sexta-feira, 24 de setembro de 2021

"Segunda Chamada" conseguiu o que parecia impossível: uma segunda temporada melhor que a primeira

 A primeira temporada de "Segunda Chamada" foi exibida no segundo semestre de 2019. E foi um sucesso. Chamada de "Sob Pressão" da educação, a trama abordou com propriedade a precária situação das escolas públicas do país e como os adultos enfrentam ainda mais dificuldades para o estudo. O êxito garantiu a produção da segunda temporada para 2020, mas veio a pandemia do novo coronavírus. Após muitos adiamentos, a continuação foi finalizada em 2021 e com apenas seis episódios. A Globo ainda optou por exibi-la somente na Globoplay e a disponibilizou completa no dia 10 de setembro. 


Neste ano, o cenário do curso noturno para jovens e adultos da Escola Estadual Carolina Maria de Jesus é ainda mais preocupante do que o habitual e coloca em risco a própria existência do turno. As poucas matrículas não são suficientes para manter os portões abertos. O diretor Jaci (Paulo Gorgulho) não encontra solução para o problema e se vê obrigado a comunicar que não há mais nada a ser feito. Os professores se desanimam mais mais quando percebem que foram em vão os anos de luta contra a péssima infraestrutura, a falta de reconhecimento e o cansaço extremo em prol da educação. 

Para Lúcia (Deborah Bloch), todavia, a possibilidade de que o curso deixe de existir é inimaginável. A protagonista já tomava para si a responsabilidade de não perder um aluno sequer na temporada passada e agora sua missão se torna ainda maior.

Até porque a volta às aulas tem um gostinho de renovação para a professora de Português, após o divórcio de Alberto e o fim do mistério envolvendo a morte de seu filho --- o enredo da trama de 2019. Em seu caminho para casa, quando tudo parece perdido, ela avista o que vira um feixe de esperança para a continuação do curso noturno: pessoas que vivem nas ruas, com pouco conforto e quase nenhum pertence, ignoradas por grande parte da população.  

A personagem reconhece que cada um ali tem história, sonhos e sentimentos. Além de reforçar o seu lema de vida ---- todos têm direito a uma educação digna ----, a professora resolve unir o útil ao agradável. Afinal, a sua ajuda também beneficiaria a Escola Estadual Carolina Maria de Jesus. Lúcia, então, se aproxima do grupo, pronta para fazer um convite aos homens e mulheres que a observam com desconfiança e faz a pergunta: "Quem aqui gostaria de voltar a estudar?" O questionamento (que encerra o primeiro episódio) resulta em um momento emocionante e o início do roteiro da segunda temporada, que conseguiu ser ainda mais forte e necessária que a primeira. 

Os professores Marco André (Silvio Guindane), Eliete (Thalita Carauta), Sônia (Hermila Guedes) e o diretor Jaci decidem acolher a ideia de Lúcia. Ainda que não tenham claro o efeito que a chegada do novo grupo de alunos pode provocar na vida dos poucos estudantes já matriculados ---- Walace (Elzio Vieira), Expedita (Vilma Melo), Seu Gilsinho (Moacyr Franco), Anuiá (Adanilo), Jackson (Ariclenes Barroso), Antonia (Jeniffer Dias), Jociane (Fabiana Pimenta),Chico (Dinho Lima Flor) e Vander (Rui Ricardo Diaz) ----, os professores decidem seguir em frente. 

Com exceção do quinteto docente central, todos os personagens são novos. E ainda há a chegada dos perfis em situação de rua, que se juntam ao demais na turma de alunos: Hélio (Angelo Antonio), Valdinei (Pedro Wagner), Néia (Rejane Faria), Leandro (Tamirys O`Hanna), Palito (Gustavo Luz), Sandro (Flávio Bauraqui), Dona Carmem (Nena Inoue) e Evelyn (Nataly Rocha). Todos os perfis têm como missão mostrar o que há por trás dessas escolhas e realidades pouco conhecidas. Vistos de longe são apenas mendigos para uma parte da sociedade, mas a série retrata um pouco do lado humano e a garra que cada um tem para sobreviver e mudar de vida. 

São seis episódios que passam voando. Dá para maratonar em um dia e sentir o gostinho de quero mais. Ao contrário da primeira temporada ---- que teve uma maior exploração em cima dos dramas de alguns personagens ----, o foco principal é a escola. O local onde todos se reúnem para aprender vira o maior protagonista. Um lugar de dificuldades, esperança e também tragédia. Todos os capítulos emocionam, sem exagero. Alguns te fazem chorar de alegria e outros de profunda tristeza. O penúltimo episódio, por exemplo, é devastador e marca a saída de uma das melhores personagens da série. Um soco de realidade na cara do telespectador. 

O elenco está arrasador. A participação de Moacyr Franco como Seu Gilsinho, um aluno que sofre do Mal de Alzheimer, é emocionante. Todos os atores que interpretam os moradores em situação de rua merecem elogios, mas é necessário destacar Nena Inoue, como Dona Carmem ---- uma babá que dedicou sua vida a duas crianças de família rica e depois foi parar nas ruas ----, e Rejane Faria, que dá um show à parte como Néia, senhora humilde que ama livros, mas não sabe ler. Pedro Wagner, acostumado a interpretar assassinos ou capangas, está brilhante como o simpático Valdinei. Tamirys O`Hanna ainda protagoniza cenas delicadas na reta final com o forte drama de Leandro. Enfim, é um time de luxo. 

Escrita por Carla Faour e Júlia Spadaccini e com direção artística de Joana Jabace e direção geral de Pedro Amorim, "Segunda Chamada" demonstra fôlego para muitas outras temporadas. Uma pena que a segunda ---- escrita também por Dino Cantelli, Gionara Moraes, Maira Motta e Marcos Borges ---- tenha apenas seis episódios. Mas ainda bem que cada um consegue mesclar a dura realidade com um universo ficcional da melhor qualidade. É a dramaturgia servindo como utilidade pública. E também é de se lamentar que a Globo ---- que produz a série em parceria com a O2 ---- tenha desistido de exibi-la em sua grade. Resta torcer para que ao menos em 2022 o grande público tenha a oportunidade de assistir a primorosa trama na tevê aberta. 

20 comentários:

Anônimo disse...

QUE SÉRIE! EU VI TODA EM UMA TARDE!

Gabriella disse...

Nao esperava a morte da personagem no final. Fiquei chocada.

Andressa Mattos M. disse...

A qualidade dessa série é incrivel e nao entendi até agora nao exibir na grade aberta.

Anônimo disse...

Essa série merecia a grade aberta. A morte da professora foi dilacerante.

FABIOTV disse...

Olá, tudo bem? Na minha opinião, a primeira temporada apresentou problemas estruturais na construção do roteiro. Veremos a segunda temporada. Abs, Fabio www.blogfabiotv.blogspot.com.br

Lulu on the sky disse...

Não acompanho a série mas fica a dica para quem gosta.
Big Beijos
www.luluonthesky.com

Luma Rosa disse...

Oi, Sérgio!
Não assisti a primeira temporada ainda :) Mas parece ser muito boa. Gostei do que você expôs no texto. Sobre o Moacyr Franco, no outro dia li uma declaração dele em uma matéria do O Globo "Ninguém fala de mim, do meu passado glorioso". Logo lembrei de você :) Você é mestre nesses dossiês!
Boa semana!
Beijus,

Adriana Helena disse...

Sérgio, eu assisti a primeira temporada e fiquei impressionada com qualidade dessa série!
Agora estou muito curiosa para assistir a segunda temporada em razão da qualidade da produção e da história!!
Cada personagem é construído na vivência do cruel mundo real...E isso é magnífico e essencialmente melancólico ao mesmo tempo...
Grata por nos informar sobre esse excelente trabalho amigo!!
Tenha uma semana maravilhosa!! :)))

Jovem Jornalista disse...

Amo essa série. Ela é para os fortes.

Boa semana!

Jovem Jornalista
Instagram

Até mais, Emerson Garcia

Anônimo disse...

e pra que comentar no post de.... uma?......

Sérgio Santos disse...

Eu tb, anonimo.

Sérgio Santos disse...

Eu tb levei um choque, Gabi.

Sérgio Santos disse...

Concordo, Andressa.

Sérgio Santos disse...

Tudo bem, Isa.

Sérgio Santos disse...

Merecia, anonimo.

Sérgio Santos disse...

Discordo, Fabio. Abçs

Sérgio Santos disse...

Eu tb li essa entrevista, Luma. Foi ótima.

Sérgio Santos disse...

É ainda melhor, Dri. Veja!

Sérgio Santos disse...

É mesmo, Emerson.

Sérgio Santos disse...

Nao entendi, anonimo.