terça-feira, 1 de março de 2016

Núcleos paralelos repetitivos e desinteressantes prejudicam narrativa de "A Regra do Jogo"

"A Regra do Jogo" mostrou, desde a estreia, que tem uma trama central muito interessante. João Emanuel Carneiro conseguiu criar um enredo atrativo, embora com muitos furos, em torno de uma perigosa facção criminosa, criada por um poderoso empresário (Gibson - José de Abreu) que planeja acabar com a corrupção e a criminalidade através da violência. Quando a novela foca nisso, prende atenção com facilidade. Entretanto, a narrativa é muito prejudicada pelo núcleos paralelos repetitivos e desinteressantes.


Todo folhetim precisa ter subtramas para a história central poder se sustentar por vários meses no ar. Principalmente as produções do horário nobre, que costumam ter capítulos maiores que as exibidas na faixa das seis, das sete e das onze. Caso contrário, não há criatividade que consiga elaborar constantes conflitos para o núcleo principal se manter atraente por praticamente sete meses. Portanto, nada mais normal do que a criação dos enredos paralelos ---- isso desde a criação da telenovela.

E é fundamental que o autor desenvolva situações secundárias tão envolventes quanto a central. Porém, não é o caso de "A Regra do Jogo". O que o enredo que engloba a facção tem de atrativo, os que movem a família de Feliciano (Marcos Caruso) e o Morro da Macaca têm de desinteressantes. Curiosamente, todos são voltados para a comicidade, com exceção da trama pesada que cerca a vida de Domingas (Maeve Jinkings).
Há uma clara tentativa de promover um 'alívio cômico' em meio ao pesado conflito que cerca a máfia criada por Gibson (José de Abreu). Só que as situações quase sempre não saem do lugar e acabam implicando em momentos avulsos, sem qualquer influência no andamento do folhetim.

O enredo envolvendo Merlô (Juliano Cazarré) é um dos piores. O personagem é um bobalhão que vive um triângulo amoroso com Ninfa (Roberta Rodrigues) e Alisson (Letícia Lima), além de ser extremamente mimado pela mãe Adisdabeba (Susana Vieira). Todas as situações vividas pelo funkeiros cansam pela repetição e o ator ainda está repetindo todos os trejeitos do Adauto, de "Avenida Brasil". O próprio papel, inclusive, lembra muito o anterior, mas sem um terço da comicidade espontânea que o outro tinha. Houve até a participação de Thaíssa Carvalho durante uns meses, vivendo a funkeira Andressa Turbinada, mas sem sucesso ---- o conjunto continuou ruim. Agora, aliás, o funkeiro tem estado mais com Feliciano, depois que o mesmo foi revelado seu pai.

O quarteto amoroso protagonizado por Oziel (Fábio Lago), Indira (Cris Vianna), Rui (Bruno Mazzeo) e Tina (Monique Alfradique) também peca pela limitação de 'novidades'. A trama do casal de classe média que se muda para uma favela divertiu no começo, muito em virtude do ótimo desempenho de Monique e do texto sarcástico da personagem. Entretanto, não demorou muito para o conjunto cansar, principalmente quando houve a esperada troca de casais. A canalhice de Oziel deixou de ser 'engraçada' e toda aquela situação se esgotou. O resultado é um núcleo avulso, onde todas as situações andam em círculos e só servem para preencher o tempo do capítulo.

Já a família de Feliciano alterna altos e baixos. Em alguns momentos diverte e em outros peca pela previsibilidade das constantes brigas. Há uma clara tentativa de imitar a popular família de Tufão (Murilo Benício), em "Avenida Brasil", onde um falava em cima do outro e as discussões eram frequentes. Porém, no caso atual, tem personagens demais, ficando evidente a falta de função de vários, como Mel (Fernanda Souza), Úrsula (Júlia Rabello), Nenemzinho (Allan Souza Lima), Duda (Giselle Batista), Janete (Suzana Pires), Kim (Felipe Roque) e Vavá (Marcello Novaes). Giselle, aliás, mal fala em cena. Os atores que conseguem ter algumas boas cenas de vez em quando são Marcos Caruso, Alexandra Richter (Dalila), Otávio Muller (Breno) e Carla Cristina (Dinorá).

Um dos bons momentos desse núcleo foi quando todos acharam que Feliciano havia morrido. As cenas realmente divertiram. Outra boa situação foi quando todos foram ao casamento de Nelita (Bárbara Paz) com Orlando (Eduardo Moscovis). E o autor acertou quando colocou Ninfa e Alisson visitando a família, que estava abrigando Merlô (revelado filho de Feliciano) na época. Entretanto, muitas vezes os personagens se perdem em situações cansativas. Vale até citar o subaproveitamento de Maria Padilha ---- a elegante Claudine, cujo envolvimento com Gibson, Feliciano e Kim pouco representou no enredo ----, que era apenas uma figurante de luxo, cuja morte foi uma das sequências mais toscas da novela (ela faleceu logo depois de se casar com Feliciano, 'cumprindo' a previsão trágica de uma cigana).

E a trama de Domingas é a única exceção à regra, pois não tem nada de cômica, ao contrário de todas as citadas. Porém, também peca pela exaustão. Isso porque o sofrimento da personagem anda em círculos e ela praticamente passou a novela inteira sendo humilhada e agredida pelo marido Juca (Osvaldo Mil). As sequências eram praticamente as mesmas e o núcleo só sofreu uma reviravolta com a chegada de César (Carmo Dalla Vechia, fraco, interpretando mais um tipo com problemas psicológicos em sua carreira). O traumatizado homem se instalou na casa de Domingas e os dois se apaixonaram. A situação, um tanto quanto inverossímil, melhorou relativamente a história. Só que não demorou muito para ficar repetitiva também, afinal, eram várias sequências românticas quase iguais, assim como os tormentos de César ---- ele fugiu de casa, abandonando a esposa, porque se envolveu em um acidente que vitimou os dois filhos.

Ou seja, João Emanuel Carneiro criou tramas paralelas limitadas e quase sem ligação com o núcleo principal. Vale ressaltar que Feliciano é primo de Gibson e seu oposto, mas ainda assim eles mal contracenam. Portanto, fica clara a função desses enredos secundários: apenas preencher o tempo dos capítulos e 'aliviar' o clima pesado instaurado pelo atrativo enredo central. Isso, observando de uma forma geral, acaba prejudicando o conjunto do folhetim, que sempre sofre com constantes 'quebras de narrativa'. Quando os dramas envolvendo a facção começam a andar, a novela logo apresenta uma espécie de 'recuo', onde os personagens secundários ganham espaço, mas sem apresentar situações realmente atrativas.

Em virtude de tudo isso, "A Regra do Jogo" acaba ficando sempre no 'quase'. Quase que a novela engrena de vez, quase que apresenta uma boa virada, quase que inicia um grande conflito, enfim. A impressão passada é de que a produção do horário nobre poderia ser bem melhor do que é, caso os núcleos paralelos apresentassem alguma ligação mais forte com o enredo central, apresentando momentos tão bons quanto o principal. Seria até melhor para haver um rodízio de tramas, benéfico para qualquer folhetim, onde cada história ganha espaço em um determinado momento, sem atrapalhar o fio condutor. Só que, infelizmente, não é o que acontece. Os conflitos secundários nada atrativos acabam atrapalhando o andamento da parte bem mais convidativa da novela, que está em plena reta final. Pena.

32 comentários:

Elisa disse...

É verdade. É impressionante como tem personagem avulso e cansativo nessa novela. Só a trama central é boa e mesmo assim cheia de furos.

Thamires disse...

Eu até gostava da família do Feliciano mas encheu o saco!

Unknown disse...

Pois é. Por isso é que eu acho que a história central de A Regra do Jogo(que só deslanchou de verdade quando o Pai da facção foi revelado) funcionaria melhor num seriado policial, com 30 e poucos capítulos semanais, do que numa novela de cento e tantos diários. A reta final(que está ótima, diga-se de passagem) é a constatação desse fato.

O núcleo do Feliciano ainda se sustenta graças ao talento do Marcos Caruso, que ainda forma uma ótima parceria com Carla Cristina Cardoso(Dinorah). Já os demais se desgastaram completamente. Aliás, essa trama da Domingas e do tal César, que você citou, é completamente inverossímil. A tentativa de se discutir a violência doméstica não funcionou e a chegada do personagem do Carmo Dalla Vecchia(em mais uma atuação repetitiva) só prejudicou uma trama que já não estava boa.

Ainda bem que esses últimos capítulos estão dedicando a maior parte do tempo á trama central, e isso explica o fato de a audiência ser cada vez maior. E ainda dizem que o público estava rejeitando a violência da novela...

Anônimo disse...

Assino embaixo!

Bell disse...

Oi Sérgio

não acompanho a novela, mas vim te desejar um ótimo dia =)

Luciano disse...

Aconteceu com "A Regra do Jogo" o mesmo que aconteceu com "Império": um núcleo central forte cercado por núcleo paralelos fracos.

Talison disse...

Perfeitas colocações. Aliás, esse autor não é bom em tramas paralelas.Ele sempre tropeça e por isso seu melhor trabalho foi a série A Cura, onde não tinha núcleos secundários.

Adriana Helena disse...

Olá Sérgio, como vai, tudo bem?
Sim, eu acompanho a novela e já estou cansada das tramas secundárias rodopiarem e sempre terminarem na mesma coisa...
Na verdade, já estou torcendo para a novela acabar o mais rápido possível, pois tornou-se desinteressante...
Excelente análise, como lhe é peculiar amigo!
Te desejo uma ótima semana!
Beijos!

Unknown disse...

Falou tudo o que eu penso sobre essa novela. Infelizmente, o JEC não me prendeu dessa vez.
Vez ou outra eu ainda dou um sorriso amarelo em alguma cena do Feliciano, mas o resto do núcleo é dispensável. Alexandra Ritcher é ótima no papel mas está interpretando o mesmo tipo há 3 novelas. Fernanda Souza, Marcello Novaes, Giselle Batista, todos desnecessários. E olha que o JEC deu o Max pro Novaes em Avenida Brasil. A participação da Maria Padilha foi ridícula. E também não consigo engolir as participações desnecessárias do Oscar Magrini e da Carolina Dieckmann. Os personagens somem e aparecem do nada. Merlô sempre foi insuportável e a Domingas, apesar de eu gostar da personagem, sempre esteve em um núcleo ruim. Primeiro com o Juca, depois com esse mala do César. Carmo tá péssimo como de costume e as cenas dele facilmente cansam. Sinceramente eu preferia a Domingas apanhando do Juca até o fim do quê ter que aturar esse César.
O núcleo principal é o melhor mesmo, mas eu também não aguento mais. Nunca vi novela mais repetitiva que esse. Teve falsa morte de Zé Maria, de Kiki, de Romero, sequestro de Gibson, Kiki e Aninha, Tóia, Romero, até a mãe do figurante foi sequestrada e o avulso do Cesário vai ser também. É muita repetição pra mim, mas até aproveito por que depois vem Velho Chico com um mais do mesmo do Benedito.
Abraços

Anônimo disse...

Pois é, e o pior é que seria muito fácil inserir essas tramas chatas, mesmo que de forma mais sutil, na história principal. Nos primeiros capítulos, Toia perguntou sobre a chacina de seropédica pra Indira, que falou o que se lembrava do crime. O que custa ela ter um parente ali, ter sofrido com aquele crime mais vezes, enfim. Úrsula é outra, tatuadora, cadê as tatoos dos membros da facção?? As tramas paralelas do JEC, calcanhar de aquiles dele, não costumam ser boas, mas nunca deixaram de divertir. Milu montini de Cobras & Lagartos e Verônica de Av. Brasil ainda são minhas preferidas.

Felisberto T. Nagata disse...

Olá, Bom dia,Sérgio...
muito boa as suas colocações,"o quase é quase sempre quase nada", uma pena, pois , João E.Carneiro, prendeu a atenção em Avenida Brasil e a trama principal mesmo sendo em cima da velha dualidade,bem ou mal,certo ou errado, está bem , na minha opinião, "amarrada", faltando o laço das secundárias, com essa...obrigado pelo carinho,feliz semana, belos dias,abraços!

Lucas disse...

Como tu disse, só a trama central agrada, mas aquela bobajada daquela favela, aquela família louca lá que não acrescenta em nada... isso tudo cansa quando to olhando a sai da trama central, coloco em algum canal a cabo.

Unknown disse...

Esta é uma opinião unânime aqui em casa. Bastava o autor mostrar a facção, mas ele resolveu aliviar a carga dramática inserindo outros núcleos, pretensamente cômicos e sem ligação com os demais. Quando eles aparecem, nem os assistimos.

Hypado disse...

Não entendo essa birra com a família Feliciano Stewart. No segundo capitulo o JEC mostrou as duas famílias principais se reunindo, a do Gibson seria a família principal DRAMÁTICA e a do Feliciano seria a família principal CÔMICA.

Em comparação voltemos a nossa querida ''Da Cor do Pecado''. Tinhamos duas famílias principais: A família do Afonso Lambertini que era a parte dramática e a família Sardinha da Mamuska que era a parte cômica, mas ambos principais. A Mamuska era uma espécie de Adisabeba, ela interagia tanto com o lado engraçado da novela, quanto o lado dramático.

Então me desculpe mas você errou feio, a família do Felicinao é sim núcleo principal, mas eles puxam para o humor da família Stewart, enquanto toda a tensão fica da família Stewart vai para a mansão sombria do Gibson. Agora o César sim é ''paralelo'' já que não interage com ninguém. A minha única reclamação é o autor ter sido covarde e não ter posto ninguém da parte do Feliciano para fazer parte da trama da Facção. Queria muito o Vavá metido no meio desse rolo todo de facção criminosa.

Portanto amigo Sergio Santos, Família Feliciano é trama central no meu ponto de vista, agora os outros sim podem ser considerados ''paralelos''.

Uma abraço e até a próxima!

MARILENE disse...

Sérgio, você disse tudo e nada posso acrescentar. Eu não aguento a família do Feliciano, a exagerada ignorância do Merlô, um César que não convence em seu drama pessoal... uma lástima!! Bjs.

Vera Lúcia disse...


Subscrevo, na íntegra, a sua excelente análise.
Os núcleos paralelos não são nada convidativos; pelo contrário, são cansativos e enjoativos.
Apesar do conteúdo do núcleo principal estar interessante no momento, o que não poderia ser diferente, já que a trama caminha para o seu final, estou torcendo para que a novela chegue logo ao seu termo.

Abraço.

Sérgio Santos disse...

Pois é, Elisa.

Sérgio Santos disse...

Encheu msm, Thamires.

Sérgio Santos disse...

Karol, seu comentário está perfeito. Eu concordo com cada vírgula.

Sérgio Santos disse...

Obrigado, anonimo.

Sérgio Santos disse...

Bom dia, Bell.

Sérgio Santos disse...

Concordo, Luciano.Mas em Império ainda tinha aquele ridículo da Cora.

Sérgio Santos disse...

Boa observação, Talison.

Sérgio Santos disse...

Obrigado pelo carinho de sempre, Adriana! s2

Sérgio Santos disse...

Ed, como sempre, comentários completos e eu concordo com grande parte dele.

Sérgio Santos disse...

Seria bem mais simples mesmo, Anonimo.

Sérgio Santos disse...

Eu que agradeço, Felis!

Sérgio Santos disse...

Exato, Lucas.

Sérgio Santos disse...

Nem vale a pena msm, Elvira.

Sérgio Santos disse...

Respeito sua opinião, Hypado, mas discordo. Isso foi no início e ali parecia mesmo que as famílias se interligariam o tempo todo, mas não aconteceu. A do Feliciano ficou avulsa a novela toda e com tramas repetitivas. Se ele ao menos tivesse colocado algum personagem dali como integrante da facção, ok. Mas nem isso.

Sérgio Santos disse...

Obrigado, Marilene.

Sérgio Santos disse...

Nada convidativos mesmo, Vera.