A cena teve quase seis minutos e a direção competente de Vinicius Coimbra se evidenciou, havendo uma preocupação em explorar o ambiente e os corpos daqueles homens assustados com a situação que se encontravam. Inicialmente, a aproximação se deu como nas outras vezes, com André apoiando Tolentino, após o coronel ter sido mais uma vez humilhado por Rubião (Mateus Solano). No entanto, o instante de afeto resultou em um intenso beijo, representando claramente a explosão daquela gama de sentimentos reprimidos por tanto tempo.
Depois do beijo, André se afastou e se despiu, enquanto Tolentino tomava coragem e fazia o mesmo. Os dois ficaram nus e se aproximaram, cedendo ao desejo e ao amor que sempre nutriram um pelo outro. A sequência foi muito delicada e nada ficou explícito. O texto que antecedeu esse momento merece menção, pois fez uma complementação perfeita.
Uma parte vale ser reproduzida, inclusive:
"Tenho um único amigo. Meu único amigo é você. Você, André, que é um homem sensível. Você que entende os mistérios da vida. As voltas que o mundo dá, as surpresas que a vida nos reserva..."
"Surpresas sobre nós mesmos?"
"Sim, você mesmo disse um dia. Todos nós temos uma segunda natureza, que às vezes permanece oculta."
"Mas não para sempre."
"Não para sempre..."
O diálogo relativamente curto serviu para expor tudo o que Tolentino segurava o tempo todo, justamente por ser um homem machista, violento e extremamente preconceituoso. Já André sempre demonstrou mais segurança sobre seus desejos, embora tentasse camuflar em virtude da sociedade. Até porque, em 1808, época da trama, o sexo entre iguais era considerado sodomia, crime de lesa-majestade, cuja punição era a forca. A primeira transa dos dois representou uma espécie de libertação, ainda que momentânea. "
Caio Blat e Ricardo Pereira protagonizaram uma grande cena, repleta de sensibilidade ---- ao som da 5ª sinfonia de Gustav Mahler (Adagietto), mesma música usada no beijo de Félix e Niko, e na cena final de César e Félix em "Amor à Vida", inclusive ----, e que quebrou mais um tabu na teledramaturgia nacional. Os dois tiveram química e estavam entregues, conseguindo passar tudo o que seus personagens estavam sentindo. Aliás, é necessário fazer um elogio especial ao cuidadoso trabalho de Ricardo, que se preocupou em ficar com as mãos fechadas fortemente, representando o medo e o ódio que Tolentino estava sentindo de si mesmo, por não ter se segurado mais, enquanto André se aproximava. Já Caio imprimiu uma sutileza na cena, expondo a preocupação de seu personagem em conduzir o parceiro.
A sequência conseguiu ser ousada e delicada na medida certa. Infelizmente, no Brasil, cenas assim costumam render polêmicas desnecessárias e houve até uma tentativa de 'boicote' de alguns fanáticos que fizeram campanha na internet contra a Globo e a novela. O país ainda está engatinhando na questão do preconceito, principalmente levando em consideração várias produções internacionais, onde isso virou algo natural nas histórias. Porém, apesar de tudo, é louvável a 'evolução' dos folhetins e séries nacionais.
Vários casais gays já tiveram destaque e boas histórias ao longo dos anos na ficção, como Sandrinho (André Gonçalves) e Jefferson (Lui Mendes) em "A Próxima Vítima" (1995); Rafael (Odilon Wagner) e Alex (Beto Nasci) em "Por Amor" (1997); Clara (Alinne Moraes) e Rafaela (Paula Picarelli) em "Mulheres Apaixonadas" (2003); Leonora (Bárbara Borges) e Jenifer (Mylla Christie) em "Senhora do Destino" (2004); Júnior (Bruno Gagliasso) e Zeca (Erom Cordeiro) em "América (2005); entre outros. E teve também um par que sofreu forte rejeição do público, obrigando o autor a matá-las na inesquecível explosão do shopping em "Torre de Babel" (1998): Rafaela (Christiane Torloni) e Leila (Silvia Pfeifer).
Mas tudo começou a mudar mesmo com o beijo de Félix e Niko, em "Amor à Vida" (2013), sendo a maior quebra de paradigmas da teledramaturgia, que pela primeira vez exibia um beijo entre dois homens. Entrou para a história e ainda abriu muitas portas, pois facilitou a exibição da cena de beijo de Clara (Giovanna Antonelli) e Marina (Tainá Muller) em "Em Família" (2014), no ano seguinte. Parecia, inclusive, que tudo estava se encaminhando para uma liberação maior nos folhetins. Entretanto, o retrocesso começou a se fazer presente com a imensa rejeição que o beijo de Teresa (Fernanda Montenegro) e Estela (Nathalia Timberg) sofreu logo no primeiro capítulo de "Babilônia" (2015). No caso, inclusive, juntou o preconceito do amor entre iguais com o do sexo na terceira idade. Porém, ainda assim, a Globo e os autores conseguiram ao menos manter a 'evolução' em outras produções.
Tanto que a cena de "Liberdade, Liberdade" representou a primeira transa entre dois homens, mas não a primeira cena sensual entre iguais. Vide o momento em que Danny Bond (Paolla Oliveira) e Marília (Maria Fernanda Cândido) se beijam em "Felizes para sempre?" (2015), iniciando uma relação sexual, e o quente instante protagonizado por Anthony (Reynaldo Gianecchini) e Maurice (Fernando Eiras) em "Verdades Secretas" (2015), quando o michê derruba champanhe no estilista, que tira a toalha do rapaz, o deixando nu. Na trama das onze de imenso sucesso do ano passado, inclusive, houve até cena de orgia.
A teledramaturgia nacional ainda tem muito o que evoluir, entretanto, é possível observar que os passos estão sendo dados. A cena exibida em "Liberdade, Liberdade" serviu para derrubar mais um tabu e o autor Mário Teixeira está de parabéns pela coragem, assim como a Rede Globo que novamente cutucou a ferida. A sequência da transa de André e Tolentino foi marcada pela direção precisa de Vinícius Coimbra e pelo brilhante trabalho de Caio Blat e Ricardo Pereira (vivendo seu melhor papel), que terão esse momento marcado eternamente em suas carreiras. Ironicamente, a cena fez jus ao título da novela das onze. Liberdade sempre!
34 comentários:
Qual sua opinião sobre eles terem usado a mesma musica da cena de Fékix e Niko, e do final de Félix com Cesar? Você acha que foi proposital? Homenagem? Referência, o que?
A cena foi bonita sim, mas essa novela tá mt chata. decaiu demais.
Eu gostei da cena, mas achei ridículo copiarem a trilha de Félix e Niko. Pra quê?????
Eu daria tudo pra ver essa cena e outras desse estilo com Félix e Niko. Pronto falei. Até hoje espero por isso e vou esperar mesmo que morra esperando kkkkkkk
Rede Globo enfiando gays goela abaixo da população. Rede do diabo!!!!!
Foi uma cena linda ❤ e eu simplesmente amei o fato de terem usado a mesma musica de fundo do beijo de Félix e Niko (Feliko ��)... Meu casal marcante q eu nunca esquecerei.
Sem duvida foi um sucesso.
A música escolhida foi um verdadeiro homenagém ao Feliko.
Temos saudades eternas por eles... <3
algo a comentar...
Sérgio foi a cena que repercutiu, mas acho que não foi positivo para a repercussão da novela não. Até porque, os personagens em questão nem são os protagonistas e nem é disso que trata essa boa novela.
Concordo plenamente, a cena foi muito bem concebida, foi lúdica, e bem contextualizada com a história das personagens envolvidas, mas eu particularmente não vi nenhuma grande ousadia.
Olha Sérgio, vamos ser realistas, acho que esse tabu está muito longe de ser derrubado no Brasil. Para isso acontecer, os autores teriam que imprimir beijos e afagos homoafetivos de maneira bastante corriqueira, como se vê nos romances entre homens e mulheres. Mas será que as mulheres, que perfazem a grande parte do público noveleiro, vão gostar de ver os famosos galãs se pegando comumente. Imagina Thiago Fragoso, Bruno Gissoni, Cauã Raymond, Klebér Toledo, Arthur Aguiar, Alexandre Nero, Rodrigo Simas, Herson Capri, Marcos Palmeira e tantos outros, trocando beijos de uma maneira tão comum, como beijam as mocinhas. Posso afirmar sem medo algum, como mulher que sou, que isso não seria nada agradável e nada "shippável".
Existe sim, um fetiche, por grande parte do público gay de ver cenas do tipo, com muito mais ousadia até, e isso é muito natural.
Acho que um caminho interessante, para evitar tantas polêmicas, é voltar toda atenção ao folhetim. Eu explico assim: O beijo do final de "Amor à Vida" não foi um beijo entre dois homens e sim um beijo entre o Félix e o Niko, personagens que o público já estava envolvido com a história, e não um beijo entre o Solano e o Fragoso, ponto para Walcir Carrasco. O beijo de "Babilônia" foi um beijo entre Fernanda Montenegro e Natália Timberbg, um beijo entre duas consagradas atrizes, esse foi um grande erro de Gilberto Braga, afinal de contas, quem era Tereza, quem era Estela naquele 1º cap. O objetivo ali era "causar" e se deram mal. Um grande equívoco.
Se os autores conseguirem envolver o público com uma história cativante e tirar o foco de beijo e do sexo gay, até quem é contra vai terminar torcendo pela felicidade do "casal".
Sérgio, não podemos esquecer de maneira nenhuma onde estamos contextualizados. Não se trata de retrocesso ou evolução, não se trata de preconceito e blá... blá... blá...
O Brasil é um país de maioria católica, outros tantos são protestantes, outros tantos seguem algum tipo de religião qualquer, onde cada uma delas tem os seus conceitos firmados no Cristo e no Deus em quem acreditam.
É absolutamente reprovável toda e qualquer discriminação de caráter homofóbico ou todo e qualquer fanatismo religioso, porém...
... se tirarmos Deus da jogada e dissermos que Cristo e a Bíblia são uma farsa. Aí sim, toda polêmica e todas as barreiras deixam de existir. Ninguém é de ninguém, e todo mundo é de todo mundo. "Liberdade" sempre!
Mas ainda bem que Deus existe!
Um grande abraço!
Sabe nada quem disse que casal gay feito por galãs nao é shippavel. Eu, como mulher, afirmo que shippo sim e shippo forte.
Quanto a trilha sonora creio que foi uma continuidade, quem sabe uma homenagem ou apelo à memoria afetiva do telespectador.
Gostei da cena e quero mais. Quero com Mateus Solano e Thiago Fragoso se pegando como qqr casal hetero, em cenas comuns do dia a dia com problemas q todo mundo tem e momentos de intimidade.
Em tempo: gosto muito do seu blog.
A cena foi ótima e de bom gosto, mas queria fazer uma crítica a essa novela. Estava gostando mt da trama, mas perdi o interesse devido aos últimos acontecimentos. Como vc escreveu no Twitter, a Alexandra mudou de personalidade do nada, a morte do Raposo não contribuiu em nada pro roteiro, a entrada desse Duque de Egas que é tão canalha quanto o Rubião é broxante e a demora no conflito dos revolucionários já abusou da paciência.
muito hilário esses pseudo moralistas reclamando aqui no Facebook sobre sexo homo afetivo na tv aberta. Afirmam que as crianças não devem ser expostas a isso. Concordo plenamente. Porém o que esses sabichões não explicaram, é que esta cena foi exibida muito além da meia noite, horários que as crianças já deveriam estar dormindo, não assistindo tv. Somente pais relapsos e incompetentes deixariam que crianças dormir tão tarde. Antes de reclamar, criem seus filhos direito sendo pais responsáveis.
Sérgio, sabe aquele babaca de merda que vive falando mal de vc pelas costas no Twitter e que grtaças a Deus sumiu daqui do blog? Ele além de copiar a forma como vc tweeta agora resolveu copiar a forma como vc escreve. Ele deve ser mt doente e fanático por vc.Outro detalhe irônico: ele antes era hater da Sophie Charlotte e agora virou hater da Juliana Paiva. Olha a doença!
O mais bacana (ou não) é que a novela apesar de ser de época consegue ser atual. Foi justamente uma novela de época que ousou colocar cenas de sexo de um casal gay. E que seja a última vez que essa frase seja dita. Tomare que em um dia bem próximo, sejam apenas cenas de sexo\ amor, sem importar se é gay ou não. Que isso se torne rotina nas novelas como é na vida real. Os atores deram show e como eu adoro ver Caio Blat atuando é sempre muito bom, ele é um ator maravilhoso.
PS: To esperando seu texto pro Mateus Solano <3
Foi uma bela cena, mas não foi de sexo. Não teve nada. Foi do msm padrão que as preliminares já vistas em Verdades Secretas.
trago uma excelente notícia, Sérgio: http://portalovertube.com/2016/07/14/paulo-halm-e-rosane-svartman-preparam-outra-novela-para-a-globo/ <3
Achei a cena ótima, delicada na medida certa. E toda essa trama deles vem rendendo bons desdobramentos. Mas acredito que o preconceito da maioria do povo ainda vai demorar muito pra acabar, se é que vai acabar. Enquanto existirem os fanáticos religiosos... Fizeram até boicote na novela! Que obviamente não funcionou por que nessa hora a tradicional família brasileira já está dormindo. Ou hipócritas como são, vai ver eles mesmos assistiram a cena, aproveitando que as crianças já estavam dormindo. O pior é ver gente criticando uma cena de amor tão pura como essa que, há um ano atrás, adorava ver as cenas de sexo doentias entre o padrasto e a enteada! (Por sinal a novela era ótima)
E quanto a novela em geral, essa reta final vem me decepcionando um pouco. Raposo morreu pra nada e agora a trama fica focando no Laerte, fora o fato de que vários personagens vão morrer antes do fim. Mas enfim, espero que tenha um final digno.
Abraços e bom fim de semana, Sérgio!
Achei a cena delicada sim e muito bem realizada, não causou tamanha repercussão até porque essa novela pouco repercuti. Entendo e concordo com o comentário de F Silva quando fala que o foco deve estar na história e não em cenas de beijo e tals. Acho que a quebra de paradigmas na teledramaturgia não vai vir com cenas de beijo entre pessoas do mesmo sexo, mas sim avançar nas tramas. Todas as histórias envolvendo gays nas novelas são sempre as mesmas, gente tentando sair do armário, homofobias com gays sofrendo preconceitos dos amigos e da família. O tema é sempre a questão do ser ou não ser gay e todos os problemas relacionados a isso. Pra mim tudo vai começar a mudar quando os autores mostrarem os gays como pessoas normais, que tem outros dilemas e conflitos na vida, como qualquer outro personagem. Você encontra muito isso nas produções internacionais, onde é muito comum cenas de beijo gay, mas não avançaram por causa disso não.
bom domingo, Sérgio!
Anônimo, acho que foi uma referência msm. Como o Mário escreveu O Cravo e a Rosa com o Walcyr, eles devem ser amigos.
Acho a novela boa, mas só, Gabriella.
Não vi nada demais, Elisa. bjss
Pena que não dá mais, Teacher. haha
Isso, anonimo... Diabo, demônio, etczzzzzzzzzzzzzzzz
Marcante msm,, anonimo.
Tb tenho saudades, anonimo!
F Silva, concordo. Ainda vai demorar mt mesmo para romper de vez esse tabu, mas, mesmo assim, alguns importantes passos tão sendo dados. E todos eles em função de Félix e Niko. Concordo sobre o beijo de Babilônia, mas discordo disso de que há famílias católicas vendo e por isso não é agradável, etc... Bons personagens, bons atores e uma boa história somadas será sempre agradável para quem não nutre esse preconceito. E sobre a repercussão não ter sido positiva pra novela tb discordo pq ela nunca teve repercussão, então, acabou sendo benéfico. Ainda que não em cima da temática da mesma. A trama tem uma audiência mediana e repercussão nula. Portanto, acabou funcionando. Bjs e bom tee ver aqui novamente.
Marta, fico mt feliz que goste do blog. Venha mais vezes. Será sempre bem-vinda. E tb sinto mta falta de Félix e Niko. bjssss
Olha, Fernanda, concordo com suas observações.
Cleankin, esse tipo de argumento é ridículo mesmo. Se não quer que seis filhos vejam, os proíbam, oras. Querem que a tv faça o trabalho dos pais. E novela das onze e das nove não é pra criança mesmo.
Agora tá plagiando em mais formas, anonimo? Não me surpreende e nem disso aí da Juliana.Mt menos seguir falando de mim pelas costas. Parece que não tem mais nada o que fazer. Mas nem me interessa nada sobre esse sujeito. Ele e nada pra mim são sinônimos.
Perfeito comentário, Pâmela. E farei sim texto pro Solano. E pra Andreia tb. bjsss
Isso sim, anonimo.
Eu li na Kogut, Pâmela. Adorei a notícia e já ansioso. Pena que parece que é para 2019. Tomara que antecipem. bjss
Onde eu assino, Ed? Endosso absolutamente tudo o que vc escreveu. Tudo. abçs
É verdade, anonimo. Bom domingo e boa semana pra vc.
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