A atual novela das sete da Globo, escrita por Rosane Svartman e dirigida por Allan Fiterman, está a um mês de seu fim e um dos maiores acertos de "Dona de Mim" foi o seu elenco. A escalação, repleta de novos talentos e atores já reconhecidos, é uma característica da autora. E a presença de Claudia Abreu enriqueceu a trama, principalmente porque a espetacular atriz viveu uma mulher bipolar, cujos conflitos dominam a narrativa do início ao fim.
A intérprete estava longe das novelas há nove anos, após ter protagonizado a problemática e fracassada "A Lei do Amor", em 2016. Durante esse hiato, Claudia se dedicou ao teatro e participou de séries. Aliás, a atriz conseguiu conciliar "Dona de Mim" com a peça "Os Mambembes", onde atua ao lado dos colegas Paulo Betti, Julia Lemmertz, Debora Evelyn, Orã Figueiredo, Emilio de Mello, Leandro Santanna e Caio Padilha. Além de ser mãe de quatro filhos. É uma pessoa que está sempre em movimento.
A atuação de Claudia Abreu é um dos elementos mais marcantes da novela das sete. A atriz entrega uma performance que alia técnica refinada e profunda sensibilidade emocional. Filipa, em suas mãos, nunca é reduzida a um rótulo ou a um conjunto de sintomas: ela é uma mulher multifacetada, cheia de sonhos, contradições, vulnerabilidades e momentos luminosos.
Claudia interpreta cada camada dessa complexidade com uma naturalidade impressionante, evitando caricaturas e construindo uma personagem palpável, tridimensional, capaz de provocar identificação imediata no público.A delicadeza com que Claudia transita pelos extremos emocionais da personagem ---- ora expansiva, ora retraída; ora confiante, ora dominada por medos ---- é um retrato poderoso da instabilidade interna vivida por muitas pessoas com transtorno bipolar. Seus gestos contidos, os silêncios densos, a forma como o brilho nos olhos muda de uma cena para outra, tudo colabora para criar não apenas uma personagem, mas uma experiência emocional completa. Há verdade em cada respiração, e essa verdade reverbera muito além da tela.
O folhetim também merece destaque pela abordagem madura e responsável da bipolaridade. Ao invés de explorar o transtorno como mero artifício dramático ou sensacionalista, a narrativa se concentra em mostrar suas nuances, seus impactos no cotidiano e a complexidade das relações que se formam ao redor de alguém que convive com a condição. A história se preocupa em humanizar, em contextualizar e, sobretudo, em educar sem parecer didática. Ela apresenta as fases de euforia e depressão, os desafios da adesão ao tratamento, o peso do preconceito, e também os momentos de plenitude possíveis quando há apoio, acolhimento e cuidado.
O resultado é uma trama que abre espaço para a empatia, incentivando o público a olhar para a saúde mental com mais seriedade e compaixão. E é a interpretação de Claudia Abreu que serve como ponte emocional entre a ficção e a realidade: sua Filipa é tão viva que transcende o roteiro e se torna um lembrete de quantas pessoas enfrentam, silenciosamente, batalhas semelhantes. É justamente sua atuação que ajudou a driblar as limitações do roteiro em cima do maçante envolvimento da personagem com Jaques (Marcello Novaes). Foi um teste de paciência para o público. Afinal, Filipa sabia de praticamente todas as armações do vilão e ainda assim permanecia ao seu lado acreditando em uma suposta mudança. Não deu para engolir o clima de romantismo das cenas, nem sua forçada ingenuidade, o que causou a impressão de muitas vezes ser uma sonsa. Mas nada afetou o desempenho da atriz.
No conjunto, "Dona de Mim" se eleva por oferecer uma representação honesta e sensível da bipolaridade, e encontra em Claudia Abreu uma intérprete à altura dessa responsabilidade. Sua atuação é intensa sem ser excessiva, profunda sem ser pesada, humana sem ser idealizada. É uma entrega artística que emociona, provoca reflexão e, sobretudo, dignifica a experiência de quem vive com o transtorno.
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