sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

"Mulheres Apaixonadas" completou 20 anos como uma das obras mais emblemáticas da TV

 Exibida entre 17 de fevereiro e 10 de outubro de 2003, "Mulheres Apaixonadas" foi a última grande novela de Manoel Carlos. O autor, que se equivocou com "Páginas da Vida" (2006), "Viver a Vida" (2010), e "Em Família" (2014), escreveu uma trama que foi um enorme sucesso e entrou para a galeria de grandes folhetins da teledramaturgia. A reprise no "Vale a Pena Ver de Novo", que chegou ao fim nesta sexta-feira (01/12)), não alcançou índices tão elevados quanto a reexibição anterior de "O Rei do Gado", mas despertou uma grande repercussão nas redes sociais e comprovou novamente que foi uma das obras mais emblemáticas da TV.


Após novelas excelentes, como "História de Amor" (1995), "Por Amor" (1997) e "Laços de Família" (2000), Maneco conseguiu emplacar uma quarta trama de sucesso seguida e surpreender o telespectador através de uma obra tão boa quanto as anteriores. O folhetim apresentou uma gama de histórias repletas de dramas envolventes e ainda presenteou o público com personagens muito bem construídos. O elenco também era um dos pontos fortes. Difícil apontar algum ator que não tenha ido bem em meio a tantos grandes nomes.

Todos os núcleos tiveram destaque, onde temas fortes e muitas vezes emocionantes permeavam os conflitos e os dramas dos personagens. Difícil esquecer o ciúme doentio de Heloísa (Giulia Gam em seu melhor papel na carreira); a bonita relação de Téo (Tony Ramos) com a menina Salete (Bruna Marquezine); o alcoolismo de Santana (Vera Holtz); o romance de Clara (Alinne Moraes) e Rafaela (Paula Picarelli) ---- com uma abordagem bem mais corajosa em comparação a hoje em dia diante do retrocesso que a teledramaturgia da Globo vive ----; o preconceito de Paulinha (Roberta Gualda); o agressivo psicopata
Marcos (Dan Stulbach), que espancava constantemente sua mulher (Raquel - Helena Ranaldi); a virgindade de Edwiges (Carolina Dieckmann); a malícia de Gracinha (Carol Castro) e a crueldade com que Dóris (Regiane Alves) tratava seus avós (Leopoldo - Oswaldo Louzada e Flora - Carmen Silva).


Também havia o romance proibido dos primos Luciana (Camila Pitanga) e Diogo (Rodrigo Santoro) para o desespero de Marina (Paloma Duarte); a diferença de idade no relacionamento de Lorena (Susana Vieira) com Expedito (Rafael Calomeni); a maldade da avó de Salete (Inês - Manoelita Lustosa); o amor platônico que a ricaça Estela (Lavínia Vlasak) sentia pelo padre Pedro (Nicola Siri); os dramas de Helena (Christiane Torloni) ---- que se dividida entre a sua escola e seus problemas familiares, incluindo um amor mal resolvido por César (José Mayer) ----; a rebeldia de Rodrigo (Leonardo Miggiorin); o sofrimento de Hilda (Maria Padilha) ao descobrir um câncer de mama; o caso que Silvia (Natália do Vale) tinha com o taxista marido da empregada; o amor que Carlão (Marcos Caruso) sentia pelos seus pais e suas eternas brigas com a filha Dóris; o romance que Raquel tinha com seu aluno (Fred - Pedro Furtado); o amor que a médica Laura (Carolina Kasting) sentia pelo seu colega César; enfim, o que não faltou foi drama e algumas situações que envelheceram mal hoje em dia.


A novela foi marcada pelas cenas fortes e grandes interpretações. É impossível citar todas, mas é preciso destacar a morte de Fernanda (ótima Vanessa Gerbelli), que faleceu em virtude de uma bala perdida, em uma cena que entrou para a história da teledramaturgia. Todas as sequências envolvendo o alcoolismo de Santana também merecem ser citadas devido ao extraordinário desempenho de Vera Holtz, assim como os fortes conflitos que Dóris tinha com seus avós e o pai. As duas surras de cinto que Carlão deu na filha, por conta das humilhações sofridas por Leopoldo e Flora, foram antológicas. Já a ousada e aterrorizante cena da morte de Marcos e Fred caindo de carro em um penhasco resultou em um momento que ninguém mais esqueceu. 


A interpretação magistral de Giulia Gam foi outro destaque que merece menção. Sua Heloísa virou uma das melhores personagens da trama graças ao desempenho da atriz, que deu um show em todas as cenas. Vale lembrar ainda o momento em que Heloísa foi ao M.A.D.A. (Mulheres que Amam Demais) fazer terapia de grupo para tentar curar o ciúme doentio que sentia pelo marido Sérgio (Marcello Antony). Os conflitos que Rodrigo (Leonardo Miggiorim) tinha com seu pai César --- o garoto não perdoava o pai, que traía a mãe, que veio a falecer --- também eram ótimos e densos. A briga no velório da mãe, em meio a um forte temporal, por exemplo, foi a cena mais forte deles.


É preciso também destacar todos os momentos do psicopata Marcos, incluindo as inesquecíveis e chocantes surras de raquete que dava em sua esposa. Dan Stulbach ganhou seu melhor personagem da carreira e dificilmente interpretará algum outro mais intenso. Vale colocar como melhor cena a que Marcos quebra, com uma raquete, todo o quarto do hotel onde está, em meio a uma ópera ("As Quatro Estações", de Vivaldi) que amava escutar. Helena Ranaldi também brilhou absoluta como Raquel e viveu seu melhor momento na carreira ao lado do colega.


E não há como relembrar o folhetim sem citar o grande trabalho de Bruna Marquezine, que estreava na televisão na pele da sofrida Salete. A menina emocionou o Brasil e o drama daquela criança, que perdeu a mãe de forma trágica e ainda ficou sob os cuidados de uma avó cruel, envolveu o telespectador. No final, a cena onde Téo constatou, através de um exame de DNA, que era o pai da garota foi emocionante. Tony Ramos, aliás, foi grandioso do início ao fim. Seu personagem, um saxofonista de personalidade controversa, foi brilhantemente interpretado por ele.


Todavia, como toda obra de Maneco, há várias situações problemáticas. O envolvimento de Raquel e Fred, a professora com um aluno menor de idade, seria muito questionado hoje em dia. Assim como toda a romantização em torno do interesse que Raquel subitamente sentiu pelo rapaz, até envolvê-lo por completo. E o que dizer da cena final com a professora contando a todos na formatura que tinha engravidado do aluno e sendo aplaudida? A abordagem sobre o ciúme de Heloísa foi um bom merchandising social, mas 20 anos depois, o público jamais aceitaria a forma como Sérgio (Marcello Antony) foi retratado. O marido vivia cortejando todas as mulheres e tratava a esposa como lixo. Heloísa ainda era provocada constantemente. Outra caso que geraria controvérsia era a forma como Carlinhos (Daniel Zettel) se relacionava com Zilda (Roberta Rodrigues). O que era "normal" em 2003, hoje seria visto como assédio e com razão. Já sobre um problema detectado na época e que não se alterou com o tempo foi a fraca história de Helena. Torloni brilhou como de costume, mas a personagem passou a novela inteira correndo atrás de César e dando conselhos para os outros. Acabou ofuscada pelos núcleos paralelos.


A novela ainda teve uma grande importância na história do Brasil. Isso porque foi a responsável pelo levantamento de discussões muito sérias que acabaram virando leis, como o caso do "Estatuto do Idoso". A lei, que regula os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, foi sancionada pelo Presidente Lula em 1° de outubro de 2003, poucos dias antes da trama sair do ar, por conta das cenas em que Dóris maltratava seus avós. A sequência protagonizada por Fernanda e Teo sendo baleados em pleno Leblon também ajudou muito no debate a respeito da violência e houve até uma mistura de ficção com realidade quando parte do elenco da trama participou de uma passeata pela paz, o que impulsionou a aprovação do Estatuto do Desarmamento. E o enredo de Raquel também trouxe para as rodas de conversa o absurdo da então ausência de uma maior punição para os homens agressores, que pagavam apenas algumas cestas básicas ou faziam serviços comunitários. A Lei Maria da Penha, no entanto, demorou mais para ser sancionada (apenas em 2006, três anos após o término da produção). 


"Mulheres Apaixonadas" foi uma novela marcante e fez um estrondoso sucesso em 2003. Com um autor inspirado, um elenco bem escalado, personagens em sua maioria bem construídos e uma história que conquistou o público através de dramas intensos, a última excelente novela de Manoel Carlos deixou saudade e mereceu a reprise no "Vale a Pena Ver de Novo" em comemoração aos seus 20 anos. Quem viu de novo certamente não se arrependeu. 


18 comentários:

Anônimo disse...

Também quis vim concordar sobre a Helena ofuscada. Em Mulheres apaixonadas é mais fácil se lembrar das tramas paralelas como Raquel e Dóris do que da própria Helena, diferente das antecessoras como "Por Amor" e "Laços de Família" que você lembra realmente da Helena!

Anônimo disse...

É impossível alguém se lembrar de "Mulheres Apaixonadas" (2003) e não nutrir um enorme carinho por vários elementos do conjunto da obra: as tramas marcantes de vários personagens, sobretudo dos femininos; a primorosa trilha sonora; as sequências muito bem dirigidas; e as interpretações irretocáveis do elenco criteriosamente escalado. Embora também seja bastante válido detectar situações que envelheceram mal ou eram inadmissíveis até para a época original de exibição do folhetim. Sérgio, uma vez você tweetou que o núcleo da Escola Ribeiro Alves ofuscava os perfis centrais de "Malhação" (2003). Realmente, apenas a trilha sonora (a minha preferida de todas as já lançadas a embalarem o seriado adolescente) salvava a temporada de um total desastre, mesmo com o esforço dos intérpretes.

Guilherme

Maria Rodrigues disse...

Para completar 20 anos tem de ser realmente uma novela bem especial.
Abraços e bom fim de semana

FABIOTV disse...

Olá, tudo bem? Mulheres Apaixonadas é a minha novela preferida do autor Manoel Carlos. Abs, Fabio www.blogfabiotv.blogspot.com.br

J.P. Alexander disse...

Genial te mando unb eso.

Ane disse...

Torcendo que hoje em dia a gente tenha novelas
tão boas como "Mulheres Apaixonadas."
Ane/De Outro Mundo 🌷

Teresa Isabel Silva disse...

Lembro-me de ouvir falar dessa novela, mas confesso que não conhecia muitos detalhes sobre ela!

Bjxxx
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Anônimo disse...

E engraçado o gostosinha que resulta a novela, inclusive essa com a maioria das temáticas envelhecendo como leite. Prova de que a pesar do que se acredita a moral e a ética não são medição para estética.

Jovem Jornalista disse...

Uma novela inesquecível. Acredito que não foi apenas Helena a protagonista, mas várias mulheres, com seus amores e dramas.

Boa semana!

O JOVEM JORNALISTA está no ar cheio de posts novos e novidades! Não deixe de conferir!

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Até mais, Emerson Garcia

Sérgio Santos disse...

Exato, anonimo.

Sérgio Santos disse...

Concordo com voce, Guilherme. E que trilha!

Sérgio Santos disse...

Abçs, Maria.

Sérgio Santos disse...

Abçs, Fabio.

Sérgio Santos disse...

Bj, JP.

Sérgio Santos disse...

Bjs, Ane.

Sérgio Santos disse...

Tudo bem, Teresa. bjs

Sérgio Santos disse...

Nao entendi, anonimo.

Sérgio Santos disse...

Boa semana, Emerson.