terça-feira, 18 de junho de 2013

Metalinguagem em "Sangue Bom" enriquece história, homenageia autores e diverte o público

Todo autor de novela tem um estilo. Alguns escrevem tramas lentas, outros optam por algo mais ágil e dinâmico, uns escalam atores demais, uns gostam de histórias policiais, enfim. O que não falta é variedade. Além dos diferentes estilos, há também a clara diferença no texto. Obviamente, cada autor escreve de uma maneira. E é justamente através do texto que Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari têm se destacado em "Sangue Bom". Os ricos diálogos, um dos pontos fortes da trama, recheados de críticas sociais, estão cada vez melhores e merecem os elogios que têm recebido. Entretanto, o que mais desperta atenção é a metalinguagem, que já virou uma identidade da dupla desde o remake de "Ti ti ti".


Desde a estreia de "Sangue Bom", tem sido possível identificar várias referências a outras novelas. As personagens que mais 'abusam' dessa deliciosa metalinguagem são Damáris (Marisa Orth) e Bárbara Ellen (Giulia Gam), justamente as duas personagens mais carismáticas e engraçadas da novela. Bárbara, por exemplo, já declarou que foi cogitada para viver a Carminha em "Avenida Brasil" e que ficou ofendidíssima 'quando foi convidada pelo diretor Dennis Carvalho (que dirige a novela) para interpretar uma atriz decadente numa novelinha das sete de dois autorezinhos iniciantes!'. Já Damáris discutiu com sua empregada (Nice - Izabela Bicalho) quando a mesma se recusou a dançar o funk da Mulher Mangaba (Ellen Roche) para uma visita: "Tá pensando que isso aqui é o quê? A novela das empreguetes? Não, querida, aqui vc é elenco de apoio!", disse a perua se referindo ao sucesso "Cheias de Charme".

Nada melhor do que rir de si mesmo e Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari sabem bem como fazer isso. É muito divertido ver uma novela que brinca com a própria novela. E após inúmeras referências bem-humoradas, agora os autores resolveram inserir a clássica vingança da Nina contra Carminha na trama, através de Tina
(Ingrid Guimarães) e Bárbara Ellen. A personagem da Ingrid estava totalmente avulsa na história, mas, através dessa grande sacada da dupla, ganhou uma função e ainda entrou em um dos melhores núcleos da novela.

Tina conseguiu se infiltrar como empregada na casa da ex-ídola e planeja se vingar dos maus tratos que sofreu no passado, quando ainda era uma fã da atriz. A graça de toda essa situação é justamente a quantidade de 'referências' inseridas. Além do uniforme ser praticamente idêntico ao de Nina, a direção ainda colocou a mesma trilha de fundo (que estava presente em todas as cenas que contavam com a presença da protagonista e da vilã de "Avenida Brasil") nas sequências em que Tina finge ser  melhor amiga de Bárbara. A personagem também já xingou a patroa de vaca, assim como sua 'precursora' fazia com Carminha. O melhor diálogo até então ocorreu quando a 'amizade' da dupla surgiu: "Eu tenho a sensação de que nós seremos grandes amigas, Nina!" "Nós já somos e meu nome é Tina!", logo depois desse hilário momento, as duas se abraçam e a empregada faz a característica cara de ódio por trás.

Maria Adelaide Amaral escreveu mais minisséries do que novelas, levando em consideração que durante anos trabalhava como colaboradora de vários autores e não como autora principal. "Sangue Bom", aliás, é sua primeira obra inédita ("Anjo Mau" e "Ti ti ti" foram remakes). Entretanto, apesar de ter poucos folhetins no currículo, a autora parece ter incorporado a metalinguagem, juntamente com seu parceiro Vincent Villari, em 2010, na adaptação de "Ti ti ti". Na época, a personagem que mais divertia justamente por causa dessas referências era Jaqueline, vivida por Cláudia Raia. Além de ter protagonizado uma cena genial onde Jaqueline briga com a empregada de Jaques Leclair (Alexandre Borges) ---- "Olha a empregada querendo fala, tá pensando que aqui é novela do Manoel Carlos?", dizia ----, a perua sempre chamava Suzana (Malu Mader) de Fera Radical (referência ao trabalho da atriz na obra de Walter Negrão em 1988).

A metalinguagem não é novidade na teledramaturgia. Silvio de Abreu, por exemplo, é um dos maiores adeptos. O autor sempre faz questão de citar novelas do Gilberto Braga, seu grande amigo, em suas novelas. Em "Passione" (2010), a impagável Brígida (saudosa Cleyde Yáconis) enfatizava que só gostava de ver novela do Gilberto. No remake de "Guerra dos Sexos", Silvio também abusou desse divertido recurso. Enquanto via pelo celular "Da Cor do Pecado", Nando (Reynaldo Gianecchini) elogiava a beleza do 'ator que interpretava o Paco', no caso ele mesmo. E Otávio (Tony Ramos) pediu ajuda a um detetive chamado Leleco (papel de Marcos Caruso em "Avenida Brasil"). Já Nieta (Drica Moraes) era uma noveleira e abusava das referências. Para fechar o ciclo dessa grande personagem, a atriz protagonizou uma ótima cena onde a mãe rasga o vestido de noiva da filha (Carolina - Bianca Bin) e diz que se inspirou na briga de Raquel (Regina Duarte) e Maria de Fátima (Glória Pires), de "Vale Tudo".

A metalinguagem na teledramaturgia diverte o público noveleiro e ainda demonstra uma imensa generosidade dos autores. Afinal, o autor citar outras novelas em sua trama, nada mais é do que um reconhecimento e uma homenagem ao trabalho dos colegas. Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari gostam de brincar e não se levam a sério. O resultado desse bom humor tem sido ótimas cenas e hilárias referências presentes desde o início de "Sangue Bom".

38 comentários:

Rosa Branca disse...

Excelente a metalinguagem é uma otima sacada, diversão garantida aos telespectadores. Adoro a noela Sangue Bom e estranhava uma atriz como Ingrid Guimarães com papel tão "mixurico" e apagado, na verdade chato demais, a situação do manicômio e do trauma de amor do parceiro dela, quem nem sei o nome do personagem, porque quando passa isso ate troco de canal ou levanto para "adiantar a janta" kkkk- não me agradou nem um pouco, vamos ver agora.
Um abraço carinhoso

Paty Alves
Ágape Amor Verdadeiro
Patyiva
Vou Conseguir

Patricia P. Galis disse...

Vdd mesmo essas referencias nos fazem rir, estou gostando da novela vejo sempre que posso, é leve e as atrizes em especial estão dando um show, faz tempo que não via a Giulia Gam tão linda.

Felisberto T. Nagata disse...

Olá!Bom dia
Sérgio
Perfeita análise...penso até que já "disse" isso, que uma vez ouvi uma entrevista da Maria Adelaide numa rádio de sampa (Jovem Pan)e percebi que se trata de uma autora, muito esclarecida e inteligente, que pretendia quebrar com as convenções tecnicistas das telenovelas...Um exemplo clássico de metalinguagem está na peça Hamlet, de William Shakespeare. A linguagem teatral dentro da peça de teatro.
Parabéns pela análise!
Obrigado pelo carinho da visita
Boa terça feira
Abraços

Unknown disse...

Sérgio, o que existe de melhor em "Sangue Bom", no momento, é mesmo o texto com algumas boas tiradas. Gosto do uso da metalinguagem como forma de homenagear os autores, mas acho que o abuso dela pode revelar falta de criatividade em elaborar situações próprias.

Unknown disse...

Tbém gosto dessa novela, todas são ótimas atrizes seja la qualquer personagem que façam, boazinhas ou maldosas a escolha foi certa
Parabenizo vc pela postagem e gosto de ver tbém a opinião de cada um
Deixo um abraço com carinho
Bjuss
Rita╭•⊰✿¸.•*ღ ღ¸╭•⊰✿

Uma Interessante Vida disse...

Gostei de sua análise sobre essa metalinguagem, Sérgio. De fato, alguns autores tem ótimas sacadas. beijos

Luma Rosa disse...

Oi, Sérgio!
Depois desse texto, fiquei com vontade de assistir a novela! :) Ah, e tem Giulia Gam que adoro!!
Beijus,

A Viajante disse...

Nunca tinha prestado atenção ao recurso... achava que era uma autopropaganda... para levantar ibope...merchandising, sei lá... beijo, querido!

Trilhamarupiara disse...

Eu estou adorando, não me atentei para esses detalhes mas agora com vc falando realmente tem todo sentido, adorando Sangue Bom! Abraçosss

Clau disse...

Olá Sérgio,boa noite,
Não vejo a novela Sangue Bom,mas seu blog também é cultura!
Vc explicou de um jeito bem prático o que é esse negócio de metalinguagem!rsrs
Bjs :)

Lulu on the sky disse...

Eu adoro quando a novela usa essas caracteristicas.
Big Beijos

Sofia disse...

Eu adoro esse tipo de linguagem e essa história de Tina sendo Nina tem sido bem divertida. Dou altas gargalhadas com ela tendo comportamentos bem idênticos aos da Nina com a trilha sonora de Avenida Brasil no background. Também ri muito quando a "Ivana" olhou para a Tina e disse que tudo aquilo lhe parecia familiar. Foi uma ótima sacada e só vem provar que Avenida Brasil tão depressa não será esquecida.

Beijos

Paty Michele disse...

Acho ótimo, super inteligente, inovador, enriquecedor e ainda por cima tem bom humor.
Por falar nisso, faz tempo que não vejo Sangue Bom, não posso perder essa história da Tina com a Bárbara. rsrs

Um bjo, sérgio.

Thallys Bruno Almeida disse...

Bem, Sérgio, uma das coisas que mais me faz curtir Sangue Bom é todo esse trabalho de metalinguagem, repleto de referências a fatos e pessoas atuais, da vida real, do mundo da fama, além das próprias citações de homenagem aos outros autores. A frase da Cláudia Raia em TiTiTi mencionando Maneco marca até hoje de tão sensacional que foi. E o melhor é que eles souberam fazer piada consigo mesmos nessa menção da "atriz decadente de uma novelinha das sete de dois autorezinhos iniciantes".

Essa dose de bom humor e referências pops é sensacional. Abçs!

Narinha disse...

Oi,Sergio, Sangue Bom é uma delícia de novela, divertida, leve, colorida, diversificada. Como você bem pontuou, o texto é um capítulo à parte.Temos excelentes novelistas que criam tramas ágeis, com bons recursos dramatúrgicos ,mas cujo texto é paupérrimo.Diálogos de uma pobreza atroz.Sangue Bom tem um texto em que o humor tem um peso substancial.O telespectador ri com o que os personagens vivem em cena e mais ainda se ficar atento ao que eles dizem.Eu diria mesmo que as falas de cada um são tão típicas que constituem também um traço de identificação entre os demais.Que dupla de autores afinada.Por falar em dupla afinada, o que aprontam em cena Marco Pigossi e Sophie Charlotte!? Que química!!!Arrasaram hoje... Bjs, Sergio.

MARILENE disse...

Eu gosto da novela e estou me divertindo com algumas situações.
A vingança da Tina é cômica. O recurso utilizado, bem explicado por você, enriquece a trama, leve e bem humorada, própria para o horário. Bjs.

Luana disse...

ótima crítica a novela é muito boa e Giulia Gam é o grande destaque da novela ela esta impecável como Barbara Ellen, Ingrid Guimarães é uma comédia ambulante, gosto muito das atuações de Isabelle Drummond,Marisa Orth, Humberto Carrão,Sophie Chralotte, Armando Babbaioff,Regiane Alves, Marco Pigossi (apesar de achar o Bento meio chato mais Pigossi segura a barra)na verdade acho o elenco ótimo a única ressalva que faço é a escalação da Fernanda Vasconecellos como Malu ela merecia um papel diferente a Malu é muito parecida com todos as mocinhas que ela fez é muito confuso fico esperando ela ensinar as crianças a jogar tenis apesar dessa pequena falha autores e direção estão de parabéns

Sérgio Santos disse...

Rosa, aquele núcleo do manicômio era insuportável mesmo. Confesso que acho Ingrid Guimarães uma atriz que sempre se repete, mas esse destaque dela valeu a pena justamente pela metalinguagem. bjssss

Sérgio Santos disse...

Verdade, Patrícia. E a Giulia está impagável! bj

Sérgio Santos disse...

A Maria Adelaide Amaral é tudo isso mesmo, Felis. E essa sacada dela é muito boa, enriquece a trama. abçs

Sérgio Santos disse...

Elvira, sem dúvida. O maior ponto positivo da novela é mesmo o texto. Isso que justamente nos faz 'tolerar' mais a falta de maiores acontecimentos.

É verdade, quando há um abuso é falta de criatividade mesmo. Aliás, a Tina só tem valido a pena por isso porque a personagem mesmo é de uma chatice só. bjs

Sérgio Santos disse...

Rita, obrigado! bjsss

Sérgio Santos disse...

Obrigado pelo comentário, Barbie. bjs

Sérgio Santos disse...

Luma, a novela é bem agradável e a Giulia está fantástica. bj

Sérgio Santos disse...

Ah não, Ju, nada a ver. rsrs Beijos!!!

Sérgio Santos disse...

Kellen, essa sacada dos autores é uma pimenta a mais na novela. É bacana. bj

Sérgio Santos disse...

Clau, a gente faz o que pode... rsrs Bjão

Sérgio Santos disse...

Eu também, Lulu. bjssss

Sérgio Santos disse...

Sofia, essa cena da Brenda achando a Tina familiar foi genial! Aliás, os autores estão sabendo explorar a trama da Nina. Deixou até a Tina mais 'agradável'. Bjão!

Sérgio Santos disse...

Pois então, Paty, trate de voltar a ver! rsrs Vc vai gostar dessa referência. Bjsss

Sérgio Santos disse...

Essa sacada da dupla é muito boa, Thallys. Estão sabendo inserir muito bem na novela. Por enquanto diverte e muito. A Jaqueline foi inesquecível. Abraços.

Sérgio Santos disse...

Oi Narinha! O texto é o ponto principal dessa novela. Sem dúvida é o maior acerto. Tanto que até disfarça um pouco a repetição de algumas situações ou a falta de maiores acontecimentos.

Amora e Bento transbordam química e a cena deles foi linda. Aliás, está sendo. O casal faz por merecer o destaque que tem. Porém, obviamente, a alegria durará pouco. rs bjsssss

Sérgio Santos disse...

Marilene, essa trama da vingança tá bem engraçada mesmo e as referências são hilárias. bjs

Sérgio Santos disse...

Luana, posso assinar embaixo do seu comentário? Então eu assino. Concordo com cada vírgula dita e nem tenho mais a acrescentar. Beijos!

Milene Lima disse...

Se não fosse essa sua observação perspicaz, eu nem me daria conta do que era metalinguagem. Depois que li a primeira vez sobre isso aqui, então fui fuçar por aí...

Gosto demais dessa novela. Até da Malu super santinha eu gosto. Mas da Sophie-Amora, não tem jeito. Oh,guria chata.

Essa coisa toda de metalinguagem é bacana demais. Adoro a Bárbara e morro de rir com a Damáris.

Um beijo, Sérgio.

Sérgio Santos disse...

Milene,vc ainda gostará da Amora e eu verei isso de camarote! Estou confiante! rsrs Beijão.

valéria disse...

Oi, mudando de assunto, o que vc acha dessa noticia de que a Amora vai tentar matar a Malu?? Isso quer dizer que ela vai virar vilâ?? Fiquei tao decepcionada quando li isso que desisti de assistir a novela. o amor de Bento e Amora, o nucleo de Damaris e Barbara Ellen era o que me fazia assistir Sangue Bom, sem a possibilidade de um final feliz entre Bento e Amora e a redençao desta ultima, a novela pra mim morreu.

Sérgio Santos disse...

Valéria, não sabia dessa notícia e sinceramente não acredito muito nisso. Ainda mais agora que a Amora tem apresentado traços de arrependimento e 'redenção'. É quase certo que ela fique com o Bento no final. Bjsssss