Dirigido por Jorge Fernando, o folhetim caiu nas graças do público com um enredo popular, cuja inverossimilhança não prejudicou em nada o êxito da obra. Ambientada em São Paulo, a novela tinha duas mulheres de universos opostos como protagonistas: a perua Rafaela Alvaray (Marília) e a humilde Rosemere da Silva (Glória), que tiveram suas vidas cruzadas por causa do empresário Herbert Alvaray (Jorge Dória), casado com ambas. Sua família 'oficial' morava em uma mansão de bairro nobre e era a formada por Rafaela e seus filhos Ana Cláudia (Patrícia Pillar), Teddy (Tarcísio Filho) e Tamyris (Cristina Mullins), além da sogra Francine (Célia Biar) e do genro Maurício (Tatu Gabus Mendes).
Ou seja, para Rosemere, o empresário se chamava Mário Francis e os dois tinham apenas uma filha: Márcia (Fabiane Mendonça). Mas, a amante de Herbert tinha outros dois filhos: Amaury (Cacá Barrete) e Vânia (Paula Lavigne), além de um pai que ajudava a sustentar (Lourival - Fabio Sabag). Ao contrário da chique Rafaela, a humilde mulher era brega e morava em um bairro de periferia, lutando com dificuldades para manter a casa.
As duas representavam o título da novela e não poderiam ter ganhado intérpretes melhores. Marília Pêra e Glória Menezes honraram o protagonismo, embora Marília tenha se sobressaído mais em virtude do lado cômico de sua personagem, protagonizando cenas hilárias ao lado do secretário e fiel escudeiro do marido, o atrapalhado Montenegro (Marco Nanini).
A novela engrena de fato quando Herbert simula a própria morte e foge do país para escapar da falência. Isso porque o empresário deixa sua família 'oficial' na miséria, pois a mesma herda as dívidas da empresa, mas faz questão de não desamparar sua amante, deixando uma ótima quantia em dólares para ela se sustentar. As situações das protagonistas se invertem e esse ato do calhorda acaba unindo as duas, uma vez que Rafaela se vê obrigada a se mudar para o bairro de Rosemere, iniciando, assim, uma até então improvável proximidade, que resulta em uma forte amizade. A cena em que a mulher humilde ensina a perua (usando um casaco de pele) a fazer compras em uma feira, por exemplo, foi uma das mais marcantes da história, sendo sempre citada ou exibida quando a trama é relembrada.
Aliás, as personagens, embora diferentes em inúmeros aspectos, apresentavam outra semelhança além de terem o mesmo marido: também tinham admiradores. Rafaela era fruto do amor platônico de Montenegro, que sempre soube da armação de Herbert, e Rosemere era o sonho do apaixonado Baltazar (Dennis Carvalho), o xucro marceneiro do bairro. Mas, como já mencionado, a dupla que fez um estrondoso sucesso foi a protagonizada por Marília Pêra e Marco Nanini. Tanto que as cenas deles muitas vezes tinham ótimos improvisos que acabavam indo ao ar. Não por acaso ganharam cada vez mais destaque ao longo da produção e vale lembrar que a trama marcou a volta da grandiosa atriz aos folhetins, após 13 anos ausente (sua última novela inteira havia sido "Supermanoela"em 1974).
A grande virada da história se dá quando Herbert volta ao Brasil após uma cirurgia plástica completa, adotando o nome de Cláudio Serra. E é justamente essa reviravolta que beirou o absurdo, pois saiu de cena Jorge Dória e entrou Raul Cortez. Não há plástica que faça tamanho milagre. Entretanto, a situação não provocou rejeição e o público comprou a trama, que já fazia um imenso sucesso. O desempenho de Raul foi outro ponto que mereceu elogios e o enredo ganhou um novo fôlego com o empresário descobrindo que as suas mulheres viraram melhores amigas e passaram a detestá-lo. Ele acaba colocando como meta de vida reconquistar suas esposas, rendendo ótimas situações. Por sinal, vale lembrar ainda como Rafaela e Rosemere eram chamadas pelo cara de pau: Alfa I e Alfa II. Ao longo do enredo, inclusive, é descoberto que há ainda uma Alfa III: Zilda (Nivea Maria), a melhor amiga de Rafaela.
Além da maravilhosa história central, é necessário mencionar também o núcleo secundário protagonizado por Bruno (Cássio Gabus Mendes). Sobrinho de Baltazar, o rapaz cometia erros crassos de português e era virgem. Ele vivia levando bronca do tio e tinha aulas de português com a professora Mercedes (Patricya Travassos), que se apaixonou pelo aluno. As cenas eram repletas de humor e Cássio conseguiu destaque na obra do pai por mérito próprio. O elenco era bem enxuto e ainda contava com Cássia Kiss, Ângela Figueiredo, José Augusto Branco, Jayme Periard, Neuza Amaral, entre outros, além de ter marcado a estreia da grande Ana Rosa na Globo em uma pequena participação como Madalena.
A abertura da novela merece uma citação especial, pois foi marcada pela ousadia. Ao som de "Pelado", um dos maiores sucessos do Ultraje a Rigor, o modelo Vinicius Manne aparecia com a bunda de fora e isso chocou alguns telespectadores, que exigiram mudanças. A Globo acabou colocando uma folha em cima do bumbum do rapaz no segundo capítulo, mas a atitude também gerou revolta de outra parcela do público. No final das contas, a retaguarda foi liberada e permaneceu na abertura até o desfecho da trama. Ironicamente, inclusive, a questão ainda gera controvérsia, pois o "Vídeo Show" sempre coloca uma tarja quando a clássica abertura é reprisada. Uma censura desnecessária que só comprova como o politicamente correto hoje em dia exagera em alguns pontos.
"Brega & Chique" foi uma das novelas mais marcantes da televisão brasileira e um dos grandes êxitos do grande Cassiano Gabus Mendes, que escreveu dois anos depois, em 1989, outro grande sucesso: "Que Rei Sou Eu?". O autor veio a falecer em 1993, deixando um legado para a teledramaturgia, tendo o enredo protagonizado por Rafaela e Rosemere como um dos mais lembrados.
17 comentários:
Nooooooooossa, como voa o tempo! 30 anos? Que legal relembrar! abraços, chica
Essa novela o Viva tinha que reprisar. Não Bebê a Bordo...
Marilia, Jorge Doria e Raul fazem falta...
Alias, Sérgio, uma correção: foi a Censura da época que exigiu que fosse colocada uma folha de parreira sobre as nádegas do ator. Isso foi feito, mas mandaram aumentar. Mais tarde, só o que se podia fazer para os censores pararem de encher o saco era sumir com a bunda do cara da abertura. Mas parece que foi nessa mesma época que foi homologada a Constituição de 1988, que enterrou de vez a Censura oficial. E a abertura de Brega & Chique com o cara nu pôde voltar sem problemas. Essa história foi inclusive contada no programa Na Moral, do Pedro Bial, em 2015.
Excelente novela de Cassiano Gabus Mendes, nossa, como as novelas da década de 80 eram maravilhosas, nem se compara com essas tranqueiras de hoje. Lembro até do dia que essa novela estreou, eu estava na casa da minha tia no interior de MG, caía uma chuvinha fina, eu tinha 12 anos, não perdia uma única novela nessa época, era uma melhor que a outra. Melhor papel da carreira de Marília Pera que só aceitou voltar a TV pra fazer a sua Rafaela Alvarai, divertidíssima. Imagina uma madame toda fresca que fica pobre e vai morar numa vila, hilário! Cassiano G. Mendes escrevia novelas completamente diferentes uma das outras, ele e Ivani Ribeiro eram meus preferidos, não se repetiam como Manoel Carlos e outros. Espero essa no Viva, assim como Locomotivas, Champagne, Te Contei, Elas por Elas... só pra citar as dele, fora as outras dessa década incrível!
A foto com Paulo Autran e Fernanda Montenegro é de Guerra dos Sexos, esses estagiários do Viva...
Eu ria demais, sdd de assisitir novelas assim.
bjokas =)
Que bonitinho o Cássio no início da carreira. Sou grande admiradora do trabalho dele, assim como dos seus textos sempre maravilhosos e ricos em informação.
Voa, Chica.
Concordo, anonimo.
Fazem muita falta, Cezar.
Obrigado pela correção, Jason. Eu li em alguns lugares que foi o público mesmo, mas procurarei isso.
Paulo, vc estava sumido. Sentia falta das suas rabugices, acredite. Essa novela foi um cássico msm.
Pois é, anonimo...
Era boa msm, Bell. bjs
Cássio é ótimo, anonimo. E mt obrigado pelo carinho. Faço pra vocês!
Ela tá reprisando agora, em 2020.
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