sexta-feira, 4 de março de 2016

Com a competência de sempre, Tony Ramos honra a importância de Zé Maria em "A Regra do Jogo"

Um dos melhores e mais complexos personagens de "A Regra do Jogo" é, sem dúvida, o Zé Maria. E o ex-integrante da maior facção da novela está sendo interpretado simplesmente por um dos melhores atores do país. Apesar do clichê, pode-se afirmar que Tony Ramos ganhou um grande presente de João Emanuel Carneiro, que já havia trabalhado com ele no primeiro capítulo de "Avenida Brasil", onde o intérprete viveu o íntegro Genésio ---- pai de Rita (Mel Maia) e marido enganado de Carminha (Adriana Esteves).


O ator está colhendo merecidos elogios por mais um ótimo trabalho e é admirável ver a sua dedicação. O pai de Juliano (Cauã Reymond) começou a novela jurando inocência, apesar de ser um fugitivo da polícia, acusado de ser o grande responsável pela Chacina de Seropédica. No entanto, algum tempo depois, foi revelado que o personagem era na verdade um monstro, integrante da mais temida facção criminosa do Rio de Janeiro. Esse início lembrou muito o da Flora (Patrícia Pillar), em "A Favorita", que também se dizia inocente, até se revelar uma verdadeira psicopata com fome de sangue.

E quando a verdadeira face de Zé foi exposta para o público, ele se portou como um grande vilão, proporcionando ótimas cenas para Tony. O autor criou vários momentos aterrorizantes do bandido, onde até os colegas da facção temiam o braço direito do Pai (Gibson - José de Abreu).
Entretanto, houve a preocupação de sempre deixar claro que o personagem realmente amava Juliano, Adisabeba (Susana Vieira) e Djanira (Cássia Kiss), por mais surpreendente que fosse. Ou seja, a ambiguidade do perfil se manteve presente o tempo todo. E, apesar de ter armado para o filho ser preso, ficou evidente que ele só agiu dessa forma para evitar a sua morte ----- na época, se Juliano continuasse solto seria assassinado pela quadrilha.

Mas, o lado cruel do bandido era exposto quando o mesmo cumpria cegamente as ordens do Pai, e sua agressividade aflorava quando encontrava Romero (Alexandre Nero). Zé nunca gostou do colega covarde e todo o seu ódio se elevava quando os dois se encontravam. Vale mencionar, inclusive, o momento em que ele quase assassinou o ex-vereador e Atena (Giovanna Antonelli), após ter praticado uma tortura psicológica assustadora com o casal de picaretas. Essa, aliás, foi uma das melhores cenas do ator na novela.

E outra situação que serviu para aumentar o destaque (além da própria complexidade) do personagem foi a chegada de Kiki (Débora Evelyn) na trama. Isso porque ela havia sido sequestrada por Gibson, após ter descoberto que seu pai era um criminoso, e Zé foi o seu carcereiro por anos. A mulher acabou desenvolvendo a Síndrome de Estocolmo, se envolveu com seu algoz, e os dois tiveram uma filha, a Aninha (Letícia Braga). Apesar de toda a monstruosidade já mostrada do bandido, ficou perceptível que ele amava a filha e tinha um carinho muito grande por Kiki. Ou seja, o psicopata sempre amou de verdade as três mulheres da sua vida e os dois filhos.

A grande virada de Zé Maria se deu quando o Pai passou a dar privilégios a Romero e ainda 'avisou' o seu fiel escudeiro que não toleraria mais Juliano, decretando a morte do rapaz. O bandido se indignou e teve sua revolta aumentada quando foi obrigado pelo chefe da quadrilha a tirar Aninha da mãe, após uma pedagoga ter desconfiado da forma como a criança era cuidada por Kiki. Todos esses fatores se somaram, fazendo Zé romper com a facção, saindo momentaneamente da condição de criminoso e migrando para a posição de herói. Afinal, ele ajudou Aninha a fugir, entregou a filha para Adisabeba cuidar e ainda tentou salvar Kiki, sendo quase morto pela facção ---- foi perseguido, levou um tiro e caiu de um penhasco.

Após quase perder a vida, Zé Maria mudou radicalmente de visual e a cena da transformação foi ótima, evidenciando o quanto Tony Ramos deixa o seu corpo em função do papel. O personagem raspou a cabeça e tirou toda a barba, passando a usar um óculos. Criou uma nova identidade, se fazendo passar por um chileno. Foi uma mudança radical, iniciando uma nova saga, com o bandido planejando dar o troco, começando a formar o seu próprio exército para enfrentar a facção. O autor merece elogios por estar valorizando o intérprete e todos os aplausos a Tony são insuficientes, ainda que seja óbvio constatar isso.

As últimas semanas de folhetim, inclusive, vêm proporcionando boas sequências para o ator e a exibida recentemente foi uma prova: Zé escapou da prisão, foi para o apartamento de Kiki, e acabou se emocionando vendo Juliano e Aninha juntos, como uma família. O momento primou pela sensibilidade, expondo por completo toda a fragilidade daquele bandido, que chorou ao observar seus filhos abraçados. E o mais interessante é que o ex-integrante da facção não virou santo. Ele continua provocando Dante e apresentando várias falhas de caráter, como a fuga do presídio, por exemplo.

"A Regra do Jogo" é uma novela que peca com tramas paralelas desinteressantes, mas prima por uma central bem atrativa. E um dos principais personagens do melhor núcleo da novela é justamente o Zé Maria ---- um monstro que apesar de tudo tem coração ----, que transborda complexidade e está sendo interpretado com brilhantismo pelo sempre ótimo Tony Ramos.

22 comentários:

Ulisses disse...

Esse é ator!

Denner disse...

O Tony é sempre show e o Zé na minha opinião poderia ter tido ainda mais destaque do que teve. Particularmente prefiro muito mais o Braga de O Rebu.

Galdino disse...

Aplaudo sempre que posso.Um ator admirável e esse personagem é complexo, ao contrário do Romero que é um canalha por ser.

Heitor disse...

Eu assino embaixo. E hoje o capítulo tava fodástico!

Andressa Mattos M. disse...

O Tony está fantástico e a novela deu uma boa melhorada nessa reta final. Deu até 45 pontos no RJ e 39 em SP. O Zé é um perfil bem dúbio e uma hora vc torce por ele e em outra sente ódio.

Joana Limaverde disse...

É um dos profissionais mais dedicados e talentosos do Brasil.Além de ser uma pessoa admirável.Sou fã de Tony e só ele mesmo pra conseguir deixar o Zé Maria doce após tantas monstruosidades sem parecer forçado.

Vane M. disse...

Olá, Sérgio, como vai? Acompanhei por um tempo a trama, mas acabei cansando... penso que observa muito bem quando diz que a trama central é curiosa, mas os elementos em muitos momentos me pareciam repetitivos e desconexos... penso que no final as peças se encaixarão. Mas o talento de Tony Ramos é indiscutível e seu personagem me surpreendeu, não imaginei que faria uma virada! Abraços!

Vera Lúcia disse...


Olá Sérgio,

Concordo com sua ótimas considerações.
Tony Ramos é um ator de qualidade e acredito que sempre desempenhará qualquer papel com louvor.
Penso que na novela o seu personagem continuará 'bandido', apesar de tudo.
Quem sabe, agora, numa facção do bem! Viajei?-rsrs.

Abraço.

MARILENE disse...

Sérgio, são sempre irretocáveis suas colocações. A novela tem núcleos desinteressantes e, desde o início, caminhou com altos e baixos. Mas não se pode negar o brilhantismo da atuação de Tony Ramos e a emoção provocada por algumas cenas da trama. Bjs.

Sérgio Santos disse...

É mesmo, Ulisses.

Sérgio Santos disse...

Tb prefiro o Braga, Denner.

Sérgio Santos disse...

Exato, Galdino!

Sérgio Santos disse...

Tava mesmo, Heitor.

Sérgio Santos disse...

Perfeita observação, Andressa.

Sérgio Santos disse...

Também sou fã, Joana!

Sérgio Santos disse...

Tudo indo, Bia. E é verdade, a novela teve mts defeitos, mas Tony é gênio. bjs

Sérgio Santos disse...

Acho que continua bandido, mas não numa facção do bem, Vera. rs Bjssss

Sérgio Santos disse...

Mt obrigado, Marilene!

Unknown disse...

Tony Ramos, com o personagem Zé Maria, é sério candidato ao prêmio de melhor ator do ano. O personagem é contraditório: o mesmo responsável pelo massacre de Seropédica é capaz de amar a família e salvar Juliano, Kiki e Aninha, e ainda ser grato ao eterno amor de Adisabeba. Comparo a dubiedade do personagem à do Romero, igualmente contraditório, frio e calculista algumas vezes, ingênuo em outras,também é capaz de amar o filho Dante e se envolver com duas mulheres: a sempre apaixonada Atena e a simplória Toia. Cheguei a pensar que Romero estava de fato se regenerando, assim como Zé Maria, mas aí vem o autor e nos mostra que tudo não passou de uma ilusão. É dessa capacidade de mostrar a ambiguidade do ser humano que eu gosto no estilo do João Emanuel Carneiro. Porque, na vida, ninguém é totalmente bom, nem totalmente mau, todos temos os dois lados.

Unknown disse...

Tony deu um show como de costume e me enganou, jurava que o personagem tava se regenerando mas continua bandidão como sempre. E o Zé Maria coloca aquele lixo do Romero no chinelo.
Abraços

Sérgio Santos disse...

Perfeito seu comentário, Elvira. Mas infelizmente não acho que Tony ganhe pq as novelas que acabam no início do ano são esquecidas. Ele deveria ter sido indicado ano passado.

Sérgio Santos disse...

Perfeito, Ed! Abração!