD. Coitada da Camila Morgado com essa personagem mala sem alça! Invasiva é pouco, a mulher é uma stalker sem vida própria. Vale destacar - negativamente, claro - o diálogo onde, fazendo uma pressão absurda na garota, Gabriela diz pra Verena que "se ela não diz quem é o assediador, está consentindo com o assédio". Além de outros absurdos como Verena namorar Hugo, justamente um cara que tentou agarrá-la à força, e ser alvo do julgamento de Jade por usar short curto, justo a garota dos nudes vazados - ressalto que nenhuma das duas tem culpa, ambas foram vítimas. Sobre esse triângulo uó, já vimos antes em Casa Cheia e ninguém curtiu, sem necessidade isso aí. Além do mais, reforça essa coisa de "duas meninas brigando por um cara", que, sinceramente, era pra ter ficado lá nas temporadas do Múltipla Escolha. O irônico é que Patrícia foi abrir a boca pra dizer que não tinha como reverter o que Cao fez, mas é exatamente o que está acontecendo. Era melhor ter ficado calada.

Só mais uma coisa, esse elenco jovem é o menos carismático desde... bem, desde Casa Cheia. Salvo Joana Borges e Rayssa Bratillieri, não vejo talento e carisma em nenhum deles, todos mais sem graça e sem expressão que Fiuk e Juliano Laham juntos.

Outsiders disse...

Atualmente, as tramas de tv que vale a pena assistir 'Apocalipse'(Record), Natalia (TV Brasil) e 'Malhação Vidas Brasileiras' (Globo). Esperamos que a telenovela 'Onde Nascem Os Fortes' possa ser do interessante.

Eis os motivos para você assistir MVB...

Seus pontos positivos: personagens carismáticos, elenco bom, e um ritmo bem interessante das tramas.

Seus pontos negativos: retrato de super-heroína de Gabriela, excesso de triângulos amorosos, má utilização de grandes atores — uma pena a participação de Edson Celulari ser tão pequena, o ator até agora foi pouco aproveitado, assim como Ana Beatriz Nogueira, vivendo uma dondoca falida perdida entre a vilania e a bondade.

Anônimo disse...

oi Sergio, adoro seu post e concordo com você sobre essa malhação. Muito apressada, com uma professora muitas vezes intrometida que cuida mais da vida dos outros que da sua.
Achei até interessante a ideia da novela, mas desde o inicio, sabia qe nao daria certo.
O triangulo PerolaxAlexxMaria Alice, é ridiculo, onde duas meninas brigam por macho, acho bem ridiculo depois que MVAD mostrou a amizade em primeiro plano. enfim historia chata, personagens chatos sem historia, um colegio bem sem graça (saudades multipla escolha), onde os professores são chatos e nao tem historia (saudades Afrânio, Beth, e até mesmo Gael, Dandara, Nando), aquela lanchonete, super inútil que deveria servir para juntar os nucles, mas nao deu certo (alo GYGABYTE).

enfim bem ruim mesmo, consegue superar a malhação 2006 que ta sendo reprisada pelo VIVA, e olha que o casal principal é Manoela e Cauã

Anônimo disse...

adorei esse comentario kkkk alex me fez lembrar do bernardo que transou e engravidou a jaque pra esquecer da betina

Leitora disse...

Olá! Kkkkkk amei a comparação as raras vezes que vi não não gostei nenhum pouco. E eu cheguei a acreditar que podia dar certo ledo engano. A trama ao meu ver tem como propósito "conscientizar" ao invés de entreter. (Saudades do Giga Byte, do Ogromóvel, da Vagabanda, das Fives) o problema não está na questão do conscientizar uma vez que varias tramas fazem merchan social, ok que muitos são um desserviço, mas enfim... Isso é outra história o problema é que essas conscientizações sociais além de estarem sendo mal conduzidas parecem aqueles remédios que a mãe da gente nos obriga a tomar quando somos crianças se é que você me entende? Eu acho que o maior problema é justamente essa falta de conexão com os personagens a gente mal sabe quem é aquele personagem, porem já estamos ali no olho do furacão tendo que torcer por ele porque gostamos dele, mas como podemos gostar ou simpatizar com alguém que mal conhecemos? Cuja vida nos é mostrada através de depoimentos rasos e quando termina aquilo ali fica um monte de pontas soltas, furos e etc e aí após o furacão vem uma avalanche, depois um terremoto e pior tudo como se fosse uma espécie de vídeo aula como tu mesmo disse um telecurso, aliás é muito mais produtivo usar o horário pra ir assistir uma vídeo aula de verdade com um conteúdo que realmente preste. Conhecimento é poder.

Dean Winchester disse...

Vejo pouco essa temporada e tbm acho fraca.Os temas não são bem aprofundados e abordados, se a autora acertasse nos temas essa temporada seria bem interessante.Aquele triângulo Alex, Maria Alice e Pérola é insuportável.

Sérgio Santos disse...

Vou mesmo, anonimo. kkkkkkkk

Sérgio Santos disse...

É muito ruim, Débora.

Sérgio Santos disse...

Não duvido nada que mudem isso, Bruna.

Sérgio Santos disse...

Que bom, Chica... rs

Sérgio Santos disse...

Muito obrigado, Chaaconerrilla.

Sérgio Santos disse...

Exato, Gui...

Sérgio Santos disse...

Ok, Lulu.

Sérgio Santos disse...

Muito obrigado, Paula. Eu me decepcionei com a estreia, mas preferi esperar mais pra ver. E só tem piorado, não dá...

Sérgio Santos disse...

Que grande argumento, anonimo.

Sérgio Santos disse...

É verdade, Malu, ainda tem a questão do elenco sem carisma e fraco, com raras exceções, como essas duas.

Sérgio Santos disse...

Nãao vejo tipo carismático algum nessa trama, Day.

Sérgio Santos disse...

Oi, anonimo. E essa temporada de 2006 tb foi péssima...

Sérgio Santos disse...

É exatamente isso que penso, Leitora.

Sérgio Santos disse...

Muito ruim, Dean.

Anônimo disse...

Realmente essa temporada é terrível, do nada os personagens começam a sofrer bullyng de pessoas que até então eram amigos, é uma trama muita rasa, não tem profundidade em nada, é mais uma das novelas dessa autora que sofre rejeição da crítica e do público, Viva a Diferença faz uma tremenda falta.