"A Dona do Pedaço": o que esperar da próxima novela das nove?

A Globo não dá folga para Walcyr Carrasco. Ele já virou uma espécie de trunfo da emissora que sempre o escala visando boa audiência. Isso porque o autor emplaca fenômenos de Ibope em todas as faixas. Em 2017, sua missão era difícil: substituir "A Força do Querer", trama de Glória Perez que fez um imenso sucesso. Mas conseguiu até superar os índices com "O Outro Lado do Paraíso" e fez a história da vingança de Clara Tavares (Bianca Bin) cair na boca do povo. Agora o cenário é outro: o objetivo é reerguer o horário nobre que naufragou com o fracasso de "O Sétimo Guardião", de Aguinaldo Silva.

Porém, substituir um fracasso é tão difícil quanto entrar no lugar de um sucesso. Elevar os baixos índices de uma produção ou ter a obrigação de manter os altos números acaba implicando no mesmo grau de responsabilidade. Walcyr, então, resolveu apostar em um novelão rasgado, com direito a guerra entre famílias, muito dramalhão e volta por cima de uma mocinha humilde que aprende a preparar bolos deliciosos. O próprio título da história evidencia o foco na heroína que ficará milionária com sua franquia de lojas de bolos: "A Dona do Pedaço".

Maria da Paz, vivida por Juliana Paes, nasceu na fictícia Rio Vermelho, no interior do Espírito Santo, e a trama se inicia em 1990. Duas famílias de justiceiros disputam o comando dos negócios na região: os Ramires e os Matheus. Em nome da hegemonia do local, os dois núcleos familiares criam as novas gerações para assumirem o trabalho dos mais velhos.
Em meio a esse conflito, Maria se apaixona por Amadeu (Marcos Palmeira), herdeiro da família rival, e nasce uma história de amor com elementos de um dos maiores clássicos da literatura mundial: Romeu e Julieta, de William Shakespeare, utilizada também na recente "Espelho da Vida".

Na primeira, Dulce (Fernanda Montenegro) é a matriarca. Viúva e responsável pelo clã, ela vive na mesma casa com seus filhos, noras, sobrinhos, netas e bisnetas. Seu filho Ademir (Genézio de Barros) é casado com Evelina (Nivea Maria) e tem duas filhas: Maria da Paz (Mirella Sabarense/ Juliana Paes) e Zenaide (Manu Fernandes/ Maeve Jinkings). Já Adão (César Ferrario), sobrinho de Ademir, é pai de Hélcio (Dionísio Neto) e casado com Berenice (Maria Sílvia Radonille). Eles adotam Junior (Bernardo Amil/ Guilherme Leicam) e ajudam a criar o agregado da família, Ricardo/ Chiclete (Luiz Felipe Mello/ Sergio Guizé). Também na casa vivem as filhas de Zenaide e Hélcio, Fabiana (Maria Clara Baldon/ Nathalia Dill) e Virgínia (Duda Batista/ Paolla Oliveira). Dulce é respeitada por todos e dá sempre a última palavra, a que normalmente prevalece frente a todos os parentes.

Na família Matheus, a matriarca é Nilda (Jussara Freire), uma mulher dura, forte, capaz de tudo para proteger os seus. Mora com o marido Miroel (Luiz Carlos Vasconcelos), os filhos Ticiana (Áurea Maranhão), Vicente (Álamo Facó) e Amadeu (Marcos Palmeira), além do neto Rael (Luiz Eduardo Toledo/Rafael Queiroz), filho de Ticiana. Amadeu se diferencia dos demais porque teve a oportunidade de passar um tempo em Vitória, onde estudou Direito e se formou como advogado. Sempre tentou mostrar que a violência não era o caminho, em vão. O seu romance com Maria da Paz, inclusive, terá em comum o desejo de ambos pelo fim dessa sangrenta guerra. Dispostos a enfrentar o ódio de décadas, eles decidem contar tudo para seus respectivos parentes e a mocinha até consegue uma reunião entre as duas famílias. O casamento, então, é consentido e os mocinhos se entregam ao amor através do pacto de paz selado.

No dia da cerimônia, a cidade comemora 100 dias sem mortes, mas o sonho logo vira pesadelo. Diante do altar e dos convidados, Amadeu é atingido por um tiro misterioso ao lado da noiva. Ameaçada de morte pela família do amado, Maria da Paz acaba fugindo para São Paulo com a ajuda da Mãe Evelina (Nívea Maria) e do padre (Fernando Eiras). Enquanto a mocinha foge, a família Matheus decide se vingar atentando contra a vida das crianças Fabiana (Maria Clara Baldon/Nathalia Dill) e Virgínia (Duda Batista/Paolla Oliveira), sobrinhas de Maria. Miroel ordena que Vicente dê um fim nas meninas, mas, ao ficar diante delas, ele recua. Fabiana é deixada em um convento e Virgínia é separada da mãe, em Vitória, quando tenta fugir com a irmã para São Paulo. A menina fica perdida pelas ruas e é achada pelo casal Otávio (José de Abreu) e Beatriz (Natália do Vale), que a adota. O único resquício do passado na vida dessas garotas é a medalha que a avó Dulce deixa para elas. Graças ao objeto que, anos depois, Fabiana reconhece Virgínia na televisão e vai em busca da irmã com o objetivo de ter a vida de luxo que sempre sonhou. Essa trama, inclusive, tem tudo para fazer tanto sucesso quanto a principal. Nada mais irresistível do que uma irmã invejosa querendo o lugar da outra.

Outro clichê que raramente falha é o da filha/filho esnobe que sente vergonha da mãe. Maria da Paz sofrerá muito com a filha Josiane (Agatha Moreira), a grande vilã do folhetim. A personagem, por sinal, fará de tudo para roubar a fortuna que a mãe conseguiu acumular graças ao seu trabalho como boleira. Para isso, utilizará o playboy Régis (Reynaldo Gianecchini), que fingirá paixão por Maria para um golpe. Mas a protagonista não será uma pessoa solitária em São Paulo. Maria faz muitos amigos assim que chega ao bairro do Bixiga e todos integram o núcleo cômico da trama repleto de atores veteranos talentosos. Ela é recebida por Marlene (Suely Franco), prima do padre que a ajudou em Vitória, e acaba se deparando com moradores de rua que invadem um imóvel desapropriado, vizinho de seu novo lar. A família tem a matriarca Cornélia (Betty Faria) e seu marido Chico (Tonico Pereira), o filho Eusébio (Marco Nanini) e a nora Doroteia (Rosi Campos) ---- há ainda os netos Rock (Alexandre Colman/Caio Castro), Zé Hélio (Flávio Bisneto/Bruno Bevan), Rarisson (Theo Almeida/Glamour Carcia) e Sabrina (Alice Jardim/Carol Carcia), sobrinha agregada. Os atores já se destacaram em uma divertida chamada com todos invadindo o local. Há ainda o grande Ary Fontoura, intérprete do rígido Antero, que se envolverá com Marlene.

O elenco ainda conta com nomes como Nathalia Timberg, Deborah Evelyn, Malvino Salvador, Anderson Di Rizzi, Monica Iozzi, Sérgio Guizé, Mel Maia, Rainer Cadete, Pedro Carvalho, Rosane Gofman, Rosamaria Murtinho, Lucy Ramos, Ana Barroso, entre outros. O folhetim tem um prólogo e duas fases. As várias possibilidades de boas viradas catárticas no enredo são evidentes, como o casamento rompido por um tiro, a não morte de Amadeu, o reencontro dos mocinhos anos depois, a mulher pobre que dá a volta por cima e fica rica, o homem casado há anos que se interessa por homens (Agno - Malvino Salvador), a irmã que planeja vingança contra a outra, a filha que não suporta a mãe, o menino que volta como menina (Rarisson/Britiney - Glamour Garcia), enfim... Um conjunto de clichês que funcionam se bem trabalhados. Até mesmo a trilha sonora se baseia em clássicos bastante populares, como "Evidências" (Chitãozinho e Xororó) e "Cheia de Manias" (Raça Negra), por exemplo.

"A Dona do Pedaço" ---- cujo clipe pode ser visto aqui ---- vem apresentando boas chamadas e a novela marca uma nova parceria de Walcyr Carrasco com a diretora Amora Mautner (ainda que ambos tenham trabalhado juntos em "O Cravo e a Rosa" --- 2001). Ele odeia improvisos e ela adora. Não deixa de ser uma dupla bastante inusitada. Na coletiva, pelo menos, o clima era de puro amor. Se a produção emplacar, como parece que vai, essa harmonia tem tudo para render um grande sucesso. Resta aguardar.


Vídeo da atenciosa Rosi Campos convidando meus leitores para a estreia da novela.