segunda-feira, 15 de dezembro de 2025

Roubo das estátuas rende deliciosa catarse e ótima virada em "Três Graças"

 Foram muitos dias de incertezas e adiamentos até chegar o momento em que finalmente o grupo liderado por Gerluce (Sophie Charlotte) invadiu a mansão de Arminda (Grazi Massafera) com o objetivo de expropriar a estátua 'As Três Graças'. Aguinaldo Silva, Virgilio Silva e Zé Dassilva souberam trabalhar a expectativa do público através de uma habilidosa estruturação de roteiro para não deixar um momento tão importante da novela das nove ficar sem o impacto necessário para a narrativa. E funcionou. 


Joaquim (Marcos Palmeira), Misael (Belo), Júnior (Guthierry Sotero) e Viviane (Gabriela Loran) aguardaram Gerluce no ferro velho para acertarem os últimos detalhes do plano. Todos estavam nervosos, mas certos de que era o melhor a se fazer para salvar os doentes da Chacrinha. No dia seguinte, o grupo saiu no caminhão batizado de Nazaré (referência ao sucesso de Renata Sorrah na pele da vilã em "Senhora do Destino") rumo ao bairro da Aclimação. Claudia (Lorrana Moussinho) observou toda a movimentação e contou para Rogério (Eduardo Moscovis), o que foi um plot twist para o público que não tinha ideia que os personagens sabiam do plano. 

Muito tensa, Gerluce aguardou seus aliados dentro do casarão, mas a primeira pessoa que avistou o bando entrando, usando máscaras, foi Arminda (Grazi Massafera). A mocinha tentou proteger dona Josefa (Arlete Salles) para fingir que era uma vítima , mas levou um tapa de Joaquim, o que assustou a vilã.

E a agressão foi inesperada para Gerluce, que reagiu com um olhar de ódio em cima do pai. Uma interpretação brilhante de Sophie. Raul (Paulo Mendes) apareceu por causa do grito de Gerluce e ficou na mira dos quatro. A cozinheira Gisleyne (Glaura Lacerda) também chegou na sala e foi proibida de se afastar. Arminda manteve a pose arrogante, mas Joaquim a puxou pelo braço e ordenou que mostrasse todos os cômodos da casa. Todos foram obrigados a seguir o grupo pelos corredores. Quando passaram pelo quarto da estátua, Arminda disse a Joaquim que não tinha a chave, mas com um olhar, Gerluce confirmou que era o local das estátuas e o bando conseguiu entrar depois que Josefa entregou a cópia de sua chave. 

Dentro do quarto, aconteceu muita confusão e bate-boca, enquanto Arminda tentava convencer de que a estátua era na falsa na esperança de que não a levassem. Enquanto o grupo tentava sair da casa com a obra de arte, Arminda disparava absurdos, especialmente quando Joaquim avisou que levaria Josefa como refém. Toda a situação é registrada do lado de fora da porta de vidro, sem perceber, por Cristiano (Davi Luis Flores), que sempre filma tudo o que acontece na vizinhança com seu celular, o que reforçou a coesão da narrativa desde o início da trama. 

A sequência do roubo se consolidou como um dos momentos mais esperados da novela justamente pelo cuidadoso preparo para a catarse que a antecede e a atravessa. Nada aconteceu de forma abrupta ou gratuita: a direção construiu a cena com uma precisão quase cirúrgica, plantando tensões desde os instantes iniciais, alongando expectativas, modulando o ritmo e conduzindo o espectador por uma crescente sensação de iminência. Cada corte, cada deslocamento de câmera, o foco no relógio na casa da vilã, as mãos da mocinha apertando seus joelhos e os ladrões de primeira viagem colocando suas respectivas máscaras o meio da rua, em plena luz do dia, foram calculados para que o clímax não apenas acontecesse, mas que fosse plenamente sentido.

Esse preparo é fundamental para que a catarse final tenha impacto real. O suspense não se apoia apenas na ação, mas na atmosfera, nos silêncios carregados, na trilha que surge de forma contida, nos enquadramentos que isolam os personagens em seus próprios conflitos. A direção de Luiz Henrique Rios demonstra uma sintonia perfeita com o texto dos autores, além do entendimento de que a emoção mais potente nasce da espera, da antecipação e do acúmulo de tensão dramática, e não apenas do desfecho em si. Isso faz falta em muitas novelas atualmente, onde tudo é raso e jogado de qualquer maneira para que o público engula ---- vide o remake de "Vale Tudo", onde as situações surgiam do nada e eram concluídas em uma semana.

Os atores acompanharam a qualidade desse arco dramático com absoluta precisão. A já mencionada Sophie Charlotte está irretocável como Gerluce e tinha o maior desafio que era atuar dentro da atuação, uma vez que a mocinha era cúmplice e precisava expressar seus sentimentos através de gestos contidos, incluindo a raiva que sentiu do pai pelo tapa improvisado. Grazi Massafera e Arlete Salles foram outras gigantes que se destacaram, tanto nos momentos tensos quanto nos de humor involuntário. E o que dizer de Gabriela Loran? A melhor surpresa do assalto. Viviane incorporou uma bandida genial e o melhor texto foi dela, com direito a chamar Josefa de Vovó Noel e Gerluce de Banquinha Bonitinha. A atriz foi impagável. Guthierry Sotero, Marcos Palmeira e Belo também merecem elogios e a sintonia do grupo é um bônus. 

O roubo da estátua em "Três Graças" resultou em uma sequência que respeitou o tempo do drama, do humor, valorizou o espectador e demonstrou a maturidade artística da novela. Ao unir direção inspirada, atuações de alto nível e um preparo exemplar para a catarse, a novela entregou uma cena memorável, daquelas que permanecem na memória muito depois de exibidas.

4 comentários:

Anônimo disse...

Estou achando uma das melhores novelas dos últimos tempos e curtindo para variar, exceto por duas coisas: a primeira é o excesso de mistério, Silvio de Abreu é você? Sei que Aguinaldo a considerou o mistério muitas vezes nas suas narrativas, mas aqui é até falar chega. O problema do mistério é que nunca permite desenvolver bem os personagens e as nuances não existem: o motivo do sucesso das reprises de Por Amor e jamais as de Próxima Vítima. É melhor para a tensão emocional que a gente saiba quem é a filha de Do Carmo: Isabel, desde o início, a que o descubra no desenrolar da trama (Hitchcock sempre maior do que Agatha Christie). Ainda espero ter o nome do filho da Samira antes do capítulo 100 e o passado da Josefa. A outra é o jeito como a trama enrola, tudo bem que novela é um gênero longo, mas aqui os roteiristas pesaram a mão e fique sabendo pelo blog do Leo Dias que no capítulo 100 vem a Joelly dar à luz e o acordar da Zenilda, JEC é você? Eu acreditava que para o 80 Joelly ia ter a criança e no 95 a criança já teria pais novos. Por que O Melhor Plot da novela, o mais "telenovela latina core" recebe semelhante trato? Inclusive, acredite que Lucelia já havia apanhado da Megg. Essa aqui é uma novela de 179 capítulos, a distribuição precisa ser melhor feita, achava que no 100 Gerluce descobre que a Joelly vendeu a criança com direito a uma surra e no 145 já saberiam onde está. Do Carmo encontro a Isabel no 95 e revelou a verdade no 135, e aquela tinha 221. Confesso que, estranhamente, me encontro torcendo pelos cortes da Globo, fizeram melhor para a novela. É melhor jogar e enrolar nas novas viradas do que ficar sempre na mesma. É preciso um salto a cada dez capítulos. Espero que não encontrem o bebê lá por volta da última semana da novela, né? Maneco, é você? Agora mesmo é melhor não provocar em caso de a Globo diminuía o número de capítulos da novela e tudo ali fique atropelado, ou vão a fazer os roteiristas que nem outros que botam tudo no último capítulo em vez de chegar ao final com a trama gastada. Lado a Lado é você? E isso é meu parecer, tem coisas que lamentavelmente me remetem a outros autores mais do que Aguinaldo, meu autor favorito Daniel

Anônimo disse...

Gerluce, o que tinha que fazer era roubar mesmo e mentir para valer até o namorado, sem passar muito pano. Eu preferia como na sinopse, a Gerluce na cadeia e casando-se com Paulinho com tornozeleira eletrônica, se Rogerio sabe do roubo então não tem crime real, não sei porque os autores não querem levar o drama ao limite. Nosso Breaking Bad (Hank/Walter) fugindo pela janela pelo velho temor de que a mocinha seja rejeitada, perdendo o conceito de "só a verdade cura". E coisas como esta são para mim onde radica o maior problema da novela "tudo é suavizado": é Bagda, o chefe do tráfico mais frouxo que posso lembrar, agora sempre que sei que faz ameaça sei que tudo vai ficar na mesma, são os vilões que só matam a gente através dos remédios porque o fracasso que tem a hora de tentar matar é notório, fazendo escola com Willy Coiote, são os gays trambiqueiros com o assunto da gravura no início e agora resulta que o único negócio mal explicado vai ser o da estátua. Agora quero o porquê real de não ter câmeras de segurança numa galeria. Se está tudo dentro da lei, né? É a delegacia onde os policiais falam de romance, mas não do crime. É Paulinho e Gerluce (ótimo casal) transando feito adolescentes, querem se vender como virgem, gente, isso é da época das outras tias de sofá. Até o capítulo em questão (o roubo), peso a mão na comédia, hoje o público aceita mais a realidade e o conteúdo pesado. Não surpreende que Dona de Mim está dando mais audiência (onde a polícia é como tem que ser), até o noticiário da tarde faz melhor na audiência com suas notícias. Aguinaldo está muito temeroso quando se trata de tomar decisões, o público de sofá mudo não se importa em assistir algo tão "hard", daqui a pouco a ligação maternal da Samira e a Lorena na sinopse ficará em apenas uma promessa também. Aliás, o sucesso de Samira e Gerluce superou o da caricata Arminda. É um sinal, o público está pronto para o soco da realidade e acho que nem Aguinaldo pôde adivinhar (ele esperou que o centro fosse a Grazzi, mas os tempos mudaram), o sucesso Lorena e Juquinha também se deve ao câmbio de paradigma, a maioria dos velhos que rejeitaram Babilônia se foram ou largaram a Globo de vez. E aparentemente não é botando um núcleo evangélico que eles vão fazer esse povo voltar.

Sérgio Santos disse...

adorei seu comentário, Daniel!

Sérgio Santos disse...

acho que ainda é cedo, a audiencia vai aumentar aos poucos