quarta-feira, 4 de outubro de 2023

O que Amauri Soares pretende fazer com a teledramaturgia da Globo?

 No final de junho, Amauri Soares assumiu o lugar de Ricardo Waddington como diretor dos Estúdios Globo. A emissora vem passando por várias reestruturações desde o início de 2023. A notícia foi dada em um comunicado por Paulo Marinho, diretor-presidente da TV Globo. Desde então, várias mudanças vem sendo observadas no setor de teledramaturgia da empresa, onde muitas delas indicam um verdadeiro retrocesso em se tratando do viés progressista do canal. 


Amauri iniciou seu trabalho na Globo em 1987, onde trilhou seu caminho profissional em diversos departamentos de jornalismo. Já atuou como chefe de redação do "Fantástico", editor-executivo do "Jornal da Globo", editor-chefe do "Jornal Nacional", diretor-executivo da Central Globo de Jornalismo, diretor-executivo da Globo Internacional em Nova York, liderou a diretoria de eventos da Globo e foi diretor da programação por sete anos. Ou seja, é um homem bastante poderoso na empresa e de grande confiança da família Marinho. 

Desde que assumiu o novo posto, várias notícias a respeito de suas ordens foram divulgadas na imprensa e praticamente todas, coincidentemente ou não, acabaram comprovadas pelo público que acompanha as novelas da emissora. Foi noticiado que partiu dele a ordem para vetar os beijos entre mulheres em "Vai na Fé" para 'não afugentar o público evangélico' que a história de Rosane Svartman tinha conquistado.

O mesmo aconteceu com o beijo entre dois homens na mesma trama. Também foi exposto que o novo diretor ordenou que Walcyr Carrasco diminuísse a trama de Menah (Camilla Damião) e Mara (Renata Gaspar) em "Terra e Paixão", assim como interferiu na condução de Érico (Carmo Dalla Vecchia) em "Amor Perfeito", personagem que sofreu uma espécie de cura gay no folhetim das seis escrito por Duca Rachid, Júlio Fisher e Elisio Lopes Jr. 

Recentemente, mais uma imposição do novo integrante do cargo de diretor dos Estúdios Globo veio à tona por meio do Notícias da TV: Amauri 'orientou' que os autores evitem escrever tramas espíritas porque o brasileiro está cada vez mais 'multireligioso'. A nova ordem condiz com o cancelamento do remake de "A Viagem", fenômeno de 1994, que vinha sendo especulado pela imprensa por um longo tempo. Também corresponde com a demissão de Elizabeth Jhin, autora conhecida por suas obras espíritas, que deixou a Globo quase dois anos depois do término da primorosa "Espelho da Vida", em 2019. E todas essas 'coincidências' ainda tem tudo a ver com outra nota publicada pelos veículos a respeito de Amauri querer aproximar a programação da emissora cada vez mais ao público evangélico. Porém, é absurdo o diretor dizer que a população está cada vez mais abraçando a diversidade religiosa e como resposta a isso focar apenas nos evangélicos, deixando de lado católicos, espíritas e todas as demais religiões. Qual a lógica? 

Amauri Soares nega todas as notas sobre suas imposições: "Não baixei nenhuma medida de caráter editorial, artístico, de proibição de assunto. Nunca baixei e jamais baixarei, não é assim que a gente trabalha", declarou sobre o veto aos beijos gays (termo que nem deve mais ser usado) em "Vai na Fé". No entanto, é inegável que as notícias a respeito de suas intenções sejam facilmente confirmadas pelos telespectadores que acompanham as novelas. Vários beijos foram cortados, sim, na novela das sete de maior sucesso de 2023. A trajetória do personagem até então homossexual foi, sim, bruscamente mexida na produção das seis. Não se fala mais em folhetim espírita na Globo. A programação está, sim, cada vez mais voltada para o público evangélico, vide a presença de artistas gospel em algumas edições do "Altas Horas" ou os vários filmes religiosos que passaram a dominar a "Sessão da Tarde". 

Aliás, falando sobre a programação vespertina, nesta semana houve um grande corte em cenas de importância na reprise de "Mulheres Apaixonadas". A mãe de Clara (Alinne Moraes) tentou atropelar Rafaela (Paula Picarelli), a namorada da filha, e pouco tempo depois as duas viram alvo da homofobia de Paulinha (Roberta Gualda), o que provoca uma briga generalizada. Nada disso foi ao ar. Ao mesmo tempo, a cena de Helena (Christiane Torloni) transando com César (José Mayer) foi mostrada praticamente na íntegra. É difícil imaginar o que tem se passado na cabeça do responsável pela análise do que deve ou não ser exibido. 

E nesta quarta-feira foi noticiado no site F5 que uma sinopse de Cristianne Fridman, autora de vários sucessos na Record ("Essas Mulheres", "Chamas da Vida", "Vidas em Jogo", "Topíssima" e "Amor sem Igual") foi reprovada para a faixa das 21h. A autora queria contar a história da guerra entre o tráfico e a milícia no Rio de Janeiro. Uma jovem, filha de um traficante, se apaixonaria pelo filho de um influente político que financia um grupo de milicianos. Uma trama potente e que tinha tudo para repercutir. Resta torcer para que a equipe do Globoplay se interesse, já que a cúpula da emissora liderada por Amauri não está mais interessada em enredos que promovam algum tipo de risco. 

Mas, afinal, o que o novo diretor pretende fazer com a teledramaturgia da Globo? Vale lembrar que recentemente Amauri também cancelou a sinopse de Lícia Manzo para as 18h, que já estava aprovada e em processo de escalação, por considerar muito elitista. Isso porque a autora contaria a história de uma violinista que viria ao Brasil em busca de suas origens e montaria uma orquestra em uma favela. Chamou às pressas Mário Teixeira para criar uma trama que ganhou o título provisório de "No Rancho Fundo". Mais um folhetim rural? Em 2024, o remake de "Renascer", outra produção rural de Benedito Ruy Barbosa copiada e colada pelo neto Bruno Luperi, irá ao ar em pleno horário nobre, após "Terra e Paixão", que também é rural. O objetivo é ter um bando de novelas iguais e sem personalidade? Os autores serão impostos a temas que ele decidir? Casais homoafetivos perderão espaço ou seguirão com vários cortes? Enfim, é complicado imaginar o futuro, mas não parece nada bom. 

15 comentários:

Anônimo disse...

Sinceramente, é desanimador vislumbrar o setor dramatúrgico da Globo nos anos posteriores, haja vista as atitudes intempestivas de Amauri Soares em deixar as obras com a mesma identidade e quadradas, optando pela sucessiva veiculação de tramas rurais e falsamente inclusivas. Resta torcer para esse embuste não estender suas imposições abusivas e insanas às produções da Globoplay.

Guilherme

Sayuri Mori disse...

Um baita retrocesso esse homem nesse cargo.... o sonho dele deve ser a Record.... q venham os próximos flops.... pelo menos temos streaming

Anônimo disse...

Eu tô rezando tanto para ver a audiência da globo caindo, os 15-20 pontos no horário nobre com aquela bomba de remake do Luperi, enquanto as novelas da HBOMax ganhem um bom destaque, se tornem grandes sucessos no streaming, globo nunca teve competição de verdade no Brasil, agora com os streamings vindo para cá e produzindo obras de qualidade, com boa direção, bons atores, profissionais, tecnologia hollywoodiana, tô doido para incomodarem a globo...

Essa bispa é uma desgraça, um retrocesso tremendo para a dramaturgia da globo, várias sinopses interessantes descartadas por não serem "popularescas", obras sendo descartadas por irem contra o viés ideológico/religioso da bispa (eu caio na risada, tão tentando agradar quem fala mal do canal, e no final vão perder a audiência de quem gosta do canal), ou por serem polêmicas, interferência em como os autores desenvolvem suas histórias, personagens, censura para todos os lados, até mesmo em obras que já passaram no canal tão sofrendo com essa ideologia ridícula dele... uma pena que a globo esteja retrocedendo ao invés de avançar e produzir mais e mais obras de qualidade, o pior de tudo é que quando se derem conta do estrago feito, o buraco já vai estar bem mais embaixo, record ta aí para provar isso...
Atualmente, temos tantas opões fora da globo, não estamos mais na época onde se quisesse ver algo decente, tinha que pagar caro para ter tv a cabo, ou ficava vendo o que a globo tinha a oferecer (digo isso pq quando algo flopava antigamente, ainda sim tinha uma alta audiênca pq era o que tinha pra ver), tantos streamings no Brasil, tantas séries, filmes, e agora novelas sendo produzidas tbm (e agora com contratos por obra, os streamings podem usar os grandes atores da globo em suas obras), era a hora da globo mostrar sua soberania e superioridade, mas decidiram ser medíocres, paciência, a bispa e a globe vão colher o que estão plantando nessa gestão pavorosa.

Ruy.

Anônimo disse...

Só sei que se continuar do jeito que tá ... e cenas mais ousadas de "KelMiro " forem de fato escritas e gravadas , com certeza passará pela tesoura do Amauri ou de quem quer que seja a pessoa que está interferindo diretamente nas histórias das novelas da emissora .
Sobre as novelas espíritas, acho uma pena pois sou um grande fã das histórias da Elizabeth Jhin...

Marly disse...

Considerando o que é dito no post, fica evidente que as pretensões desse homem não caminham no sentido das transformações positivas da sociedade, pelo contrário. Parece-me, porém, que nessa altura do campeonato, em que o mundo busca a evolução e o progresso, nos assuntos que ele tem vetado, agir assim é "dar um tiro no pé".

Beijo

Rajani Rehana disse...

Great blog

Rajani Rehana disse...

Please read my post

Sérgio Santos disse...

Desanimador é a definição, Guilherme...

Sérgio Santos disse...

Triste, Sayuri....

Sérgio Santos disse...

Seu desabafo me representa, Ruy.

Sérgio Santos disse...

Tb sou mt fã da Jhin, anonimo.

Sérgio Santos disse...

Bem isso, Marly...

Anônimo disse...

Uma pena de fato terem cancelado a sinopse da christiane fridman, me parece bem interessante tem uma vibe de vidas opostas da rede record.
Eu gosto de uma novela rural mas tambem agora a dramaturgia da globo ficar limitada apenas a essa tematica e pessimo.
Saudades de ver no horário nobre da globo uma novela ao estilo proxima vitima ou torre de babel sabe saudades também duma vila ao estilo isabela ferreto ou angela vidal.

Anderson da rosa disse...

Eu queria que de fato a emissora volta-se a ser o que era,Senhora do Destino uma excelente novela mostra que se pode mostrar um casal homoafetivo de uma forma bonita e principalmente atendendo a todos os gostos.
Leonor e Jennifer são um casal bonito,com cenas bonitos e nem precisou de um beijo pra isso,o casal foi acolhido pelo público,afinal tinha todo tipo de público assistindo e gostando ou não o público mais conservador deu muita audiência e eles merecem o mínimo de respeito da emissora,tentar atender apenas um lado é muito incoerente com alguém que busca audiência.

Anônimo disse...

Tome vergonha, seu texto é extremamente homofóbico.