O talento de Cássia Kiss

Tem alguns atores que engrandecem qualquer produção. Isso ocorre devido ao imenso talento, ao prestígio que conquistam com o tempo de carreira e aos grandes trabalhos que já fizeram na teledramaturgia. E Cássia Kiss está neste seleto time de estrelas. O folhetim, série, espetáculo ou minissérie que pode contar com sua presença é automaticamente acrescido de um 'bônus' e tanto. Portanto, é óbvio que sua participação na impecável "O Rebu" deixou esta obra ainda melhor.

Cássia ganhou a enigmática e intensa Gilda, advogada e braço-direito de Angela Mahler (Patrícia Pillar), uma personagem repleta de nuances e ambiguidade. Todas as cenas exigem uma expressão corporal intensa da atriz, que se dedica ao extremo e se destaca com louvor. A esposa de Bernardo (José de Abreu) é uma mulher ressentida, arrogante, infeliz e firme. Ao longo da novela, por exemplo, dá para contar nos dedos de uma só mão quantas vezes ela sorriu.

Vivendo um casamento de aparências, a advogada tinha um caso com Bruno (Daniel de Oliveira) e este parecia ser sua única válvula de escape. Com o passar dos capítulos, o drama pessoal da personagem foi sendo exposto, principalmente a partir da chegada dos filhos Michel e Valentina (Olívia Torres).
E com a entrada dos garotos, ficou evidente o problema de convivência que ela tem com os herdeiros. O menino é introspectivo e a menina é típica rebelde, que se envolveu com um traficante e quase ficou presa.

As novas situações proporcionaram para Cássia Kiss cenas mais dramáticas, resultando no seu costumeiro show de atuação. Gilda é uma das melhores personagens deste remake e caiu nas mãos da atriz certa. Os autores George Moura e Sérgio Goldenberg, e o diretor José Luiz Villamarim, não quiseram abrir mão do trabalho dela após sua participação em "Amores Roubados", minissérie produzida pela mesma equipe. A ex-prostituta Carolina, mãe do sedutor Leandro (Cauã Reymond), foi brilhantemente defendida por Cássia e seu desempenho foi um dos melhores da trama.

Mas Cássia Kiss tem uma longa e respeitada carreira. Estreou na televisão em 1979, na novela "Cara a Cara", na TV Bandeirantes. Em 1983, ganhou seu primeiro trabalho na Globo através de participações no 'Caso Especial'. Após ter integrado o elenco de "Livre para Voar" (1984), "Roque Santeiro" (1985) e "Brega & Chique" (1987), e ganhou uma projeção absurda ao interpretar a ciumenta Leila, em "Vale Tudo" (1988). Sua personagem era nada menos que a assassina da inesquecível vilã Odete Roitman e a cena do assassinato entrou para a história da teledramaturgia.

A atriz ainda participou de "Pantanal" e brilhou em "Barriga de Aluguel", na pele de Ana Lúcia, mulher que alugava a barriga de outra para poder ter seu tão sonhado filho. Em 1993, se destacou vivendo a Ilka Tibiriçá em "Fera Ferida", até ganhar de presente a Isabel em "Por Amor", seu primeiro trabalho com Manoel Carlos. Na novela, Cássia também fez parte de uma cena antológica, quando sua personagem se atraca com a vilã Branca Letícia de Barros Motta (Susana Vieira), rolando as escadas, enquanto as duas disputavam a posse de uma tesoura em meio a uma forte briga.

Em 1998, participou do remake de "Pecado Capital", e em 2000 fez parte de "Esplendor", até ganhar a Adma Guerrero em "Porto dos Milagres" (2001). Na pele de uma assassina que eliminava seus inimigos os envenenando com o conteúdo que carregava em seu anel, a atriz se destacou de forma absoluta na trama de Aguinaldo Silva. Cássia também engrandeceu produções como "Sabor da Paixão", "Um só Coração", "Mad Maria" e "JK".

Na novela "Cobras & Lagartos" (2006), a atriz não teve o destaque que merecia, mas no ano seguinte ganhou a bruxa Zilda, de "Eterna Magia", e deu novamente um show em cena. A vilã foi magistralmente vivida por ela, que depois brilhou interpretando a beata fanática Mariana em "Paraíso" (2009). Já em 2009, Cássia ganhou uma das suas melhores personagens na carreira: a humilde e sofrida Dulce, de "Morde & Assopra". A personagem conquistou o público e virou praticamente a protagonista da história de Walcyr Carrasco. Foi uma sucessão de cenas emocionantes e lindamente encenadas. Vale destacar ainda sua vilã Melissa, em "Amor Eterno Amor", um dos poucos acertos da equivocada trama de Elizabeth Jhin.

Cássia Kiss é um atriz com 'a' maiúsculo e é sempre um prazer ver uma profissional que honra as artes dramáticas no ar. Após tantos grandes trabalhos e merecidos elogios, Cássia Kis Magro mais uma vez arranca aplausos do público no remake de "O Rebu" e com certeza brilhará todas as vezes que ganhar uma personagem que faça jus ao seu talento.