terça-feira, 14 de junho de 2016

Bem conduzida, "Liberdade Liberdade" vem se mostrando uma boa novela das onze

Após vários problemas de bastidores e trocas de autor, a atual novela das onze estreou no início de abril (dia 11) e desde então vem contando a saga de Joaquina (Andreia Horta) ----- claramente inspirada no livro "Joaquina, filha de Tiradentes", de Maria José de Queiroz ----- de uma forma competente. A trama teve uma rápida primeira fase (com menos de dois capítulos) e logo começou a ser ambientada em 1808, época da chegada da Família Real Portuguesa ao Brasil. Ao menos até o momento, pode-se afirmar que Mário Teixeira conseguiu assumir muito bem os rumos da produção de Márcia Prattes (retirada do projeto).


Dirigida pelo talentoso Vinícius Coimbra, a novela tem conseguido despertar atenção através de bons personagens, ótimo elenco e uma história que tem sido costurada para atingir o clímax do embate entre revolucionários e os representantes da Corte Portuguesa. Tendo Vila Rica (atual Ouro Preto, em Minas Gerais) como pano de fundo, o enredo é dividido em poucos núcleos e quase todos os personagens têm uma ligação, direta ou indiretamente. As tramas não apresentam uma sucessão de acontecimentos, mas são bem estruturadas e contêm bons conflitos pontuais.

O maior destaque é a herdeira do homem que iniciou uma revolução silenciosa, vivida impecavelmente por Andreia Horta. A atriz estava merecendo há tempos uma protagonista e ganhou uma destemida Joaquina, que está à frente do seu tempo e não teme nada e nem ninguém. A filha de Tiradentes tem o objetivo de vingar a morte do pai e ainda libertar o Brasil, honrando a missão do inconfidente morto enforcado.
É raro um folhetim ter como principal trunfo a personagem central, vide os mocinhos que várias vezes são ofuscados pelos vilões. Não é o caso agora.

Andreia está perfeita no papel e tem uma ótima sintonia com Dalton Vigh, que finalmente ganhou um bom papel após perfis insignificantes nos últimos anos. Raposo é um homem forte e rígido, cujos ideais foram mudados por causa do amor que sente pela filha que adotou ---- seu maior medo é vê-la com o mesmo fim de seu pai. Joaquina ainda tem uma química visível com Xavier (Bruno Ferrari), outro revolucionário tão petulante quanto ela. O casal protagonista funciona e desperta torcida, ainda mais levando em consideração toda a possível tragédia que os espera no futuro, afinal, a guerra será sangrenta.

A trama da personagem principal também é enriquecida com o seu envolvimento com Rubião (Mateus Solano), o grande vilão da novela. O canalha entregou Tiradentes, assassinou a mãe de Joaquina e ainda roubou parte da fortuna de Raposo. O ambicioso homem, que trabalha para a Coroa, se encantou pela revolucionária sem nem imaginar quem ela é ---- assim como a filha do inconfidente cruelmente morto não sabe que foi seu pretendente o responsável por todas as suas tragédias familiares. A relação provoca uma tensão constante que faz bem ao conjunto. E o personagem interpretado por um entregue Mateus Solano ganhou uma humanização com a chegada de Ventura (Vitor Thiré), o irmão cego do intendente.

Esse irmão, inclusive, também tem uma trama interessante e bonita. Infeliz por não enxergar, o rapaz se encanta por Bertoleza (Sheron Menezzes), dama de companhia de Joaquina, sem ao menos cogitar que ela é negra. Ele se apaixona pela voz, pela pessoa que ela é. Um romance com toques poéticos em meio ao enredo mais pesado da produção. O menino, aliás, se desespera quando constata a cor da até então amada. Outra relação que engrandece o roteiro é bastante polêmica, protagonizada por Capitão Tolentino (Ricardo Pereira) e André (Caio Blat). O interesse sexual entre os dois se mostra cada vez mais forte e na época a homossexualidade era considerada crime, condenando os envolvidos à fogueira. A situação vem sendo bem desenvolvida e os atores estão muito bem.

O núcleo do prostíbulo de Virgínia (Lília Cabral) se mostra como um dos acertos da novela, até porque ela é uma revolucionária, assim como Joaquina e Xavier. Ironicamente, a tão julgada cafetina é uma das pessoas mais íntegras da cidade. Lília está magistral como de costume e suas cenas com Andreia Horta são sempre repletas de cumplicidade e sensibilidade. Para culminar, Virgínia é mãe de Rubião, que trata a mãe feito lixo e faz de tudo para esconder esse parentesco. A prostituta ainda tem uma relação maternal com as garotas do seu 'estabelecimento', sendo necessário destacar também Hanna Romanazzi (Gironda), Yanna Lavigne (Mimi) e Yasmin Gomlevsky (Vidinha).

A história que cerca a cruel Dionísia (uma ótima Maitê Proença) é mais um ponto que merece ser elogiado, pois, apesar de ser uma diaba com os escravos, a personagem ama mesmo o irmão Raposo e a sobrinha, além de ter passado por vários traumas enquanto vivia sob o domínio do marido (Terenciano - Jackson Antunes), que a torturava fisicamente. Um perfil que desperta interesse pela complexidade. Já o toque de humor fica por conta do sarcástico Mão de Luva, interpretado por um irretocável Marco Ricca, que está a cada dia melhor. A bruxa Ascenção (talentosa Zezé Polessa), o falso padre Vizeu (Marcos Oliveira) e a linguaruda escrava Celeste (Olívia Araújo) são outros tipos que agregam e funcionam na trama, assim como a mimada Branca (Nathalia Dill) ---- uma vilã mais cômica do que malvada ----, a interesseira Luzia (Chris Couto) e a elegante Alexandra (Juliana Carneiro da Cunha).

"Liberdade, Liberdade" tem se mostrado uma boa novela das onze, mesmo não sendo um estrondoso sucesso de audiência e repercussão, como foi "Verdades Secretas" em 2015. Os índices, inclusive, são apenas medianos, quase no mesmo patamar da impecável "O Rebu". Embora não mereça ser considerada uma novela extraordinária, a história em torno da trajetória de Joaquina e todos que a cercam é bastante atrativa, sendo bem conduzida pelo autor. Tomara que siga assim até o final e que venham novos acontecimentos para movimentar o roteiro.

22 comentários:

Larissa disse...

Eu já não acho. Vejo uma novela vazia, sem identidade. Acho que passar de mão em mão implicou nisso.Vc não consegue identificar quem tá escrevendo.O elenco é mt bom, mas falta algo e já não me empolga mais.

Gabriella disse...

MAIS UM TEXTO ONDE EU CONCORDO COM TUDO!

Bruna disse...

Também gosto da novela, principalmente pq Andreia Horta é a protagonista. Mas as cenas são mt curtas, duram menos de dois minutos...

Anônimo disse...

Acho O Rebu e Verdades Secretas bem melhores, mas essa é boa também. Gostei do texto.

Felisberto T. Nagata disse...

Olá, Sérgio...gosto de novela de época, e "Liberdade..." tem se mostrado uma boa novela das onze, o problema é que passa muito tarde e as cenas /capítulos são excessivamente curtas, pelo jeito é para instigar o "quero mais".Cada ator está bem e o casal protagonista,realmente, funciona , com destaque para Andreia Horta,que estava mesmo merecendo há tempos uma protagonista. Feliz semana, belos dias,abraços!

Unknown disse...

A novela é boa, mas não me prende, não gera burburinho, comentários (nem que seja negativo), nem faz querer continuar assistindo o próximo capítulo. Falta um temperinho especial. Dou um milhão de reais em barras de ouro que valem mais. A novela se passa em Vila Rica (atual Ouro Preto), no início do século 19 – uma cidade que os historiadores descrevem como de muita efervescência e importância. Capítulos curtos demais, edição picotada. Talvez por conta da duração dos capítulos, as cenas são excessivamente curtas. A novela tem ritmo de videoclipe. Mal você se interessa por um diálogo, ele é cortado e a trama passa para outra história. Crítica à escravidão, vemos as terríveis condições de vida dos escravos, mas não há quase nenhuma história envolvendo os escravos. O sofrimento é tratado como se fosse uma espécie de cenário, uma tela – sem vida. A novela ficou muito no viés histórico,quem esperava por excessivos nús ou cenas de sexo se enganaram, é uma novela de rara beleza, técnica e textual,acredito que com o engate do romance de Rosa e Xavier,André e o soldado,as verdades vindo à tona sobre os conspiradores,a novela ganhará outros ares...O quê mais me impressiona mesmo é a novela ter um texto tão atual em relação a nossa conjuntura política e não haver uma discussão em torno disso.

Zilani Célia disse...

OI SÉRGIO!
ESTOU GOSTANDO MUITO, ÓTIMOS ATORES E UMA HISTÓRIA INTERESSANTE E COMO BEM O DIZES, TOMARA QUE CONTINUE ASSIM.
ABRÇS
http://zilanicelia.blogspot.com.br/

Melissa disse...

Achei que ia me viciar nessa novela, mas fui me cansando. É lenta e parece não andar, principalmente levando em conta os poucos capítulos que tem. Imagine se tivesse a duração normal de uma novela...

Anônimo disse...

Eu to adorando a novela.

Pâmela disse...

Sérgio, saudades de postar aqui.

Liberdade Liberdade tem me surpreendido muito e positivamente. Conta a história sem parecer Telecurso. Ao mesmo tempo que tem toda a história do Brasil, não deixa de ter os elencos clássicos do folhetim como amor, traição, tudo o que uma novela precisa ter pre ser boa.
Andréia maravilhosa como sempre tendo uma química incrível com o Bruno. (que tb tá ótimo). Nathália Dill tá maravilhosa, distante daquelas mocinhas, fez bem pra ela. Vítor Thiré é outro bom nome, me surpreendeu.
Só falando rapidinho do texto da Bianca: Maria sempre foi a mocinha da novela, finalmente a atriz está recebendo do devido valor. Sua melhor personagem, de longe.

Lulu on the sky disse...

Esqueceu de mencionar o Bruno Ferrari que está ótimo como Xavier.
big beijos

Sérgio Santos disse...

Sem problemas, Larissa.bjss

Sérgio Santos disse...

Obrigado, Gabriella.

Sérgio Santos disse...

Isso lá é verdade, Bruna.

Sérgio Santos disse...

Eu tb essa essas duas bem melhores, anonimo, mas gosto da atual.

Sérgio Santos disse...

Isso é uma reclamação comum, Felis. Mts dizem que é curta msm e de fato é. Assim como as cenas. Andreia merecia há mt tempo uma protagonista. abçss

Sérgio Santos disse...

Excelente e pertinente comentário, Cleanskin.Eu concordo com as suas críticas e tb com os elogios mencionados. Eu acho a novela bem conduzida e boa, mas não é extraordinária ou incrível.

Sérgio Santos disse...

Tomara, Zilani. bjs

Sérgio Santos disse...

Entendo, Melissa.

Sérgio Santos disse...

Tb gosto, anonimo.

Sérgio Santos disse...

Saudades de vc tb, Pâmela. E é verdade, é uma novela bem conduzida e endosso os elogios e Andreia e Nathalia, que estão maravilhosas mesmo. O Vitor merece menção tb.

E a Bianca rouba a cena msm em Eta Mundo Bom. Maria é uma mocinha que dá vontade de torcer. E sua melhor personagem msm. bjs

Sérgio Santos disse...

Tá ótimo mesmo, Lulu. bj