Jeniffer Nascimento como protagonista é a melhor surpresa de "Êta Mundo Melhor!"

 A continuação de "Êta Mundo Bom!" apresenta poucas novidades. Praticamente todas as histórias da trama, escrita inicialmente por Walcyr Carrasco e Mauro Wilson e agora somente por Mauro, dirigida por Amora Mautner, são reciclagens dos conflitos da obra original exibida em 2016. Muitos personagens que vieram do outro folhetim até regrediram para protagonizar os mesmos dramas que vivenciaram antes. Mas a exceção é Dita, interpretada pela ótima Jeniffer Nascimento. 

A personagem terciária era integrante do núcleo da fazenda de Cunegundes (Elizabeth Savalla) e Quinzinho (Ary Fontoura), sobrinha de Manuela (Dhu Moraes), a empregada da família. As duas eram exploradas e ouviam muitos desaforos da patroa. Dita acabou se casando com Quinzinho (Miguel Rômulo) e teve um filho com o caçula da família da Boca de Fogo. Jeniffer brilhou no papel, mas aparecia pouco, até porque o núcleo tinha muita gente. 

Ao colocá-la como protagonista de "Êta Mundo Melhor", Walcyr expôs a evolução da personagem, que começou a nova trama ambicionando ser uma famosa cantora de rádio e levou a tia junto para viver seu sonho.

É importante lembrar que as notícias sobre a separação da personagem e seu envolvimento com Candinho (Sérgio Guize), meses antes do folhetim estrear, provocaram um natural estranhamento no público. Afinal, a personagem mal falava com o protagonista em "Êta Mundo Bom!" e era muito apaixonada por Quinzinho. Mas o autor conseguiu trabalhar o novo vínculo com habilidade e a separação ficou convincente porque o filho de Cunegundes já era um galinha na trama de 2016, o que serviu como uma boa justificativa para o término. 

A aproximação entre Dita e Candinho primou pela delicadeza e o acertado tom lúdico que permeia o casal desde o início gera carinho e afeição dos telespectadores. Não foi difícil o casal cair no gosto popular, algo que não aconteceu na relação do protagonista na novela de nove anos atrás --- Filó (Debora Nascimento) foi uma mocinha rejeitada e acabou ofuscada pela Maria (Bianca Bin). Jeniffer e Guizé têm química em cena e a sintonia dos dois dá gosto de ver. As cenas recentes, dos personagens se casando, com direito a guerra de bolo, e depois curtindo a lua-de-mel no Rio de Janeiro, foram deliciosas e pareciam um conto de fadas caipira. 

E Mauro Wilson vem conduzindo o arco criado por Walcyr com talento porque há uma nítida preocupação em não tirar o protagonismo de Dita em nenhum momento. Ela sempre está lidando com conflitos bem colocados e com destaque, mesmo quando o foco está mais voltado para Estela (Larissa Manoela) ou o próprio Candinho. Aliás, vale ressaltar que a atual novela das seis não tem grandes acontecimentos. Não há muita história para contar porque a produção anterior não teve qualquer brecha para uma continuação e os novos dramas não empolgam. Uma das poucas sagas que realmente despertam atenção é justamente a da mocinha, uma mulher preta que não é apagada ao longo do enredo. É preciso citar também a grande parceria de Jeniffer com Dhu Moraes, uma veterana que tem a importância que merece no folhetim. 

Jeniffer Nascimento estreou no audiovisual com uma pequena participação em um episódio de "9mm: São Paulo", série produzia pela Fox em 2008, e foi a vencedora do reality "Fábrica de Estrelas", em 2013, no Multishow. Aliás, ela também ganhou outra competição musical em 2013, o "Popstar", na Globo. Seu talento como cantora ficou mais conhecido do grande público em sua estreia, de fato, na teledramaturgia, quando brilhou na pele de Sol, em "Malhação Sonhos", exibida em 2014. A sua linda voz embalava vários musicais da trama, escrita por Rosane Svartman e Paulo Halm. Agora seu talento vocal novamente é explorado através de várias cenas lindas em que Dita canta na novela --- a melhor até então foi uma apresentação irretocável de 'Ave Maria'. A atriz ainda atuou em "Pega Pega" (2017); "Cara e Coragem" (2022), ambas na Globo; e nas séries "Não Foi Minha Culpa" (Star Original) e "Só Se For Por Amor" (Netflix), as duas em 2022.

A performance da atriz ilumina "Êta Mundo Melhor!" e se converte na melhor surpresa da trama das 18h da Globo. É um trabalho maduro, seguro e vibrante e prova que Jeniffer estava preparada há muito tempo para protagonizar uma novela.