"As Five" mantém a qualidade de "Malhação - Viva a Diferença"

 A Globoplay disponibilizou o primeiro episódio de "As Five", série exclusiva do serviço de streaming e derivada de "Malhação - Viva a Diferença" (2017/2018), no dia 12 de novembro, meia noite em ponto. Isso após um protesto dos fãs da trama contra o horário estipulado anteriormente (às 17h), mesmo sendo uma produção para assistir a hora que quiser. E a estratégia é exibir um episódio por semana, atraindo mais engajamento e audiência em uma determinada hora. 

A Globo também exibiu o primeiro capítulo nesta segunda-feira (16/11); mas neste caso, sim, valeria um protesto dos fãs. O episódio foi ao ar depois da meia noite, em um horário ingrato para a audiência. A faixa logo depois da reprise de "A Força do Querer" seria bem mais adequada. Porém, a série é exclusiva da Globoplay e a exibição foi apenas um chamariz para mais assinantes. O que é possível observar da nova saga das protagonistas de "Malhação", escrita por Cao Hamburger, é a permanência de todas as características já observadas no seriado adolescente vespertino. Tanto na essência das personagens quanto na elaboração de seus dramas. E, como a temporada foi primorosa, não é um demérito.

É no momento mais conturbado da vida de Tina (Ana Hikari) que as cinco jovens se reencontram após seis anos sem se verem e cerca de três desde a última mensagem no grupo "As Five". As amigas se mobilizam para estarem presentes no velório da mãe de Tina. Morando nos Estados Unidos, Ellen (Heslaine Vieira) volta ao Brasil especialmente para acompanhar a cerimônia.

Keyla (Gabriela Medvedoski) leva Tonico (Matheus Dias), agora com sete anos, para rever as madrinhas. Mas o garoto prefere andar em um patinete elétrico, derrubando o caixão de Mitsuko (Lina Aigu), a interagir com elas, de quem mal consegue lembrar. Lica (Manoela Aliperti) chega sozinha ao local e fica constrangida quando seu olhar cruza com o de Samantha (Giovanna Grigio). Já Benê (Daphne Bozaski) conta com a companhia de Guto (Bruno Gadiol) e nem imagina que seu casamento está com os dias contados. 

A ideia para o ponto de partida do spin-off foi genial. O surgimento da amizade das cinco personagens, em "Viva a Diferença", foi o parto de Keyla em um metrô. Já a retomada do vínculo foi a partida da mãe de uma delas. A vida e a morte serviram como elemento fundamental para a criação ou fortificação do laço que as une. A licença poética é compreensível para a concretização da nova premissa --- afinal, o contexto de quatro amigas que sabem que a mãe da quinta está gravemente doente e nem sequer mandam mensagens de preocupação não tem muita lógica. Embora tenha cerca de 42 minutos, o episódio passa rápido em virtude da quantidade de acontecimentos, um diferencial do seriado adolescente. Em "Malhação", Cao explorava os assuntos com mais calma e na série há uma sensação de cortes abruptos, algo até natural no formato ---- as meninas se desentendem logo durante o velório e pouco tempo depois aparecem conversando animadas no apartamento de Lica, por exemplo. Também não deu para entender muito bem a razão do corte da participação da atriz Cristina Mullins, intérprete da chefe que demite Keyla. A sua imagem só apareceu em chamadas da série. No capítulo não, apenas sua voz foi ouvida. Um desrespeito com a profissional.

O maior atrativo da nova saga é a junção de Benê e Lica. As duas sempre representaram figuras diametralmente opostas. A primeira sofre da Síndrome de Asperger, um leve grau de autismo, e sempre foi muito metódica. Tudo tem que seguir um padrão, uma regra. Já a segunda nunca teve responsabilidade para nada e esbanja rebeldia. Ainda adolescente, tinha a militância como principal foco, mas como adulta deixou essa característica de lado e passou a se preocupar apenas em curtir o momento, sem saber o dia de amanhã. Benedita passa a morar no apartamento da amiga, sustentado por Marta (Malu Galli), e as inúmeras diferenças entre elas logo surgem. Esse amadurecimento mútuo promete. Uma pena, porém, que para realizar esse ótimo 'plot' o autor tenha transformado Guto em um babaca. A forma como o rapaz termina uma relação de seis anos com Benê é fria, grosseira e ainda deixa a então companheira sem moradia. Cao sempre quis colocar o personagem como homossexual, mas se acovardou em virtude do sucesso do casal "Gunê", o mais popular de "Viva a Diferença". Como solução, elaborou um longo conflito em torno da descoberta da assexualidade de Guto. Resolveu ignorar o desdobramento para realizar seu desejo na série. Sem problemas, mas não precisava mudar a índole do personagem, ainda que não tenha relevância para a trama das cinco. 

Outro bom drama que desperta curiosidade é a conturbada vida de Keyla, criando um filho sozinha e sendo demitida logo na estreia de um emprego já ingrato: atendente de telemarketing. A rebeldia de Tonico e a infelicidade da personagem, que tenta retomar a vida sexual após um longo tempo sem ninguém, provocam interesse sobre os futuros acontecimentos. Mas, é preciso lembrar, que boas explicações precisam ser dadas nos próximos episódios para quem acompanhou "Malhação". Afinal, Roney (Lúcio Mauro Filho) sempre foi um pai presente e Tato (Mateus Abreu) lutou a temporada toda para ficar com Keyla e assumir o filho de Deco. Os dois deixarem a personagem desamparada com uma criança desperta muitos questionamentos. Nada, entretanto, que atrapalhe a qualidade da série.

"As Five" é a produção com maior divulgação da Globoplay e a Globo não esconde a aposta alta na série. Desenvolvida pelos Estúdios Globo, criada e escrita por Cao Hamburger, com Vitor Brandt, Jasmin Tenucci, Luna Grimberg, Ludmila Naves e Francine Barbosa. Com supervisão de Direção de Fabrício Mamberti e Cao Hamburger, a direção é de Dainara Toffoli, Rafael Miranda, Natalia Warth e José Eduardo Belmonte. A estreia mantém todos os acertos da boa história construída pelo autor. A chance de mais um êxito para a carreira de Cao é alta. Que venham os próximos episódios.