terça-feira, 23 de julho de 2024

Quinta e última temporada foi a melhor de "Sob Pressão"

 A quinta e última temporada de "Sob Pressão" chega ao fim na Globo nesta terça-feira (23/07), após ter estreado no Globoplay em 2022. O autor Lucas Paraizo e o diretor Andrucha Waddington foram responsáveis por uma das séries mais bem-sucedidas da história da Globo, o que não é algo simples. Foram cinco temporadas que arrebataram público e crítica e havia fôlego para mais. Mas a produção realmente acabou e se despediu com uma leva de episódios emocionantes. 


A história protagonizada por Evandro (Julio Andrade) e Carolina (Marjorie Estiano) teve quatro temporadas repletas de dramas bem construídos em meio a choques de realidade que trouxeram reflexão e questionamento sobre a saúde pública do Brasil. A quarta temporada, exibida ano passado, foi a única que teve altos e baixos, mas ainda assim merecedora de muitos elogios. Só que a quinta conseguiu superar a expectativa dos mais ansiosos pelo 'último ano' da série. Foi quase uma volta às origens, onde os conflitos pessoais de cada médico dominaram a narrativa, tendo como complemento as questões de vários pacientes que ajudaram a engrandecer a o conjunto. 

A trama focou nas feridas psicológicas dos médicos e foi uma avalanche de sofrimento ao longo dos episódios. Os momentos de leveza foram raros, mas não é uma crítica. A densidade dramática fez toda diferença para tornar a temporada inesquecível.

O primeiro grande conflito foi a descoberta de Evandro a respeito do paradeiro de seu pai, um homem com quem nunca teve uma boa relação. O médico jamais o perdoou por tê-lo abandonado depois que se divorciou de sua mãe. Mas descobriu que Heleno (Marco Nanini) estava em uma clínica de repouso e diagnosticado com Alzheimer. Acabou levando seu pai para casa e começou a cuidar dele. Até que veio outro baque: após interná-lo para tratar de lesões ocasionadas por uma queda, soube que Heleno estava com câncer terminal. 

Enquanto Evandro se desdobrava com a carga emocional trazida por aquele reencontro, Carolina descobria um câncer de mama. A médica identificou um nódulo no seio e adiou o quanto pôde o exame para detectar se era maligno ou benigno. Após muita negação, resolveu encarar a realidade e acabou se consultando com um ex-namorado, o doutor Daniel (Emílio Dantas). O tumor era mesmo maligno e Evandro teve outro susto com a notícia, que só foi revelada por um ato falho de Vera (Drica Moraes). Para culminar, o fato do médico de sua esposa ser um ex abalou a relação do casal. Mas ainda não era o bastante. Em um episódio emblemático e impactante, a equipe do Hospital Edith Magalhães perdeu Charles (Pablo Sanábio) em um trágico acidente com a ambulância que levava uma paciente. Foram cenas dilacerantes e interpretadas por um elenco em estado de graça. Impossível não ter chorado junto com eles. 

E os personagens pontuais, marcados por pacientes que participavam apenas de um episódio, abrilhantaram o conjunto, vide as presenças luxuosas de Lázaro Ramos na pele dos gêmeos Davi e Michel; Thaissa Carvalho como Joice; Inez Vianna como Soraya; Juan Paiva como Inácio; Chandelly Braz como Raissa; Douglas Silva como Josué; Ana Carbatti como Elaine; Dedina Bernadelli como Marlene; Débora Duboc como a mãe do doutor Charles; Ana Terra Blanco como Célia; Eliana Pitman como Muriel; Kenya Costta como Helga; Aline Fanju como Diná, Marcelo Valle como padre Gonçalo; Cacá Ottoni como Lucila; Emílio Dantas como Daniel, Tuna Dwek como Nilséia; entre tantos mais. Uma menção especial a três talentos: Tony Ramos, Irene Ravache e Fábio Assunção. Tony e Irene emocionaram na pele de um casal que comemorava 50 anos de casados. Foi uma participação breve, mas avassaladora. Que atores! Já Fábio viveu um mergulhador atingido por um arpão disparado pelo próprio filho no último episódio e brilhou. 


Aliás, o elenco fixo da série é um show à parte. Julio Andrade mais uma vez brilhou absoluto como Evandro e suas cenas com Marco Nanini foram excepcionais. E que luxuosa a participação de Nanini. Os momentos de Heleno que mesclavam lucidez com as sequelas do Alzheimer eram emocionantes. O desfecho do personagem foi outro momento que sensibilizou. E o que comentar sobre Drica Moraes? Uma profissional que nunca decepciona e teve um merecido destaque através da 'promoção' de Vera, que virou diretora médica depois que Décio (Bruno Garcia) viajou com seu marido para Londres. Um elogio especial ao desenvolvimento sutil do início de um processo de alcoolismo da personagem e que foi interpretado com competência pela intérprete ---- a cena de uma confissão mútua entre Vera e Evandro merece aplausos.


Já Marjorie Estiano dispensa maiores comentários. Uma das maiores atrizes de sua geração, a intérprete comoveu o telespectador com a dolorosa saga de Carolina ---- o grito que a médica deu na hora da morte de Charles foi devastador, assim como sua reação dentro de seu carro com a constatação de estar com um tumor maligno. David Júnior esteve muito bem como doutor Mauro e Julia Shimura protagonizou cenas de grande sensibilidade por conta do trauma da enfermeira Keiko após a perda de Charles. Bárbara Reis foi mais uma do time que ganhou bons conflitos através da dificuldade financeira de Lívia, enfermeira que se negou a participar de um esquema de corrupção mesmo estando endividada. Josie Antello foi outra que ganhou importância e vale destacar a forte cena em que Rosa descobre que Charles morreu. Não foi preciso texto. O choro da atriz impactou.


O último episódio teve um encerramento no arco de cada personagem e foi marcado pela emoção da recuperação de Carolina. Aliás, o desfecho foi uma homenagem aos fãs da série com situações que só quem acompanha desde a primeira temporada sabe. Como o fato de Evandro quase ter tido uma recaída em seu vício em drogas e ter operado a (ex)esposa durante uma complicação cirúrgica. Um dos maiores traumas do médico foi ter perdido sua primeira mulher em uma operação. Agora deu tudo certo. E que momento lindo o espírito do Charles ter sido o responsável pela notícia da cura de Carolina. A emoção de Marjorie Estiano e Pablo Sanábio honrou a delicadeza da cena. A última sequência, com o casal protagonista separado por causa da decisão da médica de cuidar mais de si, deixou o futuro em aberto, ainda mais com a linda trilha escolhida para a última cena: "O Mundo e um Moinho", de Cartola. Ficou perceptível que o amor segue existindo, mas o que acontece depois fica a cargo da imaginação de cada um. 

"Sob Pressão" foi a melhor série nacional já produzida pela emissora. E olha que foram muitas. Mas não é exagero a constatação. A produção médica tem um diferencial e não por acaso angariou uma legião de prêmios internacionais ao longo das cinco temporadas, com direito a indicação de Marjorie Estiano ao Emmy Internacional de Melhor Atriz. A quinta temporada foi a melhor de todas e marcou o adeus definitivo para os médicos mais amados da ficção brasileira. Não poderia ter sido uma despedida mais triunfal. Foi lindo, triste, sensível e memorável. 

6 comentários:

Adriana Helena disse...

Uma série fantástica, confesso que é feita para refletir e chorar...
Lindo texto Sérgio, parabéns por descrever tão bem o conteúdo de uma das melhores séries já exibidas!
Linda semana!!

Teresa Isabel SIlva disse...

Não conhecia, mas fiquei curiosa! Vou acrescentar na minha lista!

Beijos e Abraços,

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Camila Nere disse...



Sergio, nessa vou discordar de você. Apesar de achar a quinta temporada boa, para mim, a terceira continua sendo a melhor. Mas concordo que, depois de uma temporada cheia de altos e baixos, a quinta fechou a série de forma excelente. A cena final deixou uma possibilidade de uma volta no futuro. Como falei na época que saiu pelo Globoplay, acho o final da Carolina perfeito! A relação dela com Evandro estava bem desgastada, e a doença foi a gota d'água que faltava para ela romper e finalmente focar mais nela. E tenho para mim, que a Marjorie gostou do final da personagem dela .🤭

---a

Sérgio Santos disse...

Que honra, Dri!

Sérgio Santos disse...

Vale a pena, Isabel.

Sérgio Santos disse...

Tambem acho, Camila.