O talento de Taís Araújo é indiscutível. Tanto que seu segundo trabalho na televisão foi como protagonista de "Xica da Silva", entre 1996 e 1997, quando tinha apenas 17 anos. E logo mostrou do que era capaz. Fez de Xica um papel memorável e que entrou para a história da teledramaturgia. Desde então, já são muitas personagens em folhetins, séries, filmes e teatro. No entanto, a atriz até agora não teve sorte protagonizando novelas das nove na Globo.
A primeira protagonista de Taís na faixa horária mais prestigiada da televisão brasileira foi em "Viver a Vida", em 2009. E foi cercada de expectativas. Afinal, era a primeira Helena preta de Manoel Carlos e a primeira personagem central da atriz no horário nobre. Só que tudo deu errado. A novela foi considerada um fracasso para os padrões da época, teve inúmeros problemas de desenvolvimento, excesso de personagens, e um dos graves equívocos foi condução do papel principal de Maneco. A figura controversa e que gera muitas discussões em todas histórias do autor desta vez não tinha um arco dramático potente e muito menos relevante.
Helena era uma modelo rica e bem-sucedida que largava tudo para casar com um homem mais velho, o empresário Marcos (José Mayer), ex-marido de Tereza (Lilia Cabral), uma ricaça amargurada que nunca superou a separação. O marido de Helena teve três filhas com Tereza e a mais velha, Luciana (Alinne Moraes), que também era modelo, não aceitou o romance do pai e criou uma rivalidade com a nova madrasta.
Durante uma viagem a trabalho, Luciana provocou Helena várias vezes até que a protagonista a expulsou de seu carro, o que a fez viajar em um ônibus. Só que esse ônibus caiu em um barranco e Luciana ficou tetraplégica. Helena foi responsabilizada pela tragédia e o arco dela acaba aí. Ou seja, um dos poucos conflitos da personagem é baseada em uma mentira. Todo o drama da novela ficou em cima de Luciana, que dominou as atenções por razões óbvias. O processo de reabilitação, a sua dor diante da nova condição, enfim, tudo arrebatou o público, enquanto Helena foi sumindo da história. Ainda houve uma cena problemática e considerada racista, quando a protagonista se ajoelhou para receber uma bofetada de Tereza. Foi a pior Helena de Manoel Carlos, mas não por culpa de Taís. A atriz a defendeu com competência. Só que não conseguiu fazer milagre com o enredo que tinha em suas mãos. E até hoje a intérprete comenta como foi difícil aquela fase de sua carreira e achou que não conseguiria passar por aquilo. Uma de suas grandes apoiadoras foi a saudosa Aracy Balabanian, que decorava várias cenas com ela e dava força para a amiga.Nove anos se passaram, e a atriz voltou ao horário nobre com outra protagonista: advogada Vitória, em "Amor de Mãe". Inicialmente, a personagem parecia promissora, mas perdeu toda a relevância durante a trama graças aos conflitos mal estruturados e pouco empolgantes. A advogada era uma referência na profissão e sabia diferenciar o seu lado profissional do pessoal. Aparentemente fria, sonhava em ser mãe. Defensora de um dos empresários mais corruptos do país, nunca sentiu peso na consciência porque era apenas seu trabalho. Sua percepção só alterou quando adotou uma criança e ainda engravidou acidentalmente. Todas essas características faziam do perfil um dos mais promissores do enredo. Mas tudo foi por água abaixo quando a autora inventou uma ruína financeira para forçar uma virada nada convincente.
Vitória cansou de passar por cima de seus princípios para advogar para Álvaro (Irandhir Santos) e decidiu romper o contrato, pagando uma multa milionária, o que resultou em uma reviravolta que afetou drasticamente a imagem da personagem. Aquela profissional inteligente, empoderada e cheia de atitude morreu. Ela resolveu ajudar o ex, Davi (Vladimir Brichta), contra seu antigo cliente e em nenhum momento achou que havia o risco de ser flagrada. A situação resultou em um desvio de ética que ocasionou a cassação de seu registro profissional e ainda culminou na influência do empresário para nenhum outro cliente poderoso a contratasse. E para expor a derrocada financeira da personagem, a venda do apartamento de luxo de Vitória --- na zona sul do Rio de Janeiro --- foi exibida, assim como sua mudança para o subúrbio. Para sobreviver, a ex-poderosa mulher ainda virou costureira e colou anúncios em postes sobre seus serviços. Uma derrocada absurda e criada apenas para uma falsa virada no enredo, que aniquilou a potência da protagonista. Ela praticamente desapareceu do folhetim, que passou a focar apenas na rivalidade entre Lurdes (Regina Casé) e Thelma (Adriana Esteves), as outras duas protagonistas.
Agora, no remake de "Vale Tudo", era o momento da glória de Taís Araújo. Afinal, ela ganhou a Raquel, a protagonista poderosa da obra original de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Brassères. Vale até abrir um parênteses para lembrar que a atriz recusou o papel no primeiro momento. Taís declarou em entrevistas que não queria viver outra heroína, após tantas em sua carreira. Estava com sede de uma grande vilã. Porém, após ter lido sobre a personagem, a intérprete foi assistir trechos da trama de 1988 e ficou fascinada com a força de Raquel. Somente por causa disso topou participar do remake. Ela só não imaginava o que a autora faria com a personagem ao longo dos meses. Até porque era a chance de Manuela Dias se redimir depois do que aconteceu em "Amor de Mãe". Mas tudo se repetiu.
Raquel teve a sua potência aniquilada no remake. A personagem até teve um bom começo, quando a adaptação tinha muitas semelhanças com a original, mas ao longo dos meses a mãe de Maria de Fátima (Bella Campos) perdeu a relevância até ficar totalmente alheia aos acontecimentos da trama principal. A gota d`água foi a falência da então empresária, graças ao plano repleto de absurdos de Odete Roitman (Debora Bloch), que comprou as ações da Celina (Malu Galli) e faliu a empresa para prejudicar a protagonista. Algo sem o mínimo de sentido. Raquel até voltou a vender sanduíche na praia por dois dias. Uma reviravolta que rendeu críticas públicas de Taís. E o retrocesso não durou nem uma semana porque depois a mãe de Fátima recuperou o restaurante em outra situação recheada de inverossimilhança. O pior é que depois da reclamação da atriz, coincidentemente ou não, a importância de Raquel foi ainda mais diminuída. Tanto que a autora tirou da Raquel todos os dramas que tinham relação com a derrocada de Odete em 1988. Era ela a responsável pela exposição do segredo que envolvia Leonardo (Guilherme Magon) e ainda tinha uma nova briga com Fátima porque a vilã vendia o filho por vinte e cinco mil dólares. Agora, a personagem está avulsa e não tem mais história. Quase uma figurante.
Taís Araújo é uma atriz que sempre se entrega aos seus trabalhos e merece respeito. Algo que definitivamente ela não teve nas três novelas das nove que protagonizou na Globo.
6 comentários:
não bancam as escolhas e não sabem escrever fora dos estereótipos. fizeram 3 vezes ela perder tudo e recomeçar vendendo lanche na praia. com a carreira dela conseguiria um emprego de cozinheira em algum restaurante. não faz sentido. parece que sempre tem q ter superação pra pessoa poder ter destaque. igual idoso. na maioria das novelas só sabem fazer ter alguma doença. não conseguem imaginar idoso sem ficar doente. se o idoso precisa aparecer, vai ter doença. não conseguem pensar em outro enredo.
A Manuela Dias é tipo a Patricia Poeta, mas das novelas. O público critica seu conteúdo, mas continua dando ibope e consequentemente a emissora gera faturamento. Então a Globo não fará nada que prejudique a Manu Dias nem à Patrícia Poeta. As duas devem ter costas quentes na Globo. E vamos combinar? Emissora não está nem aí para representatividade, para inclusão, isso é só uma conversa para acalentar bobinos e fazer a empresa parecer mais "descolada" nas redes sociais.
Os atores negros da novela ganham bem menos. Se a Taís Araújo declarar guerra à Manuela Dias, ela poderia ser banida da TV como aconteceu com o Manoel Soares. Nós pretos precisamos entender que não temos o protagonismo nas decisões e não estamos no poder. Se a Taís Araújo não quer jogar seus 30 anos de carreira no lixo, precisa entender que essa é uma guerra perdida. O melhor que ela pode fazer é não trabalhar mais com essa autora no futuro e avaliar inclusive projetos fora da Globo (streaming), pois como sabemos, as alterações do roteiro (e o esvaziamento do protagonismo de Raquel) eram de ciência e foram aprovadas pela Globo.
Olá Sergio,
Gosto muito da Thais Araújo e concordo com vc , não deram o devido valor que a atriz/personagem merecia. Não acompanho muito a novela embora leio tudo de tv, cinema e etc...Sei que a Debora Bloch brilhou como Odete, mas nunca desmerecer o trabalho de quem é a protagonista. Enfim parece que a novela que esta chegando tem excelentes artistas, vou ver se me empolgo para assistir. Tenha uma sexta feliz.
Gosto sempre de relembrar trajetórias marcantes como a da Taís Araújo. 🌟 Uma atriz de grande talento e carisma, que abriu portas e inspira tantas pessoas com o seu percurso. Adorei o destaque que deste ao seu trabalho!
Com carinho,
Daniela Silva
alma-leveblog.blogspot.com
Espero pela tua visita no meu blog
Pessoalmente, eu acho que isso resulta de dois fatores: Um pouco de má sorte da atriz (que torço para que seja compensada, nos trabalhos futuros). E um tanto de imaturidade dos novos autores de novela. Parece que eles não conseguem ser mais profundos, mais criativos, sei lá...
Beijo e bom fim de semana
Confesso que não sabia! Obrigada pela partilha!
Bjxxx,
Pinterest | Instagram | Subscreve a nossa newsletter
Postar um comentário