sexta-feira, 18 de agosto de 2017

Sucesso da reprise de "Tieta" no Viva reforça as qualidades de um clássico da teledramaturgia

Na última segunda-feira (14/08), a estreia de "Tieta" completou 28 anos. O Viva começou a reprisá-la no dia 1º de maio e desde então tem feito a alegria dos telespectadores. A trama de Aguinaldo Silva, escrita com Ricardo Linhares e Ana Maria Moretzsohn ---- dirigida pelo saudoso Paulo Ubiratan ----, era uma das mais pedidas pelo público do canal a cabo. E a prova da longa espera dos noveleiros saudosistas é o resultado da audiência: é o maior sucesso do canal, desde a sua inauguração, em 2010. Mas, basta rever esse delicioso folhetim para constatar os vários motivos desse êxito.


A novela foi um marco da teledramaturgia e um dos maiores sucessos da Globo ---- exibida entre agosto de 1989 e março de 1990 ----, consagrando Aguinaldo Silva como novelista. O enredo foi uma livre adaptação do romance "Tieta do Agreste", de Jorge Amado, publicado em 1977. Mas, apenas o mote inicial e o perfil dos personagens foram utilizados com fidelidade, pois a liberdade dos autores foi total, transformando o conjunto em um folhetim original, repleto de tiradas cômicas e situações polêmicas, onde a onda do politicamente correto ainda não existia.

O foco principal é um dos maiores clichês da ficção: a vingança. No primeiro capítulo, Tieta, vivida por Cláudia Ohana, é escorraçada de casa pelo pai, o conservador José Esteves (Sebastião Vasconcelos), que não tolera o comportamento 'libertino' da protagonista e ainda é influenciado pelas intrigas da outra filha, a amargurada Perpétua.
Todos da fictícia Santana do Agreste também se mostram horrorizados com o comportamento da menina. A mulher, então, viaja para São Paulo, mas promete voltar para se vingar de todos que a humilharam.


Vinte e cinco anos se passam e Tieta (agora Betty Faria) reaparece, rica e deslumbrante, com o objetivo de executar sua missão prometida no passado. Esse retorno, aliás, é uma das cenas mais lembradas da novela, principalmente em função da emoção de Tonha (Yoná Magalhães grandiosa), madrasta querida da protagonista. E o retorno ocorre justamente quando a cidade inteira está rezando uma missa, organizada por Perpétua (Joana Fomm), em sua memória. Outro momento marcante desse retorno é a 'recepção' do bebum Bafo de Bode (Benvindo Siqueira), que se impressiona com o quadril ("Derrière", como diz Tieta) da ricaça e ainda fala que aquilo é uma "plantação inteira de xibiu." O curioso é que, com o tempo, o contexto da vingança acabou se diluindo, mas sem afetar a qualidade da obra.


A história é repleta de tipos caricatos que esbanjam carisma e ainda contém situações polêmicas, vide o romance de Tieta com o sobrinho Ricardo (Cássio Gabus Mendes), filho de Perpétua, que até então planejava para ser padre. O romance incestuoso, inclusive, implicou em problemas com a Igreja Católica e a Justiça. Outra trama que despertou incômodo foi a protagonizada pelo coronel Artur da Pitanga (Ary Fontoura, genial). Afinal, retratava a pedofilia de forma levemente cômica. O poderoso homem seduzia menores em troca de comida e alfabetização. A única que o enfrentava era Maria Imaculada (Luciana Braga). O núcleo ficou marcado pelo nome que ele dava a elas: 'rolinhas'. Hoje em dia, com razão, esse contexto seria alterado e tratado com mais seriedade. O coronel, provavelmente, seria mostrado como um grande vilão.


Curiosamente, inclusive, uma situação que passou sem problemas na época seria censurada hoje: a abertura. Se por um lado o país avançou na discussão de temas como o machismo, por exemplo, em outro retrocedeu muito. A linda abertura que mesclou elementos da natureza com a beleza da mulher (no corpo nu de Isadora Ribeiro) não seria liberada  nos tempos atuais. A alegação seria a "presença de crianças vendo televisão com a família e atentado ao pudor antes das dez da noite." Com certeza a modelo estaria vestida. É triste observar isso, pois uma produção tão caprichada de Hans Donner (o maior designer gráfico da Globo) não teria o devido reconhecimento hoje ---- aliás, a reprise da novela no "Vale A Pena Ver De Novo", em 1994, foi censurada (escureceram as imagens, escondendo os seios).


Deixando as polêmicas de lado, é preciso elogiar os vários tipos marcantes da trama. Além da própria Tieta (Betty Faria em seu melhor momento na carreira) e da icônica Perpétua (maior papel de Joana Fomm e uma das mais lembradas vilãs da teledramaturgia), a história também contou com uma dupla maravilhosa: Cinira e Amorzinho. As capachas de Perpétua eram meras coadjuvantes, porém, foram crescendo cada vez mais graças ao imenso talento de Rosane Gofman e Lília Cabral. As devotas bancavam as puras, mas não podiam ver um homem que sentiam um fogo nas ventas, com direito a tremeliques inesquecíveis de Cinira. Outro perfil que conquistou a todos foi a Dona Milú (saudosa Miriam Pires), cujo bordão ---- "Mistéééééééério!" ---- caiu no gosto popular.


O carismático Modesto Pires (saudoso Armando Bógus), a querida Carmosina (Arlete Salles em grande momento) ---- agente dos correios que abria as cartas de todos da cidade usando o vapor da chaleira ---- , o afetado Timóteo (ótimo Paulo Betti), o já citado Bafo de Bode, o bonachão Jairo (querido Elias Gleizer) e o malicioso Osnar (José Mayer) foram outros perfis que agradaram. E, claro, vale uma menção especial a Tonha, a personagem mais doce da história. Quase uma Cinderela do nordeste. Maltratada pela vida e sempre com um olhar melancólico, a madrasta de Tieta protagonizou uma das melhores cenas da novela, quando voltou a Santana do Agreste toda elegante, semanas depois de finalmente ter se livrado dos resquícios de Zé Esteves, aconselhada pela enteada e amiga. Ela retornando triunfante e linda, desfilando pelos lençóis maranhenses ao som de "Uma Nova Mulher", cantada por Simone, foi de uma sensibilidade ímpar.


Outro boa lembrança da trama era o enigma em torno da Mulher de Branco. A figura feminina só aparecia em noites de lua cheia e sempre escolhia os homens 'indefesos' para atacar sexualmente. Ela era Laura (Cláudia Alencar), a esposa do Comandante Dário (Flávio Galvão). Lídia Brondi (Leonora), Françoise Fourton (Helena), Tássia Camargo (Elisa), Bete Mendes (Aída), Roberto Bonfim (Amintas), Cláudio Corrêa e Castro (Padre Mariano), Renato Consorte (Seu Chalita), Marcos Paulo (Arthuzinho), Liana Durval (Rafaella), Paulo José (Gladstone), Ana Lucia Torre (Juracy), Otávio Augusto (Marcolino) e Luiza Tomé (Carol) eram mais alguns nomes do ótimo elenco.


"Tieta" foi uma das grandes novelas da história da teledramaturgia e o imenso sucesso que a sua reprise vem tendo no Viva é fruto do reconhecimento do público, reforçando todas as qualidade desse clássico. A história é querida por todos os fãs de um bom folhetim e há tempos merecia ser reprisada novamente, sem cortes. O canal a cabo acertou em cheio.

26 comentários:

Unknown disse...

Que texto maravilhoso! Parabéns Sérgio!

Anônimo disse...

Merecida crítica!A novela é muito boa mesmo!

Outsiders disse...

As curiosidades sobre esse marco de nossa televisão:

1. Novela diferente do livro:Para que pudessem sustentar uma telenovela de mais de sete meses de duração, vários personagens, pequenos no livro, acabaram ganhando força e se destacaram, cada qual com suas características próprias na adaptação.

2. Personagens inesquecíveis:Muitos foram os destaques no elenco, em personagens carismáticos que automaticamente caíram no gosto do público.

3. Os bordões: “mistééééério!” - “te-chau!” - “nos trinques!” - Eta lelê!“ - “u-u!”.

4. Incesto e pedofilia:polêmica relação amorosa entre tia e sobrinho.o coronel Artur da Tapitanga, que seduzia menores (que ele chamava de “rolinhas”) em troca de lar, comida e alfabetização. Porém de forma a não chocar o público.

5. Nudez na abertura: As fotos viraram slides projetados no fundo da cena onde a modelo Isadora Ribeiro aparecia nua e coberta por uma penumbra.... -

6. A Mulher de Branco: Quem era a Mulher de Branco, uma misteriosa figura feminina que assombrava a cidade em noites de lua cheia e atacava sexualmente homens “indefesos”.

7. A caixa de Perpétua: O conteúdo dessa caixa aguçou a curiosidade do público durante toda a trama, mas nunca foi revelado.

8. Mangue Seco e Santana do Agreste: as dunas de Mangue Seco, no litoral da Bahia, ganharam repercussão e o povoado virou ponto turístico. Já a fictícia Santana do Agreste era a cidade cenográfica construída numa área de 10 mil metros quadrados em Guaratiba, na zona oeste do Rio de Janeiro.

9. A trilha sonora: A Som Livre lançou comercialmente dois LPs durante a exibição da novela, apenas com músicas nacionais – que venderam como água.

10. No cinema:Seis anos após o término da novela, “Tieta do Agreste” foi adaptada para o cinema.

FABIOTV disse...

Olá, tudo bem? Eu lembro do sucesso de Tieta no final dos anos 80. Sucesso arrebatador na época. Porém, gosto de acompanhar Fera Radical no VIVA. É uma novela que lembro absolutamente nada. Eu não assisti na época. Tinha 7 anos. E na época, eu brincava na faixa das 18 horas. Rs.. Abs, Fabio www.tvfabio.zip.net

Bell disse...

Adoro, sabe me dizer o horário?


bjokas =)

Pamela Sensato disse...

Serginhoooooooooo tudo bem?
Essa novela fez sucesso e faz até hoje né?
Rsrsrsrsrs antigamente as novelas eram boas!

Beijinhosss ;*
Blog Resenhas da Pâm

Felisberto T. Nagata disse...

Olá, Sérgio,pois é, quando é bem feita, os anos passam e a Tieta permanece ;bom saber que está em reprise Viva, há aqui,quem não sabia disto; não assisti à época, realmente,com meus mais ou menos 10 anos, tinha olhos para tudo menos tv; interessante a sua citação sobre a 'abertura', enfim, Betty Faria , Joana Fomm, Bógus,Paulo José, grandes talentos e outros/as que nem sei se continuam na teledramaturgia...Feliz finde,belos dias,abraços!

Vanessa disse...

Eu já me decepcionei. Não lembrava que a vingança de Tieta era tão besta e o coronel pedófilo me dá nojo com as situações tratadas como pseudo comédia.. Mas foi uma boa novela.

Fernando Oliveira disse...

Essa novela é do Aguinaldo Silva, da Ana Maria Moretzsohn e do Ricardo Linhares e não "de Aguinaldo Silva, escrita com Ricardo Linhares e Ana Maria Moretzsohn" eu simplesmente não entendo o motivo de creditar a autoria apenas ao Aguinaldo e colocar Ana Maria e Ricardo no patamar de meros colaboradores. Sobre a novela, amo Yoná Magalhães, que performance! E a própria Betty Faria, que momento marcante. Está valendo a pena ficar acordado até 1 e 15 da manhã!

Anônimo disse...

Novelão!

Leitora disse...

Olá Sérgio! Minha cachorrinha♥ se chama Tieta por causa da personagem Tieta. Hahaha... Não fui eu que escolhi o nome porque embora já tenha ouvido falar muito bem dessa novela eu nunca assisti, aliás ela é mais velha do que eu. Hehehe...
E me desculpe, mas não li o seu texto porque pretendo ler o livro Tieta do agreste e eu não sei quais são as diferenças e semelhanças do livro para a novela então eu fiquei com receio de pegar algum spoiler.

Clau disse...

Oi Sérgio,
Eu lembro de Tieta!
Tinha cenas engraçadas e realmente
marcantes!
A trilha sonora era boa também e
o maravilhoso Hans Donner caprichou
na abertura (bem lembrado).
Bjs e ótima semana!

Sérgio Santos disse...

Mt obrigado, Johny.

Sérgio Santos disse...

Valeu,anonimo.

Sérgio Santos disse...

Ótimas observações, Heartsbane! Várias delas estão no texto. abçs

Sérgio Santos disse...

Entendo, Fabio... rs

Sérgio Santos disse...

Bell, passa sempre 0h15 e reprise 15h30.

Sérgio Santos disse...

Faz até hoje, Pam. bj

Sérgio Santos disse...

Vale a pena, Felis. abçssss

Sérgio Santos disse...

Pq ele foi o principal, Fernando. So por isso.

Sérgio Santos disse...

Sim, anonimo.

Sérgio Santos disse...

Respeito sua opinão, Vanessa.

Sérgio Santos disse...

Jura, Leitora??? Legal. hahaha Ok, sem problemas não ter lido.

Sérgio Santos disse...

Que bom que gostou, Clau. bjs

Anônimo disse...

gostei muito do Cássio Gabus como Ricardo, ele tava muito bem, é um grande ator.

Sérgio Santos disse...

É sim, anonimo!