quarta-feira, 22 de novembro de 2023

Heloísa foi inocentada pelo tempo em "Mulheres Apaixonadas"?

 Novelas refletem o comportamento da sociedade e por isso algumas envelhecem mal e outras se mantêm atual. A importância da teledramaturgia para expor a evolução do comportamento das pessoas é grande. E as novelas de Manoel Carlos sempre rendem boas discussões justamente por refletirem o comportamento que o público tinha na época. Mas vale uma reflexão a respeito da condução de uma personagem: Heloísa, interpretada por Giulia Gam, na produção reprisada no "Vale a Pena Ver de Novo". 


O perfil foi um dos mais emblemáticos de "Mulheres Apaixonadas". O que mais caracterizava o título da novela, por sinal. Mas hoje em dia é possível observar a forma equivocada como o conflito acabou desenvolvido pelo autor. Heloísa é uma clássica ciumenta doentia. Insegura e grosseira, a irmã de Helena (Christiane Torloni) tem um sentimento de posse pelo marido, o cafajeste Sérgio (Marcello Antony). Controladora, a personagem vive em função do esposo e até fez uma laqueadura escondida para não correr o risco de engravidar e assim dividir a atenção do companheiro, ainda que seja com um filho. 
É evidente que se trata de uma mulher psicologicamente doente. Tanto que passa de todos os limites em vários momentos. Já tentou se matar, capotou seu carro e colocou a sua vida e a de uma amiga em risco durante um surto de ciúmes e chegou até a esfaquear o marido durante uma discussão. Cenas brilhantemente defendidas por Giulia Gam.O maior acerto desta trama foi a inserção do grupo "MADA" (Mulheres que Amam Demais Anônimas). A personagem, após muita resistência, aceitou participar das reuniões de mulheres que confessam seus dramas mais íntimos e que destroem suas relações. Na época, em 2003, houve um grande crescimento na procura da rede de apoio. O chamado 'merchandising social' foi de suma importância. 

Porém, várias situações criadas pelo autor com o intuito de expor Heloísa como uma louca surtada soam machistas vistas ao olhos de hoje. Vidinha (Júlia Feldens) dá em cima de Sérgio descaradamente, assim como Dóris (Regiane Alves), e amam provocar a esposa do 'garanhão'. Qualquer mulher no lugar de Helô não toleraria o deboche. E o marido não só aceita as cantadas como 'dá corda'. Mas as duas sempre são colocadas como corretas na situação, assim como Sérgio. Já a esposa fica na posição de desequilibrada. A própria 'reconciliação' com o esposo foi desdobrada para 'vilanizar' Heloísa. Afinal, após uma facada no braço seria quase impossível Sérgio aceitar uma volta. Mas ele aceita. O problema é que se mostra frio e grosseiro com a mulher em casa. Claramente não suporta estar ao seu lado. Então qual a razão da volta? Apenas mostrar como a mulher é inconveniente e chata. 

Outro apelo de Maneco para despertar a antipatia do público por Heloísa é colocá-la destratando os empregados e xingando o porteiro do prédio. Também mostrá-la sendo desagradável com todos ao seu redor, incluindo as irmãs Helena e Hilda (Maria Padilha). E funcionou na época. O telespectador odiava a personagem. Já Sérgio nunca foi responsabilizado por nada. Era visto como a grande vítima e seu comportamento com as outras mulheres nem tinha qualquer questionamento. Fruto, claro, do machismo entranhado da época. Até Leandro (Eduardo Lago), marido de Hilda, era grosseiro e amava provocar Heloísa, mas quando a cunhada se descontrolava era vista como perturbada. 

O casamento de Helô e Sérgio acaba de vez quando a personagem tenta matar Vidinha atropelada. E o desequilíbrio da irmã mais nova de Helena vai piorando cada vez mais. Já Sérgio é visto sempre como a vítima e ainda é 'recompensado' no final ao lado de Vidinha, a 'jovem' que o cortejou durante a história inteira. 

É sempre um prazer rever "Mulheres Apaixonadas" e não há como negar que Helô foi um dos mais papéis mais marcantes da novela. Giulia Gam saiu consagrada. Mas é interessante observar, 20 anos depois, como uma abordagem até então vista como maravilhosa foi tão controversa na época, sem maiores questionamentos. Ou seja, Heloísa foi inocentada pelo tempo? A resposta fica por conta de cada um; no entanto, a personagem era desequilibrada, mas tinha seus motivos. 

8 comentários:

Anônimo disse...

Ela tem um lado escroto. A forma que fala do Lucas é repugnante. Ela não tem respeito por uma criança e nem tem empatia por nenhuma das irmãs. Chega a ser cruel e maldosa muitas vezes. Mas como você colocou no texto o autor apelou para a personagem ser detestada por todos na época. E em 2003 esse objetivo foi atingido com louvor. Mas as reprises expuseram a trajetória propositalmente machista do Maneco e da época, claro.

Anônimo disse...

Mas o Lucas era repugnante mesmo. Parem de normalizar que toda criança é perfeita.

Jovem Jornalista disse...

Realmente uma personagem memorável.

Boa semana!

O JOVEM JORNALISTA está no ar cheio de posts novos e novidades! Não deixe de conferir!

Jovem Jornalista
Instagram

Até mais, Emerson Garcia

Um Pouco de Críticas. disse...

Não se trata de normalizar que crianças são perfeitas. O que tem que ser normalizado é que crianças são seres inocentes e ninguém tem que ficar rotulando. Ainda mais com esses adjetivos toscos. Se uma irmã minha desrespeitasse um filho meu como a Heloísa faz com o Lucas eu seria capaz de cortar relações com a infeliz sem pensar duas vezes. Acho asqueroso rotular crianças que são seres inocentes. Mas como eu escrevi, o Manoel Carlos apelou para a Heloísa ser detestada. Juntamente com a forma que ela tratava os empregados. A intenção do autor era deixar a personagem insuportável para facilitar o ranço do público. Só que hoje em dia se percebe tudo isso.

Anônimo disse...

Que Heloísa (Giulia Gam) era instável, isso é constatado em todas as exibições de "Mulheres Apaixonadas" (2003). Porém, muitos outros personagens eram afetivamente irresponsáveis não apenas para com Heloísa, mas também para com outras mulheres da novela, como por exemplo, Helena (Christiane Torloni), Fernanda (Vanessa Gerbelli) e Marina (Paloma Duarte). Consequência do machismo normalizado por tantos anos inclusive na teledramaturgia. Felizmente temos Lícia Manzo para vingar em suas obras todo o tempo de tolerância a esse comportamento. Só uma correção, Sérgio: a intérprete de Vidinha não é a Júlia Feldens, e sim a Júlia Almeida, filha de Manoel Carlos.

Guilherme

Anônimo disse...

Vou à falar a coisa mais controvérsia aqui, porque é preciso olhar num campo mais ampliou: a globo ta fechada mas a diferença do que se pensa não por causa de Amauri. A contrario da opinião as ultimas eleições provarem que o pais esta dividido e a globo a acordado em medio de um pesadelo de realidade "a direita também asiste televisão e é um espectador em potência", a globo esta fazendo o que pode para sobreviver num período de autênticas vacas magras e para atraer novos consumidores. A nova direção vem num consenso dos propios accionistas que si desejarem podiam parar a Amaury, o problema é que ao final do dia e o espectador quem paga a emisora aberta. A globo ja tem um camino distinto da disney que não se da conta de seus errores. Se a emisora perde e os estudios, os chefes não vão a perder dinheiro vão a despedir gente dos subúrbios e a clase trabalhadora e ao final ja não seriam apenas os beijos de novela sino muita gente desempregada. E aí e onde radica o grande problema a questão etica e moral é mais amplia. Beijos gay na televisão o gente da vida real na rua?
Daniele

Santos Barreto disse...

Se fosse só a Heloísa...
novelinha misógina; vulgar; datada; inimiga do roteiro e barriguda loop infinito.
Ainda bem que vem uma novela de catiguria que provavelmente vai sofrer rejeição dessa raça maldita chamada Cuzil que almoça merda; lancha farinha e janta Walcyr.

Chaconerrilla disse...

Acho que ao invés de inocentar a Heloísa, essa reprise condenou todo mundo KKKKK