quinta-feira, 20 de novembro de 2025

"Três Graças" e "Os Donos do Jogo" comprovam a versatilidade de Xamã

 A estreia de Xamã como ator na televisão foi em uma pequena participação em "Amor de Mãe", exibida em 2019 na Globo. A estreia 'oficial', com um papel fixo e de destaque, foi na pele do capanga Damião no remake de "Renascer", exibido ano passado. E a sua atuação impressionou público e crítica. Um começo de carreira nas artes dramáticas com o pé direito. Só que já é possível constatar que o segundo semestre de 2025 comprovou a versatilidade do intérprete, graças ao seu desempenho em "Três Graças" e "Os Donos do Jogo". 

A versatilidade no caso de Xamã, ao menos até agora, é ainda mais desafiadora porque seus três grandes personagens são bandidos. Damião era um assassino de aluguel, Búfalo é um bicheiro extremamente violento e Bagdá o chefe do tráfico. Diferenciar os três papéis seria difícil para qualquer profissional experiente. Até porque há o risco de ficar estigmatizado e não há nada pior para um ator. Porém, os três personagens não se parecem em absolutamente nada e o mérito é todo do rapper. 

A série de sucesso da Netflix estreou no final de outubro na plataforma de streaming e a atual novela das nove da Globo no início de novembro. Muita gente acompanha as duas ao mesmo tempo ou vem assistindo ao folhetim logo depois de ter finalizado "Os Donos do Jogo".

Ou seja, está acompanhando as composições distintas do ator, que deu um show como bicheiro e está sensacional como traficante. São dois papéis relevantes e que Xamã dominou logo no início das respectivas produções. A versatilidade que demonstra nesses dois trabalhos revela um artista que transita com segurança por registros completamente diferentes, sem perder autenticidade e nem presença.

Búfalo tenta se firmar como um dos novos chefes do jogo do bicho, mas sua impulsividade e burrice impedem o êxito de seu objetivo na série de Heitor Dhalia. O boxeador que espanca e mata qualquer um que atravesse o seu caminho precisa ser controlado e guiado o tempo todo pela esposa, Susana (Giullia Buscacio). O ator entrega uma atuação marcada pela intensidade e descontrole. Ele incorpora o personagem com total entrega. Seu olhar, postura e timing dramático provocam medo, onde sua capacidade de construir tensão apenas com pequenos gestos ou olhares mostra um domínio surpreendente vindo de alguém originalmente da música. E o sotaque carioca? Muito bom. 

Já Bagdá é um traficante de Mogi das Cruzes e o sotaque paulista que Xamã adota é um dos mais convincentes da trama. Em "Três Graças", o ator surge com uma composição diametralmente oposta ao que fez na pele do bicheiro. O bandidão, embora cause medo, tem um ar de inocência que o intérprete consegue modular em todas as suas cenas, assim como o humor involuntário de diversas situações vividas pelo todo poderoso da comunidade da Chacrinha. O público vê um Xamã mais solto, até lúdico e capaz de rir de si mesmo, além de explorar nuances afetivas que enriquecem o personagem. A caracterização também ajuda porque o bandido e seus comparsas amam roupas chamativas, com pelo de felinos e estampas de animal print. Uma cafonice sem precedentes, algo típico de novos ricos ou chefões de tráfico. É um personagem que tem tudo para se destacar cada vez mais na história de Aguinaldo Silva, Zé Dassilva e Virgílio Silva.

Xamã vem se firmando como uma das figuras mais promissoras da dramaturgia atual, ainda que esteja apenas em seu terceiro papel de destaque. Sua versatilidade, vista principalmente agora com "Três Graça" e "Os Donos do Jogo", abre um leque de novas possibilidades para o rapper. 

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