sexta-feira, 21 de julho de 2023

Morte de Dora resulta na sequência mais emocionante de "Vai na Fé"

 A menos de um mês de seu fim, "Vai na Fé" já começa a deixar saudades e a fechar o ciclo de alguns personagens. Um dos desfechos mais esperados era o de Dora (Cláudia Ohana), justamente porque a morte da mãe de Lumiar (Carolina Dieckmann) não tinha como ser evitada e a curiosidade sobre como Rosane Svartman desenharia a despedida era muito grande. A cena foi ao ar nesta quinta-feira (20/07) e promoveu um espetáculo de beleza, sensibilidade e emoção. 

A personagem era a mais de bem com a vida da história. Dora procurava ver sempre o lado bom de tudo e tinha uma frase motivacional para qualquer pessoa que conhecia. Um perfil que corria o risco de ser insuportavelmente chato, o chamado 'good vibes'. Mas Claudia Ohana driblou todas as armadilhas do papel e fez daquela mulher um poço de carisma e afetividade. Até porque a química com Zecarlos Machado funcionou desde o início e dava gosto de ver a relação bem resolvida entre Dora e Fábio. 

A descoberta de um câncer em estágio avançado ocorreu perto da metade da trama e iniciou um importante debate a respeito dos cuidados paliativos, tema bem pouco abordado na teledramaturgia. Ao invés de iniciar uma quimioterapia somada a uma radioterapia para tentar uma cura impossível, o médico sugeriu o tratamento para proporcionar uma qualidade de vida nos últimos meses da personagem.

"A morte é um dia que vale a pena viver: E um excelente motivo para se buscar um novo olhar para a vida", livro de Ana Claudia Quintana Arantes, foi a fonte de inspiração para a trajetória final de Dora. O mesmo livro também serviu de instrumento para Rosane contar a saga de Alberto (Antônio Fagundes), em "Bom Sucesso", outra novela das sete de sucesso que a autora escreveu ao lado do parceiro Paulo Halm. 

A partir da triste descoberta, a personagem passou por todos os estágios da doença, desenvolvidos com cuidado e verossimilhança. Aquela alegria de viver cedeu lugar a um olhar mais triste e distante, ainda que o sorriso tenha permanecido na maior parte das vezes. Já nos últimos dias, a mudança de humor se fez presente e quem precisou cuidar de parentes enfermos reviveu vários momentos com as cenas. O processo de caracterização também ajudou nas sutis mudanças que Claudia Ohana compôs para a partida cada vez mais próxima de Dora, como uma aparência mais abatida e olheiras. 

A personagem teve vários desejos realizados por conta dos amigos, como a 'antecipação' do Natal, um show especial de Lulu Santos e até participação no filme "Fumaça Macabra", protagonizado pela ex-rival Wilma Campos (Renata Sorrah). Todas as cenas foram muito delicadas e de bom gosto. Mas a sequência da partida conseguiu surpreender e emocionar ainda mais o público. Enquanto Fábio lia um trecho do livro de Ana Claudia, imagens da piora do estado de saúde de Dora eram exibidas, até mostrá-la na cama se despedindo da filha. 

O trecho escolhido para representar o adeus da personagem encerrou a trajetória de Dora de uma forma linda: "Os orientais nos falam dos quatro elementos da natureza: terra, água, fogo e ar. Também somos feitos deles. Quando morrermos ocorrerá a dissolução dos elementos que compõem nosso corpo. Se pensarmos na dissolução da terra, é óbvio que se trata da solução física, concreta. O corpo começa a se desintegrar, com dificuldades de locomoção. Depois virá a dissolução da água. A pessoa tende a ficar mais introspectiva, para dentro de si e da própria vida. Encarar com honestidade o caminho percorrido. A dissolução do fogo é quando cada uma das células tem consciência que o tempo está acabando. Mas há ainda tempo de vida. É a famosa visita da saúde. A pessoa tem a chance de mostrar ao mundo o que a trouxe até aqui: amor. Nada pode ser mais íntimo do que compartilhar com alguém o processo ativo de morrer. Nem sexo, nem beijo e nem confidências. Começa então a dissolução do ar. Teremos que devolver o sopro vital que nos foi dado por Deus, seja qual for a sua religião, e ele sairá pelo mesmo caminho por onde entrou." 

Após o delicado adeus, houve uma celebração enquanto Fábio jogava as cinzas da esposa em volta de uma muda de árvore, bem no quintal da casa deles. Lui Lorenzo (José Loreto) cantou "Beija-Flor", sucesso do grupo Timbalada, e realizou o último desejo de Dora: um Carnaval. Só que uma festa sem euforia e com boa dose de delicadeza e emoção. O cantor foi acompanhado por Lumiar, Ben (Samuel de Assis), Wilma, Sol (Sheron Menezzes), Vitinho (Luis Lobianco), Guiga (Mel Maia) e todos os presentes. Os atores brilharam. Lembrou bastante o velório do genial José Celso Martinez, que partiu recentemente e também recebeu uma homenagem repleta de canto, performances e muita arte para celebrar o legado deixado pelo múltiplo artista. Já a dança de Dora, representando o espírito da personagem se despedindo do marido e dos amigos, encerrou o capítulo com singeleza. Cláudia Ohana fechou sua participação com brilhantismo e "Vai na Fé" apresentou a sua sequência mais emocionante até o momento. 

20 comentários:

CÉU disse...

Oi, Sérgio!
Muito falada essa novela. Você é um excelente apresentador dela.
Beijos.

Lois Racca disse...

Texto perfeito. A novela aborda vários temas necessários.

J.P. Alexander disse...

Gracias por la recomendación.

José Antônio disse...

Eu não queria que a Dora morresse. Era um dos personagens mais legais da novela. O tipo de pessoa que você quer como vizinha de tão legal que é. Fora o fato que a Dora era uma mistura de hippie, de fada, de algo místico, feminino e materno que você não sabe nem definir, mas que é extremamente agradável de se conviver. Fora que Lumiar é um lugar que transpira encanto, magia e desapego do que é supérfluo na vida. Se a Dora existisse na vida real, gostaria de lhe dar um abraço e se Lumiar existisse na vida real, gostaria de conhecer tal lugar.

Anônimo disse...

Vários fatores contribuíram para a poesia das cenas dos últimos momentos de Dora (Cláudia Ohana) em "Vai Na Fé": texto, direção, trilha sonora e entrosamento de todas as pessoas envolvidas nas gravações. Aliás, poesia também presente nos momentos felizes das obras concebidas no universo dramatúrgico idealizado por Rosane Svartman.

Guilherme

Pedrita disse...

achei lindo demais escolherem a leveza para mostrar a passagem da dora. foi muito delicado e bonito. sim, no começo o espaço lumiar era muito, mas muito chato. bom q acertou o tom. gostei de debater a escolha do paciente pelas condutas que quer já que não há mais nada a fazer. relatou muito bem todas as escolhas dramatúrgicas para a despedida de dora. foi delicado e bonito. bela novela. beijos, pedrita

FABIOTV disse...

Olá, tudo bem? Assisti nesta madrugada à entrevista da Claudia Ohana. Declarações interessantes, especialmente sobre A Próxima Vítima. Abs, Fabio www.blogfabiotv.blogspot.com.br

Juvenal Nunes disse...

Também em Portugal as novelas brasileiras fizeram enorme sucesso.
A produção portuguesa aprendeu e acabou por se esmerar de tal forma que as novelas portuguesas acabaram por se impôr no plano nacional e internacional.
Abraço amigo.
Juvenal Nunes

Maria Rodrigues disse...

Brilhante análise.
Abraços

Ane disse...

Quem já teve parentes e até colegas/amigos padecendo com esta doença horrível, deve ter ficado emocionado com estas cenas.
Ane/De Outro Mundo🔹

Sérgio Santos disse...

Obrigado, Ceu.

Sérgio Santos disse...

Obrigado, Lois.

Sérgio Santos disse...

Abçs, JP.

Sérgio Santos disse...

Eu tb gostaria, José!

Sérgio Santos disse...

Perfeito, Guilherme.

Sérgio Santos disse...

Concordo, Pedrita.

Sérgio Santos disse...

Tb vi, Fabio.

Sérgio Santos disse...

Bom saber, Juvenal.

Sérgio Santos disse...

Bjs, Maria.

Sérgio Santos disse...

Certeza, Ane.