Neste sábado, dia 17 de agosto de 2024, o Brasil perdeu uma de suas mais emblemáticas figuras: Silvio Santos. O dono do SBT faleceu, às 4h50, aos 93 anos. Ele estava internado há 17 dias no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, por conta de uma infecção por Influenza (H1N1), e acabou desenvolvendo uma broncopneumonia. A notícia só foi dada por volta das dez horas da manhã, o que iniciou uma leva de homenagens em todo o país e uma cobertura integral da imprensa.
Tamanha comoção é explicada com facilidade. Silvio Santos era o maior apresentador e comunicador do Brasil e o rei da televisão nacional. Dominava os palcos como poucos e não vivia sem seu auditório, sempre majoritariamente composto por mulheres, a quem chamava de "colegas de trabalho". Era o companheiro das donas de casa e das famílias que se reuniam todo domingo para vê-lo brincar, proferir seus famosos bordões e se divertir ao longo de muitas horas na programação. Nem parecia que estava trabalhando. Era visível que ali encontrava o seu lugar.
Silvio nasceu Senor Abravanel, em 12 de dezembro de 1930. Natural do bairro da Lapa, no Rio de Janeiro, ele tinha outros cinco irmãos. Ainda criança, era apaixonado por cinema e ia sempre com um irmão assistir a sessões na Cinelândia. Na década de 1940, Silvio começou a trabalhar como camelô nas ruas do Rio e a ideia surgiu durante as eleições de 1946, quando começou a vender capas para títulos de eleitor e canetas.
Essa é a história mais conhecida do grande público porque frequentemente virava assunto durante seus programas, onde ele falava com orgulho de seu passado. Se formou em Contabilidade, mas nunca exerceu a profissão porque estreou como locutor na Rádio Tupi, em 1950. No mesmo ano, se mudou para São Paulo e em 1954 assinou com a Rádio Nacional. Como o salário era baixo, complementava sua renda como animador de circo e acabou sendo convidado por Manoel da Nóbrega para trabalhar em um programa de sucesso da rádio. O mesmo Manoel era o fundador do Baú da Felicidade e Silvio o ajudou na administração, até ficar com a empresa em 1958. O que veio depois todos sabem: um fenômeno de venda de carnês que rendiam produtos e participações em sorteios na televisão.Em 1960, Silvio criou o programa "Vamos Brincar de Forca" na TV Paulista. Comprou duas horas da programação e ainda aproveitou para vender os carnês do Baú. Mais tarde, mudou de nome e ganhou o título que entrou para a história da televisão brasileira: "Programa Silvio Santos". Na mesma época, criou o "Festival da Casa Própria", onde telespectadores disputavam quem ganhava um imóvel para chamar de seu. Diante de sua popularidade crescente, o apresentador ganhou novos programas na TV Tupi , mas seguiu na grade da TV Paulista, que foi comprada pela TV Globo em 1965. Em 1968, o "Troféu Imprensa" passou a ser televisionado pela TV Tupi e Silvio foi chamado para apresentar. Nunca mais deixou o posto de âncora da premiação.
Além de sua onipresença na tevê, Silvio ainda gravou marchinhas de Carnaval que caíram na boca do povo, como a premiada "Coração Corintiano" e "A Pipa do Vovô não sobe mais". Em 1976, o "Programa Silvio Santos" deixou a Globo e migrou para a Tupi. Ao mesmo tempo, a transmissão começou a ser feita pela primeira emissora de TV do apresentador, a TVS, que também ganhou novas atrações que viraram febre e fizeram história: "Show de Calouros", "Domingo no Parque", "Qual é a Música" e "Namoro na TV". Ao longo dos anos, surgiram outros sucessos, como o "Topa Tudo Por Dinheiro" e o "Em Nome do Amor", que nada mais eram do que os mesmos "Programa Silvio Santos" e "Namoro na TV", só que com novos nomes.
O "Programa Silvio Santos" saiu da TV Tupi em 1980 e foi para a Record. Mas no mesmo ano, o Grupo Silvio Santos conseguiu a concessão do Sistema Brasileiro de Televisão. Assim nascia o SBT e a atração de sucesso passava a ser exibida pelo canal para todo o país e ganhava novos quadros, como "Porta da Esperança", "Roletrando" e as famosas "Câmeras Escondidas". A essência do produto pouco mudou ao longo dos anos e a alteração mais significativa foi a troca de nome para "Topa Tudo por Dinheiro" em 1991, quando passou a ser exibido às 17h, aos domingos. E assim foi mantido até 2001, quando saiu do ar para ceder espaço ao reality "Casa dos Artistas", que fez um sucesso estrondoso e rendeu uma das maiores polêmicas da época porque o apresentador copiou na cara dura o formado do "Big Brother Brasil", antes da Globo exibir o reality. A exibição de pessoas trancadas em uma casa, até então novidade no Brasil, deu tanta audiência que vencia a líder inúmeras vezes e durante um curto período foi tirado do ar por conta de uma liminar que a Globo conseguiu na justiça. E o mais inusitado é que quem decidia os rumos da competição era o próprio Silvio, que chegou a trazer de volta Alexandre Frota, depois que o participante foi eliminado pela votação popular. Aliás, nem dava para chamar aquilo de votação. Afinal, Silvio atendia algumas poucas ligações, diante de milhões de pessoas no país, e baseado nisso eliminava uma pessoa.
Em 2008, o "Programa Silvio Santos" voltou ao ar e batizada com seu nome de origem. E ninguém poderia imaginar, nem o próprio Silvio, que a atração se tornaria o produto de maior audiência do SBT e com plenas condições de enfrentar a concorrência, incluindo a líder, nas noites de domingo. Após o fim do "Sai de Baixo", a Globo nunca mais conseguiu emplacar um programa na faixa pós-Fantástico e perdia várias vezes a liderança para o carisma de Silvio. Porque o público queria ver o apresentador. Pouco importava o conteúdo. O público não prestigiava a atração, o público prestigiava o Silvio. Era ele o protagonista. As suas tiradas cheias de deboche, o seu tom irônico, as suas piadas fora de hora, as brincadeiras que fazia com as mulheres da plateia, o talento que tinha para apresentar, a espontaneidade sempre presente, a gargalhada característica, a simpatia nada forçada, enfim, todas as qualidades do dono do SBT faziam dele o rei dos domingos. No entanto, é bom ressaltar, Silvio era rei de qualquer dia ou horário. Basta recordar de outro fenômeno: o "Jogo do Milhão", que depois passou a se chamar "Show do Milhão", exibido inicialmente todo dia, após a novela das nove da Globo.
A comoção pela morte do comunicador vem rendendo lindas homenagens e dignas de sua grandeza. Vários artistas, muitos lançados por ele e que também eram fãs e admiradores, deram depoimentos emocionantes, como Celso Portiolli, Eliana, Carlos Alberto de Nóbrega, Carlos Nascimento, Sérgio Malandro, Raul Gil, Angélica, Leão Lobo, Décio Piccinini, Faustão, Ana Maria Braga, entre tantos outros. A programação de todas as emissoras passaram a ser Silvio Santos. Mas é preciso fazer uma menção especial ao trabalho jornalístico da Globo, que nunca antes em sua história prestigiou tanto um artista da concorrência. É verdade que as coberturas a respeito do falecimento de Hebe Camargo e Gugu Liberato foram grandiosas, mas a de Silvio impressionou. Foram muitas horas seguidas de reportagens, histórias e imagens de arquivo sobre o gênio do entretenimento. A edição especial do "Jornal Nacional" foi histórica e arrepiante, assim como a homenagem feita pelo "Globo Repórter" em pleno sábado. Até a vinheta que mesclou o som do clássico "Silvio Santos vem aí" com os reclames do Plim Plim esbanjou delicadeza.
Silvio Santos é aquela figura que representa uma unanimidade no país, algo cada vez mais raro diante de tanta polarização e ódio. Sempre foi o melhor apresentador e comunicador do país. Um ícone da televisão que eternizou a pergunta "Quem quer dinheiro?". Um gênio que ficou bilionário através de muito trabalho, dedicação e amor pelo que fazia. Fez todo mundo sorrir e cantar porque desse mundo não se leva nada. O Senor Abravanel descansou, mas o rei da televisão brasileira nunca perderá a majestade.
23 comentários:
Silvio será sempre o SILVIO e não será esquecido! Que bela sua história e trajetória de vida!
Merece todas homenagens que está recebendo!
abração, tudo de bom,chica
Há ainda o samba-enredo da Tradição para o Carnaval de 2001, "Hoje é domingo, é alegria. Vamos sorrir e cantar", que honrava a trajetória do maior comunicador da televisão brasileira, Silvio Santos. Que descanse em paz.
Guilherme
Que o Silvio Santos descanse em paz, Silvio deixou um grande legado na TV brasileira com muitos programas memoráveis e incríveis, principalmente o programa de mesmo nome, Programa Silvio Santos que continua no ar até hoje, porém agora apresentado pela Patrícia Abravanel. Silvio fará muita falta...
RIP.
Olá, tudo bem? Acompanho Silvio Santos desde a década de 80. A morte do animador atingiu em cheio a minha memória afetiva. Comentarei no meu blog nesta segunda. Abs, Fabio www.blogfabiotv.blogspot.com.br
Uma perda irreparável. Deixa um legado que será continuado por suas filhas agora. A responsabilidade é grande e tamanha.
Boa semana!
O JOVEM JORNALISTA está em HIATUS DE INVERNO do dia 31 de julho à 05 de setembro, mas comentarei nos blogs amigos nesse período. O JJ, portanto, está cheio de posts legais e interessantes. Não deixe de conferir!
Jovem Jornalista
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Até mais, Emerson Garcia
Uma personalidade que nunca será esquecida!
Beijos e Abraços,
BLOG | Instagram
Sérgio, minha mãe é fã do Silvio Santos há muitos anos e ficou extremamente abalada com a partida dele...
Silvio deixava as noites de domingo mais alegres e como você disse, não importava o conteúdo do que ele estava televisionando nas noites de domigo, as pessoas queriam ver ele, com todo o seu carisma na tela! Tempos bons demais!!
Foi-se um gênio e ficou um legado!
Realmente a cobertura da TV Glogo foi riquíssima de informações e homenagens. Eles sabem fazer o melhor jornalismo!!
Abraços Sérgio, e grata pela linda homenagem ao Sílvio!!!
Com razão, Sergio ele nunca perderá a majestade. Ficará sempre em nossos corações! Meu grande abraço!
Quem é mais novo e assistiu pouco os programas apresentados pelo Sílvio Santos talvez não consiga perceber a dimensão do que representou na TV esse grande comunicador.
Hoje é um dia de muita tristeza p/ milhares de pessoas, inclusive para mim, que durante os anos 80 e 90 assistia aqueles programas divertidos aos domingos junto de minha família.
Além de carismático, irreverente, divertido, Sílvio tinha o dom de se tornar íntimo junto a nós, como se a cada domingo abrisse as portas do SBT para nós, para que cada pessoa se sentisse à vontade e descontraído, e passasse horas em sua companhia.
Domingo no Parque, Qual é a Música, Show de Calouros, Tudo Por Dinheiro, Porta da Esperança, Roletrando/Roda a Roda, Show do Milhão... enfim, cada um desses programas ficou e ficará marcado na memória de muita gente.
Sílvio Santos era para muitos (e para mim) como se fosse um amigo de longa data, um parente querido, alguém que durante minha infância, adolescência e juventude pude cada vez mais admirar, alguém que alegrou inúmeras vezes meus domingos com minha família, alguém que faz falta e fará mais falta ainda na TV com o passar dos anos.
Obrigado Sílvio Santos, e que agora você esteja descansando em paz...
Um personagem cheio de contradições
É claro que dizer tudo isso não apaga o fato de que, como todo grande personagem, Silvio Santos foi repleto de contradições. Acusado tantas vezes de oferecer entretenimento raso para o povo, Silvio tomou várias decisões equivocadas ou atitudes que poderiam ser questionadas.
Uma delas diz respeito à disputa lamentável travada por quarenta anos com o Teatro Oficina. Ainda nos anos 1980, o Grupo Silvio Santos comprou um terreno ao lado do teatro, que fica na região histórica do Bixiga, em São Paulo, e pretendia construir prédios no espaço – o que, segundo o diretor Zé Celso Martinez, acabaria com as atividades culturais do Oficina e desconfiguraria todo o projeto original do teatro, que foi projetado pela arquiteta Lina Bo Bardi em 1992. Em todos os anos, SS e seu grupo não se mostraram dispostos a negociar, o que evidenciava pouca consideração com a preservação do acervo histórico e cultural da cidade.
O apresentador também foi candidato à Presidência em 1989, em uma entrada relâmpago meio atrapalhada (sua candidatura foi barrada pelo TSE uma semana antes do pleito. No entanto, Silvio Santos sempre assumiu a postura de jamais se posicionar politicamente contra as pessoas que estivessem no poder. Ele se declarava, não sem certo deboche, como um “office-boy de luxo do governo”.
O preço pago por isso caiu na qualidade do jornalismo, que nunca foi uma marca da emissora. Com raras exceções em que se destacou nessa seara (uma delas talvez seja o Aqui Agora, um telejornal icônico de tom popularesco que foi “inventado” por Silvio), basicamente o que o SBT fez em suas quatro décadas foi veicular entretenimento – de boa e má qualidade, diga-se.
Mas é importante lembrar que isso não é pouca coisa. Não por acaso, todo o sábado da morte de Silvio Santos se inunda de vídeos em que revemos as tantas cenas icônicas que ficaram registradas na memória cultural do Brasil, e que representam parte do que reconhecemos como legitimamente nosso. Afinal, como Silvio e o SBT postularam por longas décadas, “do mundo não se leva nada, vamos sorrir e cantar”.
“Quem tem razão, forte ou fraco, vence sempre. O mal vence por alguns minutos, por algum tempo, mas o bem sempre vence o mal.”
Uma trajetória sem precedentes. Obrigado, Silvio Santos!
OBS: Em 2022, a Star+ lançou a série "O Rei da TV", que conta a história de Silvio Santos.
“O Rei da TV” acompanha a trajetória desde a origem humilde e ambiciosa que se tornou um dos comunicadores mais bem sucedidos da TV brasileira, além de um dos empresários mais reconhecidos do país.
Concordo, Chica.
Verdade, Guilherme.
Fará, Maria.
rip
Abçs, Fabio.
Isso, Emerson.
Fato, Isabel.
Bjão, Dri.
Jamais, Maria.
Disse tudo, Izabel.
Perfeito, Outsiders.
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