quarta-feira, 5 de junho de 2024

Obsessão de Daniel Ortiz por triângulos amorosos tira o rumo de "Família é Tudo"

 Não é mentira quando dizem que todo brasileiro é técnico de futebol e autor de novela. É normal bancar o especialista e fazer mil análises sobre as maiores paixões do país. Tanto que não precisa ser um crítico formado para observar os vícios (que também podem ser chamados de 'estilo') de todos os escritores de folhetim. Tem quem ame criar mil sequestros na história, quem goste de ressuscitar mortos, quem adore brigas entre mãe e filha, enfim. No caso de Daniel Ortiz, responsável por "Família é Tudo", é o triângulo amoroso a sua maior paixão. 


O autor ama criar vários triângulos amorosos em suas histórias, a ponto de dominar quase todos os núcleos com eles. E sempre com o intuito de dividir torcida e gerar engajamento do público. O de maior repercussão, e que até hoje rende uma leva de comentários indignados nas redes sociais de parte do público, foi o formado por Kyra (Vitória Strada), Rafael (Bruno Ferrari) e Alan (Thiago Fragoso) em "Salve-se Quem Puder". A 'fórmula' deu certo nessa trama e em "Haja Coração", seus dois sucessos anteriores das sete. Mas não quer dizer que funcionará sempre e a prova é o que vem acontecendo com a sua atual novela.

Há uma clara perda de rumo em "Família é Tudo" justamente pela preocupação do autor em focar quase tudo em cima dos triângulos que vem formando. A história foi vendida como uma saga de cinco irmãos que precisam morar e trabalhar juntos para a garantia do recebimento da herança da avó que desapareceu em alto mar.

Porém, o sumiço de Frida (Arlete Salles) causou também o desaparecimento de Catarina (Arlete Salles), que mal tem cenas na trama. A veterana tem o primeiro nome na abertura, mas de protagonista não tem nada. Tanto que a própria compartilhou há algumas semanas em seu Instagram a indignação de um fã com a sua falta de destaque. E a missão dos irmãos, que crescem quando estão juntos, ficou em terceiro plano. A exigência do quinteto morar na mesma casa perdeu a função na história porque eles mal ficam no mesmo ambiente. A ênfase é em cima dos romances de cada um. 

Vênus (Nathalia Dill) e Tom (Renato Góes) formam um bonito casal, mas todo par perde a força quando começa a novela já ficando junto na primeira semana. Foi o que aconteceu com eles. E a explicação em torno do término ocorrido anos atrás é bem pouco convincente: a mocinha flagrou o rapaz com outra e nem quis explicação. Uma armação tão mal feita que fica visível até nos flashbacks. Agora apaixonados e felizes, os dois iniciaram uma investigação para saber quem matou o pai da Vênus. Uma trama policial que não empolga e vem ocasionando uma sucessão de cenas repetitivas envolvendo sequestros e tentativas de assassinato que não causam tensão alguma. Mas é através do 'enigma' que o autor inseriu um triângulo amoroso porque o assassino contratado para matar a personagem acaba se apaixonando por sua vítima. Ela ainda o atropela e o acidente ocasiona a perda de memória do sujeito, que ganha o nome de Netuno (Paulo Lessa). Para piorar, a mocinha caiu na mesma armação criada por Brenda (Alexandra Richter) e Paulina (Lucy Ramos) anos atrás e terminou com Tom. Uma bobagem sem precedentes.

A história de Electra (Juliana Paiva) tinha tudo para ser a melhor da novela. A personagem foi drogada no passado e acordou com seu namorado esfaqueado ao seu lado, o que a fez ficar presa por muitos anos. Ela sempre declarou inocência, mas surtar durante uma overdose e esfaquear outra pessoa não seria algo absurdo. Ainda havia uma dúvida interessante sobre a índole da garota, que podia ser instável até mesmo sem saber. Mas o autor jogou qualquer chance de uma mínima ousadia no lixo quando revelou que os responsáveis pela armação foram Jéssica (Rafa Kalimann) e Hans (Raphael Logam), algo que estava óbvio desde a primeira chamada da trama. A revelação que os vilões são os autores do crime ainda foi feita em uma sequência sem o menor impacto. E o mistério já foi resolvido porque Ortiz quer mergulhar no triângulo amoroso formado por Electra, Luca (Jayme Matarazzo) e Murilo (Henrique Barreira). Também houve uma alteração brusca na vida da personagem, que sonhava em se formar em medicina e do nada passou a ter aulas de dança para superar um trauma de se apresentar em público (?). O intuito é colocá-la como a mais frágil possível. Ou seja, os cinco irmãos protagonistas são bonzinhos, íntegros e legais. Quer algo mais broxante dramaturgicamente do que isso? 

O enredo de Plutão (Isacque Lopes) é um dos mais bobos do quinteto e ainda assim é outro que tem triângulo. O skatista sonha em ser campeão do esporte e é apaixonado por Nicole (Aisha Moura), mas esconde da amada que é rico porque sofreu traumas com ex-namoradas interesseiras. E a colega não quer se envolver com ninguém porque acabou de terminar com o abusivo Max (Caio Vegatti), que agora se revelou um ex vingativo e sem escrúpulos. Um conflito que até agora não despertou atenção e parece digno de uma "Malhação" exibida em 1999. Ele não tem rede social? Ela também não? Não dá para descobrir sua origem da forma mais simples possível? O rapaz odeia tanto o dinheiro da família e não trabalha? Difícil engolir... Por sua vez, o triângulo formado por Júpiter (Thiago Martins), Guto (Daniel Rangel) e Lupita (Daphne Bozaski) é o mais atrativo do folhetim por conta do carisma do trio. O irmão mais galinha vem evoluindo aos poucos graças ao elo de amizade que criou com Lupita, enquanto Guto sente um amor platônico e sem a menor chance. O ideal seria o roteiro focar apenas neste triângulo que já seria mais do que suficiente. 

Já o casal Andrômeda (Ramille) e Chicão (Gabriel Godoy) é o melhor da história por conta da química e da ótima interpretação da dupla, que estão sempre na companhia de Britney e Maradona, uma Lulu da Pomerânia e um vira-lata que representam um 'romance' inspirado no clássico da Disney "A Dama e o Vagabundo". Mas o autor também colocou triângulo amoroso no núcleo com a entrada de Sheila (Marianna Armellini). Até mesmo os cachorros têm um trio amoroso porque a poodle Shakira agora faz parte do time. Ironicamente, o trio canino virou o protagonista do enredo e é o que mais vem fazendo sucesso nas redes sociais. Mas em breve haverá um quadrilátero amoroso entre os tutores com a chegada de Ernesto, um empresário musical interpretado por João Baldasserini, que se apaixonará por Andrômeda. É praticamente uma overdose de ciclano que ama beltrano e que é fruto da paixão de fulano.  

Portanto, fica evidente que Daniel Ortiz se mostra preocupado apenas com os milhares de triângulos amorosos que vêm criando ao invés de focar no desenvolvimento da história, que está a cada dia mais sem rumo. E são cenas tão repetitivas que o telespectador pode se dar ao luxo de não assistir por uma semana que não perderá nada de muito relevante no enredo. Nem mesmo a explosão da galeria, causada por Hans e exibida nesta semana, provocou alguma virada. Aliás, o vilão tomou uma atitude tão drástica sem qualquer comunicação com a mãe, que sempre foi sua maior aliada? Como Catarina ficou de fora de um momento assim? Não dá para entender o objetivo do autor. "Família é Tudo" fica no ar até setembro e para ter fôlego até lá precisa urgentemente de um fio condutor. Porque não é só com dilemas amorosos que se sustenta um folhetim. 

29 comentários:

Chaconerrilla disse...

Amei essa frase aqui "É praticamente uma overdose de ciclano que ama beltrano e que é fruto da paixão de fulano". Define bem a história hahahahaha!

P.S.: queria que o Ortiz visse o potencial de Guto e Mila e desistisse do triângulo Guto, Lupita e Júpiter. hahahaha

Anônimo disse...

Nathalia Dill e Renato Góes excelentes atores com personagens fracos, uma pena.

Anônimo disse...

Apesar do triangulo amoroso guto/lupita/jupiter ser bom ,o guto nao tem nenhuma chance kkkkk em Salve-se quem puder ,a Kyra ainda tinha sentimentos pelos dois,agora no caso da lupita ta difícil
Outra coisa tambem, se por acaso a Mila se envolver mesmo com o guto,já vai virar outro triângulo amoroso com Hans/Lupita .

Anônimo disse...

Concordo com tudo.

RÔ - MEU DIÁRIO disse...

Minh mãe e minha vó estão amando! Bju

Anônimo disse...

Mas os triângulos amorosos nessa trama também estão fraquinhos. Pois a premissa que todo bom triângulo tem que ter é uma das pontas dividida entre dois amores. Não é o que está acontecendo em "Família é Tudo". A Electra e o Lucas estão apaixonados e vivendo um romance, não há chances para o Murilo, pois a garota não está dividida. A Lupita está cega de paixão por Júpiter, que por sinal, já dá sinais de que está se apaixonando em sequências que gera a torcida do público para que o playboy se apaixone por ela, apesar de sua aparência feia. Um roteiro instigante que não dá espaço para o estagiário. A paixão cega da guatemalteca torna o Guto invisível. Aliás, o Guto, por ser tímido e virgem, gerou sequências divertidíssimas com a Leda e a Lisandra tentando "inaugurar" o rapaz, fazendo com que o ótimo Daniel Rangel se destacasse. Com a desistência desse plot, veja que o Guto ficou apagado na história, pois sua paixão platônica pela donzela não empolga. O mais interessante seria manter o foco na questão do rapaz virgem e tímido e alguém de personalidade oposta tentando conquistar o nerd. Seria mais divertido de acompanhar.

Anônimo disse...

Há quem curta a safra de novelas inéditas da Globo deste ano, assim como quem a considere mediana ou aquém disso. "Renascer" tem uma trama modorrenta na maior parte do tempo, e "Família É Tudo", além de ser dramaturgicamente previsível, é estufada com polígonos amorosos. "No Rancho Fundo" é a de melhor média de audiência (para a faixa) no momento, mas também apresentou os seus primeiros furos, e tem chances de se igualar a "Mar Do Sertão" (2022), caso invista mais em personagens secundários em detrimento da trama central, que pode ser sacrificada a depender de decisões do autor e sua equipe de colaboradores.

Guilherme

Reflexos Espelhando Espalhando Amig disse...

Sergio,
Eu gosto do tema
e tenho acompanhado.
Bjins de gratidão
por ler no Espelhando.
CatiahoAlc.

Marly disse...

Acho que já comentei aqui que não compreendo esses descuidos dos autores de novelas e obras similares. Atualmente o público tem muitíssimas opções, quanto a esse tipo de entretenimento e os autores descuidam? Querem mesmo que a obra fracasse?

Beijão

Maiana disse...

Ai, Sergio. Disse tudo. Eu me apeguei a novela, mas tenho plena consciência que tá ruim e não faço a menor questão de ver todos os dias, às vezes só olho vídeos de destaque. Acho o recurso de triângulo amoroso preguiçoso e coisa de autor que tá querendo reverter flop. Às vezes o recurso ajuda, mas não seguir história nenhuma e apostar tudo nisso só mostra as falhas da obra. Eu gosto de torcer pelo meu casal de mocinhos junto com o público, não quero brigar com o resto do público sobre se devem ficar juntos ou nao. Eu amava Salve-se quem puder, apesar dos triângulos pq a história principal foi desenvolvida. Meu casal favorito ficou junto (Kyrael), mas não me senti vitoriosa porque isso de levar até o último capítulo para resolver só enfraquece a história de amor do casal. Eu odeio a história da Electra e me dói ver a Ju Paiva com mais uma mocinha que o único conflito é com que homem vai ficar. A melhor opção era nenhum deles. Eu sei que muita gente torce pelo Murilo, mas não gosto dele e acho que tem potencial de ficar tão chato quanto Tom/Venus sem conflito. Acho o Henrique novinho e não me convence como casal da Ju. Já tô sabendo que o término da Electra tá chegando e que vem aí MAIS UMA armação. Sério, que preguiça e falta de criatividade. Todos são burros por conveniência de roteiro. Os vilões não assustam em nada, inclusive se não fizessem nada os mocinhos ainda iriam continuar em desvantagem pq eles não se ajudam. Gosto da Leda, do Chicão e da Andrômeda (mas tá ficando sem história), da Milla, do Guto, do Jupiter, da Lupita e dos cachorros. Queria muito ver a Arlete e nem lembram que ela existe. Odeio a história do Netuno. A novela parece colcha de retalhos feita por chatgpt com comando de Malhação. O que acho mais triste é que tinha potencial, mas faltou supervisão e um autor mais ousado. Um walcyr faria disso um sucesso.

Anônimo disse...

As cenas dos irmãos juntos são péssimas, eles não têm motivos reais pra se odiarem e ficam com briguinhas infantis, é uma vergonha alheia.
Os únicos personagens interessantes nessa novela são Lupita, Júpiter, Guto, Andrômeda, Chicão e Leda, o restante pode jogar fora. Os casais Tom e Vênus, Electra e Luca, Plutão e Nicole são chatíssimos, sem química, sem história.
Também prejudica a falta de um vilão/vilã forte. Eu acho o Hans péssimo e não sei se é culpa do ator, do texto ou da direção, mas o fato é que o personagem é sem graça toda vida, sempre no mesmo tom, não diverte, não seduz, não desperta ódio. As vilãs são medrosas, nenhuma sustenta a maldade que apronta e ficam morrendo de medo de serem descobertas. A Paulina é a personagem mais babaca, porque ela não trabalha, vive de favor na casa dos ex-sogros e só pensa no ex, mas não faz nada para reconquistá-lo, só fala com ele brigando e pagando de doida, a ponto de ter que contratar outra mulher pra forjar uma traição dele.

Pra mim a Arlete Salles nunca foi a protagonista, a personagem dela morreu na primeira semana e a que sobrou seria a vilã, ou seja, bem claro desde o início que a mocinha era a Vênus. Aliás, está na cara que a irmã sobrevivente é a Frida disfarçada, porque ela não faz nenhuma maldade, nenhum comentário tóxico e parece torcer pelos "sobrinhos".

Anônimo disse...

A Electra querer ser uma bailarina lembra a Tancinha de Haja Coração. E além dessa trama rasa sobre ser bailarina, ela também estava presa em um triângulo amoroso onde estava óbvio que ela terminaria com Apolo. Mas o autor mesmo assim quis focar em um triângulo e deixou a história de Tancinha sem substância e andando em círculos.

ts4637268@gmail.com disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
ts4637268@gmail.com disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
ts4637268@gmail.com disse...

A verdade que Daniel Ortiz já se perdeu a muito tempo desde quando que ele começou com essa história de triângulo amoroso lá no capítulo que chicao leva Andrômeda no estádio de futebol que começou essa história com Sheila porque da pra perceber que a Sheila não tinha cachorro nenhum aí do nada ela aparece com uma cachorra só pra cria um triângulo amoroso com os cachorros uma história sem criatividade nenhuma a história da elecrta e chata a do plutão e chata a história da é vênus chata nunca vi um protagonista ser tão burra história do júpiter ainda é boa a da Andrômeda também se autor não estragar com entrada de João balda ... outra coisa parece que gosta de provocar o público porque não é possível todo dia e novidade sem pé e cabeça nessa novela

Sérgio Santos disse...

Duvido mt que ele vá ver, Chaconerrilla...

Sérgio Santos disse...

Uma pena, anonimo.

Sérgio Santos disse...

É verdade, anonimo.

Sérgio Santos disse...

Obrigado, anonimo.

Sérgio Santos disse...

Bjs, Ro!

Sérgio Santos disse...

Isso é, anonimo...

Sérgio Santos disse...

Ótima análise, Guilherme.

Sérgio Santos disse...

Bjs, Catiaho.

Sérgio Santos disse...

Boa questão, Marly.

Sérgio Santos disse...

Onde eu assino, Maiana?????

Sérgio Santos disse...

Pode ser mesmo, anonimo.

Sérgio Santos disse...

Perfeita observação, anonimo.

Sérgio Santos disse...

Concordo, ts...

Anônimo disse...

Eu acho que essa novela é escrita com chatgpt... São tantas situações aleatórias e repetidas que parece que o autor escreve um prompt e o chatgpt desenvolve...