Venâncio foi assassinado em "Renascer", mas ninguém se importa

 O remake de Bruno Luperi exibiu recentemente uma das cenas mais comentadas, antes mesmo da estreia de "Renascer". Isso porque a imprensa especulava sobre o destino de Venâncio (Rodrigo Simas), que só morreu em 1993 porque Taumaturgo Ferreira e Benedito Ruy Barbosa brigaram na época. O neto manteria o desfecho do avô? A resposta era óbvia diante do remake de "Pantanal". E foi exatamente o que aconteceu. O problema é que vários furos no roteiro acabaram expostos na obra original e havia a necessidade de adaptação. 

Quando um autor se desfaz de um personagem por conta de um desentendimento com o ator que o interpreta é comum que não altere muita coisa em sua trama. Afinal, ele se livrou de um problema e não faz questão alguma de 'alongá-lo'. Porém, quando o personagem é integrante do núcleo central, e ainda acaba assassinado com um tiro no peito, fica impossível não afetar o desenvolvimento do enredo. Por mais que o escritor queira seguir o fluxo de seu roteiro, é necessário criar desdobramentos para a riqueza dos próprios perfis da história. 

E Bruno Luperi não se preocupou em mexer nos conflitos do remake após a morte de Venâncio. Como pode o personagem levar um tiro no peito durante uma emboscada, ser velado e enterrado em tempo recorde e sequer aparecer um mísero policial para investigar o crime? Não tem delegacia naquela cidade?

A fazenda de Inocêncio é isolada do mundo? A propriedade de Egídio (Vladimir Brichta), o assassino, também está em um local onde não existe nada? O pior é que os próprios personagens estão agindo como se o rapaz tivesse falecido de velhice, aos 90 anos, e não com um tiro no peito. O único que apresentou uma ligeira indignação foi João Pedro (Juan Paiva), mas ouviu de Sandra (Giullia Buscacio) para não se vingar e deixar nas mãos da Justiça. Mas que Justiça? Se nem denunciado o crime foi... É algo que não tem sentido algum.  

E o que dizer de Zé Augusto (Renan Monteiro) dando em cima de Buba (Gabriela Medeiros) e sendo correspondido cerca de seis dias depois da morte Venâncio? Um flerte com a viúva do irmão antes da missa do sétimo dia? Que construções amorosas são essas? O nascimento de um amor tão súbito quanto foi o de João e Inocêncio por Mariana (Theresa Fonseca). Aliás, Buba age como se o finado estivesse viajando. Ela e Teca não ficaram nada abaladas com o que aconteceu. São situações que parecem bobas, mas prejudicam a narrativa e o impacto do que de fato aconteceu. O crime teria que provocar uma grande virada na novela, mas o que deveria ser uma tempestade tem o efeito de um chuvisco. 

O próprio Zé Inocêncio (Marcos Palmeira) diz o tempo todo para João Pedro 'esquecer' o assunto porque ainda não é hora de fazer nada. Por que não é? Porque Benedito Ruy Barbosa queria seguir o roteiro como se nada tivesse acontecido na época, já que apenas tinha se livrado de um desafeto. Como o telespectador engole um absurdo assim na narrativa? O filho de um dos maiores fazendeiros da região foi assassinado e ele prefere esperar e não há repercussão alguma na cidade, muito menos uma investigação da polícia. 

"Renascer" vem obtendo uma audiência muito aquém do que a Globo esperava  e uma das causas para os índices mornos é justamente a história modorrenta, cujos desdobramentos nunca chegam no ápice desejado. Quem está agindo é a cúpula da emissora que tem cortado algumas cenas para agilizar a produção, mas não provoca qualquer efeito porque não há acontecimentos relevantes. Bruno Luperi se mostra incapaz de realizar qualquer mínima adaptação no desenrolar do roteiro para deixá-lo mais atrativo para o público.