segunda-feira, 26 de agosto de 2024

Atual teledramaturgia da Globo vive uma de suas piores fases

 Os amantes de um bom folhetim estão enfrentando um período difícil. A criatividade parece cada vez mais escassa, as boas histórias estão ficando mais raras e a luz no fim do túnel não se mostra tão próxima. A maior prova é a fase da maior produtora de novelas do mundo. A Globo está em um de seus piores momentos no quesito teledramaturgia. As suas três novelas inéditas apresentam vários problemas visíveis e a baixa repercussão de todas elas é um reflexo do que vem sendo apresentado. 


Em um comparativo, "No Rancho Fundo" se mostra a melhor produção atual, apenas analisando o conjunto. Tem o melhor elenco, uma direção de qualidade e um texto rico. Coincidência ou não, é a única que está fazendo sucesso em relação aos números de audiência, embora a repercussão seja ínfima. No entanto, no quesito história, a trama se mostra tão limitada quanto as demais que estão no ar. O autor Mário Teixeira repete pela terceira vez os erros que cometeu em "O Tempo Não Para" e "Mar do Sertão", seus folhetins anteriores. O enredo da atual novela das seis se esgotou em pouco mais de um mês. O enriquecimento da família Leonel marcou uma grande virada, mas na prática nada mudou na trama e os poucos conflitos que existem andam em círculos. O telespectador pode se dar ao luxo de não assistir por umas duas semanas que não vai perder nada. O roteiro se sustenta pelos ótimos atores e algumas cenas ou esquetes aleatórias. Nada de relevante acontece.

Em "Família é Tudo", atual novela das sete, há mais movimentação no roteiro, mas Daniel Ortiz desperdiçou situações promissoras e as transformou em dramas rasos e sem qualquer lógica. Para culminar, a direção é desastrosa e tira o impacto de inúmeras cenas que deveriam ter uma dose a mais de impacto. As sequências de ação, por exemplo, são constrangedoras de tão ruins. O diretor Fred Mairynk já fez ótimos trabalhos e tem experiência de sobra, o que só reforça o estranhamento diante de resultados tão decepcionantes.

Há também o fator corte de custos, é importante observar. Tudo é tão precário que o orçamento da trama parece ser uma coxinha e um guaraná.  Os cenários são pobres, as externas são sempre realizadas nas vielas da cidade cenográfica, o que tira a veracidade de muitos momentos, enfim. E o pior é ver o autor se perdendo em seu próprio roteiro porque as viradas recentes tinham tudo para impactar, mas só geraram questionamentos diante da falta de nexo, como o fato de Ramón (Jayme Periard) ter virado um sujeito raivoso do nada. Isso porque foi revelado que ele matou o pai da Vênus (Nathalia Dill). Se Brenda (Alexandra Richter) tivesse sido a assassina, seria algo condizente com suas atitudes, já que nunca aceitou o namoro do filho com a mocinha. Mas o marido dela sempre foi amoroso e apoiou o romance do filho. Qual a explicação? Fora os demais acontecimentos estapafúrdios envolvendo Lupita (Daphne Bozaski) e o sequestro de seus avós, o aneurisma de Tom (Renato Góes) que o fez terminar com Vênus e engatar uma relação com Maya (Sabrina Petraglia), entre tantos outros. 

Já "Renascer" se mostrou um caso perdido desde o início da segunda fase. Todos os problemas observados na obra original de Benedito Ruy Barbosa, em 1993, foram mantidos no remake e afastaram gradativamente o público, a ponto da repercussão da novela de horário nobre da Globo ter uma repercussão nula. Está no ar desde janeiro e só se fala em outra coisa. Não há acontecimento algum na história, que vem se arrastando ao longo dos meses. É uma trama maçante, onde a maioria dos personagens carece de carisma. A maior qualidade é a direção de Gustavo Fernandez, além da belíssima fotografia. Mas de nada adianta lindas imagens sem um bom enredo. E não há sustentação na saga de Zé Inocêncio (Marcos Palmeira). O enredo parece ter acabado há meses e a novela nunca chega ao fim. O telespectador que acompanha a trama diariamente sem cochilar é um guerreiro. Porque praticamente nada acontece há meses. É uma história que não sai do lugar e nem as poucas mudanças realizadas por Bruno Luperi surtiram efeito porque em nada afetaram a narrativa modorrenta. É uma obra que testa a paciência de quem assiste. Não havia motivos para um remake de uma das produções mais cansativas de Benedito e a emissora só percebeu isso com ela no ar. 

Em relação aos números de audiência, "No Rancho Fundo" é a que está em melhores condições. A novela das seis conseguiu elevar a média do remake de "Elas por Elas", que foi um imenso fracasso. Mas muito se deve ao sucesso da reprise de "Alma Gêmea", fenômeno de Walcyr Carrasco exibido em 2005. Já a trama das sete, "Família é Tudo", elevou pouco os índices do fiasco de "Fuzuê", produção anterior, mas tem crescido nas últimas semanas e quando entrar na reta final tem tudo para aumentar mais os números. E "Renascer", a menos de duas semanas de seu final, é um fracasso sem chances de reação.

A única grande novela da Globo no ar é "Alma Gêmea", exibida de segunda a sexta no "Vale a Pena Ver de Novo". Não é à toa que vem marcando uma excelente audiência, chegando a 21 pontos em alguns dias. E o melhor folhetim atual ser um produto de quase vinte anos atrás é motivo suficiente para a emissora se preocupar. A crise na teledramaturgia é uma realidade e não por desgaste do formato, mas, sim, por falta de criatividade somada a ideias muito mal executadas. 

12 comentários:

Marlon Arian disse...

É triste ver como a atual gestão da Globo está totalmente equivocada, aposta em ideias estapafúrdias com o desespero de conseguir audiência , sendo oq precisamos mesmo é de boas histórias , com premissas interessantes e condução decente para podermos engajar. Abandonei a novela das 18 e 21hrs , a primeira por não curtir a premissa e a história ter acabado rápido e a segunda por ser insuportável de tão chata e nada acontecer. A das 19hrs é meu respiro para assistir e nem é pela qualidade que é terrível , mas sim por divertir um pouco e poder ver até aonde vai o absurdo. Espero que tenhamos esperança de ver boas tramas em breve e parabéns pelo texto excelente novamente Serginho s2.

Anônimo disse...

Já houve anos em que a Globo ofereceu obras de qualidade questionável aos seus telespectadores, mas o atual vem mostrando a proeza de errar em todas as faixas de novelas inéditas. Até agora, o único produto a me despertar interesse é o futuro folhetim de Rosane Svartman. E estou cansado de ver a emissora dando falsas esperanças à Lícia Manzo após o cancelamento da produção de "O País De Alice".

Guilherme

chica disse...

Que pena que assim esteja,não? Já foi o grande orgulho da emissora! Tudo de bom pra ti! abração, chica

Pedrita disse...

a criatividade continua a todo vapor, o que não faltam são bons roteiristas. a questão é que não querem apostar. vários bons roteiristas foram afastados e vários novos foram negados. uma tristeza. eu não estou vendo nenhuma no momento. ansiosa por mania de você. beijos, pedrita

Monique Larentis disse...

Que triste essa fase, mas talvez o público mudou e a Globo ainda não está conseguindo fazer narrativas que prendam.

www.vivendosentimentos.com.br

Adriana Helena disse...

Fico triste com a atual condição das telenovelas da Globo que sempre foram o maior motivo de orgulho da emissora pela qualidade dos folhetins e dos atores que a interpretam.
Mas se apenas Alma Gêmea, novela de 20 anos atrás, está obtendo algum sucesso e ainda no período da tarde, realmente é algo que precisa ser revisto com urgência!!
Sérgio, você sempre perfeito em suas análises!!
Linda semana!! :)))))

Lulu on the sky disse...

A situação mudou Sérgio. O público jovem não acompanha mais novela prefere ver séries no streaming e vamos combinar que as tramas atuais são chatíssimas. Eu mesma, noveleira de carteirinha larguei mão dessas tramas atuais.
beijos,
www.luluonthesky.com

Citu disse...

Gracias por la recomendación

Anônimo disse...

As últimas novelas que parei pra assistir foram Avenida Brasil, Amor a Vida e O Outro lado do Paraíso. Agora consegui pegar amor por Renascer kkkkkkkkk. E particularmente eu gosto dela justamente por ser mais parada (literalmente não existe tecnologia nas fazendas, muito irreal, mas deixa eu me iludir kkkkkkkkk) e a direção que é excelente e acaba me prendendo. Gostaria muito de ver um trabalho do Bruno Luperi totalmente autoral.
No mais só posso concordar com o texto.

Anônimo disse...

Tô achando que um dos fatores que jogará a favor do sucesso de Mania de Você é a dilatação de Renascer, um autêntico sonífero, incluso se Mania é outra Regra ou 2 Sol é inegável que após meses de que a Globo manda-se a gente a dormir cedo, chegará uma novela bem mais movida. Eu até fico me perguntando: se o Renascer não será a melhor campanha de marketing de uma novela. Renascer na verdade não deixara saudades.

Anônimo disse...

Realmente as externas na rua fazem muita falta! Hoje em dia a novela pode se passar no Rio ou em SP que não fará diferença nenhuma, todas com cenário de Malhação.

Fá menor disse...

Quando falha a criatividade e as obras se tornam maçudas perde-se o entusiasmo...