quarta-feira, 2 de agosto de 2023

Irretocável como Theo, Emilio Dantas viveu seu melhor papel em "Vai na Fé"

 A faixa das sete da Globo não é conhecida por ter grandes vilões nas novelas. Como são histórias mais leves e quase sempre voltadas para a comicidade, a vilania acaba mergulhada no humor ou sem força na narrativa. Mas há exceções, como o caso de Rosane Svartman. A autora nunca teve medo de criar personagens densos e até assustadores. Foi assim em "Totalmente Demais" e "Bom Sucesso", ambas escritas com o talentoso Paulo Halm, e é em "Vai na Fé", já em plena reta final. 

Theo é o grande vilão da atual novela das sete de sucesso e Emílio Dantas vem se destacando desde a primeira semana de trama. O personagem é um poderoso empresário que aumentou os recursos que tinha com o bom casamento que fez com a agora ex-esposa, Clara (Regiane Alves), e utilizou a Bastos Imports para sonegar impostos através de contrabandos realizados pelo parceiro, Orfeu (Jonathan Haagensen). Os crimes praticados no trabalho ainda são até poucos comparados aos cometidos em sua vida particular. Quando jovem, embebedou e abusou sexualmente de Sol (Jê Soares), por conta da obsessão que sempre nutriu por Benjamin (Samuel de Assis), seu amigo de infância. O abuso ainda resultou em uma filha, Jenifer (Bella Campos)

Aliás, a relação que nutre a amizade (agora rompida definitivamente) entre mocinho e vilão tem a essência do que ocorria com Flora (Patrícia Pillar) e Donatela (Cláudia Raia), em "A Favorita", de 2008, onde a vilã aterrorizante demonstrou que todo aquele ódio que sentia pela ex-dupla sertaneja na verdade era um misto de obsessão, inveja e amor. Theo sente tudo isso por Ben. Embora pareça absurdo ter o amor entre os sentimentos citados, em várias situações o personagem demonstrou profunda dor apenas com a possibilidade da perda do 'amigo'.

No início da trama, quando o protagonista sofreu um grave acidente de moto, o desespero do vilão foi até maior que o de Lumiar (Carolina Dieckmann), então esposa do advogado. Ainda houve outro momento de preocupação do canalha quando Ben se colocou como refém durante um assalto para proteger a mãe e a irmã. Claro que parte do medo se dá porque Theo não sabe viver sem ter aquele alvo para invejar. Vem desde a adolescência. O que seria de sua vida sem o Benjamin para nutrir sua obsessão? 

E voltando aos horrores praticados por Theo em sua intimidade, teve o relacionamento abusivo com Clara. Os vinte anos de casamento foram dominados por um homem controlador, machista e violento. O vilão transformou a esposa em uma mulher submissa e tão machista quanto ele a ponto de não perceber as várias violações que sofria, inclusive sexuais. Foram muitas cenas em que Theo impunha sua vontade para transar com Clara e o incômodo visto na expressão da mulher deixava subentendido o estupro. Muita gente até hoje nem acha que exista estupro entre duas pessoas casadas e a novela serviu para alertar a questão, entre tantas outras abordadas no enredo. O empresário também cometia constantes abusos psicológicos com o filho, Rafael (Caio Manhente), o que influenciou bastante no estágio depressivo do garoto. 

Ao longo da novela, foi sendo exposto um padrão comportamental de Theo em cima de suas vítimas: todas negras e com o biotipo de Sol. O caso mais escancarado foi quando se relacionou com Kate (Clara Moneke) e fez de tudo para transformá-la em Solange. As cenas eram sempre angustiantes, mesmo sem muitas situações explícitas. Havia uma preocupação pela questão do horário, mas a autora conseguia transmitir a mensagem sem dificuldades. O cuidado, tanto na escrita quanto na direção, foi um dos vários êxitos do folhetim e a atuação de Emilio Dantas é digna de todos os elogios possíveis, ainda que pareça redundante. Afinal, o ator vem protagonizando uma cena melhor que a outra e consegue imprimir até um tom cômico em determinados momentos, o que faz o telespectador se sentir culpado por achar graça em um sujeito tão monstruoso. Ao mesmo tempo é muito verossímil porque ninguém é uma coisa só e a intenção de Rosane Svartman sempre foi essa: colocar um abusador como uma pessoa próxima e não aquele ser estereotipado que persegue mulheres em ruas escuras segurando uma faca ou aparece na internet na figura de um idoso com a blusa desabotoada. Theo é aquele amigo do trabalho que sempre te tratou bem, aquele cara gente boa que conta piadas bestas em alguma reunião familiar ou o homem que nunca recebeu qualquer crítica sobre sua conduta com as mulheres. 

Emilio Dantas está interpretando o seu melhor papel na carreira, o que implica na melhor fase do ator na televisão. Theo é um vilão que reúne todos os defeitos possíveis de um ser humano ao mesmo tempo que transborda carisma e humor ferino. O sujeito provoca desprezo em quase todos os momentos e diverte em outros através de um deboche irresistível, mas também tem seus instantes de fragilidade emocional quando solta a voz no Karaokê. É um demônio que canta. E canta bem. Como pode a reunião de tais características em um tipo só sem soar artificial? É um resultado da soma da criação de Rosane Svartman com a construção precisa do intérprete. Uma junção vitoriosa e que veio em uma crescente. Não por acaso a repercussão em cima do personagem (e de toda a novela) é digna de horário nobre. Aliás, o empresário se mostrou muito mais assustador do que o invejoso Pedro e o traficante Rubinho, outros dois vilões de sucesso do ator em "Além do Tempo" (2015) e "A Força do Querer" (2017), respectivamente. 

"Vai na Fé" se encaminha para o seu desfecho, mas a novela de Rosane Svartman nunca mais sairá da memória do público e uma das eternas lembranças dessa arrebatadora história é a vilania de Theo somada ao desempenho irretocável de Emilio Dantas. 

13 comentários:

Anônimo disse...

Todos saem vencendo pela habilidade no delineamento de personagens de sucesso de obras audiovisuais, especialmente os autores, diretores e intérpretes. Theo (Emilio Dantas), de "Vai Na Fé", é um perfil que impressiona pela verossimilhança, somada ao uso comedido das licenças dramatúrgicas. Um entre tantos acertos que um folhetim pode e/ou deve apresentar.

Guilherme

Anônimo disse...

O theo herdou a empresa do pai dele

Anônimo disse...

Por isso borges impots era o sobrenome do pai dele

Denise Crivelli disse...

Oi
Odeio o personagem Theo, mas o Emilio está ótimo no papel.
Eu vou sentir saudades da novela quando ela acabar esse mês.

https://momentocrivelli.blogspot.com/

Marly disse...

Esse Theo precisa muito de uma terapia! rsrs. Por outro lado, acho legal que se aborde temas como o machismo, o abuso das mulheres e outros, muito presentes em nosso dia-a-dia.

Beijão

Anônimo disse...

A relação de obsessão do Theo com o Ben não pode ser comparado com que o Lobão tinha pelo Gael que é uma novela da mesma autoria?


Sérgio vc não acha que está na hora da Rosane ir para o horário nobre?

Jovem Jornalista disse...

Um dos grandes atores da atualidade! Gosto muito da atuação dele.


Boa semana!

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Até mais, Emerson Garcia

Sérgio Santos disse...

Impressiona mesmo, Guilherme.

Sérgio Santos disse...

Corrigi, anonimo.

Sérgio Santos disse...

Está mesmo, Denise.

Sérgio Santos disse...

É mt importante, Marly!

Sérgio Santos disse...

Pode ser comparado sim, anonimo. E nao quero isso pra Rosane nao, lá a cobrança é infernal.

Sérgio Santos disse...

Abçs, Emerson!