Megan, Davi e Manu de "Geração Brasil": um triângulo amoroso bastante equivocado

Triângulos amorosos fazem parte da teledramaturgia e são situações frequentes em todo folhetim. É praticamente impossível alguma novela não ter ao menos um. E as chances destes imbróglios amorosos ajudarem na movimentação história são grandes, tanto que os autores costumam recorrer a rompimentos, idas, vindas e troca de casais ao longo do desenvolvimento da trama. Mas é primordial que todo o conjunto esteja em harmonia para a estratégia dar certo, o que não tem acontecido em "Geração Brasil".

O triângulo Megan (Isabelle Drummond) - Davi (Humberto Carrão) - Manu (Chandelly Braz) começou de forma promissora, assim como toda a novela, vale ressaltar. Mas, à medida que os capítulos da novela de Filipe Miguez e Izabel de Oliveira foram passando, ficou claro que os desdobramentos em cima desta história não foram acertados. O que poderia render ótimos conflitos, bons dramas e interessantes questionamentos, acabou virando uma mera superficialidade.

Davi é um típico nerd e iniciou a história tentando lançar seu projeto, um computador próprio chamado Júnior, que tem o objetivo de incluir digitalmente crianças carentes. Manu é uma nerd apaixonada por tecnologia que sabe tudo de computação, enquanto Megan é uma patricinha fútil e mimada.
E desde o início era previsto o envolvimento destes três perfis em um triângulo amoroso, despertando curiosidade, principalmente porque Humberto namora na vida real com uma e repetiu pela terceira vez o par na ficção com outra. Ou seja, qualquer casal formado teria fortes chances de êxito.

Mas os autores não souberam desenvolver as relações e muito menos construir os perfis dos personagens. Os tipos pareciam enriquecedores para os intérpretes, mas lamentavelmente todos perderam o rumo e ficaram mergulhados em um cansativo ciclo de repetições. Primeiramente, Davi e Manu demoraram muito para se encontrar. E quando aconteceu, houve uma paixão súbita que ficou forçada até para um conto de fadas. O namoro foi iniciado quando ambos disputavam o concurso Geração Brasil e, após o período da Copa Do Mundo, a relação foi solidificada no momento que a dupla foi a vencedora do reality. E esta vitória só ajudou a empobrecer ainda mais o par.

A trama deles se resumiu em trabalho diante de um computador. O casal ficava a maior parte do tempo trabalhando na empresa de Jonas (Murilo Benício) falando de tecnologia e afins. Não havia conflitos, dramas, uma briga para dar brecha ao clichê da reconciliação, enfim, não havia algo que despertasse a atenção do telespectador. E os poucos desentendimentos causados caíram na repetição, em virtude da obsessão de Megan.

Isso porque a patricinha, desde que conheceu Davi, passou a nutrir uma espécie de fixação pelo garoto. A personagem não teve um conflito seu ou uma história própria. Ela simplesmente, que antes era uma rebelde sem causa, passou a ter o nerd como único objetivo da vida. A sua insistência em conquistá-lo era divertida no começo, mas perdeu o fôlego, evidenciando a falta de criatividade dos autores, que transformaram a filha de Pâmela (Cláudia Abreu) em uma sombra do mocinho. A repetição era tanta que até uma cena (onde ela apronta e depois pede desculpas) parecia reprise. Nada saída do lugar.

E neste jogo onde Megan e Manu brigavam por Davi, o nerd permanecia apático e passivo, o que só prejudicava ainda mais toda a situação. Não tinha como ter empatia por ninguém. Em suma, um triângulo repetitivo e chato. Entretanto, recentemente Filipe e Izabel resolveram mexer na novela, incluindo no trio central.

Mas novamente se equivocaram na condução. Manu simplesmente desapareceu da trama, tendo como desculpa sua viagem à Califórnia para apresentar o projeto de Davi. Quando retorna ao Brasil, após vários capítulos sumida, a mocinha se mostra estranha. Com o intuito de aproximar Megan e Davi, agradando aos inúmeros fãs do casal, que já esteve junto em "Cheias de Charme" e Sangue Bom", os autores aparentemente transformaram Manu em uma personagem dúbia. À primeira vista, foi mostrado que a mocinha traiu a confiança de Davi, apresentando seu projeto no lugar do dele. Porém, depois ficou subentendido que ela foi (e está sendo) chantageada por alguém; o que reforça a incoerência do roteiro, uma vez que a mocinha, respondona e determinada do começo da história, jamais aceitaria uma situação como esta.

Enquanto esta questão se desenvolve, culminando no término de Manu e Davi, o rapaz resolve dar uma chance para Megan, que nunca deixou de se rastejar atrás dele. Porém, ele sempre mostrou desprezo pela patricinha e quando começou a mostrar simpatia pela garota, sempre deixava claro que não sentia nada. Agora, os dois estão se envolvendo e se dando bem. De acordo com o enredo da história, é uma relação onde o mocinho usa a patricinha para esquecer seu grande amor. E as cenas, claro, estão repletas de química, como não poderia deixar de ser. Isabelle Drummond e Humberto Carrão transbordam sintonia cênica desde que começaram a trabalhar juntos e juntá-los é garantia de casal atrativo. Porém ----- ao contrário do que ocorreu com Elano e Cida, em "Cheias de Charme", e Giane e Fabinho, em "Sangue Bom" -----, a construção do par foi equivocada.

E apesar de todos os problemas na condução do triângulo serem evidentes, é preciso elogiar o trabalho dos atores. Chandelly Braz está ótima com sua Manuela, após ter se destacado na pele de Marcina, em "Saramandaia", mostrando que tem muito o que crescer ainda. Já Isabelle Drummond é uma das grandes atrizes de sua geração e novamente faz bonito em cena, desta vez interpretando uma personagem completamente diferente dos últimos perfis que viveu na ficção ---- embora Megan seja um papel decepcionante, se levar em consideração tudo o que a trama da patricinha prometia no início. Já Humberto Carrão comprova seu talento, mesmo aparentando não estar satisfeito com seu mocinho apático. O ator, que brilhou vivendo o rebelde Fabinho, angariando justos elogios, merecia um papel melhor.

Se "Geração Brasil" seguir seu enredo, Davi dificilmente terminará com Megan. Porém, o apelo dos fãs 'Megavi' pode mudar os rumos do final, embora haja também fãs que torcem para ele e Manu. Mas independente do final escolhido, a triste realidade da atual novela das sete é uma só: assim como toda a história, o triângulo amoroso poderia ter sido muito mais interessante do que foi. Tudo por causa de uma condução equivocada, já que não foi por falta de personagens promissores e nem de ótimos atores. Pena.