Aguinaldo Silva nunca teve papas na língua. O autor é conhecido pelas suas opiniões sinceras sobre diversos assuntos, incluindo o trabalho de seus colegas. Não por acaso, vários jornalistas tentaram de toda maneira extrair alguma declaração sua a respeito do remake desastroso de "Vale Tudo". Até porque ele também é o único escritor vivo da obra original. Mas as poucas falas sobre o assunto foram genéricas e discretas. Só que agora, através da excelente "Três Graças", que assina junto com Zé Dassilva e Virgílio Silva, é possível observar tudo o que o escritor achou da adaptação de Manuela Dias.
Há diversas situações da atual novela das nove da Globo, dirigida com brilhantismo por Luiz Henrique Rios, que alfinetam de forma sutil a produção anterior que chegou ao fim há menos de dois meses. O autor tem uma maneira espirituosa e sofisticada de transformar o remake em combustível criativo. Em vez de cair na armadilha fácil de ataques diretos ou grosseiros, a nova trama usa o fiasco alheio como lente de aumento para refletir sobre a própria teledramaturgia brasileira: seus exageros, suas repetições, e promessas de reinvenção que muitas vezes fica apenas no 'release'.
Aguinaldo, Zé e Virgílio criaram um novelão clássico, onde um novelo vem sendo desfeito aos poucos, sem atropelos, e com uma estruturação que engrandece a narrativa e os personagens, ou seja, tudo o que o remake não teve.