O show de Marco Nanini em "Êta Mundo Bom!"

Ele é um dos grandes atores do país e ficou quase 14 anos vivendo o mesmo personagem em uma das séries mais longevas da Globo. Marco Nanini brilhou na pele do metódico Lineu Silva e foi um dos destaques de "A Grande Família", protagonizando a produção de sucesso ao lado da igualmente talentosa Marieta Severo. Após esse longo período dedicado ao seriado, o ator pôde voltar aos folhetins quando a trama da família Silva fechou seu ciclo no final de 2014. E Walcyr Carrasco deu a ele a oportunidade de um retorno em grande estilo em "Êta Mundo Bom" (assim como fez com Marieta Severo em "Verdades Secretas"), atual fenômeno das seis.

O autor escalou Marco Nanini para interpretar um dos tipos centrais da novela, o sonhador Pancrácio. O professor de filosofia não consegue sobreviver com sua formação, pois não consegue emprego e ainda vê sua profissão constantemente desvalorizada. Para conseguir dinheiro, ele acaba se fantasiando de vários personagens para pedir dinheiro nas ruas e com essa sua atividade 'paralela' consegue ajudar no orçamento. Ou seja, o perfil escrito por Walcyr possibilita para o ator uma gama de personalidades distintas, valorizando ainda mais o talento do intérprete.

Além do filósofo Pancrácio, Nanini já deu vida a mendigo, cego, vedete, Miss São Paulo, freira, índia, nadador das Olimpíadas de Londres, cigana, senhora em busca de doação para o lar de órfãos, ex-combatente, entre tantos outros tipos. As várias faces do personagem fazem do perfil fictício um ator tão talentoso quando o homem que dá vida a ele.
É impressionante como Marco consegue diferenciar todos os perfis criados pelo autor com maestria e inserindo um toque de humor irresistível. Até porque o professor sente prazer em ter essa vida dupla, amando cada cena que faz nas ruas.

Marco Nanini é um profissional extremamente versátil e está podendo exercer essa versatilidade por completo "Êta Mundo Bom!". Até porque, além de toda essa gama de tipos diferenciados que ele pode interpretar através da criatividade de Pancrácio, o ator começou a ser ainda mais exigido na novela com a chegada de Pandolfo, o irmão gêmeo do professor de filosofia. Walcyr criou um irmão rico e arrogante que é exatamente o oposto do filósofo, um homem pobre e simplório. A entrada desse novo personagem movimentou a história e serviu para aproveitar mais um pouco o talento do genial Nanini.

Pancrácio e Pandolfo protagonizaram bons embates, embora desta vez não ocorra o clichê do gêmeo bom contra o gêmeo mau. Eles têm jeitos e personalidades distintas, mas ambos são íntegros. Só que um é apaixonado pela vida e o outro pelo status. O ator já estava impecável na pele do professor (além de todas as suas outras faces) e conseguiu se superar vivendo o irmão refinado. O elegante Pandolfo, aliás, entrou na trama inicialmente com o objetivo de disputar Anastácia (Eliane Giardini) com sua 'cópia idêntica', mas depois fez logo um ótimo par com a ingênua Eponina (Rosi Campos), ex-quase namorada de Pancrácio.

Vale citar, inclusive, a química incontestável que Marco tem com Eliane. Todas as cenas do casal são repletas de sensibilidade, onde a troca de olhares expõe o sentimento que os une. A mãe biológica de Candinho (Sergio Guizé) e o pai de coração do caipira formam um casal belíssimo ---- um dos melhores da trama. O grande empecilho da concretização desse amor era justamente a questão financeira, pois ela era milionária e ele um professor em dificuldades. Por isso Pancrácio acabava incentivando seu amor a ficar com o irmão, que tem uma condição melhor. Porém, quando a dona da mansão ficou pobre (em virtude do golpe de Sandra), os dois acabaram finalmente se casando. É preciso mencionar também a ótima parceria de Nanini com Sérgio Guizé e JP Rufino (Pirulito), duas pessoas que viraram a família do solitário homem.

O ator ainda participou da cena mais emocionante da novela: quando Anastácia e Candinho finalmente souberam que eram mãe e filho. Graças ao professor, que investigou toda a situação, os dois se encontraram e coube a Pancrácio apresentar um ao outro. Foi uma sequência primorosa, onde os três intérpretes brilharam e sensibilizaram o público. Agora, com a nova condição de casado e ainda mais perto da família do caipira, o personagem entrou em uma nova fase, pois sua esposa não permite mais que ele se caracterize. Ou seja, ao menos por enquanto, o intérprete tem vivido 'somente' Pancrácio e Pandolfo. Mas, segundo consta, foram 31 tipos representados pelo professor até então. Um número respeitado e que com certeza aumentará até o último capítulo.

A última novela de Marco Nanini, antes de entrar em "A Grande Família", havia sito "Andando nas Nuvens", em 1999, onde interpretou o desmemoriado Otávio. Ou seja, o telespectador estava merecendo esse retorno aos folhetins há muito tempo. Em compensação, agora, está vivendo inúmeros personagens em uma mesma história, correndo atrás dos anos 'perdidos'. E que bom que o ator voltou ao gênero em uma novela tão boa e de tanto sucesso quanto "Êta Mundo Bom!", sendo valorizado como merece.