terça-feira, 5 de janeiro de 2016

"Ligações Perigosas" estreia com imagens cinematográficas, trama provocativa e grande elenco

"De todas as ligações entre um homem e uma mulher, a mais perigosa é o amor." Foi com a frase citada que o convidativo teaser de "Ligações Perigosas" começou a ser veiculado em dezembro de 2015. A minissérie estreou nesta segunda-feira (04/01), um mês depois das primeiras chamadas, e o primeiro capítulo caprichado já mostrou o nível de qualidade desta produção ---- escrita por Manuela Dias e dirigida por Vinícius Coimbra e Denise Saraceni ----, marcando o início da nova safra de teledramaturgia da Globo em 2016.


A trama é inspirada no livro do escritor francês Chordelos de Laclos ---- "Les Liaisons Dangereuses" (1782) ---- , encenado em inúmeras peças teatrais e adaptado 11 vezes para o cinema, cujo filme de maior sucesso foi o exibido em 1988, protagonizado por Glenn Close, John Malkovich e Michelle Pfeifer. Agora, na primeira adaptação da história para a televisão, os atores centrais são Patrícia Pillar, Selton Mello (longe da TV desde 2011) e Marjorie Estiano, que interpretam Isabel, Augusto e Mariana, respectivamente. Os jogos de sedução dominam todo o enredo, recheado de sensualidade e suspense. A amoralidade se mistura com boas doses de crueldade e também um pouco de ingenuidade, que move quase sempre as vítimas.

Isabel e Augusto são completamente amorais e vivem uma relação perversa, onde o prazer em seduzir terceiros, arruinando as vidas alheias, serve de combustível para o relacionamento doentio. Sedutores, os dois procuram manipular de todas as formas a sociedade em que habitam.
Porém, tudo começa a mudar quando o galanteador cai na própria armadilha e se apaixona por uma vítima: a ingênua, casta e devota Mariana, que está passando uma temporada na cidade com sua tia Consuelo (Aracy Balabanian). A história é ambientada no início do século 20 e isso valoriza ainda mais o contexto, até porque muitas situações ficariam um pouco inverossímeis nos dias atuais.

O primeiro capítulo deixou bem claro que se trata de uma produção cinematográfica, cuja fotografia enche os olhos do público. E a ausência de referências brasileiras evidencia o interesse da Globo em fazer da produção um sucesso mundial de vendas, sem explorar o Brasil, justamente para diferenciá-la dos folhetins nacionais e tão conhecidos mundo a fora. Há a clara preocupação de apresentar a trama como uma minissérie, sem qualquer semelhança com novelas. Até mesmo a apresentação dos personagens é propositalmente diferente. E essa intenção é mais do que válida, é preciso ressaltar. Afinal, ampliar a visibilidade de um produto, procurando uma certa 'renovação' na 'embalagem', não é demérito algum.

A estreia foi primorosa e conseguiu iniciar a história instigando o público a acompanhar todo o desenrolar daqueles personagens, principalmente os sedutores Isabel e Augusto. Algumas cenas de flashback, inclusive, mostraram os dois se beijando durante o velório do marido da viúva (interpretado por Mário José Paz), que morreu justamente durante uma transa. Isabella Santoni e Ghilherme Lobo representaram os protagonistas jovens e se saíram muito bem. Ela, aliás, deixou completamente de lado a masculinizada e marrenta Karina, de "Malhação Sonhos". Ele também apagou o seu tímido Bernardo, de "Sete Vidas". As sequências do passado deixaram evidente o poder de sedução de Isabel, que fez questão de provocar até um padre durante a sua confissão.

E em meio aos relativamente rápidos flashbacks, as cenas do presente eram exibidas, destacando os atores e atraindo o interesse pela aquela conflituosa história, onde inocência e perversão se misturam. O comportamento libertino de Isabel e Augusto foi exposto através de cenas apimentadas, onde ele se encontrava rodeado de belas mulheres e ela seduzia o poderoso Heitor Damasceno (Leopoldo Pacheco). Ainda houve uma provocativa cena protagonizada por Alice Wegmann e Hanna Romanazzi, quando Cecília era seduzida pela colega Sofia em um colégio de freiras. Aliás, o ponto de partida para o andamento do enredo se deu justamente quando a ingênua personagem de Alice saiu do internato, indo morar com a rígida mãe Iolanda (Lavínia Pannunzio), despertando o interesse de Heitor.

Isabel se sente preterida quando vê o amante rico pedir a menina em casamento e a melhor cena da estreia, inclusive, foi quando Isabel joga uma taça na cara de Heitor, após escutar que ele quer uma mulher jovem para ter filhos ---- Patrícia Pillar e Leopoldo Pacheco estiveram impecáveis. A maquiavélica mulher inicia, então, um plano, mandando Augusto seduzir Cecília, tirando a virgindade da menina. Tudo para frustrar o casamento do ex-amante com a mulher pura que ele tanto deseja. A personagem sente um imenso prazer em seduzir e manipular os outros, assim como o seu parceiro, com quem tem uma relação de amor, desejo e ódio desde a adolescência. Mas o relacionamento até então 'harmônico', em meio a essa avalanche de sentimentos, sofre um revés com a chegada de Mariana, que desperta um interesse em Augusto. Inicialmente, o sedutor homem planeja seduzi-la, mas se apaixona, virando vítima do sentimento que tanto despertou em terceiros.

Selton Mello e Patrícia Pillar estão fazendo uma dupla maravilhosa e já vale mencionar Marjorie Estiano, que se destaca na pele da virtuosa Mariana. O triângulo central teve intérpretes escolhidos a dedo e o grande resultado pôde ser visto logo no primeiro capítulo. Vale destacar ainda Aracy Balabanian vivendo a espevitada Consuelo, tia de Mariana. Após vários papéis que ficaram aquém do seu talento, a veterana atriz parece que finalmente ganhou um perfil à sua altura. Alice Assef, Alice Wegmann, Hanna Romanazzi e Lavínia Pannunzio foram outras que se sobressaíram. O elenco, aliás, é de alto nível.

Gravada com uma tecnologia que proporciona quatro vezes mais resolução de imagem que o HD (chamada de 4k), a minissérie tem um figurino caprichadíssimo e cenários deslumbrantes ----- algumas gravações foram feitas na Patagônia e no interior da Argentina (Concepción del Uruguay). A abertura também merece elogios, pois apresenta toda a qualidade e a sensualidade da produção através de belas imagens. O segundo capítulo foi tão bem realizado quanto o primeiro, aumentando a tensão e a sensualidade que cercam o enredo. Porém, o único senão é a ausência de cenas mais ousadas. O enredo pede, sendo perfeitamente propício, e o público do horário ficou 'mal acostumado' com "Felizes para sempre?" e "Verdades Secretas". No entanto, é apenas uma pequena observação e que em nada afeta o bom conjunto.

"Ligações Perigosas" teve uma grande estreia e todo o capricho observado nas convidativas chamadas pôde ser observado nos primeiros capítulos. A autora Manuela Dias e os diretores Vinícius Coimbra e Denise Saraseni acertaram com a ambientação da história nos anos 20, principalmente porque foi uma época onde os valores libertários começavam a se chocar com as ideias conservadoras. É um produto que dá gosto de ver. A minissérie tem tudo para ser uma das melhores produções da Globo em 2016. Resta aguardar.

35 comentários:

Karina disse...

Minissérie de alta qualidade. Estou adorando e assino embaixo da crítica. E também acho que umas cenas mais ousadas fazem falta.

Ernane disse...

Mais uma grande texto, Sérgio. Começou bem 2016!

Li disse...

Em 2014?

William O. disse...

Eu já não gostei tanto do segundo capítulo. Achei meio corrido demais. O primeiro foi primoroso realmente e concordo com seu texto. Mas vamos aguardar pra ver se mantém o nível.

Fernanda disse...

Eu gostei da produção e pretendo acompanhá-la toda. Seu texto ficou ótimo e detalhou muito bem tudo. Também acho que é puritanismo demais não exibir cenas mais ousadas até porque a trama é justamente sobre isso. A própria Isabella Santoni disse que malhou muito, mas gravou de roupa. Claro que foi uma piada, mas toda brincadeira tem um fundo de verdade. O segundo capítulo pecou na aproximação rápida demais do Augusto com a Mariana, mas no geral foi muito bom também.

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Texto, direção e elenco perfeito!!! Curti demais e seus comentários sempre bem resumidos, enfim adorei!!!!

Samara disse...

Eu gostei da estreia e do segundo capítulo. Tem um capricho impressionante e grande elenco mesmo. Mas sei lá acho a trama meio sem alma. Espero me surpreender mais pra frente.

Unknown disse...

Eu gostei bastante da estreia e do elenco também, principalmente da Patrícia e da Marjorie. Pretendo acompanhar até o fim, mas sei lá, parece que falta alguma coisa.
Abraços

Unknown disse...

Infelizmente perdi o primeiro episódio, fiquei triste hahaha ):
O segundo eu não entendi muita coisa, vou assistir no site da globo no fds.

Beijos, Love is Colorful

Anônimo disse...

A minissérie tá bem boa mesmo e sua crítica ficou bem fundamentada.

Tainá disse...

Ótima crítica. A Alice Wegmann está fantástica e a escolha dos protagonistas foi a dedo mesmo porque não é sempre que se pode contar com Patrícia Pillar, Selton Mello e Marjorie Estiano em uma mesma produção. Estou amando!

Unknown disse...

Algo a comentar...

De fato Sérgio, é um produto que dá gosto de ver.

A preocupação estética com essa série é clarividente.

Acho que não há "um único senão". A ausência de cenas mais picantes foi um grande acerto da direção. A cenas de sensualidade implícita são mais instigantes do que as explícitas.

Os grandes diretores de cinema e tv são 'quase' unânimes em retratar cenas de sexo. As cenas sugestivas de sexo, segundo eles, são esteticamente melhores e menos agressivas. E eu, particularmente concordo. O ideal é focar na história que está sendo contada. Nudez explícita, apenas quando a cena em questão realmente assim o exigir, quando não, fica desnecessário. Afinal, essa não é uma obra pra alimentar a libido antes de dormir (risos).

O elenco está ótimo. Excelentes atuações. Há Sérgio, você já notou como a Patrícia Pillar está cada vez melhor a cada trabalho? Sempre no tom perfeito e um tempo dignos de admiração. Ela é fera.

Abraços e vamos continuar nos divertindo...

Raquel disse...

Sérgio,

Adorei o post e concord com quase todos os seus comentários. Só descordo mesmo de você na questão das cenas mais ousadas e concordo com a F Silva: não é porque é novela das 11 que obrigatoriamente tem que ter nudez e cenas mais explícitas. Na minha interpretação, a fotografia, as locações e a própria época demonstram perfeitamente a escolha da direção por uma linha mais classuda de dramaturgia. E não é porque as coisas não são mostradas que há falta de referências ao sexo e sedução: aliás, é só o que se fala/pensa nessa minissérie. Acho que inclusive que isso, assim como a escolha de retirar referências mais claras ao Brasil, ajuda na venda do produto internacionalmente. Em vários países o que se pode mostrar na TV é muito mais restrito que no Brasil e é bem melhor ter um produto menos ousado do que todo picotado pra vender lá fora.

Finalmente, os produtores devem ter aprendido com Felizes Para Sempre, onde a grande maioria do público só falou mesmo foi da bunda da Paola Oliveira. O próprio Fernando Meirelles se arrependeu de ter colocado a cena. Numa série de poucos capítulos ter 95% do zumzumzum criado por uma cena de nudez pega malz. A guriazinha de Malhação deve ter reclamado porque acho que a carreira dela ia decolar igual a da Angel. :P

Brincadeiras à parte, eu gostei das cenas apenas sugestivas.

Leandro disse...

Olá, realmente essa produção está primorosa. Patricia Pilar como sempre esplêndida, porém senti o Selton Melo um pouquinho forçado, mas falo isso como um mero telespectador e não como um crítico, que não sou. O seu texto é muito bom e ressalta todos os pontos da série. Porém me deixou surpreso a ambientação da série,uma vez que não seria difícil um telespectador desavisado, que não conheça os atores e atrizes, pensar que se trata de uma produção européia tanto pelos lugares onde os personagens aparecem como pelos atores, com um padrão de beleza bem europeu. Isso me preocupa, pois acredito não ser essa a forma correta de atrair os olhos do mundo para as produções brasileiras.

Unknown disse...

Sérgio, assisti ao filme e adorei, assim como estou amando esta adaptação para a TV. Texto ótimo, elenco afiado, belas locações na Patagônia, erotismo, constante clima de sedução, boa reconstituição de época - tudo isso atrai na minissérie.

Anônimo disse...

Ao contrário de vc q elogia qualquer coisa da Globo, eu achei um show de horror. Fora o elenco de péssimo gosto. Tirando a pillar o resto uma vergonha!!!
E aquela Isabella santoni faço melhor q ela, bem melhor. A alice é outra....Obs:vc elogia tudo da Globo. Isso é o q? Puxa saco? Quer um emprego la tbm? Affff

Larissa disse...

Não, anonimo leproso, ele não elogia tudo da Globo mas vc é muito babaca pra compreender. E mais babaca ainda pra só acha a Patrícia Pillar bem num elenco primoroso desse. Vai ver Os Dez Mandamentos, vai, seu lixo!

Sérgio, adorei a minissérie e o texto. Estou ansiosa pela segunda e última semana. bjs

Sérgio Santos disse...

Obrigado, Karina. bjs

Sérgio Santos disse...

Que bom, Ernane. =)

Sérgio Santos disse...

Já corrigi.

Sérgio Santos disse...

Tem mantido o nível na minha opinião, William.

Sérgio Santos disse...

Pois é, Fernanda. Nenhuma cena mais ousada seria gratuita e só acrescentaria ao conjunto. Aliás, os dois filmes de sucesso foram bem mais 'corajosos'. Mas a minissérie é caprichada e isso não afeta em nada. Foi só uma observação msm. bjs

Sérgio Santos disse...

Mt obrigado, Jessica!

Sérgio Santos disse...

Entendo, Samara. bjs

Sérgio Santos disse...

Algumas pessoas tiveram essa mesma impressão que a sua, Ed. Eu tenho achado tudo ótimo. abçs

Sérgio Santos disse...

Veja sim, Bárbara. bjs

Sérgio Santos disse...

Obrigado, anonimo.

Sérgio Santos disse...

Tb tô, Tainá! E esses atores tão ótimos.

Sérgio Santos disse...

Patrícia Pillar é maravilhosa msm, F Silva. E é a sua quarta vilã seguida, mas ela consegue diferenciar todas. E eu nem menciono a necessidade de nada explícito, mas algo mais ousado cabia perfeitamente. Até pq não tem nada explícito em produções nacionais na tv, pelo contrário. E a minissérie tá mt boa. bjs

Sérgio Santos disse...

Sem problemas, Raquel. Mas eu realmente não vejo problema algum em nada mais ousado, até porque o horário permite e essa é uma trama forte. Todas as inúmeras adaptações comprovam isso. bjs

Sérgio Santos disse...

Entendo sua argumentação, Leandro. E é verdade, essa produção não tem referência brasileira alguma. Foi claramente concebida com a intenção de ampliar as vendas. Mas, ainda assim. é uma minissérie impecável até agora. Dá gosto de ver. Eu, particularmente, estou achando o Selton excelente. abçs

Sérgio Santos disse...

Td isso atrai mt mesmo, Elvira.ç Concordo.

Sérgio Santos disse...

Claro, anonimo, que vc achou um show de horror. Previsível. E não, eu não elogio td da Globo, mas nem perderei meu tempo pq pelo comentário besta tá claro que vc nem lê o que escrevo ou se faz de idiota.

Sérgio Santos disse...

Tb estou ansioso, Larissa. Bjão!