Retrospectiva 2023: os destaques do ano

 Após cinco retrospectivas relembrando os artistas que deixaram saudades, os piores do ano, os melhores casais, as cenas mais marcantes e as melhores atrizes e atores de 2023, chegou a hora de listar os destaques do ano que passou. A última retrô do blog é sobre o que mais marcou ao longo destes doze meses e foram vários trabalhos admiráveis que merecem menção. Vamos a eles.

"Vai na Fé": 

A melhor novela do ano. Rosane Svartman estreou como autora solo, após parcerias bem-sucedidas com Gloria Barreto e Paulo Halm, e o resultado foi o melhor possível. A novela elevou a média da faixa das sete em três pontos e o conjunto se mostrou um baita acerto. A história arrebatou o público logo no início e o interesse só foi aumentando ao longo dos meses. A trama teve uma mescla harmônica de dramas pesados envolvendo abuso com conflitos leves envolvendo o universo pop com direito a clipes que fizeram sucesso dentro e fora da ficção, vide as músicas de Lui Lorenzo (José Loreto) que viralizaram nas redes. Com um elenco diverso, onde os atores negros ganharam personagens de destaque e nada estereotipados, a produção emocionou e divertiu na mesma medida com a saga de Sol (Sheron Menezzes) e Ben (Samuel de Assis). O tema de abertura, cantado por Negra Li e MC Liro, fez um baita sucesso e foram muitos os intérpretes que brilharam no enredo, como Emilio Dantas na pele do asqueroso Theo e Clara Moneke, a maior revelação do ano como Kate. Um fenômeno que deixou saudades. 

"Terra e Paixão": 

Nunca duvide de Walcyr Carrasco. O autor emplaca mais um sucesso para chamar de seu, após vários problemas de saúde e um começo conturbado da atual novela das nove. A sua missão era reerguer o horário após o imenso fiasco de "Travessia", mas o início mais lento de seu enredo não agradou o público e a saga de Aline (Barbara Reis) com seus vários pretendentes amorosos acabou irritando a audiência. No entanto, o autor é conhecido por fazer várias mudanças com o intuito de atrair o telespectador e foi isso que fez. Antecipou a morte de Daniel (Johnny Massaro), deu mais destaque aos vilões Antônio e Irene, brilhantemente interpretados por Tony Ramos e Gloria Pires, e promoveu uma sequência de viradas na história que surtiu efeito. Durante o percurso, precisou operar a catarata, fraturou o fêmur e precisou ficar internado no hospital. Mas nada o abalou. Chamou a amiga Thelma Guedes para escrever a trama ao seu lado e a parceria, já vista em "Chocolate com Pimenta" e "Alma Gêmea", funcionou novamente. A dupla agora encaminha o enredo para seus momentos finais e com a audiência lá em cima, tendo alcançado 30 pontos várias vezes. Vale citar ainda a volta de Agatha (Eliane Giardini magistral), uma vilã carismática, que deixou a novela ainda melhor. Fora os outros êxitos, como a saga de Lucinda (Débora Falabella), a dupla Anely (Tatá Werneck) e Luigi (Rainer Cadete), o drama de Petra (Debora Ozório) e o casal Kelvin (Diego Martins) e Ramiro (Amaury Lorenzo). Uma produção que chegou ao capítulo 200 nesta semana e terminará em 2024 com 221 capítulos escritos. Um desafio que não é para qualquer escritor. 

"Todas as Flores": 

A novela de João Emanuel Carneiro foi um fenômeno no Globoplay ano passado e a expectativa para a segunda parte era muito alta. Infelizmente, o resultado frustrou todo mundo. A qualidade não chegou nem aos pés do que foi visto em 2022. Maíra (Sophie Charlotte) não se vingou de ninguém e seguiu passiva até o último capítulo e todos o acontecimentos derradeiros tiveram conclusões péssimas. No entanto, o conjunto da obra foi vitorioso. Tanto que o sucesso da exibição da trama na Globo, no segundo semestre, foi a maior prova. Regina Casé e Letícia Colin fizeram uma dupla impagável na pele de Zoé e Vanessa; Nicolas Prattes viveu seu melhor momento como Diego, Barbara Reis esteve incrível como a víbora Débora; e os conflitos do núcleo central em cima de um esquema de tráfico humano prendeu a atenção do telespectador até o fim. Já os núcleos paralelos foram todos muito ruins e repetitivos, o que comprovou a dificuldade que o autor sempre teve em seus trabalhos anteriores. 

"Altas Horas": 

O programa segue como o mais bem-sucedido da Globo. Serginho Groisman conseguiu renovar um formato que ainda dá certo e alcançou índices significativos de audiência em vários especiais que promoveu ao longo do ano homenageando artistas consagrados. A melhor edição de todas foi a homenagem a Rita Lee. O apresentador já sabia que a cantora estava com um estágio avançado do câncer e fez um lindo programa em cima da sua carreira. Rita chegou a assistir e se emocionou. Vale citar ainda outras edições incríveis, como a despedida da banda Skank, e as homenagens ao Grupo É O Tchan, a Milton Nascimento e a Xuxa. Serginho até conseguiu entrevistar Sandy e Lucas Lima com exclusividade a respeito do término do casal. 

"Xuxa - o documentário": 

O documentário produzido por Pedro Bial foi chapa branca, ou seja, não apresentou qualquer contraponto ao que Xuxa falava. A apresentadora foi colocada como uma grande vítima o tempo todo e seus erros conhecidos foram colocados nas costas de Marlene Mattos, que realmente se mostrou uma pessoa bem questionável. Porém, é inegável o sucesso que a produção fez no Globoplay. Virou assunto nas redes sociais e em qualquer roda de conversa. E o embate final entre Xuxa e Marlene encerrou em alta o documentário, após episódios arrastados e cansativos, principalmente o que abordou sua relação com Ayrton Senna. 

"Os Outros": 

O maior fenômeno do Globoplay em 2023. E a melhor série do ano. A trama de Lucas Paraízo prendeu a atenção do público e a ansiedade pela próxima leva de episódios era grande. A briga de vizinhos, moradores da Barra da Tijuca (RJ), representou com um impressionante grau de realismo o retrato da sociedade brasileira atual, onde o ódio predomina. O elenco, repleto de talento, foi um show à parte, com uma menção especial a Adriana Esteves, Milhem Cortaz, Eduardo Sterblitch, Maeve Jinkings, Drica Moraes, Paulo Mendes, Antônio Haddad, Thomaz Aquino, entre outros. 

"Fim": 

A adaptação do livro homônimo de Fernanda Torres foi uma das melhores produções do segundo semestre. O sucesso que fez no Globoplay honrou a qualidade do enredo de Fernanda e da atuação magistral dos atores. Vale destacar ainda o trabalho minucioso das retratações de cada época, que não eram definidas por datas e sim pelos carros utilizados em cada cena, além dos figurinos e penteados. O processo de caracterização do elenco na velhice também impressionou e o desfecho provocou uma necessária reflexão sobre a finitude e as escolhas que a vida te obriga a fazer. Destaque para Marjorie Estiano, Débora Falabella, Fábio Assunção, Heloísa Jorge, Thelmo Fernandes, Emilio Dantas, Bruno Mazzeo e Laila Garin. 

"Vale o Escrito - A Guerra do Jogo do Bicho": 

O documental de maior sucesso de 2023. Guardado a sete chaves pela equipe do Globoplay, não houve divulgação antecipada por conta do medo de algum dos bicheiros entrevistados tentar proibir a exibição. A série traz detalhes do Jogo do Bicho, prática proibida por lei, mas que e organiza como um negócio de milhões, divididos por territórios e chefiados por núcleos familiares poderosos, cujos líderes viraram patronos de escolas de samba das comunidades que mantêm seus negócios. A forma como todos os contraventores e familiares falam nas entrevistas, sem qualquer constrangimento ou pudor, faz o documentário parecer um derivado de algum filme de gangsters, como o clássico "O Poderoso Chefão". 

"A Vida Pela Frente": 

A série criada por Leandra Leal, Rita Toledo e Carol Benjamin foi uma grata surpresa. Uma história sobre cinco adolescentes que se formam no colégio em 1999 e de lá partem para a vida adulta. Mas o turbilhão de emoções do último ano letivo promove uma avalanche de mudanças na vida de cada um. A produção ainda aborda o tema sensível do suicídio que segue cada vez mais atual, ainda mais nas duas últimas semanas. Flora Camolese, Nina Tomsic, Muse Maya, Henrique Barreira, Lourenço Dantas e Jaffar Bambirra honram o protagonismo e brilham. 

"Cangaço Novo": 

A série produzida pela Prime Video foi um baita sucesso e alcançou grande repercussão por conta dos vários elogios que se proliferaram nas redes sociais, que hoje em dia representam o famigerado 'boca a boca'. Criada por Mariana Bardan e Eduardo Melo, a trama é escrita pelo casal em parceria com Fernando Garrido (roteirista-chefe) e Erez Milgrom. Protagonizada pelos incríveis Allan Souza Lima, Alice Carvalho e Thainá Duarte, a história prende a atenção logo no início e são várias cenas de forte carga dramática, além dos momentos de ação muito bem produzidos. Um infeliz bancário da zona urbana de São Paulo descobre que tem uma herança e duas irmãs no sertão cearense. 

"Encantado`s": 

A série exclusiva do Globoplay, escrita por Thais Pontes e Renata Andrade, estreou ano passado, mas em 2023 foi transmitida pela Globo. E o grande público merecia esse privilégio. Com um elenco onde 90% dos atores são negros, a história que retrata a rotina de uma turma que trabalha em um supermercado ---- que se transforma em quadra de escola de samba à noite ---- é deliciosa e repleta de personagens cativantes. Luis Miranda e Vilma Melo honram o protagonismo, enquanto Neusa Borges, Tony Ramos, Dhu Moraes, Luellem de Castro e Ludmilla Anjos engrandecem o time, além de vários outros destaques, como Evelyn Castro. A produção deu tão certo que uma segunda temporada (que marca a entrada de Eliane Giardini na pele de uma trambiqueira) já foi inteiramente gravada e irá ao ar na plataforma de streaming em fevereiro de 2024 e no segundo semestre deve ir ao ar na Globo. 

"Betinho - no fio da navalha": 

A série do Globoplay, produzida em parceria com o AfroReggae, é baseada na biografia de Herbert de Souza, homem que até hoje é o maior símbolo do combate à fome. Júlio Andrade está impecável na pele do protagonista e o trabalho da caracterização impressiona. A trama mescla informação de utilidade pública com entretenimento de qualidade e o elenco tem ainda vários outros talentos, como Walderez de Barros, Humberto Carrão, Andreia Horta, Leandra Leal, Julia Shimura, entre outros. 

Rosane Svartman: 

O ano de 2023 foi dela. A autora estreou sua primeira novela solo e foi um sucesso arrebatador. "Vai na Fé" caiu no gosto de público e crítica com menos de uma semana no ar. Foi um fenômeno de audiência e repercussão. Mas Rosane não parou por aí. A autora ainda colocou no ar a série "Vicky e a Musa" no Globoplay, o que também rendeu um retorno positivo dos telespectadores. A trama aborda de forma lúdica o mundo da arte sendo explorado através de deuses gregos. E a escritora também lançou o livro "A telenovela e o futuro da televisão brasileira", que teve lotação máxima em todos os dias do lançamento. Mas não é só. Outra produção de Rosane começou a ser gravada, uma série sobre vampiros e lobisomens que estreia no Globoplay em 2025, escrita em parceria com Claudia Sardinha. Chamada inicialmente de "Lua Vermelha", a trama agora ganhou o estranho nome de "Espécie Invasora". E ainda tem mais: Svartman está produzindo um novo filme cujo título é "Câncer com Ascendente em Virgem". Como trabalha! 

Reprise de "Força de um Desejo" no Viva: 

A novela de Gilberto Braga, Alcides Nogueira e Sérgio Marques foi uma excelente escolha do canal pago e quem viu ou reviu a trama não se arrependeu. Uma novela repleta de qualidades e com um refinamento de dar gosto, tanto nos figurinos quanto no texto. Considerada um fracasso na época em que foi exibida (1999), a trama sofreu uma grande injustiça do público. Os mocinhos foram muito bem interpretados por Fábio Assunção e Malu Mader e a vilã da grande Nathalia Timberg arrebatou. O enredo ainda foi muito bem desenvolvido e a obra não teve barriga (período de enrolação), o que era algo comum na teledramaturgia. Vale destacar ainda a ótima surpresa da revelação do verdadeiro assassino no último capítulo, o que destacou o talento de Denise Del Vechio.

Reprise de "Mulheres Apaixonadas": 

Em 2023, um dos maiores sucessos de Manoel Carlos completou 20 anos e a Globo acertou em cheio ao reprisá-la no "Vale a Pena Ver de Novo". A audiência foi menor que a da reprise anterior, o fenômeno "O Rei do Gado", mas a história que nunca saiu da memória do público teve uma ótima repercussão nas redes sociais a ponto da emissora aproveitar o burburinho para colocar atores da trama em seus programas, vide a participação de Helena Ranaldi no "Encontro". Apesar das situações que envelheceram mal, continua sendo um novelão da melhor qualidade. 

"Domingão com Huck": 

Após um início conturbado, afinal, não é tarefa fácil substituir Faustão aos domingos, o programa entrou nos eixos e virou uma das melhores atrações da Globo. Luciano acertou em manter a "Dança dos Famosos" e outros quadros de sucesso, como "The Wall" e "Quem Quer Ser um Milionário?", que finalmente deu um milhão de reais na última edição do ano. Vale citar ainda os bons momentos da "Batalha do Lip Sync".

"Som Brasil": 

O clássico programa estreou em 1981, mas saiu e voltou ao ar inúmeras vezes ao longo das décadas. Desde 2022, a atração está com um novo formato comandado por Pedro Bial e a edição de 2023 teve várias edições incríveis homenageando Sandy, Alcione, Chitãozinho e Xororó, Milton Nascimento, Titãs e Zeca Pagodinho. 

"Angélica: 50 & Tanto": 

O programa em comemoração aos 50 anos de Angélica foi uma grata surpresa. Em cinco episódios, Angélica conversa com convidadas que são suas amigas e fazem parte de sua via sobre temas específicos, como "Trabalho", "Fama", "Mulher", "Vida" e "Tempo". O bate-papo é tão gostoso que dá para maratonar sem sentir. Eliana, Xuxa, Susana Vieira, Carolina Dieckmann, Ivete Sangalo, Marina Ruy Barbosa, Paolla Oliveira e Anitta são algumas das entrevistadas. 

"Ritmo de Natal": 

Uma grata surpresa de fim de ano. O filme marca o início de uma parceria dos Estúdios Globo com o Globoplay para a produção de longas nacionais. Dirigida por Allan Fiterman e roteirizada por Juan Julian e Leonardo Lann, a trama é protagonizada por Clara Moneke e Isacque Lopes e o elenco é majoritariamente negro. Taís Araújo, Vilma Melo, Guthierry Sotero, Nina Tomsic, Teca Pereira e Paulo Tifenthaler são outros destaques da deliciosa história que tem todos os ingredientes de um bom filme de Natal. 

Foram seis retrospectivas até aqui e nada melhor do que terminar o ano relembrando tudo o que foi bom no mundo televisivo e do streaming. Todas as produções esbanjaram qualidade e conquistaram o público. Esta é a última postagem do blog em 2023 e desejo aos leitores (tanto os que comentam quando os que apenas leem os textos) um 2024 com muita saúde, paz, realizações e prosperidade. Que ano que vem mais novelas, séries e programas atrativos sejam produzidos para o bem dos telespectadores e do audiovisual brasileiro. Feliz Ano Novo!