terça-feira, 19 de setembro de 2017

Impecável, "Sob Pressão" mesclou realidade e ficção com maestria

A famosa expressão "O que é bom dura pouco" pode ser aplicada com facilidade em "Sob Pressão". A melhor série do ano e o mais elogiado trabalho da Globo em 2017, até então, estreou no dia 25 de julho e chegou ao fim nesta terça-feira, dia 19 de setembro. Durou menos de três meses no ar, tendo apenas nove episódios. E esse tempo bastante curto foi sentido porque a trama ---- com direção de Andrucha Waddington e Mini Kerti, baseada no filme homônimo, derivado do livro "Sob Pressão - A Rotina de um Médico Brasileiro", de Marcio Maranhão ---- impressionou pelas inúmeras qualidades.


A produção se mostrou uma obra-prima, provando que o Brasil sabe fazer séries dramáticas tão boas quanto as estrangeiras. Após a tentativa fracassada de "Supermax", exibida ano passado, pairou uma desconfiança em torno da capacidade de elaboração de um seriado que não fosse de humor. Claro que a Globo já produziu alguns enredos fora do campo da comédia e uma de suas melhores séries é "A Cura" (2010), um suspense brilhante de João Emanuel Carneiro. Entretanto, sempre houve uma insegurança em se arriscar por esse caminho e as histórias cômicas eram tratadas como prioridade.

A trama médica tem tudo para ser um incentivo e tanto para outras empreitadas parecidas, valorizando o drama nos seriados. Até porque, vale observar, o contexto de "Mulher", série exibida entre 1998 e 1999, que abordava a rotina de duas médicas dedicadas em um hospital particular, foi primoroso e já era para a emissora ter voltado a investir nisso há tempos. Agora, com "Sob Pressão", o público acabou presenteado com uma história que se mostrou ainda melhor que a contada no filme.
Isso porque a vida dos personagens pôde ser melhor trabalhada, assim como a criação em torno dos novos casos que permearam cada episódio. O longa foca muito no conflito em torno dos bandidos que ameaçam a segurança do hospital precário e a série priorizou mais as mazelas da saúde pública do Rio de Janeiro (e do Brasil).


A realidade nua e crua foi exposta com maestria, mas sem a intenção de chocar ou provocar polêmica. Os roteiristas simplesmente mostraram com total veracidade a rotina de qualquer hospital público do país, utilizando com inteligência a ficção e personagens cativantes para prender a atenção do telespectador. Os protagonistas são tão densos que despertam uma imediata identificação com o público, que logo se vê envolvido em todos aqueles conflitos, tanto dos médicos quanto dos pacientes. Vale ressaltar, inclusive, que todo episódio tinha pelo menos um caso paralelo que se somava aos dramas de Evandro (Júlio Andrade) e Carolina (Marjorie Estiano). O mais impressionante é que tudo fluía com naturalidade, sem pressa. Era possível acompanhar todos os dramas, sem ter a sensação de situações rasas ou inseridas apenas para preencher o tempo.


A série se mostrou um uma verdadeira aula de condução de roteiro, mesclando ficção e realidade habilmente. Era fácil demais se envolver com cada drama, até mesmo os protagonizados por perfis de mínima importância, que apareciam em cenas relativamente curtas. Não houve maniqueísmo algum e a humanidade esteve presente do início ao fim, deixando todos os personagens muito críveis. Violência doméstica, pedofilia, abuso sexual, HIV, Divulgação de Vídeos íntimos, Doação de Órgãos, enfim, foram muitos os temas explorados ao longo da temporada e vale um elogio especial aos avisos de alerta no final de cada episódio, dando informações de como proceder em determinado caso. Impossível não ter se arrepiado lendo, logo após ter acompanhado o desenrolar dos conflitos.


O elenco foi irretocável. Júlio Andrade e Marjorie Estiano fizeram jus ao protagonismo, conseguindo brilhar mais do que no filme. Destaque para o penúltimo episódio, quando Evandro e Carolina reviveram seus maiores pesadelos ---- ele sendo acusado da morte da esposa e ela revendo o pai, que a abusava sexualmente na infância ----, expondo a imensa fragilidade que sempre carregaram, embora aparentassem firmeza durante boa parte do tempo. Que entrega! Stepan Nercessian (Samuel), Bruno Garcia (Décio), Heloísa Jorge (Jaqueline), Josie Antello (Rosa), Pablo Sanábio (Charles), Emiliano Queiroz (Seu Rivaldo), Talita Castro (Kelly) e Ângela Leal (Dona Noêmia) foram outros grandes nomes que brilharam. Já Orã Figueiredo (Amir), Letícia Isnard (Violeta) e Renata Gaspar (Liliana) representavam bem a parte mais leve do enredo, protagonizando um divertido triângulo amoroso. Fora as participações especiais ---- como Zezé Motta, Matheus Nachtegaele, Camila Amado, Amir Haddad, Ivone Hofman, Luis Melo, Carla Ribas (a ex-sogra de Evandro) e Laila Garin ---- que enriqueceram ainda mais o enredo, sendo impossível citar todos.


O último episódio ainda apresentou uma genial 'volta ao passado' de Evandro, que precisou salvar a vida de Carolina, após flagrá-la ensanguentada em uma banheira, depois de ter cortado o pulso. A médica tentou se matar depois que o pai pedófilo lhe contou que a mãe sabia de todos os abusos e acabou se suicidando por isso. O cirurgião-geral entrou em desespero, se vendo na mesma situação de um ano atrás, quando não conseguiu salvar Madalena (Natália Lage) durante uma cirurgia de emergência. Desta vez, ao menos, tudo correu bem, fechando essa leva de episódios em grande estilo. Julio e Marjorie merecem muitos prêmios.


"Sob Pressão" é a melhor série do ano da Globo e já tem a segunda temporada garantida, com 12 episódios (apesar de ter três a mais que a primeira, segue com um número insuficiente, levando em conta a qualidade da produção). Jorge Furtado e sua equipe de roteiristas estão de parabéns. Que adaptação extraordinária conseguiram elaborar. Fizeram muito por merecer todos os elogios, incluindo da imprensa internacional, chamando a atenção da revista Variety, após a exibição no Festival de Toronto, do Canadá. Que venha o Emmy Internacional!


22 comentários:

Andressa Mattos M. disse...

Estou sem ar até agora com esse último episódio!!! AMEI!!!!!!!

Anônimo disse...

Seu texto fez jus a essa série. Vou sentir muita falta.

Luli Ap. disse...

Olá Sérgio
Estou encantada com essa série! Confesso que assisti o filme pra lá de descompromissadamente e gostei demais a ponto de querer ver a série e me apaixonei <3
esse não é nem de longe um dos temas que vejo então me surpreendeu mais ainda, como é que pode, até ouso dizer que não gosto de assistir tramas com hospitais e afins, e me via ansiosa pelo próximo episódio!
Melhor que o filme, personagens reais e cativantes, uma linha invisível que costurou tudo tão redondinho que fascinou.
A maneira como foi tratada sem chocar, com poetice dentro da realidade, com delicadeza, com verdade e com coração.
Inteligente, envolvente e tomando emprestada sua licença poética: com humanidade!
Fez toda a diferença!
Parabéns a todos os envolvidos, como amei Evandro, Carolina e Décio <3
E parabéns por esse texto magnífico: Gratidão!
Bjs Luli
Café com Leitura na Rede

Debora disse...

Olá Sérgio tudo bem???


Acabei de assistir agora!!! Amei o seriado, porém é triste saber que a realidade é pior que isso o que vimos... Enfim quero muito ver a 2º temporada!!!


Beijinhos;
Débora.
http://derbymotta.blogspot.pt/

Bell disse...

Tomara que tenha outras nesse mesmo formato.

bjokas =)

Anônimo disse...

QUE SÉRIE EXCELENTE!

Smareis disse...

Realmente foi muito boa Sérgio. Gostei muito...
Continuação de boa semana!
Um beijo no coração!

JAN disse...

Oi Sérgio!
Anei essa Série e agora, sabendo dos "Detalhes" fiquei melhor informada,

BJK
JAN

izabel disse...

Como todo cidadão desse Brasil, estou hiper indignada. Essa serie TOP demonstra que: "Vivemos um momento que o país está doente (e/ou morrendo?)". Esses 9 episódios em questão mostraram a situação dos hospitais é só uma parcela da m***a toda que está acontecendo no dia-a-dia. Creio que os indivíduos estão doentes por falta de saúde, de trabalho. Essa serie mostra que o País hoje é uma ferida aberta que precisamos cuidar.
Uma frase pode ser definir essa trama: "um país sem cultura é um país sem oportunidade, que adoece".
A Emissora finalmente fez um ótimo trabalho (curta e direto)... tem que investir nessa roteiro por ser real,triste, atual mas com coesão, talento, garra. Sem avalanches de polemicas que atropelam a família de forma nociva.
O que pode se dizer sobre a repercussão da série? Desejo que seja hiper positiva, porque as pessoas vão se identificar diretamente. Obrigada.

Unknown disse...

Essa série foi sucesso de crítica e merece todos os elogios. É para levantar.... aplaudir..... e gritar bravo! Mas ao contrário do que se pensa já houve outra produção que merece destaque sobre os dramas no setor médico.
E o seriado Mulher da Rede Globo, exibido em 1998 e 1999, foi considerado ótimo por público e críticos.
Protagonizado por Eva Wilma e Patrícia Pillar, o seriado se passa no Rio de Janeiro e retrata o cotidiano destas duas médicas ginecologistas e seus problemas pessoais. São duas mulheres bem diferentes, mas que têm em comum o idealismo e a paixão pela profissão. E usam tanto sua sensibilidade e intuição de mulher, quanto seu conhecimento para tratar suas pacientes.
As protagonistas são:
Cris (Patrícia Pillar) é uma jovem e dedicada médica que trabalha em uma clínica para mulheres. Por seu trabalho, ela abre mão de tudo: até da sua vida particular.
Marta (Eva Wilma) é uma médica com 40 anos de profissão que dirige a clínica com grande rigor.
Essa obra mostra emoção, amizade e determinação em uma série de grande sucesso na TV.

Sérgio Santos disse...

Idem, Andressa!

Sérgio Santos disse...

Eu tb, anonimo.

Sérgio Santos disse...

Onde eu assino, Luli???? bjss

Sérgio Santos disse...

Sem duvida, Debora. bj

Sérgio Santos disse...

Tomara, Bell.

Sérgio Santos disse...

Excelente, anonimo.

Sérgio Santos disse...

Idem, Smareis.

Sérgio Santos disse...

Que bom, Jan.

Sérgio Santos disse...

Perfeito, Izabel.

Sérgio Santos disse...

Concordo, Oath.

izabel disse...

Só relembrando para ajudar...
No Canal Universal produziu programa de ficção original 100% nacional: Unidade Básica. Inspirada em casos reais, a série retrata o dia-a-dia em uma Unidade Básica de Saúde da periferia de São Paulo. Saem os corredores de modernos hospitais americanos e o corre-corre do atendimento de emergência, entram as dificuldades de um sistema de saúde com dificuldades financeiras e burocráticas e as diferenças entre duas formas de pensar a medicina, encarnadas em seus personagens principais.

Os hospitais privados e filantrópicos de Brasil, principalmente nas cidades do interior, encontram se em dificuldades financeiras. A situação é tão grave que muitas unidades deixaram de prestar atendimento à população, contribuindo assim para o aumento da falta de leitos, um dos grandes gargalos da saúde no Estado.
Essa seria também uma base para continuação para o Dr Evandro quando entrou em um hospital privado, pois apresentaria novas situações, personagens, desafios, exemplos, etc.

Sérgio Santos disse...

Ótima observação, Izabel.